segunda-feira, 30 de março de 2015

LIVRO: O TODOMEU - ANDREA CAMILLERI



Camilleri, Andrea. 1ª ed. Bertrand Brasil, 2015
140 páginas
Tradução: Ana Maria Chiarini
Título Original: Il Tuttomio

Estou impressionada com este livro. Não sei dizer se o que ocorre no Todomeu, um lugar oculto no sotão da casa de Giulio e Ariadne que ela usa como um refúgio secreto onde mantém uma boneca como sua única amiga e confidente, é fantasia, realizações inconscientes do desejo de vingança ou se é real. 

A história de Ariadne nos é apresentada em vários tempos, o passado e o presente, e aos poucos vemos que ela sofreu abusos sexuais em sua infância e adolescência. Quando criança ela tinha uma caverna para se refugiar que chamava de Todomeu que recriou depois no sótão da casa onde vivia com Giulio, seu marido, bem mais velho do que ela e que havia sofrido um grave acidente transformando-o num eunuco. 

É uma brilhante descrição do psiquismo de uma mulher que sofreu abusos na infância e que permanece aquela criança apesar de haver crescido e se tornado uma bela mulher. Ela ainda faz xixi na cama, faz manhas, adora ver desenhos na TV, como Tomy e Jerry, se lambuza para comer. Giulio se encanta com este lado. Devido ao acidente ele não pode satisfazê-la sexualmente e por isto decide que todas as quinta-feiras ela irá se encontrar com um homem. Um jogo muito perigoso, ainda mais que Ariadne traz marcas da infância de abusos, o que Giulio não sabe e que lhe deixa um desejo de ser amada sem poder sê-lo, mas também o desejo de vingança, é o ódio-amor. 


Andrea Camilleri nasceu em 1925 em Porto Empedocle, Itália. 

LIVRO: CEM ANOS DE SOLIDÃO - GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ



Márquez, Gabriel García. 35ª ed. Record, 1967
394 páginas
Tradução: Eliane Zagury
Título Original: Cien Años de Soledad

Muitos anos se passaram desde que li o livro a primeira vez e mais uma vez se comprova que a cada leitura lemos um outro livro, relembramos o que vimos na primeira vez e reinterpretamos outros momentos. Havia me ficado uma impressão de que a chuva praticamente dominava o livro todo e não foi assim. Interessante o que nos marca na leitura e cada um de nós irá ver algo que talvez o outro não perceba.

Quando o li a primeira vez eu ainda não tinha nenhum conhecimento da psicanálise e portanto foi uma leitura bem diferente que fiz agora. Não há como escapar, depois que passamos pela experiência de uma análise queiramos ou não adquirimos um olhar diferente e uma percepção analítica seja da vida, seja de filmes, livros, teatros, arte, passamos a olhar a entrelinhas, a ouvir mais, a perceber as associações, o romance familiar, enfim, tudo que envolve uma vida. 

A história da família Buendía que perdura cem anos desde o primeiro até o último e o final da estirpe. Cem anos de solidão. Por que solidão? Afinal não vivem todos ali, na mesma casa em Macondo? sob a tutela da matriarca Úrsula? A solidão nem sempre se dá quando estamos sós e mais uma vez comprovamos que solidão é algo que trazemos em nós mesmos e não está no entorno. 

Tudo começa com o casamento entre primos - José Arcádio Buendía e Úrsula. O temor de que possam ter um filho com rabo de porco devido o incesto entre primos se apodera de Úrsula que irá continuamente repetir isto, sobre este perigo, frase que marcará a todos na família. A força de uma palavra, de uma frase, principalmente de uma mãe sobre sua prole e descendentes é terrível, marca a ferro e fogo, e como se libertar disto? 

Tudo que se recalca ou omite, os segredos, o que se esconde de alguma maneira retorna, tudo que se nega, de alguma maneira retorna, e o que vemos ao longo do livro é a eterna repetição, de casamentos incestuosos, de amores incestuosos, que se marca pela repetição inclusive dos nomes a tal ponto que em dado momento já não sabemos de que José Arcárdio ou de que Aureliano se fala. 

O destino prescrito pela matriarca irá se repetir por não ter sido rompido, por não ter sido falado, o mau dito que não se transforma em bem dito. O destino prescrito e escrito pelo cigano Melquíades que não foi decifrado a tempo, nem mesmo quando o último Aureliano quase o consegue, mas é tarde, a repetição já havia se dado. 

Ao longo do livro vamos notando várias repetições, no modo de ser conforme o nome, na maneira de agir que alguns chamam de vício, o silêncio que se abate sobre alguns, a presença de insetos, as formigas, a destruição lenta da casa que parece acompanhar a destruição da família. 

O livro é uma obra de arte, o realismo mágico, as situações que se apresentam que mesmo sendo irreais se tornam verossímeis na história. 

Gabriel García Márquez 

domingo, 29 de março de 2015

FILME: 21 GRAMAS - 2003


Direção: Alejandro González Inárritu - 2003
Duração: 124 min
Título Original: 21 Grams

O filme é fragmentado de uma forma que passado, presente e futuro se interpõem com uma aparência de intemporal nos deixando um pouco perdidos no começo do filme com vários personagens e pequenos trechos sobre cada um. Vemos Paul (Sean Penn) com Mary sua mulher (Charlotte Gainsbourg) vivendo uma questão de doença terminal dele e o desejo dela de ter um filho, vemos Jack (Benicio Del Toro) tentando converter um jovem que está no caminho da marginalidade com frases sobre Jesus, e vemos a felicidade de Cristina (Naomi Watts) com seu casamento e suas duas filhas pequenas. 

Estes três protagonistas - Paul, Jack e Cristina só se aproximarão em função de uma acidente e de três mortes. A partir daí cada um deles se verá diante do amor, da vingança, da dor, e da possibilidade de redenção. O título significa 21 gramas é o peso que uma pessoa perde no momento da morte, e é o peso carregado pelos que sobrevivem. 

Tudo converge para o acidente, justamente a  única coisa que não aparece no filme, que não temos acesso é o real do filme, como se não fosse possível falar dele, como se ele fosse recalcado no filme, mas não nas pessoas que se viram envolvidas por ele e que a partir disto tem suas vidas alteradas e determinadas por este fato. 

O interessante do filme é que ele nos mostra primeiro o desfecho o que nos leva a tentar compreender o que levou à isto. Os fragmentos do filme também não tem sentido quando aparecem dispersos adquirindo somente uma lógica quando juntamos os pedaços, o que me remete ao significante que é uma rede e que sozinho não quer dizer nada, somente após se juntar a outro significante é que começa a linguagem, a lógica do que quer dizer. Aos poucos vamos construindo junto com o filme a história, com os pedaços que surgem, com o desenrolar, juntando então o que vimos como o desfecho com algo que aconteceu muito antes e mesmo já tendo sido mostrado ainda não conseguíamos unir. 

Gostei muito do filme, ele possibilita uma bela visualização de como nos constituímos com os fragmentos de nossa história, da história de nossos familiares, com o que nos aconteceu e que esquecemos, e como alguns fatos que pertencem a outro vem se somar a nossa história. 

Alejandro González Inárritu 

FILME: UMA SENHORA HERANÇA - 2014

Direção: Israel Horovitz - 2014
Duração: 107 min
Título Original: My Old Lady

Um filme que inicialmente tende para uma comédia, mas que no seu desenrolar nos revela um drama, o romance familiar e seus traumas. 

Mathias Gold (Kelvin Kline) vai para Paris após a morte de seu pai que lhe deixou como única herança alguns livros clássicos, o relógio e um apartamento localizado no centro da capital francesa. Ele está falido e isto lhe permitirá recomeçar sua vida, tem a intenção de vender o apartamento. O que ele não esperava é que no apartamento vivem duas mulheres, Mathilde Girard (Maggie Smith), uma senhora de 90 anos e sua filha Chloé ( Kristin Scott Thomas) e que ele não pode tirá-las de lá uma vez que seu pai comprou o apartamento segundo um sistema francês que o fará proprietário do apartamento somente após a morte de Mathilde, e pior, ele ainda terá que pagar à ela uma pensão mensal enquanto ela viver. Acuado, sem dinheiro, ele terá que aceitar ficar morando lá e torcendo para que a senhora passe desta para melhor. 

Mas o que não esperamos é que esta mulher teve uma ligação com o pai de Mathias durante anos e que até mesmo seu nome é uma homenagem ao nome dela Mathilde. Aos poucos o drama vai se revelando e vemos então os efeitos da infância atuando em Mathias e em Chloé que se apaixonam. Quando os segredos familiares não são revelados eles acabam aparecendo, o retorno do recalcado, e atuam, não rompendo um círculo que se perpetua até ser falado, elaborado e reconstituído. O filme retrata bem o processo.



A força da palavra dita por uma mãe ou um ato praticado que repercute por toda uma vida, a falta do amor, seja ele imaginado ou real, os segredos, o desejo, a eterna repetição que os filhos, netos irão fazer enquanto o recalcado, o escondido, o segredo não vier à tona. A infância que atua no presente. 

Um belo filme. E Maggie Smith está brilhante com seus 80 anos. 

Israel Horovitz nasceu em 1939 em Wakefield, Massachusetts, EUA. 

FILME: FREUD ALÉM DA ALMA - 1962


Direção: John Huston - 1962
Duração: 140 min
Título Original: Freud, the secret passion

Filme em preto e branco

O filme faz uma cinebiografia do período inicial da psicanálise e demonstra como Freud (Montgomery Clift) desenvolveu o que veio a se chamar de Édipo na psicanálise. 

O filme reúne fatos verídicos como a ida de Freud para Paris e as aulas de Charcot sobre a histeria, seu casamento com Martha (Susan Kohner), a morte de seu pai, mas também condensa em Cecily ( Susannah York) várias pacientes histéricas, entre as quais a principal foi Anna O. tratada pelo Dr. Breuer (Larry Parks) que criou o talking cure, ou seja, a cura pela palavra.

O filme condensa 15 anos da vida de Freud quando ele desenvolve o Complexo de Édipo e a teoria da sexualidade, onde toda criança deseja inconscientemente a mãe ou pai, dependendo de sua posição masculina ou feminina. Cecily deseja o pai, mas não pode admitir isto conscientemente, é incestuoso e portanto perigoso e proibido. Quando ela se volta para a mãe encontra uma mulher incapaz de lhe dar amor o que a faz se voltar novamente para o pai e passar a persegui-lo tentando se tornar o objeto de desejo dele, levando-a inclusive a ir para um bordel onde Freud a resgata. O boneco que ela ganha do pai representa inconscientemente o filho que desejaria dar ao pai. O filho do general relata sob hipnose que matou o pai porque amava a mãe, o que também choca Freud que manda que ele não se recorde de nada quando acordar. Aqui vemos o efeito da contratransferência, uma vez que Freud também trazia em si mesmo o Édipo e não conseguiu lidar com isto naquele momento.

Freud irá perceber tudo isto se auto-analisando, pensando em si mesmo em relação à sua mãe, de uma lembrança que tem de tê-la visto nua em um trem e depois de seu pai a levando para seu compartimento deixando-o sozinho.

Na época acreditava-se que a histeria era uma farsa que as mulheres encenavam, ou então uma possessão demoníaca, o que Freud demonstra não ser. Ele ouve as mulheres, lhes dá crédito e com isto descobre o que causa a histeria. A histeria era considerada algo da mulher, mas na verdade ela também aparece nos homens, o que no filme fica demonstrado quando seu mentor inicial , Dr. Mayers, assume que o desacreditou perante todos por estar colocando a mostra o que ele sentia o que o desmoralizaria naquela sociedade.

Quando o pai de Freud morre ele tem um sonho que não consegue entrar no cemitério. Será o caminho para que ele descubra que uma das formas do inconsciente aparecer são os sonhos que precisam ser interpretados.

O DVD traz em seguida uma entrevista com o psicanalista Renato Mezan que fala sobre o filme e sobre o impacto destas descobertas e do repúdio que causou tanto no meio médico como diante da sociedade. Toda descoberta que vai contra o aceito, o comum, normalmente sofre este tipo de reação.

Para os que se interessam pela psicanálise é um filme que não pode deixar de ser visto. 
John Huston nasceu em 1906 em Nevada, Missouri, EUA e faleceu em 1987 em Middletown, Rhode Island, EUA. 

quarta-feira, 25 de março de 2015

EXPOSIÇÃO: GENESIS - SEBASTIÃO SALGADO



Local: MON - Museu Oscar Niemeyer - Curitiba
Curadoria: Lélia Wanik Salgado

Exposição do fotografo Sebastião Salgado com 254 imagens selecionadas e divididas em cinco seções geográficas. As fotos são fruto de mais de 30 viagens e tem como foco ambientes que ainda não foram atingidos pela vida moderna e que se mantém intactos na natureza.

A exposição divide-se em Planeta Azul, Santuários, África, Terras do Norte, Amazônia e Pantanal e Genesis.

As fotos são belíssimas, tocam a quem as olha. São fotos da natureza ainda intocada pela civilização e de aspectos culturais de povos que também ainda vivem segundo seus rituais e costumes.










Sebastião Salgado e sua esposa Lélia . Ele nasceu em 1944 em Aimorés, Minas Gerais.

terça-feira, 24 de março de 2015

MUSICAL: PIAF! O SHOW




Cantora: Anne Carrere
Músicos: Arnaud Fuste (Piano), Guy Giuliano (Acordeão), Nicolas Luchi (Contrabaixo) e Laurent Sarrien (Percussão/bateria). 


Piaf! o show é uma homenagem aos 100 anos de Edith Piaf, uma das maiores cantoras francesas. Anne Carrere dá vida a Piaf no palco através de sua música e também de sua vida. É baseado no filme La Môme, uma cinebiografia da cantora. 

O espetáculo divide-se em dois tempos, sendo o primeiro nos anos 30 quando Piaf cantava nas ruas e bares em Montmartre, Paris. Ela cantava para ganhar algum dinheiro e no show vemos Anne vestida de forma simples passar com seu boné simbolizando que recolhia dinheiro. Já o segundo momento são os anos sessenta quando Piaf já famosa cantava no Olympia Bruno Coquatrix em Paris. 

Sou filha de francês e cresci ouvindo Piaf e soube que Anne Carrere também ouviu pela primeira vez com sua avó que era fã da cantora. Piaf faz parte da França, e com laços afetivos que vão além do palco e da música. Ela canta sua vida e canta as ruas de Paris, ela canta sua dor, sua solidão e suas dificuldades. Sua vida foi difícil e também a perda de seu grande amor Marcel Cerdan se reflete em suas canções e tudo isto a aproxima do povo francês, mas também de todos os povos, pois são dificuldades e dores universais. 

O Show foi belíssimo e interativo com o público! 

Veja um pouco do show



TEATRO: VESTIDA DE MAR - 2012


Direção: Ricardo César - 2012
Duração: 50 min

Peça inspirada na canção Alfonsina y el mar interpretada por  Mercedes Sosa e na vida e obra de Alfonsina Storni.

A peça retrata a vida de Alfonsina que nasceu na Suíça em 1892 e imigrou com seus pais argentinos para a San Juan em 1896. Poeta, escritora teve um grande amor do qual teve um filho. Em 1935 ela descobre que tem um câncer de mana e dois anos depois seu amigo Horácio Quiroga, escritor uruguaio se suicidou o que abalou muito Alfonsina.  Três dias antes de se suicidar caminhando para dentro do mar enviou a um jornal o soneto "Voy a dormir". 

Alfonsina foi um ícone na Argentina em 1920-1930. Mas também passou por muitas dificuldades financeiras, quando foi para Rosário onde trabalhou como costureira, operária, professora e atriz de teatro.Jovem integrou um grupo de teatro com o qual viajou muito até chegar a Buenos Aires em 1911, conheceu o pai de seu filho Alejandro que nasceu um ano depois. 

Na peça Alfonsina está em um quarto já tomado pelo mar e através de um monólogo onde fala consigo mesma e com a platéia ela nos relata sua vida. Ela nos fala do pai de seu filho e de como eles dançavam, segurando um espelho no lugar dele, como se representasse que este amor seria um ideal de eu, se vendo refletida nele. Após o rompimento ela cobre o espelho com areia. Em seguida se envolve com vários homens e mais jovens e diz - não se preocupe, você não me magoa, quem me magoa são meus sonhos. 

Foi um mulher a frente de seu tempo, considerada feminista, lutou por um lugar para si entre os homens. Ela mesma diz na peça que teve que viver como se fosse um homem. 

Infelizmente no Brasil quase não se encontra muita coisa sobre Alfonsina Storni, ela é até mesmo desconhecida da maioria. 






Alfonsina Storni

TEATRO: INCÊNDIOS



Direção: Aderbal Freire-Filho - 2013
De: Wajdi Mouawad


Recentemente assisti ao filme de Denis Villeneuve e considerei um dos melhores filmes que vi em 2014. Agora tive o privilégio de assistir a peça de teatro sob a direção de Aderbal Freire-Filho com Marieta Severo no papel de Navval.

Incêndios faz parte de uma tetralogia - Sangue das Promessas composta por Litoral, Floresta, Incêndios e Céus. Infelizmente não localizei no Brasil as outras três partes. 

A peça pode ser considerada por três aspectos: pelo viés da história de Navval (Marieta Severo) e sua vida à qual ela tenta dar um sentido , pelo viés dos gêmeos, Simon ( Felipe de Carolis) e Jeanne (Keli Freitas) que partem em busca de sua origem após receberem cada um uma carta de sua mãe para ser entregue ao pai e ao irmão do tabelião Hermile Lebel ( Márcio Vito) , ou ainda pelo viés da história da guerra civil no Líbano, onde teríamos uma história de resistência. 

A peça foca pouco no aspecto do conflito religioso da guerra civil do Líbano se atendo mais a Navval e seus filhos. Um drama, uma tragédia que é universal pois poderia ocorrer em qualquer lugar ou contexto, não necessariamente uma guerra civil, um contexto com violência, mas que não deixa de mostrar o que uma guerra pode provocar. A história seria outra sem o conflito que gerou ódios e mortes. Talvez Navval tivesse podido viver seu grande amor e criar seu filho, e sua vida teria tido um suposto sentido, mas como em toda tragédia, desde os gregos, não é assim que se passa. 

"AQUELE QUE TENTA ENCONTRAR SUAS ORIGENS É COMO O ANDARILHO NO MEIO DO DESERTO QUE ESPERA ENCONTRAR, ATRÁS DE CADA DUNA, UMA CIDADE. MAS CADA DUNA ESCONDE UMA OUTRA E NÃO SE TEM POR ONDE ESCAPAR." Vvajdi Mouavvad

Buscar as origens, buscar quem eu sou? Navval diz várias vezes durante a peça: a infância é uma faca enfiada na garganta." Como tirá-la sem abrir uma ferida que não irá parar de sangrar? 
O silêncio. Navval ficou durante 05 anos em silêncio. Por que? o que a calou? o indizível, o inefável. Ela deixa aos filhos a missão de descobrir o que não pode ser revelado e depois com isto poder ser falado. Mas será? Simon que criticou tanto o silêncio da mãe, se vê silenciado ao final. Está sem palavras. Talvez somente o teatro seja capaz da catarse. 

O passado, o presente e o futuro estão ali no palco, simultâneos, reduzindo tudo ao presente, como um inconsciente atemporal. As cenas se sobrepõem, o passado passa por trás do presente, ou vice-versa. 

O túmulo. Escrever o nome de sua avó no túmulo. Somente ter seu nome no túmulo quando a promessa se cumprisse, quando seus filhos encontrassem o irmão. A morte não encerra uma história, ela continua. 

Voltarei a Incêndios após a leitura do livro.


Veja um trecho da peça:








Aderbal Freire Filho nasceu em 1941 em Fortaleza - Ceará. 

segunda-feira, 9 de março de 2015

FILME: FORÇA MAIOR - 2014


Direção: Ruben Östlund - 2014
Duração: 119 min
Título Original: Force Majeure
País: Suécia 

Venceu o prêmio de melhor filme da mostra Un certain regard do Festival de Cannes de 2014

Um casal Tomas (Johannes Kuhnke) e Ebba (Lisa Loven Kongsli) e seus dois filhos vão passar 05 dias numa estação de esqui para que ele possa descansar, uma vez que segundo sua esposa ele trabalha muito. Logo no início do filme temos a tradicional foto da família na neve em roupas de esqui. Uma família aparentemente feliz. 

O que ninguém pode prever são as contingências que as vezes revelam facetas nossas que não conhecíamos e não poderíamos prever. No segundo dia eles almoçam num restaurante com uma vista para as montanhas de neve. Desde que chegaram Tomas havia tranquilizado Ebba que se incomodava com os estouros que ouvia, que seriam as equipes do lugar que sob controle fazem a neve descer a montanha justamente para manter a segurança dos esquiadores. Durante o almoço de repente vemos uma avalanche vindo em direção ao restaurante. Tomas diz que ele está sob controle e que não há risco nenhum, mas de repente ela se aproxima demais, e todos começam a gritar e a correr. Ebba segura seus filhos e grita por Tomas para ajudá-la, mas eis que Tomas saiu correndo e deixou sua família para trás.


A avalanche não atinge o restaurante, ela para antes, mas há uma névoa forte causada pela neve em movimento que por um momento deixa tudo envolto no branco. Em seguida o céu fica azul novamente e Tomas está de volta, senta e recomeça o almoço como se nada tivesse acontecido, porém esta família não será mais a mesma. 

Tomas teve uma reação de sobrevivência e tentou se salvar e com isto deixou sua família para trás, mas ele não toca no assunto. Ebba fica com isto engasgado, mas também não fala nada para ele, pelo contrário, vai contar aos outros colocando Tomas numa situação constrangedora e ele acaba negando que tenha feito isto. Eis então que se revela também a questão de um casamento que já não andava muito bem. As crianças ao perceberem que algo vai mal começam a ter crises de choro e a se tornarem mal criadas como forma de chamar a atenção, até que o menor deles diz que não quer que eles se divorciem. 

É impossível não nos colocar a questão. O que será que faríamos no lugar deles? Dizer que uma mãe nunca abandona seus filhos, mas que o homem pensa somente em se salvar? Mas, quantos relatos já vimos de pais que também arriscam tudo para salvar um filho? Não, não acredito que seja por aí a resposta. A questão é que todos nós temos um sentido de sobrevivência, há uma pulsão de vida em nós e a prova disto é que qualquer motorista sempre tenta tirar seu lado num acidente e o faz automaticamente e sem consciência. Tomas foi surpreendido por esta reação que ele teve, mas depois se viu cobrado pelo o que se espera dele, o que a sociedade espera, a mulher, os outros esperam de um homem, de um pai, de um marido. 

Um casal de amigos que ouve a história ao estarem sós depois a mulher também lhe diz que ele poderia agir assim e isto o deixa também mexido. O que a cultura impõe ao homem, a mulher, ao ser humano. 

Tomas se sente cobrado por todos, mas como responder a isto? dizer que sentiu medo, pavor e correu? Sua esposa o despreza cada vez mais, ele não corresponde as suas expectativas como homem, como pai. Até o dia que o diálogo acontece e Tomás confessa todos seus erros inclusive ter sido infiel, e que não quer ser esta pessoa. Ebba vai exigir dele uma prova que não é covarde e que pode agir para protegê-la e a seus filhos o que fará no dia seguinte na pista de esqui. 

Não leia abaixo caso não queira saber o final do filme. 


No caminho de volta, no ônibus que desce a montanha por uma estrada na beira dos penhascos, o motorista começa a demonstrar que não sabe bem dirigir o ônibus e começa a se criar uma situação tensa. Novamente é Ebba quem toma a frente e o manda abrir a porta, neste momento o amigo do casal diz: sem pânico, primeiro as mulheres e crianças. Todos descem e o motorista vai embora com o ônibus os deixando ali. É um final um tanto estranho, mas pode se refletir a respeito, pois todos ali estavam com medo e cada um teve uma reação o que mostra claramente que o ser humano é complexo e pode reagir a situações drásticas de formas diferentes. Inclusive neste momento é Ebba a primeira a descer deixando os filhos no ônibus. Todos nós temos um ponto onde reagimos de uma maneira a nos salvar sem pensar em mais nada. Entre o medo de ser soterrado por uma avalanche e o medo de cair no vazio de um penhasco, qual medo é o mais forte? depende da pessoa.


Ruben Östlund nasceu em 1974 em Styrsö, Gotemburgo, Suécia. 

FILME: WINTER SLEEP - 2014


Direção: Nuri Bilge Ceylan - 2014
Duração: 196 min
Título em português: Sono de Inverno
Título original: Kis Uykusu
País:Turquia

Ganhou o Palma de Ouro do Festival de Cannes 2014 

Inspirado em novelas de Anton Tchekhov

O filme é longo, tem 3hs de duração, mas valeu todo seu tempo. Não serão todos que apreciarão, é um filme lento, com muitos diálogos, mas densos e que nos fazem pensar muito e mostram as diferenças entre as pessoas e o que elas sentem em relação ao mesmo tema. Um filme para rever muitas vezes. 

Aydin (Haluk Bilginer) é um ator de comédias aposentado que tem um pequeno hotel na região da Capadócia na Turquia e escreve artigos para um pequeno jornal local e também se dedica a escrever um livro sobre o teatro turco. Ele vive com sua esposa Nihal (Melisa Sözen) que é bem mais jovem do que ele e se dedica a obras de ajuda para as escolas da região e sua irmã Necla (Demet Akbag) que se divorciou recentemente.



O filme também foca nas diferenças religiosas pois a região é habitada por muçulmanos e um deles mora numa das casas que pertencem a Aydin e são locatários desde a época do pai dele, mas estão passando por momentos difíceis e não conseguem pagar o aluguel. O belo do filme é que ele nos mostra não uma guerra religiosa, mas como os comportamentos morais são diferentes, e uma das cenas fala da culpa e do perdão, sendo que para eles é importante ver e sentir que foi perdoado e beijar a mão daquele a quem se pede perdão e que se o outro negar isto relegará o que pede perdão a se sentir culpado para sempre, o que coloca Aydin numa situação difícil a qual ele adere para não deixar o outro com esta culpa, porém é visível que ele não está perdoando ninguém, até porque para ele a situação é risível e não séria como o é considerado pelo outro. 

Há um diálogo fantástico sobre o amor e a resistência à violência onde Necla defende que se não resistirmos ao agressor ele acabará percebendo que está fazendo mal ao outro e sentindo remorso pelo o que fez, ela se questiona se agiu corretamente ao resistir ao marido e fica pensando se não poderia ter sido diferente, já Aydin e Nihal colocam uma opinião contrária a esta postura. Necla chega a dizer que a beleza do gesto é por ela não ter feito nada para ele a agredir. Muito se pode refletir e pensar a respeito desta questão.

Aydin é o centro do filme. Ele mantém um domínio sobre as pessoas ao seu redor tanto financeiro como intelectual, a falta de diálogos anteriores culmina no que vemos no filme onde ressentimentos, fragilidades, desejos acabam vindo a tona nos diálogos do filme que nos mostram a complexidade do ser humano, daquilo que ele aparente ser e o que é, inclusive simbolizado no filme num momento onde Aydin aparece usando uma máscara de teatro. A vida é um palco onde as pessoas atuam, mas nem sempre somos espectadores dos que nos são mais próximos, não vemos e não conseguimos captar o que realmente os move, e muitas vezes nem eles mesmos sabem. E é através dos diálogos entre os personagens do filme que ele nos toca a cada um de nós, são diálogos com vários argumentos e por sinal muito bons, que nos faz refletir, nos levando a dialogar com o filme e eles com nós. 



As relações se constroem muitas vezes sobre enganos, não apenas em relação aos outros, mas no nosso auto-engano, nos recusamos a ver muitas vezes e nos recusamos a ouvir também. Não que seja intencional, pelo contrário, muitas vezes não conseguimos ver nem ouvir. Mas há cenas no filme que coloca cada um diante de si mesmo também, e uma das mais bonitas já no final do filme é quando Nihal decide ajudar com dinheiro a família que mora no imóvel e não consegue pagar o aluguel. O que se passa ali choca, desloca, provoca, muda algo. 

Altamente recomendado! 
Nuri Bilge Ceylan nasceu em 1959 em Istambul, Turquia 

domingo, 8 de março de 2015

FILME: ATTILA MARCEL - 2013


Direção: Sylvain Chomet - 2013
Duração: 102 min

" Achamos tudo em nossa memória, ela é uma espécie de farmácia, de laboratório de química, onde encontramos sem querer, ora um calmante, ora um veneno perigoso." 
Marcel Proust 

Paul (Guillaume Gouix) vive com suas duas tias Annie (Bernadette Lafont) e Anna ( Hélène Vincent), professoras de dança. Ele tem 33 anos e deixou de falar aos dois anos quando presenciou a morte de seus pais o que lhe causou um trauma. 

O filme nos mostra de forma delicada esta dolorosa história. Suas tias o protegem ao excesso, o que não lhe permite ter sua própria vida, elas controlam tudo. São duas figuras que se refletem uma à outra, e num dado momento cômico são chamadas de Dupont Dupont referência a dupla das aventuras de Timtim, pois se vestem sempre igual, andam juntas, se complementam. 


Paul sofre de pesadelos, ele tem uma imagem do pai como cruel e ruim, e o recorta de todas as fotos que tem onde está junto, mantendo somente sua mãe. As tias e amigos não falam do assunto o que permite que Paul construa suas idéias sobre o que aconteceu. 

Um dia ele conhece sua vizinha Madame Proust ( Anne Le Ny), clara referência à Marcel Proust, e com ela Paul inicia sua busca pelo tempo perdido através de chás que o fazem entrar num estado de inconsciência, onde tem visões, como se estivesse sonhando e ele começa a ter lembranças até chegar o dia em que verá a cena que recalcou e compreenderá o que realmente aconteceu. 


O filme é muito interessante para vermos em termos psicanalíticos como um trauma se instala e atua na vida de uma pessoa. Na falta de palavras e de capacidade de compreensão de um fato, no caso a morte de seus pais de forma violenta na sua frente, há um recalque do ocorrido. Madame Proust é como uma psicanalista que lentamente vai acompanhando esta recuperação de lembranças, enquanto as tias parecem fazer o papel do psiquismo que recalca tudo e impedem que a verdade surja, são como uma censura. Um trauma não pode ser lembrado de uma só vez, ele precisa ser recuperado aos poucos, de acordo com o tempo de cada um. Com seus bolinhos, músicas, Madame Proust acolhe Paul e ele confia nela podendo relaxar e permitir que as lembranças venham. Isto ocorre em várias sessões da mesma forma que um processo de análise.



Antes da rememoração está paralisado, congelado. A cena fica, e vai se repetir constantemente de alguma maneira. Não há como voltar ao antes, não se avança, é eterno presente. Paul não fala porque ele não falava aos dois anos, ali ele ficou, apesar de ter crescido, aprendido coisas, tocar piano maravilhosamente bem, ele continua lá no momento do trauma. Quando ele fala ele parte exatamente de sua última palavra antes de se calar. 
Sylvain Chomet nasceu em 1963 em Maisons-Laffitte, França 

sexta-feira, 6 de março de 2015

FESTIVAL DE TEATRO 2015


Entre tantas boas opções que me colocaram diante da castração tive que optar por algumas peças e espetáculos que irei assistir e depois postar aqui no Blog.





quarta-feira, 4 de março de 2015

FILME: WHIPLASH - Em busca da perfeição - 2014


Direção: Damien Chazelle - 2014
Duração: 107 min
Título original: Whiplash

Estamos numa fase de filmes sadomasoquistas, mas este Whiplash é bem superior à Cinquenta tons de cinza ao tratar igualmente de fantasias deste tipo. 

A relação entre Andrew Neiman (Miles Teller) e seu professor de música Terrence Fletcher (J.K. Simmons) é sadomasoquista. 

Andrew foi abandonado pela mãe e tem como maior desejo, o ideal de eu, ser o melhor baterista de sua geração. Por um lado ele busca compreender porque foi abandonado, porque não foi amado o suficiente, se há algo errado com ele, se fez algo errado para ser abandonado. Por outro ele quer este amor do qual foi privado, o que provavelmente transfere para seu professor que é um verdadeiro carrasco. Este ideal de eu normalmente vem do outro, da cultura, haja visto o jantar no filme onde eles discutem o que é ser o melhor, o que é ser lembrado para sempre (e não esquecido e relegado como ele foi pela mãe). Para atingir isto vale tudo, qualquer sacrifício. Andrew abre mão de tudo em sua vida, inclusive da namorada onde ele prevê o que será a vida deles sem ao menos tentar vivê-la, pois irá se dedicar totalmente ao seu ideal. 

Fletcher é impiedoso em nome da arte. Ele acredita que somente aqueles que são pressionados ao limite é que conseguem e para isto humilha seus alunos, os desacredita, esperando que reajam e lhe mostrem que são os melhores, que podem aguentar tudo e vencer. Mas e ele? porque nunca foi o melhor? então ele projeta no outro o que deseja para si, mas ao mesmo tempo parece que torce para o outro nunca o consiga. Ele mente aos alunos sobre a morte de um dos alunos dizendo que foi um acidente de carro sendo que o aluno se suicidou. 

Ele massacra Andrew e ao final este é excluído da escola. Neste momento será procurado por agentes sociais que querem mostrar a culpa de Fletcher no suicídio do outro ex-aluno. Ele vai colaborar na condição de que seu nome não seja revelado, mas o professor sabe que foi ele e armará sua vingança para destruí-lo definitivamente. É neste momento, quando ele está derrotado, e seu pai o acolhe com um abraço convidando-o para ir para casa, passivo e anti-conflitos, provavelmente como foi em tudo em sua vida, que Andrew irá reagir e enfrentar Fletcher. 

A relação se impõe sobre a questão do ideal, do melhor. Andrew quer ser o melhor e Fletcher explora isto. Ambos estão sob a servidão de ser o melhor, só que um é o senhor e o outro é o escravo, um é o masoquista e o outro é o sádico. Mas sempre há o momento da virada, e então a vítima se transforma no carrasco. Inconscientemente vemos uma questão de potência sexual colocada na música, na arte, uma sexualidade excessiva e não apenas uma pulsão, um transbordamento. O abusado quando não consegue sair disto, ultrapassar se transforma no agressor. É a relação do mais frágil com o mais forte, mas em algum momento isto se inverte.

No filme, no final após Andrew vencer o carrasco e passar a dominar vemos Fletcher recuar e retornar, agora fazendo exatamente o que Andrew quer. Não é bom se iludir que ele venceu, ambos continuam na mesma relação, só que invertem seus lugares. 

A pergunta que fica é: precisa disto tudo para ser o melhor? para ser brilhante? para se sobressair e ser lembrado para sempre? Aqui temos uma questão que também é cultural e social. Como o mundo nos cobra estes ideais que cada um tem, e como chegar lá. Num mundo capitalista e extremamente competitivo onde vale tudo, exceto perder. Onde perder é fracasso e você é humilhado e esquecido. Vale a pena pensar se é realmente isto que faz alguém feliz e realizado. E se realmente é este o caminho para chegar ao ideal de eu, para ser o melhor. 

O ideal de eu é algo que fantasiamos e que na maioria das vezes não iremos alcançar, ou se o fizermos, ele requer um caminho, aos poucos, dentro do que é possível. Tem que ser um desejo da pessoa e não algo imposto por outro ou Outro, e requer sim persistência, dedicação e esforço, mas não o sofrimento e muito menos uma relação de opressor-oprimido ou vítima-carrasco, isto é doentio, apesar de dar um prazer, um gozo aos que estão envolvidos o preço disto é alto demais. No filme Andrew perde a namorada que encontra outro mais comum, não tem amigos, seu corpo padece do esforço exigido. 

A perfeição é uma ilusão, logo que se pensa ter atingido sempre virá outro melhor, e a que atingiu sempre achará que ainda não chegou lá. E o ideal de eu deve ser um motor propulsor, algo que move a pessoa, em constante movimento para tentar alcançar o que fantasiou para si mesma, mas não um fim em si mesmo. 

Damien Chazelle nasceu em Providence, Rhode Island, EUA

FILME: O QUE OS HOMENS FALAM - 2014



Direção: Cesc Gay - 2014
Duração: 95 min
Título original: Una pistola em cada mano

É uma comédia tragicômica. São oito homens que enfrentam a crise de meia-idade e que nos são apresentados em pequenos episódios. Há um dito comum que diz que os homens sempre falam de mulher e futebol, há um impressão errônea de que os homens não se afetam com questões amorosas da mesma maneira que as mulheres e também não choram facilmente, que são unidos, mas tudo isto é puro engano, e este filme nos mostra o quanto os homens são humanos, muito humanos.  

O primeiro episódio nos mostra E. (Eduardo Fernandez) que encontra por acaso, o que já se diz de imediato, nada é por acaso, com J. (Leonardo Sbaraglia) ao entrar num elevador. J. está chorando, teve uma sessão difícil com o seu psicanalista alemão, já E. encontra-se numa situação difícil, perdeu tudo e teve que voltar a morar com sua mãe levando com ele seu inseparável gato. J. aparentemente é um homem que devia estar feliz, está numa boa situação financeira, tem uma esposa e filhos, mas não, ele está deprimido. 

S. (Javier Cámara) está com o filho e o leva para casa de sua mãe. Ali ele tenta entabular uma conversa com a ex-mulher que ele traiu e que o deixou, buscando reatar o casamento. 

Vemos então um homem G. (Ricardo Darín) sentado num banco em um parque. Ali ele encontra um amigo que faz tempo não vê, L. (Luis Tosar) que está levando seu cachorro Asko (nome sugestivo) dar uma volta.  Ele confessa ao suposto amigo L. que está seguindo sua mulher Laura, que ela o está traindo. Ele quer reconquistá-la e por isto nunca falou com ela sobre suas desconfianças. O bom amigo lhe aconselha a falar com ela, a facilitar as coisas para ela (???). Mas G. decide fazer o contrário, ao invés de falar com Laura ele diz que vai falar com o amante e eis que ele irá descobrir quem é este, e provavelmente sente asco. 

P. (Eduardo Noriega) está em seu trabalho e tenta seduzir uma colega que ele sempre desprezou pois ela era gorda e agora emagreceu. Será que ela vai aceitar? A cena do banheiro é hilária. 

A caminho de uma festa A. (Alberto San Juan) ouve uma amiga falando de seu relacionamento e de tudo pelo o que passou com o marido e fica pasmo. Enquanto isto M. (Jordi Mollà) que é o marido mencionado encontra a esposa de A. e também ouve uma confissão dos problemas que abalam o casamento dos dois. O terrível é o encontro dos dois, ambos olhando um para o outro, sem saber se sentem pena ou raiva, e sem saber que o outro sabe dele mesmo. 

O que este filme retrata é a humanidade dos homens e não os estereótipos, e o que não os diferencia das mulheres, todos com suas questões, fragilidades, dificuldades, bloqueios, medos, dúvidas, inseguranças, enfim, todos humanos. Vemos que eles não são tão unidos assim, e que também se desconhecem, mas sentem dúvidas, se perdem também na ambiguidade, não sabem o que fazer, como fazer ou quando fazer, tem desejos, e também sentem vergonha. 

Também é bom ver no filme a atuação conjunta de atores espanhóis e argentinos. O filme é ambientado em Barcelona, na Espanha. 

Cesc Gay nasceu em 1967 em Barcelona, Espanha.