domingo, 16 de setembro de 2012

LIVRO: JOSÉ E PILAR - Conversas Inéditas - MIGUEL GONÇALVES MENDES



Mendes, Miguel Gonçalves. Companhia das Letras, 2012
Tradução: Rosa Freire D'Aguiar
224 páginas.

Terminei a leitura do livro "José e Pilar Conversas Inéditas" e o recomendo. O livro traz conversas entre o autor e José Saramago e Pilar del Rio sobre política, amor, religião e Deus, morte. Cada um deles expõe seus pensamentos e a maneira como lida com estes assuntos. Pilar é uma mulher extraordinária, forte, decidida e muito racional, o que muitas vezes me levou a não concordar totalmente com ela, mas é de uma generosidade imensa. Saramago também é objetivo, olha a vida como ela é e ambos não tem medo de falar e expor seus pensamentos, sejam eles apreciados ou não pelos outros. Além disto há o amor entre este homem e esta mulher, que é belíssimo. Ambos são engajados nas grandes questões do mundo, o que hoje em dia nos falta e muito.

Um trecho sobre o que diz Pilar: " Os países privilegiados são países privilegiados e as pessoas que vivem nos países privilegiados não sabem o que têm e se suicidam de puro privilégio, não é? E não tenho pena dos suicidas do privilégio, porque toda a minha compaixão está esgotada com pessoas que neste momento estão cruzando o oceano tentando cavar a vida com um bebê nos braços, mortas de frio, está certo? Minha compaixão está com os que estão trabalhando de sol a sol, por um salário miserável, também em Portugal e também na Espanha, explorados por empresários que vão à missa e batem no peito. Minha compaixão está com todos esses, não com os suicidas do Primeiro Mundo nem com os empresários maravilhosos que tem desgraças pequenas, pessoais, a mulher que lhe põe chifres e todas essas coisas."

Mendes pergunta por que estes se suicidam, os do Primeiro Mundo e a resposta é " Por que não estão gerando os únicos valores que podem reconfortar e que podem satisfazer, que são os valores da solidariedade. E então vão ver os filhos crescer, os filhos se casar, tornar-se engenheiro de telecomunicações ou de não sei o quê, e estamos metidos nas pequenas vidinhas de cada um, sem percebermos que o mundo está mais longe, e no final a vida fica pequena. E há alguns que de tão pequena, se asfixiam e se suicidam. A vida é grande. Se fossêmos todos muito mais generosos, muito mais abertos, muito mais solidários, nos daríamos conta de que temos tanto trabalho pela frente que não teríamos tempo para nos suicidar. De acordo?"

E novamente Mendes lhe pergunta sobre o vazio, de não saber o que fazer... e ela " Como não saber o que fazer? Viver! Encher a terra! Cuidar dela! Deixá-la melhor! Cultivá-la! Aprender! Diferenciar Beethoven de Bach! Há um montão de coisas para fazer. Há um montão de coisas para fazer, ser solidário, adotar crianças, ir aos hospitais, cuidar dos doentes. Temos mundos de coisas. Ler, estudar! Ajudar aos que precisam. Cuidar do meio ambiente. Fazer festas! Beber vinho..

Uma bela crítica ao individualismo, ao sistema, ao higienismo, a falta de solidariedade, do dom da dádiva. Não estamos sozinhos no mundo, e o mundo não é apenas nosso quintal ou jardim.
Sobre o amor, um amor que não se espera do outro o que não tenho, mas que dá, oferece, o que cada um tem ou não tem.
Sobre a morte: faz parte da vida, é garantida, não tem por que se preocupar com ela, e sim com o viver que não é garantido. A morte já está conquistada, diz Pilar, a vida não.

José e Pilar 

Miguel Gonçalves Mendes nasceu em 1978 em Covilhã, Portugal. É um realizador, argumentista e produtos português.

Nenhum comentário:

Postar um comentário