segunda-feira, 17 de setembro de 2012

LIVRO - DIÁRIO DE LUTO - ROLAND BARTHES



Barthes, Roland. 1ª ed. Editora WMF Martins Fontes, 2011
Tradução: Leyla Perrone-Moisés
264 páginas


Por ocasião da morte de sua mãe Barthes iniciou um diário onde coloca dia a dia suas impressões e o que sentia de 26 de outubro de 1977, dia seguinte a morte de sua mãe até 15 de Setembro de 1979. Ele escrevia em fichas que depois formaram este livro. Como perdi minha mãe recentemente a leitura deste livro mostrou-me que muitos dos meus sentimentos foram vividos por ele também. Muitas vezes sentimo-nos sufocados e pressionados pela cultura que ele chama de futuromania, ou seja, que devemos ir em frente, continuar a vida, trabalhar, sair. Porém o luto requer um certo distanciamento e tem que ser vivido, do contrário ele se torna patológico. Barthes diz que justamente o luto foi algo que ele viveu sem neuroses e sem histeria.
Outro ponto que ele toca é sobre a questão da oscilação dos sentimentos. Um dia estamos bem e no outro péssimos, num momento queremos viver, no outro não. Ele diz: "momentos em que estou distraído (falo e se necessário, gracejo) - como que seco - aos quais sucedem bruscamente emoções atrozes, até as lágrimas."
E no meu caso, foi muito importante a leitura deste livro, pois Barthes também viveu sua vida juntamente com sua mãe, e isto é algo que traz algumas diferenças no luto, pois muitos dizem que é a hora da liberdade, mas alguém já tentou fruir uma liberdade em meio a dor? onde a fruição se deve à uma perda que causa dor?
Sobre a solidão, em um momento ele usa a expressão apartamento insonoro, e isto resume o que se sente, é justamente isto, a falta de sons, da presença, é a presença da ausência, do ter alguém ali, que provoca sons, respira, fala, se move.
Um outro ponto que merece uma reflexão, sobre o fato do filho ou filha cuidar da mãe, que acaba desta forma tomando o lugar do filho e este o lugar da mãe. Então a perda da mãe neste caso é como a perda de um filho, e existe dor maior do que esta?
Barthes sente o luto como algo que não se desgasta com o tempo, que não se submete ao tempo, " o tempo não faz passar nada, só faz passar a emotividade do luto".
A morte é sempre um assunto do qual fugimos, apesar de ser algo certo e garantido, tanto a nossa, como a dos entes queridos, e por isto a leitura deste livro é um aprendizado de algo que se não nos atingiu com certeza irá nos atingir. Barthes algum tempo depois da morte de sua mãe sofreu um acidente, foi atropelado, não morreu ali, foi hospitalizado, mas não tinha vontade de viver, ele foi ao encontro de sua mãe. Muitos comentavam que era quase um suicídio, ele desistiu de viver.

Roland Barthes nasceu em 1915 em Cherbourg, França e faleceu em 1980 em Paris. Foi escritor, filósofo, sociólogo, semiólogo, crítico literário. Formou-se em Letras Clássicas em 1939 e em Gramática e Filosofia em 1943 pela Universidade de Paris. Fez parte da Escola Estruturalista.

domingo, 16 de setembro de 2012

LIVRO: JOSÉ E PILAR - Conversas Inéditas - MIGUEL GONÇALVES MENDES



Mendes, Miguel Gonçalves. Companhia das Letras, 2012
Tradução: Rosa Freire D'Aguiar
224 páginas.

Terminei a leitura do livro "José e Pilar Conversas Inéditas" e o recomendo. O livro traz conversas entre o autor e José Saramago e Pilar del Rio sobre política, amor, religião e Deus, morte. Cada um deles expõe seus pensamentos e a maneira como lida com estes assuntos. Pilar é uma mulher extraordinária, forte, decidida e muito racional, o que muitas vezes me levou a não concordar totalmente com ela, mas é de uma generosidade imensa. Saramago também é objetivo, olha a vida como ela é e ambos não tem medo de falar e expor seus pensamentos, sejam eles apreciados ou não pelos outros. Além disto há o amor entre este homem e esta mulher, que é belíssimo. Ambos são engajados nas grandes questões do mundo, o que hoje em dia nos falta e muito.

Um trecho sobre o que diz Pilar: " Os países privilegiados são países privilegiados e as pessoas que vivem nos países privilegiados não sabem o que têm e se suicidam de puro privilégio, não é? E não tenho pena dos suicidas do privilégio, porque toda a minha compaixão está esgotada com pessoas que neste momento estão cruzando o oceano tentando cavar a vida com um bebê nos braços, mortas de frio, está certo? Minha compaixão está com os que estão trabalhando de sol a sol, por um salário miserável, também em Portugal e também na Espanha, explorados por empresários que vão à missa e batem no peito. Minha compaixão está com todos esses, não com os suicidas do Primeiro Mundo nem com os empresários maravilhosos que tem desgraças pequenas, pessoais, a mulher que lhe põe chifres e todas essas coisas."

Mendes pergunta por que estes se suicidam, os do Primeiro Mundo e a resposta é " Por que não estão gerando os únicos valores que podem reconfortar e que podem satisfazer, que são os valores da solidariedade. E então vão ver os filhos crescer, os filhos se casar, tornar-se engenheiro de telecomunicações ou de não sei o quê, e estamos metidos nas pequenas vidinhas de cada um, sem percebermos que o mundo está mais longe, e no final a vida fica pequena. E há alguns que de tão pequena, se asfixiam e se suicidam. A vida é grande. Se fossêmos todos muito mais generosos, muito mais abertos, muito mais solidários, nos daríamos conta de que temos tanto trabalho pela frente que não teríamos tempo para nos suicidar. De acordo?"

E novamente Mendes lhe pergunta sobre o vazio, de não saber o que fazer... e ela " Como não saber o que fazer? Viver! Encher a terra! Cuidar dela! Deixá-la melhor! Cultivá-la! Aprender! Diferenciar Beethoven de Bach! Há um montão de coisas para fazer. Há um montão de coisas para fazer, ser solidário, adotar crianças, ir aos hospitais, cuidar dos doentes. Temos mundos de coisas. Ler, estudar! Ajudar aos que precisam. Cuidar do meio ambiente. Fazer festas! Beber vinho..

Uma bela crítica ao individualismo, ao sistema, ao higienismo, a falta de solidariedade, do dom da dádiva. Não estamos sozinhos no mundo, e o mundo não é apenas nosso quintal ou jardim.
Sobre o amor, um amor que não se espera do outro o que não tenho, mas que dá, oferece, o que cada um tem ou não tem.
Sobre a morte: faz parte da vida, é garantida, não tem por que se preocupar com ela, e sim com o viver que não é garantido. A morte já está conquistada, diz Pilar, a vida não.

José e Pilar 

Miguel Gonçalves Mendes nasceu em 1978 em Covilhã, Portugal. É um realizador, argumentista e produtos português.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Livro - José e Pilar

Como costumo sublinhar os livros que leio trago aqui alguns trechos de "José e Pilar" conversas inéditas

"O mesmo que nada, não importa, não importa, não importa que tu digas a verdade se essa verdade tua vai contra as mentiras socialmente aceitas... e a mentira socialmente aceite é esta - que eu persegui, que eu demiti jornalistas do Diário de Notícias." (pg. 27) - Saramago

" O meu caminho foi sempre mais ou menos em linha reta, ou pelo menos sem perder o sentido da linha reta a que me havia obrigado por razões de ordem ética, de ordem política, de ordem ideológica. E isso, enfim, não é fácil perceber - numa sociedade de oportunistas, de arranjistas, de pessoas que andam à procura de quem melhor lhes pague para que melhor se vendam - , isto não se perdoa." (pg. 45) - Saramago.

"Os caminhos não estão feitos, é andando que cada um de nós faz o seu próprio caminho. A estrada não está preparada para nos receber, é preciso que sejam os nossos pés a marcar o destino, destino ou objetivo, ou que quer que seja." (pg. 46) - Saramago





segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Cinema

Como também gosto de assistir filmes vou aproveitar este blog para também comentar os filmes que assisto. Gostaria de dizer que uso o blog para comentários pessoais e não como uma crítica literária ou de cinema, não sou especialista, sou apenas uma leitora e espectadora.

domingo, 9 de setembro de 2012

No momento estou lendo "José e Pilar" conversas inéditas de Miguel Gonçalves Mendes.
Sempre li muito. Em qualquer lugar que eu esteja sempre terei um livro comigo, na bolsa, na mão, na mala, estarei lendo ou desejando ler. Aproveito cada minuto possível para ler. Após muitos anos lendo senti o desejo de compartilhar isto, de falar sobre os livros que leio, fazer resenhas ou comentários. Para isto criei este blog. Espero que através dele eu possa transmitir um pouco do que leio e também aprender muito com todos que comentarem ou acrescentarem algo. Sempre considerei que há várias formas de ler o mesmo livro, seja lendo ele apenas como um entretenimento, seja lendo dentro do contexto do autor e compreendendo o porque dele ter escrito o livro e o que ele pode nos trazer na atualidade, seja se encontrando no livro, compreendendo algo de nós mesmos, seja lendo filosoficamente, psicanaliticamente, criticamente... e por aí vai. Por isto é importante ler e reler certas obras. Além do mais também há sempre uma diferença em ler um livro numa idade e reler o mesmo livro anos depois. Há livros que lemos uma vez só, e outros que sempre irão nos acompanhar, e há aquele, o livro que chamamos de livro de cabeceira. A leitura é uma viagem, para dentro de nós ou para o mundo.