Barthes, Roland. 1ª ed. Editora WMF Martins Fontes, 2011
Tradução: Leyla Perrone-Moisés
264 páginas
Por ocasião da morte de sua mãe Barthes iniciou um diário onde coloca dia a dia suas impressões e o que sentia de 26 de outubro de 1977, dia seguinte a morte de sua mãe até 15 de Setembro de 1979. Ele escrevia em fichas que depois formaram este livro. Como perdi minha mãe recentemente a leitura deste livro mostrou-me que muitos dos meus sentimentos foram vividos por ele também. Muitas vezes sentimo-nos sufocados e pressionados pela cultura que ele chama de futuromania, ou seja, que devemos ir em frente, continuar a vida, trabalhar, sair. Porém o luto requer um certo distanciamento e tem que ser vivido, do contrário ele se torna patológico. Barthes diz que justamente o luto foi algo que ele viveu sem neuroses e sem histeria.
Outro ponto que ele toca é sobre a questão da oscilação dos sentimentos. Um dia estamos bem e no outro péssimos, num momento queremos viver, no outro não. Ele diz: "momentos em que estou distraído (falo e se necessário, gracejo) - como que seco - aos quais sucedem bruscamente emoções atrozes, até as lágrimas."
E no meu caso, foi muito importante a leitura deste livro, pois Barthes também viveu sua vida juntamente com sua mãe, e isto é algo que traz algumas diferenças no luto, pois muitos dizem que é a hora da liberdade, mas alguém já tentou fruir uma liberdade em meio a dor? onde a fruição se deve à uma perda que causa dor?
Sobre a solidão, em um momento ele usa a expressão apartamento insonoro, e isto resume o que se sente, é justamente isto, a falta de sons, da presença, é a presença da ausência, do ter alguém ali, que provoca sons, respira, fala, se move.
Um outro ponto que merece uma reflexão, sobre o fato do filho ou filha cuidar da mãe, que acaba desta forma tomando o lugar do filho e este o lugar da mãe. Então a perda da mãe neste caso é como a perda de um filho, e existe dor maior do que esta?
Barthes sente o luto como algo que não se desgasta com o tempo, que não se submete ao tempo, " o tempo não faz passar nada, só faz passar a emotividade do luto".
A morte é sempre um assunto do qual fugimos, apesar de ser algo certo e garantido, tanto a nossa, como a dos entes queridos, e por isto a leitura deste livro é um aprendizado de algo que se não nos atingiu com certeza irá nos atingir. Barthes algum tempo depois da morte de sua mãe sofreu um acidente, foi atropelado, não morreu ali, foi hospitalizado, mas não tinha vontade de viver, ele foi ao encontro de sua mãe. Muitos comentavam que era quase um suicídio, ele desistiu de viver.
Roland Barthes nasceu em 1915 em Cherbourg, França e faleceu em 1980 em Paris. Foi escritor, filósofo, sociólogo, semiólogo, crítico literário. Formou-se em Letras Clássicas em 1939 e em Gramática e Filosofia em 1943 pela Universidade de Paris. Fez parte da Escola Estruturalista.