quinta-feira, 31 de julho de 2014

FILME: E SE VIVÊSSEMOS TODOS JUNTOS? - 2011


Direção: Stéphane Robelin - 2011
Duração: 96 min
Título original: Et si ont vivait tous ensemble?

Dois casais e um solteiro, todos já entrando na velhice e amigos há mais de 40 anos. Annie (Geraldine Chaplin) é casada com Jean (Guy Bedos), Jeanne (Jane Fonda) com Albert (Pierre Richard) e ambas as mulheres tiveram um caso amoroso com Claude (Claude Rich).

Cada um deles enfrenta questões com a saúde, a sexualidade, a questão de morar sozinho. Jean é quem tem a ideia de todos morarem juntos em sua casa que é grande. Inicialmente os outros são contra, querem preservar sua privacidade e individualidade, mas a medida que cada um deles enfrenta um problema de saúde isto vai mudar. Albert tem um cachorro, Oscar, só que ele é bem grande, e um dia ao levá-lo passear o cachorro que é mais forte que ele o derruba. Sua filha quer se desfazer do cachorro. Claude sofre um problema no coração, e seu filho quer vender seu apartamento e colocá-lo em uma casa de idosos. Jeanne sofre de uma doença incurável, e sabe que Albert que já começa a perder a memória não poderá ficar sozinho. Então entre uma casa de repouso e morarem juntos obviamente optaram pela segunda opção.

Mas estes cinco são unidos, e é Jean e Claude que vão buscar o cachorro de Albert no canil onde sua filha o levou. Todos eles sequestram Claude do hospital e o levam para a casa de Jean e Annie, impedindo seu filho de entrar.

Albert irá contratar um jovem, Dirk, que estuda etnologia, para levar seu cachorro passear. Jeanne o acompanha em seus passeios e ao final, quando Dirk se vê encurralado pela namorada para ir fazer seu trabalho de campo é Jeanne que propôe que ele estude a velhice na Europa e não na Austrália como ele pretendia. Ele então vai viver com os cinco.

Um retrato bem humorado da velhice com todas suas questões que nem sempre são alegres mas que fazem parte da vida. Os filhos que sempre procuram resolver o problema de uma forma que eles se sintam menos culpados e ao mesmo tempo que não lhes tire seu tempo para cuidar de alguém. É interessante como há uma visão errônea que parece acreditar que um velho não pode mais tomar suas próprias decisões, precisa ser cuidado como um bebê. Como diz Claude, eu prefiro apodrecer em meu apto. do que numa casa de idosos. É um direito dele.

Mas por outro lado o filme trata a velhice de uma forma madura, onde cada um deles não se deixa levar pela idade e suas limitações, e mais do que isto, a amizade entre eles é tocante, eles se compreendem e se apoiam mutuamente.

Stéphane Robelin 

terça-feira, 29 de julho de 2014

LIVRO: HISTÓRIAS DE DIVÃ - GABRIEL ROLÓN



Rolón, Gabriel. Planeta do Brasil, 2008
260 páginas
Tradução: Sandra Martha Dolinsky
Título Original: Historias de Divan

São oito relatos de pacientes de Gabriel Rolón. O uso da palavra que permite a cura dentro de uma análise, as dores, sofrimentos, dúvidas, os conflitos. Quando alguém procura uma análise está em busca de ajuda para desvendar aquilo que só ele sabe, mas que não consegue acessar e para isto o analista está ali, na sua escuta flutuante ouvindo as associações livres, não "o que" diz o paciente, mas sim, "como diz".

Na infância nos ocorrem muitas coisas e algumas delas acabam se tornando traumáticas e são recalcadas por que não podemos admitir isto. A análise leva a simbolizar isto, a finalmente colocar em palavras o que está oculto e se manifestando em sintomas. Quando o sintoma causa dor, sofrimento, dificuldades na vida, as pessoas buscam ajuda, e é neste momento que ele entra pela porta do analista e se deita no divã, ou cara a cara, conforme o caso.

Neste livro há um relato que dói em todos nós, é o relato de Majo, e em como algumas vezes o psicanalista também deve enfrentar a dor, a dor da perda, da impossibilidade de fazer algo por mais que o deseje.

Não é um livro apenas para profissionais, pois todos que estão neste livro são seres humanos como qualquer um de nós, e o relato de Rolón é simples, verdadeiro, poético, como um romance, que é como tecemos nossa vida, um ficção, um romance.

É o segundo livro que leio de Rolón. E este foi transformado em uma minissérie que podemos encontrar no youtube.
Gabriel Rolón 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

FILME: QUANDO NOS TORNAMOS ADULTOS - 2004


Direção: Ron Underwood - 2004
Duração: 94 min 
Título original: Back when we were grownups 

Baseado no romance de Anne Tyler 

Rebecca (Blythe Danner) deixou seu namorado e seus sonhos de ser uma intelectual e se formar na Universidade para se casar com Joe que já tinha três filhas, mas ficou viúva jovem, com 26 anos. Agora ela tem 53 anos e questiona sua vida, o que realmente fez por si mesma.

Ela cuida da empresa de eventos, do idoso Poppy (Jack Palance) que vai completar 100 anos, e é o centro de sua família de 04 filhas, pois teve uma de seu casamento. Após uma visita a sua mãe onde relembram momentos passados, ela se decide a procurar por Will Alenby (Peter Fonda) que foi seu primeiro namorado que ela deixou para se casar.

Will está divorciado, tem uma filha e vive sozinho. Os dois se reaproximam, começam um namoro, mas as diferenças são muitas, as que já existiam antes e que fez com que Rebecca escolhesse outro para se casar.

É o momento em que Rebecca percebe que devemos ser felizes com aquilo que podemos ter e que construímos, voltar ao passado nem sempre é uma boa escolha, mas olhar para o futuro, como faz Poppy que após comemorar os 100 anos deseja que no próximo ano a festa seja maior.

Um filme gostoso de assistir, sem grandes dramas, mas que ensina o valor da vida, do viver o que podemos viver, mas também de assumir as escolhas que fizemos. Rebecca escolheu Joe, não Will, e escolheu continuar ali e ser o centro desta família e dar continuidade ao negócio deles. Claro que ela pode mudar, pode buscar outras opções, e ela faz isto, voltando a estudar para dar continuidade a pesquisa que estava fazendo e que abandonou quando se casou.

Não podemos ter tudo na vida, quando fazemos uma escolha perdemos outras oportunidades, mas ficar pensando no como poderia ter sido não leva a nada, o que vale é olhar o que se tem e o que se pode ainda ter.


Ron Underwood nasceu em 1953 em Glendale, Califórnia, EUA. 

domingo, 27 de julho de 2014

FILME: CÓPIA FIEL - 2010


Direção:Abbas Kiarostami - 2010
Duração: 106 min 

Título Original: Copie Conforme 

Prêmio de melhor atriz para Juliette Binoche no Festival de Cannes 2010

James Miller (William Shimell) é um escritor que está na Itália, na Toscana, para uma conferência sobre seu livro "Cópia Fiel" onde ele defende que na arte a cópia pode ser tão boa ou melhor do que o original. A Itália é um país com uma grande número de obras de artes, e não só em museus, mas estão ao ar livre, nas fontes, na arquitetura, nas igrejas, nas ruas. Elle (Juliette Binoche) vai a conferência e compra vários livros que deseja que sejam autografados. Deixa um recado para ele com seu amigo e tradutor para encontrá-la em sua galeria de artes. Ele vai e o os dois saem para dar um passeio pela região.

Durante o trajeto conversam sobre a questão do original e da cópia, com questões como se a Monalisa no quadro já não seria uma representação da Monalisa verdadeira, que deu origem ao quadro. Num determinado momento param para tomar um café e enquanto James sai para atender seu celular a dona do local o confunde como sendo o marido de Elle que conta isto para ele quando retorna, eles então passam a encenar como se fossem um casal.

James defende seu livro partindo da posição da subjetividade de quem olha para uma obra de arte. Se é desta percepção que uma obra depende então a cópia pode ser melhor que a original. E na relação a dois? num casamento? será que vemos o original ou aquilo que desejamos ver? sim, a cópia pode ser melhor, atende nossos anseios, nossa idealização do outro.

Quando eles passam a encenar o casal, como num palco, ficamos na dúvida, o que aconteceu? eles se conhecem? é o marido dela? ou não? Nunca sabemos ao certo o que ocorre com o outro, e quando Elle diz que inveja o casal de velhinhos ela pode não saber o que houve em suas vidas, o que os mantém juntos, e quantas ilusões e auto-enganos enfrentaram.

Um filme para refletir.

Abbas Kiarostami nasceu em 1940 em Teerã, Irã. Está radicado na França desde 2010. 

FILME: JULIE & JULIA - 2009


Direção: Nora Ephron - 2009 
Duração: 123 min


Baseado no livro Julie & Julia de Julie Powetl e no livro Minha vida na França de Julia Child com Alex Prud'homme. 

Baseado em fatos reais

Julia Child (Meryl Streep)  foi morar na França em 1949 com seu marido Paul (Stanley Tucci), um diplomata. Ela não sabia bem como preencher seu tempo e então resolveu se matricular na famosa escola Cordon Bleu da culinária francesa. Para isto teve que enfrentar o preconceito sobre mulheres ali, e principalmente uma americana, que segundo a dona da escola não tinha nenhum jeito para cozinha. Mas Julia conseguiu. Sua vida então passou a ser dedicada à cozinha e escreveu um livro em inglês para as americanas saberem cozinhar como na França.

Julie Powetl (Amy Adams) é uma jovem nova-iorquina que acaba de se mudar para cima de uma pizzaria e que trabalha num local de atendimento para reclamações, suporte emocional para problemas, e informações, um trabalho que não a satisfaz. Pensa então no que poderia fazer para tornar sua vida mais plena e seguindo a ideia de seu marido para fazer um blog opta por cozinhar e se propõe a dentro de um ano cozinhar 534 receitas do livro de Child.

O filme entrelaça a vida das duas em tempos com diferença de 50 anos.

Inicialmente achei Meryl Streep um tanto forçada, com seus olhares e poses, mas o fato é que Julia Child era uma mulher de 1,90 e tinha um jeito de falar como se estivesse dublando um personagem, o que aparece no filme quando Julie assiste os programas de Julie. Então percebi que Meryl conseguiu incorporar seu personagem.

Duas vidas distantes, duas mulheres casadas com bons maridos, mas ambas sem saber o que fazer de sua vida. A cozinha surge para preencher este espaço e dar um sentido, além do prazer que isto proporciona. A persistência e os desafios que ambas enfrentaram, cada uma a seu tempo, mostra que vale a pena insistir em seu desejo e num sonho. De qualquer maneira, como diria o marido de Julie, todos irão sobreviver caso não desse certo, mas o melhor de tudo foi que deu certo.


Assista a Julia Child apresentando na TV:




JULIA CHILD 

JULIE POWETL 

Nora Ephron nasceu em 1941 em New York,EUA e faleceu em 2012 na mesma cidade.

sábado, 26 de julho de 2014

FILME: BLUE JASMINE - 2013


Direção: Woody Allen - 2013 
Duração: 98 min 

Jasmine (Cate Blanchett) era casada com um milionário, Hal (Alec Baldwin) e vivia num mundo cor de rosa, tinha tudo que queria, era mimada pelo marido, nunca olhava para o que não queria ver como as escapadas do marido com outras mulheres ou os negócios dele, assinando papéis sem nunca se preocupar com nada, até o dia que Hal se apaixona por outra mulher e quer se separar dela. Seu mundo cai, e na incapacidade de enfrentar a realidade e sair de seu mundo imaginário onde tudo é perfeito, ela tem uma crise de raiva e liga para o FBI e entrega o marido que é preso e se suicida na prisão. O Estado lhe toma todos seus bens e dinheiro. Sem nada, ela procura sua irmã Ginger (Sally Hawkins) que é seu oposto, é funcionária de um supermercado, tem dois filhos e leva uma vida simples ao lado de seu novo namorado com quem pretende morar junto.

Jasmine acha tudo deplorável, acha que a irmã é um fracassada, que nunca procurou um homem decente e que tivesse sucesso, critica seu namorado, criticava seu ex-marido. Ela sempre fala sozinha, no avião indo para São Francisco onde mora Ginger, na rua, não se dirige a ninguém, não há outro. Mas parece que algo se modifica e ela tenta mudar sua vida, acaba aceitando trabalhar como recepcionista de um dentista, faz um curso de informática e quer ser uma design de interiores, mas para isto precisa fazer o curso online. Apesar de que novamente ela desejava voltar ao seu mundo anterior, não conseguindo se separar dele.

Até o momento em que conhece Dwight (Peter Sarsgaard) numa festa. Ele é um diplomata e que está viúvo, ele acaba de comprar uma casa e a convida para decorá-la. Os dois começam uma relação, mas Jasmine mente, diz que ficou viúva de um médico, que não tem filhos, esquecendo do enteado, e já se diz formada em decoração. Ele a pede em casamento o que ela aceita. Nesta mesma festa Ginger também conhece um homem e influenciada pelas opiniões da irmã ela acaba se envolvendo com ele, e deixa o namorado, até descobrir que ele é casado.

Dwight leva Jasmine para escolher o anel de noivado e neste dia encontram na rua o ex-marido de Ginger, que magoado e ressentido com o Hal que o fez perder o único dinheiro que teve na vida acaba falando de tudo isto na frente de Dwight que desiste de se casar pois perde a confiança nela. Ginger por seu lado percebe que prefere sua realidade, seu mundo, aquele onde é possível para ela viver e volta com seu namorado. Jasmine não consegue enfrentar a vida, crescer, e aceitar a realidade, e sozinha volta a andar pela rua e falar para ninguém.

Jasmine negava sua realidade, mesmo a de rica, onde não via as traições do marido, as armações e a desonestidade dele, se esconde atrás de ações humanitárias, de ajuda aos pobres, mas no momento em que perde o marido que representa esta proteção ela se vinga dele, de tirá-la da alienação e jogá-la na vida, entregando-o ao FBI. Por um momento parece que vai conseguir construir uma vida para si mesma, mas logo cai na mesma situação com outro homem, mas acaba perdendo este também. Ela não consegue aceitar que não é mais rica, que não está protegida pelo dinheiro e pela posição social. Vive num mundo irreal, onde pensa que estaria protegida e não consegue se confrontar a si mesma, ela prefere então outra alienação, indo para a insanidade.

Woody Allen 

quinta-feira, 24 de julho de 2014

FILME: LÉOLO - PORQUE EU SONHO - 1992


Direção: Jean-Claude Lauzón - 1992 
Duração: 107 min 
Título Original: Léolo 

Leo Lauzon ou Léolo (Maxime Collin)  como ele gostava de ser chamado vive em um cortiço em Montreal em meio a sua família um tanto excêntrica, para se dizer o mínimo . Suas duas irmãs vivem mais em hospitais psiquiátricos do que em casa, seu pai tem fixação anal controlando toda a família através de seu cocô. A mãe (Ginette Reno) é uma mulher obesa e carinhosa apesar de às vezes ter atos surpreendentes como queimar vivas com água fervendo a coleção de mariposas do menino, e o irmão Fernand vive seu trauma de infância.O avô é quem é responsabilizado por tudo isto por ser portador de uma loucura hereditária.  É o próprio Leo adulto (Gilbert Sicotte) quem narra o filme lendo o que escreveu.

Para escapar de toda esta miséria Leo começa imaginando que sua mãe engravidou não de seu pai, mas sim de um tomate italiano, e por isto decide que se chama Léolo Lozone, no que não é levado a sério por ninguém.

O pai toda semana dava laxantes a todos na família e controlava o resultado esperando na porta do banheiro e depois indo conferir. Dizia que o cocô era sinal de saúde. Leo é o único que tenta escapar disto, enganando o pai escondendo o laxante e depois colocando no lugar as fezes de animais.

Seu irmão Fernand (Yves Montmarquette) levou uma surra no início de sua adolescência de um marmanjo do bairro que queria dominar a área de entrega de papéis e o medo se torna sua razão de ser. Passará o tempo se preparando, ficando forte, levantando pesos e fazendo exercícios de forma obsessiva. Porém, quando maior e já bem forte se vê novamente diante do mesmo agressor não consegue se defender e apanha e chora como uma criança, não superando o trauma, onde nada faria diferença diante do medo.

Leo cresce amando sua mãe, negando o pai, que era o tomate, odiando seu avô que tentou afogá-lo numa piscina de crianças, e gostando muito de seus irmãos. Ele se refugiava lendo o único livro que havia na casa " L'avalée des avalés" de Réjean Ducharme e escrevia sem parar. Ele criou um mundo para ele, imaginário, onde havia Bianca uma descendente de italianos que nunca esteve na Itália e vivia no cortiço cantando enquanto pendurava as roupas para secar. Ele a via cantando para ele, e ela se torna seu único amor.

Ele irá passar por toda descoberta da sexualidade de forma precária, sem informações, diz que tinha um rabo mas que não sabia como se chamava e que ninguém o dizia, desconfiava que ninguém tinha nome para isto. Como todo garoto ele irá espiar e será Bianca até descobrir que seu avô tem algo com ela e isto o levará a tentar matá-lo. Ele se masturba usando carnes que sua mãe comprava e depois terá sua primeira experiência com uma prostituta.

Ele sempre lia a frase do livro : Porque eu sonho, eu não sou. E um dia dirá: porque tive medo de amar, não sonho mais. Tem um surto e irá para o Hospital sendo tratado com remédios e banhos gelados.

O filme não trabalha apenas com este lado da insanidade e problemas mentais, mas ele também reflete muito da pobreza local. A todo instante vemos ratos, casas feias e podres, o cobertor furado, os meninos pegam papel para vender, Leo vasculha o fundo do rio imundo onde há até cachorros mortos, para conseguir algo para vender e conseguir comprar uma bicicleta. Quando ele sonha ele se afasta desta dura realidade, o que vemos são belos campos verdes e floridos, imagens da Itália, um lugar bonito. Ele usa sua imaginação para lidar com este real, para de alguma forma construir algo mais belo. Ele não é quando sonha, ele está em outro mundo, e no dia que ele deixa de sonhar ele cai em sua realidade que não é a Itália, nem sua Bianca, mas esta família e a pobreza. Como seria possível sonhar neste mundo em que ele vivia?

Na escola ninguém está preocupado em formar futuros, mas apenas em sobreviver ali, como diz o professor, minha especialidade não é o francês, é o judô. Ele dá aulas para futuros operários, que nunca passarão disto.

Como viver uma infância num contexto destes? mesmo os adultos? Cada um lida com isto como pode. A irmã diz que lhe roubaram seu bebê, mas o que será que ela teve de realmente roubado dela? a outra se veste de rainha num mundo de insetos, como se quisesse se diferenciar de tudo aquilo, o irmão com seu trauma, o pai e sua obsessão, e Leo vive em outro mundo o que lhe permite sobreviver a tudo isto.


Jean-Claude Lauzon nasceu em 1953 em Quebec, Canadá e faleceu em 1997 em um acidente de avião. Léolo foi seu último filme. 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

FILME: A GRANDE BELEZA - 2013


Direção: Paolo Sorrentino - 2013
Duração: 142 min
Título Original: La grande bellezza
País: Itália

Indicado no Festival de Cannes 2013 como longa-metragem. Venceu o Globo de Ouro. 

Roma. Jep Gambardella (Toni Servillo) escreveu um único livro "O aparelho humano" e leva uma vida de luxo, em festas, indo sempre dormir quando os outros acordam, mas pouco a pouco ele começa a refletir sobre tudo isto.

Ele está com 65 anos e nunca mais conseguiu escrever outro livro, diz que procurava a grande beleza, mas não a encontrou. Começa a perceber a inutilidade de sua vida, e de todos que estão ao seu redor, pessoas que não fazem nada a não ser se divertir e falar dos outros.



Jep mora em belíssimo apartamento de frente para o Coliseu e passeia pelos locais de Roma e sua arquitetura belíssima, a arte, a música, mas nada disto lhe diz algo que o leve a escrever novamente. Até o dia que ele se recorda de seu primeiro amor.

O filme foca o confronto com a velhice, quando os amigos começam a morrer, a ir embora, e Jep percebe que não tem ninguém, que todos aqueles que o adulam nas festas não são seus amigos.

Quando ele conhece uma irmã com 104 anos que só come raízes, e que com sua presença calma deixa que vários pássaros que estão indo para o oeste permaneçam por um momento de descanso na varanda de Jep, ele começa a ter uma nova percepção do que é belo. A freira lhe diz que só come raízes porque as raízes são o que há de mais importante.



Um retrato trágico da sociedade de Roma com todas suas futilidades e fugas, e como dirá Jep, por baixo deste blá blá blá todo não há nada, está tudo desestruturado. Jep terá que abrir mão de todo este glamour e fama que ilusoriamente lhe pareceu preencher a vida e dar um sentido. Tudo ia bem quando era jovem, mas e agora? A vida ainda não acabou, mas o que fazer dela?



Ele terá então que compreender a nostalgia que sente ele não teve, Elisa não se casou com ele e agora está morta, mas mesmo assim, é na busca destas raízes que ele poderá recomeçar, poderá subir os degraus de uma vida até chegar a morte, como a irmã, mas dando um sentido, construindo um sentido para cada degrau, e eles não são fáceis de subir, é preciso esforço, é preciso desistir da ilusão da grande beleza, da perfeição,  para encontrar a beleza das pequenas coisas do dia a dia.


Paolo Sorrentino nasceu em 1970 em Nápoles, Itália. 

terça-feira, 22 de julho de 2014

FILME: A MELHOR OFERTA - 2013


Direção: Giuseppe Tornatore - 2013
Duração: 125 min
Título Original: La Migliore Offerta

Virgil Oldman (Geoffrey Rush) é um bem sucedido leiloeiro de obras de arte e antiguidades. É um homem só, com manias como usar luvas para não se contaminar, tem um armário repleto de luvas, e as usa inclusive para comer, ele não toca em nada nem em ninguém. Vive alheio aos outros, sem amigos, sem convívio social. Sai para jantar só, e no dia do seu aniversário o restaurante de onde é um cliente fiel lhe ofertam uma torta com uma vela acesa que Virgil fica olhando queimar, até explicar ao garçom que é supersticioso, e que seu aniversário é só no dia seguinte e ainda são 22:35hs. Ele se levanta e vai embora.

Sua grande paixão são as obras de arte, pinturas e as antiguidades, mas principalmente ele coleciona quadros de mulheres que ele guarda num cofre atrás do armário de luvas. Ele tem um colega, Billy, um pintor frustrado, que nunca foi reconhecido por Virgil que o ajuda na compra destas obras nos leilões que ele dirige.

Um dia ele é contatado por uma jovem órfã, Claire Ibetson (Sylvia Koeks)  que vive num velho casarão repleto de obras de arte e que deseja que ele seja o leiloeiro. A relação inicial é difícil, ele finge que é o assistente, mas acaba indo e fica intrigado porque a jovem que liga nunca aparece até que descobre que ela sofre de agorafobia. Ele será sensibilizado por isto, e tentará se aproximar dela.

Ir adiante tiraria o prazer de quem vai assistir ao filme e de seu desfecho que irá surpreender, mas o filme nos mostra o quanto pode ser cruel a solidão humana. Virgil sempre teve medo das mulheres, não sabia como se relacionar com elas, e ao mesmo tempo desconfiava de todos que se aproximavam dele. Claire irá mudar isto, mas a mesma sensibilidade e conhecimento que ele tem para ver se uma obra de arte é verdadeira ou não, será que ele terá com os sentimentos e com as pessoas?

A identificação entre eles, Virgil um solitário obsessivo, Claire sofre de agorafobia, ambos vivem sós e como que isolados do mundo e dos outros. Ele se dedica a colecionar quadros de mulheres que ficam num cofre onde somente ele pode admirá-las, ela uma escritora que usa um pseudônimo , tudo isto leva a uma transferência e projeção que cria representações e ilusões também. Quando a paixão se instala vem a idealização e a cegueira, pequenos detalhes passam desapercebidos, e somente depois serão notados.

Giuseppe Tornatore nasceu em 1956 em Bagheria, Itália. 


Trilha Sonora de Ennio Morricone 

Ennio Morricone nasceu em 1928 em Roma, Itália. É um compositor, arranjador e maestro

LIVRO: INVERNO DE PRAGA - Uma história pessoal de recordação e guerra, 1937 - 1948 - MADELEINE ALBRIGHT



Albright, Madeleine. 1ª ed. Objetiva, 2014
479 páginas
Tradução: Ivo Korytowski
Título original: Prague Winter: a personal Story of remembrance and war, 1937-1948

"ÀQUELES QUE NÃO SOBREVIVERAM, MAS NOS ENSINARAM COMO VIVER E POR QUÊ."

Madeleine Albright foi Secretária de Estado dos EUA e neste livro ela nos relata a história de sua família durante a Segunda Guerra Mundial, mas muito mais, ela nos conta a história da Tchecoslováquia e do Leste Europeu durante a guerra e também sobre o que ocorreu na Europa.

Albright era uma criança quando a guerra começou e somente muitos anos depois, quando seus pais já não viviam, ela tomou conhecimento do seu lado judaico e do destino de muitos de seus familiares. O livro é um relato sobre a guerra baseado numa extensa pesquisa, mas é também o relato pessoal de Madeleine e de sua família.

Achei interessantíssimo, pois temos muitas informações sobre os países da Europa Ocidental, mas pouco sobre o que ocorreu no Leste Europeu em países como Hungria, Romênia, República Tcheca, Eslováquia, a antiga Ioguslávia entre outros.

O livro inicia com um relato sobre a história da Tchecoslováquia, de sua formação inicial, Boemia, Morávia, Eslavos, ainda sob o Império Austro-Húngaro. Conta as lendas e costumes, os principais heróis. Algo que eu pessoalmente desconhecia e me enriqueceu muito, me levando a assistir o filme "A Avó" que já postei aqui no Blog. São muitas informações interessantes e que enriquecem.

O relato inclui toda a diplomacia que não surtiu nenhum efeito sobre Hitler, nos ensina a ser mais perceptivos, a ter mais cuidado. Tanto Hitler como Stálin mentiam, enganavam, não cumpriam com sua palavra, mas os outros países também visavam seus interesses e neste jogo não perceberam diante do que estavam e o que poderia vir a ocorrer.

A família de Madeleine consegue se exilar na Inglaterra, mas muitos de seus familiares ficaram e depois morreram de fome, doenças ou nas câmaras de gás. Ela relata o bombardeio de Londres, e a luta para voltar à democracia e liberdade. Acompanha principalmente Benes no exílio e suas tentativas para manter a Tchecoslováquia como um país e livre após a guerra, o que infelizmente não ocorreu. Este país que havia atingido sua independência e se formado logo após o fim da Primeira Guerra teve curta duração.

Após o fim da Segunda Guerra o Leste Europeu passou a ser um satélite da Rússia, estavam atrás da Cortina de Ferro, e apesar de toda a luta a Tchecoslováquia também ficou ali. Neste momento a família de Madeleine que havia retornado à Praga e depois ido para Belgrado, numa Iugoslávia já sob a ditadura de Tito, acabou pedindo exílio aos Estados Unidos.

Um livro que trata da história, mas também de pessoas, de todas que arriscaram suas vidas, das que morreram, das que sobreviveram, que nos traz as decisões terríveis que tiveram que tomar, onde o contexto não permite decisões morais, e sim de sobrevivência. Não há como julgar, pois somos incapazes de responder o que faríamos na mesma situação. A guerra trouxe a tona o que há de pior no ser humano, mas também o que há de melhor.

Recomendo a leitura, um livro belíssimo, sobre uma vida , sobre várias vidas e sobre um momento trágico da história do mundo.

Madeleine Albright nasceu em 1937 em Smíchov, República Tcheca foi a 64ª Secretária de Estado dos Estados Unidos, tendo sido a primeira mulher no cargo. 

sábado, 19 de julho de 2014

FILME: ANNA - 2014



Direção: Jorge Dorado - 2014 
Duração: 99 min
Título Original: Mindscape 

Anna (Taissa Farmiga) é uma jovem de 16 anos muito inteligente e brilhante, que se recusa a comer. Sua mãe e seu padrasto procuram ajuda e um detetive John (Mark Strong) que trabalha com a memória assume o caso.

John consegue adentrar a memória das pessoas e estando lá ele observa o que acontece. Porém ele acaba de passar por uma situação difícil particular com sua esposa que por terem perdido o filho quis retornar ao passado quando ele ainda estava vivo o que acaba a desestruturando levando-a se suicidar em uma banheira.

Anna é problemática, já esteve envolvida em várias situações difíceis, inclusive com um professor de artes que foi preso por tirar fotos impróprias de Anna, com um amiga que foi envenenada e até a enfermeira que foi jogada da escada a culpa recai sobre ela que alega que querem acusá-la para se livrarem dela por causa da herança. Seu padrasto, caso ela fosse afastada, seria quem iria gerir sua fortuna.

Aos poucos John vai entrando na memória de Anna, mas ela é astuta, e sabe o que quer, manipulando inclusive sua memória e utilizando-se dos pontos fracos de John, o que ele descobre tarde demais. Mas ela gosta dele e acaba lhe dando a prova necessária para inocentá-lo quando ele se vê envolvido num crime que não cometeu. John aposta em abuso sexual infantil e nos traumas provenientes deste ato, mas estaria ele correto?

O filme é um suspense que abusa um pouco de cenas assustadoras, parecendo que vemos assombrações e vultos, mas ele reflete bem o que ocorre em uma terapia, de qualquer linha, onde há sempre transferência e contratransferência e quando um terapeuta está com problemas próprios isto acaba interferindo, uma vez que é o seu trauma que assume muitas vezes o que ele acredita ser do paciente.

A memória nem sempre é confiável, ela se cria, se recria, mas o que John aprende é que é preciso enfrentar a verdade, e neste caso, a sua verdade, em relação a sua esposa, o que no filme é simbolizado quando ele finalmente põe a venda a casa onde ocorreu sua tragédia pessoal.


Jorge Dorado nasceu em 1976 em Madrid, Espanha. 

FILME: DUAS VIDAS - 2013


Direção: Georg Maas - 2013
Duração: 97 min

Título original: Zwein Leben 

1990 - o murro de Berlin acabou de cair. Katrine (Juliane köhler) vive na Noruega há mais de 20 anos, casada com Bjarte (Sven Nordin),  tem uma filha e uma neta. Ela é uma das "filhas da guerra" que foram as crianças que nasceram de relações entre alemães e norueguesas durante a ocupação da Noruega na Segunda Guerra Mundial. Estas crianças foram retiradas de suas mães pelos nazistas e enviadas para serem arianos, acabaram em orfanatos.

Tudo ia muito bem até que um advogado lhe pede para testemunhar e a sua mãe Ase Evensen (Liv Ullmann)  num julgamento contra o Estado Norueguês a favor das crianças da guerra. A partir deste momento muitos segredos virão à tona.

Katrine teria fugido da Alemanha Oriental para encontrar sua mãe, Ase Evensen, mas ela carrega um segredo imenso. Num papel tanto de vítima como de culpada, não há como julgar Katrine.

O filme fala destas crianças que foram tiradas de suas mães e depois que a Alemanha perdeu a guerra foram discriminadas, pois também não eram bem vistas pela Noruega. Além disto trata da guerra fria e da espionagem, a Stasi - Serviço secreto da Alemanha Ocidental,  e agentes infiltrados em famílias norueguesas que até hoje não foram todos descobertos.

Um filme denso, que trata de vários temas em volta da Segunda Guerra e suas consequências seguida pela Guerra Fria. As escolhas, decisões tomadas durante uma guerra podem ser julgadas como os atos fora deste contexto? há realmente escolha em alguns momentos? e é triste ver que o que aconteceria à Katrine se sua escolha tivesse sido outra no começo de tudo o seu fim seria o mesmo que anos depois.


Georg Maas nasceu em 1960 em Aachen, Alemanha

sexta-feira, 18 de julho de 2014

FILME: ANTES DO INVERNO - 2014


Direção: Philippe Claudel - 2014 
Duração: 98 min
Título Original: Avant L'hiver. 

Paul (Daniel Auteuil) é casado com Lucie (Kristin Scott Thomas) e é um neurocirurgião e professor extremamente conceituado em sua profissão. Eles estão casados há muitos anos e tem um filho casado e uma neta. O dia a dia é monótono. Lucie cuida do jardim que é visitado pela sua beleza e ele se dedica totalmente a seu trabalho.Ambos tem um amigo, o psiquiatra Gérard (Richard Berry) que é apaixonado por Lucie e joga partidas de tênis com Paul onde sempre perde.

Um dia ele cruza com uma moça, Lou (Leila Bekhti) que lhe diz que o conhece, que ele operou sua apendicite quando ela era criança, o que ele não se recorda, mas a partir deste momento ele irá sempre se cruzar com esta moça. Ao mesmo tempo ele começa a receber buques de flores na clínica e em casa.

Os buques desencadeiam suspeitas e começam a surgir as questões de uma vida em comum onde o dia a dia e a monotonia acabou afastando o casal. Eles não conversam mais, há um vazio ali. Paul começa a pensar no que poderia ter sido sua vida, e Lou é algo que o comove e o faz pensar no antes, no passado, na vida como ele diz. O que ele não sabe é quem é realmente Lou.

Ele inicialmente desconfia desta moça, acha bizarro ela estar sempre onde ele está, e isto o tira de sua zona de conforto onde vivia. Aos poucos ele se aproxima dela, mas não da forma como ela espera, ele não a procura como mulher, para o sexo, mas sim, para tentar olhar para si mesmo e ao mesmo tempo o faz perceber que a velhice se aproxima, que seu casamento é frio, que o desejo sexual está morto.

Mas nem sempre tudo é o que parece e uma surpresa aguarda Paul em relação à Lou, apesar de que ele parece tê-la tocado uma vez que acabará tendo uma saída drástica para evitar que se concretize o planejado em relação à ele.

Há uma bela cena no filme, uma senhora que será operada de um tumor, ela pede à Paul que guarde os nomes de sua família, todos mortos no holocausto, com receio de se morrer estes nomes nunca tenham sido pronunciados, e se viver, eles podem desaparecer pois pode ser que o tumor que ela carrega seja eles.


Philippe Claudel 

FILME: ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA - 2008


Direção: Fernando Meirelles - 2008
Duração: 120 min
Título original: Blindness 

Baseado no romance homônimo de José Saramago

Aos poucos uma estranha cegueira chamada "cegueira branca" por deixar as pessoas vendo apenas uma superfície leitosa vai tomando conta de todos os moradores de uma cidade. Inicia com um motorista no trânsito e vai avançando e se espalhando.

O medo toma conta, a paranoia e começam a isolar as pessoas afetadas que acabam sendo deixadas à própria sorte. Porém, uma única mulher (Julianne Moore), esposa do médico oftalmologista (Mark Rufallo) não fica cega, mas para não deixar seu marido sozinho, ela finge estar cega.

Ao se darem conta que estão abandonados os internos começam a lutar por suas necessidades básicas, e os piores instintos e pulsões irão aparecer. As máscaras civilizatórias caem, e tudo aquilo que uma cultura e educação reprime surge. Um dos internos se proclama rei e é ajudado pelo único ali que é realmente cego, irão exigir dos outros que seus desejos sejam realizados.

A cegueira branca, ou seja, o que não enxergamos na vida, ou o que não queremos enxergar, o pior de cada um de nós que só vemos no outro. A mulher que enxerga ainda é uma representante da luz, da civilização, mas até ela, ao ver o que não quer sucumbe. É preciso reaprender a viver, a enxergar as coisas como elas são e não como desejamos que sejam.

É um viver sem moral o que acontece no sanatório, mas é justamente quando se defrontam com o real é que surge a possibilidade de reconstruir algo. Talvez seja otimismo demais, mas não deixa de ser uma tentativa.


A reação de Saramago ao filme 

Fernando Meirelles nasceu em 1955 em São Paulo, Capital. 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

FILME: BORDADEIRAS - 2004



Direção: Éléonore Faucher - 2004 
Duração: 89 min
Título original: Brodeuses

Recebeu o grande prêmio da semana da crítica no Festival de Cinema de Cannes 2004. Foi nomeado para 03 Césares - Melhor atriz secundária - Ariane Ascaride, Melhor esperança feminina - Lola Naymark e melhor Primeira Obra.

Uma jovem de 17 anos Claire (Lola Naymark) está grávida e esconde isto de todos, inclusive dos pais com os quais não vive mais. Ela pretende dar a luz como anônima e dar a criança para adoção, mas precisa sair do supermercado onde trabalha e para isto inventa que está doente e tem um câncer, obtendo uma licença médica.

É uma jovem trabalhadora que também borda, mas que no fundo está desesperada com seu estado e sem apoio, e que precisa trabalhar. Para isto ela procura uma bordadeira Mme. Melikian (Ariane Ascaride) que acaba de perder seu filho num acidente de moto e lhe pede trabalho.

Aos poucos entre um ponto e outro estas duas mulheres irão se aproximando como tecendo uma teia de afetos em cada gesto de cada uma, e se estabelecerá uma relação de mãe e filha, o que Claire não tinha, uma vez que sua mãe nem mesmo percebe que ela está grávida quando a vai ver por saber que ela está doente. É na medida que os bordados também evoluem, ficam mais requintados que a relação também se aprimora, assim como a bariga cresce e aquele bebe que como diz Claire durante o dia se esconde, mas que à noite aparece e encontra seu conforto, vai também ganhando um espaço no afeto destas mulheres.

Éléonore Faucher é francesa 

quarta-feira, 16 de julho de 2014

FILME: A VIDA DURANTE A GUERRA - 2009


Diretor: Todd Solondz - 2009
Duração: 94 min
Título original: Life during Wartime.

Minha primeira experiência com o cinema de Todd Solondz, e não sabia que havia o filme Felicidade ao qual este dá continuidade, mas é possível assistir A vida durante a guerra separadamente.

A família "normal" com tudo que ela tem de anormal, de problemas, passado, dificuldades, traumas, mas que apesar de tudo tenta viver e viver bem e ser feliz. Três irmãs, Joy, Trish e Helen, cada uma com seus problemas.

Joy (Shirley Henderson) me parece desejar salvar o mundo, há um momento em que ela diz que nem todos os terroristas e estupradores são maus, mas os dois homens com quem se relacionou se suicidam. Trish (Allison Janney) tenta reconstruir sua vida com outro homem anos depois de Bill (Ciarán Hinds), seu marido e pai de seus três filhos ter sido preso por pedofilia e Helen (Ally Sheedy)que se afastou de todos e se sente pressionada pela família e por sua carreira e sucesso.

E a grande questão: perdoar ou esquecer? perdoar para poder esquecer? ou esquecer e não perdoar?

Bill ao sair da cadeia procura seu filho mais velho, quer ter certeza de que ele não será como ele. Seu filho do meio vive a angústia de descobrir que seu pai não morreu e que é pedófilo. Trish havia dito que ele havia morrido e Bill acha que é o melhor. Tem um encontro breve com uma mulher (Charlotte Rampling) com quem consegue um pouco de dinheiro para ir até onde está o filho e depois desaparece.

Vários temas num mesmo filme que poderiam ser mais explorados, mas mesmo assim é um retrato deste mundo meio caótico, sem muito sentido onde todos tentam de alguma forma levar uma vida normal, mesmo diante de questões que não são nada normais.

A questão da pedofilia não é explorada a fundo, mas não deixa de transparecer as consequências, neste caso na família do pedófilo. O filho mais velho que lida com isto estudando antropologia e a questão da homossexualidade em animais, o filho do meio que quando se defronta com a verdade tem que obter respostas e que no fundo só desejava um pai. O medo da mãe que faz com que o filho tenha que gritar a qualquer toque de outro homem, o que causa um constrangimento e mal entendido com seu namorado, que só abraça o menino carinhosamente. O pai que tem medo que seu filho siga pelo mesmo caminho. Por que no fundo a pedofilia, apesar de ser um crime também precisa ser tratada, e o pai pagou pelo seu crime dentro da lei, mas assim mesmo as consequências ficam.


Todd Solondz nasceu em 1959 em Newark, New Jersey, EUA. 

FILME: A AVÓ - 1940

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Direção: Frantisek Cáp - 1940 
Duração: 90 min 
Título Original: Babicka The grandmother 
Filme em preto e branco

Baseado no livro A Avó: uma história da vida rural na Boêmia, 1852 de Bozena Nemcová.

Eu já havia selecionado este filme para assistir, porém ontem iniciei a leitura de Inverno de Praga, de Madeleine Albrigth e logo no início ela fala do livro no qual o filme é baseado, e isto me inspirou a ver o filme hoje.

O livro A Avó foi uma das primeiras obras literárias sérias publicadas em tcheco. É a história de uma avó (Theresa Brzková)  que vai morar com uma filha e os netos que vivem no campo. Uma história singela, mas que traz muito dos costumes e tradições locais além das histórias desta avó maravilhosa que ensina muito sobre o viver.

Entre as tradições e lendas vemos no filme a avó acordar a neta com tapinhas na testa, para que a alma acordasse primeiro. O pão era sagrado, e pisar em uma única migalha faria as almas do purgatório chorarem. As visitas eram recebidas com o pão e sal.

A avó que todos desejamos é o que vemos no filme, a sabedoria, o amor, a ternura, e as histórias que elas contam.


Frantisek Cáp também conhecido como Franz Cap, nasceu em 1913 em Celákovice, Boêmia, na época Império Austro-Húngaro e faleceu em 1972 em Piran, atual Eslovênia (na época Iugoslávia). 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

LIVRO: CONSOLAÇÃO - BETTY MILAN



Milan, Betty. Record, 2009
165 páginas

Laura vive em Paris com seu filho e o marido Jacques que vive a agonia terminal de um câncer, levando-o a reviver os fantasmas da segunda guerra mundial, dentro de uma semi-consciência.

Após a morte de Jacques ela retorna ao Brasil, sua terra natal, mas ao chegar ao aeroporto não se dirige de imediato para sua família, mas antes ela vai para o centro de São Paulo e ao cemitério Consolação.

O título consolação adquire a ambivalência do nome do cemitério como também a significação do consolo, da aceitação, da consolação não apenas pela morte do marido, mas pelas misérias da vida.

Caminha pelo cemitério e conversa com os mortos, depois segue o conselho de seu pai, e vagueia pelas ruas, conversa com moradores de rua. É uma errância, um perder-se para se reencontrar. Ao ouvir os mortos e os que nunca são ouvidos se dá conta de que ninguém deixa realmente de existir porque morre.

A pessoa que partiu continua viva, ela vive em nós, nas nossas lembranças, memórias, nas coisas que deixou, que fez, ela continua sendo o que foi. É esta a consolação para a perda, e isto é o saber viver.

Betty Milan 

LIVRO: A VIAGEM DE THÉO - Romance das Religiões - Catherine Clément


Clément, Catherine. Companhia das Letras, 1998
625 páginas
Tradução: Eduardo Brandão
Título Original: Le voyage de Théo

Théo sofre de uma doença grave e sua tia Marthe se propõe a levá-lo em uma viagem que pode se transformar em sua cura. Esta viagem será pelos locais sagrados de todas as religiões e seus rituais, além de Théo ter que descobrir sempre qual será a nova etapa da viagem através de pistas, como num jogo.

Marthe e Théo viajarão pelo mundo passando pelos locais sagrados do catolicismo, hinduísmo, judaísmo, protestantismo, budismo, islamismo entre outras. Ele sempre gostou muito de livros e lia muito sobre religião, se perguntava como os homens criaram deuses e como estes podem influenciar na história dos homens. Então, é a oportunidade de ir aos locais que ele só conhecia pelos livros e vivenciar o sagrado.

Um romance sobre as religiões, sua história, fundamentos, crenças, rituais.

Catherine Clément nasceu em 1939 em Boulogne-Billancourt, França. É autora de obras de filosofia, psicanálise e antropologia. Amiga de Claude-Levi Strauss que sempre lia seus romances antes que ela os publicasse. 

LIVRO: AMOR PARA SEMPRE - IAN McEWAN


McEwan, Ian. Rocco, 1999
259 páginas
Tradução: Paulo Reis
Título Original: Enduring Love

O que era para ser um belo momento de reencontro, amor de Joe com sua mulher que acabava de retornar de uma viagem acaba transformando para sempre a vida dos dois.

No momento em que está abrindo uma garrafa de vinho nas colinas de Chiltern onde estavam fazendo um piquenique eles ouvem um grito desesperado. Joe sai correndo e não ouve sua mulher alertando-o para ser cauteloso. Um balão a deriva, um homem e uma criança estão nele. Outros homens que estão por perto também correm. O homem se solta, mas a criança permanece no balão que começa a subir, todos ficam pendurados tentando segurá-lo até o instante que um deles o solta e os outros também, exceto um que permanece e terá um final trágico.

Um dos homens que segurou era Jed Parry, e no instante que eles cruzam o olhar a vida de Joe irá mudar. Jed se apaixona por Joe, é algo imediato, instantâneo, e se transforma numa obsessão que leva a loucura e perseguição.

O que fazer quando alguém se apaixona de uma forma patológica e encontra desculpas para toda e qualquer recusa do outro alegando que não é porque o outro não o ama, mas porque está sendo impedido, não pode? E como agir com sua esposa que não acredita em toda esta loucura?

A vida de Joe se transforma num inferno, uma loucura, ao ponto dele já não saber se está louco ou não. Se o que ele vê e percebe é real ou não. Nem nós leitores sabemos.

A história se desenvolve segundo os estágios da erotomania: a esperança, o despeito e o rancor.

Joe inicialmente se sente atraído pelo que está acontecendo, mas também sente repulsa. Como lidar com estes sentimentos? Quando Jed se torna violento é a vida de Joe e sua esposa que estão em risco, mas a polícia não acredita nele, nem sua esposa.

Como a vida pode mudar em questões de minutos, as contingências, algo não previsto, e o que fazer então?

O amor patológico, a obsessão, a incapacidade de agir na realidade, a erotomania, onde se cria um mundo e razões para tudo e não se escuta o outro. McEwan consegue nos levar junto, vamos vivendo o que se passa ao ponto de também não sabermos mais quem está dentro da realidade.


Ian McEwan nasceu em 1948 em Aldershot, Inglaterra. 

sexta-feira, 11 de julho de 2014

FILME: A MULHER CANHOTA - 1978



Direção: Peter Hadke 
Duração: 119 min 
Título original: Die Linkshändige Frau 

Baseado no livro homônimo de Peter Hadke 

Marianne (Edith Clever) é casada com Bruno (Bruno Ganz) e tem um filho Stephan. Sem expor nenhum motivo Marianne pede que Bruno vá embora após passarem a noite juntos, ela não quer mais viver com ele. Durante todo o filme não haverá uma explicação por parte dela sobre isto.

O que dizer sobre o filme? Fui tomada por uma sensação de monótono, de dia a dia, de melancolia. Estamos no pós-guerra, as paisagens são melancólicas, poucas pessoas nas ruas, bosques com árvores caídas, sem folhas, tudo é cinza com pouco colorido.

Bruno fica pasmo, não quer acreditar e tem dificuldade em aceitar. Ela não se incomoda. O filho parece sentir tudo isto, diz em um momento que ele também está triste, mas permanece em sua rotina, exceto pelo fato que toma o lugar do pai para proteger a mãe do editor que vem fazer uma visita. O pai escreve para o filho, e quando vai à casa não há cenas dele com o Stephan.

Marianne olha tudo e parece sempre estar fazendo uma reflexão, mas nada que altere sua vida de forma notória. Os outros não compreendem e insistem para que ela volte para o marido, o que ela não faz.

O filme mostra uma realidade, sem grandes feitos, o que ocorre no dia a dia. Nada de grandes encontros, festas, sonhos e ilusões, mas simplesmente o vazio inicial de uma separação, as dúvidas, os medos, mas também as descobertas que se faz pouco a pouco. Não concordo com alguns comentários sobre o filme que Marianne se torna independente,uma vez que permanece no seu conforto de sua casa e com uma conta bancária conjunta que lhe proporciona o que precisa, mas ela pode finalmente ocupar este espaço de forma independente, mudando as coisas de lugar, jogando fora o que não lhe interessa, mas há algo que me toca, ela sempre olha para fora, como se buscasse algo lá fora.

Ela passa a trabalhar como tradutora, e acaba se afastando das pessoas uma vez que elas a julgam e insistem para que volte para o marido. Ela passará pelo momento de reavaliar quando percebe outros casais juntos, famílias, sejam os vizinhos, na rua ou num filme que assiste. Mas permanecerá determinada em sua decisão.

É um filme que trata do real dentro da realidade, uma vez que não se trata da busca de uma ilusão de felicidade, mas apenas de uma decisão de uma mulher que precisa estar consigo mesma, sentir uma certa liberdade, poder fazer o que deseja, o que não significa o paraíso que muitos fantasiosamente buscam.

Talvez por isto seja um filme difícil de assistir e que causa incomodo, não nos vemos diante projeções de felicidade e sucesso, mas simplesmente diante da realidade sem fogos de artifício.

Gerard Depardieu faz uma pequena aparição no filme.



Peter Handke nasceu em 1942 em Griffen, Caríntia, Áustria. 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

FILME: UMA CARTA AO PAI - 2009


Direção: Johnny Remo - 2009 
Duração: 90 min
Título original: A letter to dad

Baseado em fatos reais

Dan (Thom Mathews) está prestes a se casar e percebe que há algo não resolvido em relação a si mesmo que interfere na sua relação e casamento e que precisa se libertar do passado para poder continuar sua vida e ser feliz. Resolve então escrever uma carta ao seu pai Mike (John Ashton)  falando sobre tudo que sente, do abandono na infância e de suas dores em relação à isto.

Um filme que nos mostra que não se livra do passado tão facilmente, que ele permanece ali atuando de alguma forma e que é preciso enfrentar isto para se libertar.


Johnny Remo