Da mesma forma como faço com os filmes elejo os melhores livros que li no ano, não obrigatoriamente que sejam lançados no ano.
Segue a lista de 2015:
- REZE PELAS MULHERES ROUBADAS - Jennifer Clement.
- O TOM AUSENTE DE AZUL - Jennie Erdal.
- JUDAS - Amós Oz.
- SUBMISSÃO - Michel Houellebecq.
- O FRÁGIL TOQUE DOS MUTILADOS - Alex Sens.
- GRANDE SERTÃO: VEREDAS - João Guimarães Rosa.
- ÍRISZ: AS ORQUÍDEAS - Noemi Jaffe.
- A CERIMÔNIA DO ADEUS - Simone de Beauvoir.
- RELATAR A SI MESMO Crítica da violência ética - Judith Butler.
- SANGUE NO OLHO - Lina Meruane.
Todos estão postados no Blog.
Os livros sempre fizeram parte de minha vida, meus pais liam muito e na minha casa sempre teve uma biblioteca. Leio pelo prazer de ler, mas também para estudos e o mais importante, para me refletir no outro e muitas vezes encontrar respostas para minhas dúvidas, medos, conflitos. E gosto muito de filmes, pelo mesmo motivo. Este blog surgiu para compartilhar minhas leituras e filmes que assisti, mas sem me estender muito nem efetuar uma análise crítica.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
MELHORES FILMES DE 2015
A cada final de ano elejo os filmes que mais me tocaram ou ensinaram algo. Escolho entre os que assisti, não se trata dos filmes que estrearam em 2015.
Este ano foram estes meus escolhidos:
- E Buda desabou de vergonha - 2007 - Direção: Hana Makhmalbaf. Este filme é de uma extrema sensibilidade e ao mesmo tempo nos mostra um mundo cruel onde até os Budas desabam de vergonha. Através de uma menina, Baktai, de apenas 06 anos que deseja muito aprender a ler e fara tudo para realizar seu desejo e de seu percurso para isto vamos vendo uma realidade difícil, onde as ilusões, sonhos, o lado bom vai se desfazendo e caindo em pó, como os Budas gigantes que foram destruídos pelo Taliban em 2001.
- Relatos Selvagens - 2014 - Direção: Damián Szifron . Um filme impactante! de um refinado humor negro que retrata seis episódios na vida de diversas pessoas sobre algo que ocorre seja no cotidiano, seja de surpresa que as leva ao descontrole, trazendo a tona o desejo incontrolável de se vingar, a pulsão agressiva que atua ao invés de falar ou se voltar contra si próprio no lugar de se transformar em algo mais criativo. Estamos diante do humano, demasiadamente humano como diria Nietzsche. Aqui não há redenção, provações, sacrifícios ou aprendizado, o que vemos surgir é o nosso duplo, o outro que nos habita que muitas vezes nem sequer conhecíamos, o vingador! o desejo de descontar no outro o que sofreu, muitas vezes devido suas próprias fraquezas e erros.
- Winter Sleep - Sono de Inverno - 2014 - Direção: Nuri Bilge Ceylan. O filme tem 03 horas de duração mas vale todo seu tempo para os que apreciam os diálogos densos sobre as diferenças entre as pessoas e o que pensam sobre um mesmo tema, as diferenças de religião e há um diálogo fantástico sobre o amor e a resistência à violência. Ressentimentos, fragilidades e desejos que vem a tona, mostrando a fragilidade do ser humano e a máscara que usa para aparentar algo que não é. Relações que se constroem sobre o engano, não apenas em relação ao outro, mas sobre nosso auto-engano. Um filme que provoca, desloca e muda.
- Timbuktu - 2014 - Direção: Abderrahmane Sissako. Nunca um filme me provocou tanta angústia, Sissako é brilhante. Baseando-se em fatos reais, mas não literalmente o filme retrata uma aldeia ao norte de Mali que é ocupada por extremistas religiosos. O que antes era um lugar alegre e colorido torna-se um deserto árido. As pessoas se retraem, algumas fugiram e outras resistem. Não há piedade, nem misericórdia, apenas o desejo do grupo de ser o Outro das pessoas que ali vivem. A angústia surge do que vemos e sentimos com o filme, sentimos este Outro se apoderando de tudo. Sissako consegue através da beleza e da arte criar um impacto muito maior do que se filmasse diretamente o horror e a violência. Ele o faz, mas com cortes entremeados de cenas ontológicas.
- Villa Amalia - 2008 - Direção: Benoît Jacquot. O filme nos mostra os efeitos devastadores em uma mulher ao descobrir a infidelidade de seu companheiro de 15 anos. Ao perder seu amor ela se perde e vemos em todos seus atos, expressões e sua dor a subjetividade desta mulher. Na modernidade isto pode parecer absurdo, mas o que vemos é a feminilidade, a falta do amor que leva uma mulher a perder a si mesma, e que ao invés de reagir com fugas através do consumismo, ter vários parceiros até chegar a depressão, ela enfrenta, se destrói para se reconstruir como mulher. Ela vive sua perda, inclusive a sua.
- Vas, vis et deviens - Um herói do nosso tempo - 2005 - Radu Mihaileanu. O filme nos mostra a vida de um menino etíope que é levado para Israel como judeu por uma mulher que acaba de perder seu filho, ele vai no lugar deste menino e deixa sua mãe no campo de refugiados, mas ele não é judeu, é cristão. Terá que adotar o nome do menino morto e se fazer de judeu para sobreviver. Vamos acompanhá-lo até sua vida adulta, exatamente o percurso que sua mãe lhe deseja quando parte: Vá, viva e se torne! e tendo como pano de fundo a história de Israel. Ele terá que ser quem não é, e somente após poder dizer a verdade é que iremos compreender a culpa que ele carregou achando que tinha sido castigado pela mãe, somente neste momento ele irá compreender o ato de amor. Apesar de toda dor e dos traumas veremos que ele irá aos poucos conseguir ser ele mesmo.Chorei, ri, torci, um filme que emociona.
- Mucize - 2014 - Direção: Mahsun Kirmizigül. Um belíssimo filme, poético, paisagens deslumbrantes, cômico, triste, em tempos de violência, medo, um filme como este é uma dádiva. Baseado em fatos reais, é a história de Aziz que vive numa aldeia turca onde chega um professor. Aziz tem problemas, não fala, não anda direito, seu corpo é torto, ele baba. É filho do chefe da aldeia. Um filme que retrata a vida, não há tragédias, mas tristezas, não tem violência, mas tem atos criminosos. Fala do amor e do que ele pode fazer pelo ser humano, mas sem esperar nada em troca, sendo apenas doação.
- M. Butterfly - 1993 - Direção: David Cronenberg. Um dos melhores filmes que assisti sobre a patologia do amor. Quando idealizamos alguém ficamos cegos ao que este outro é realmente, não o vemos, e esta cegueira pode chegar a extremos como ocorre neste filme. É impressionante! Um lugar de falta que é preenchido pelo outro despertando o que não conhecíamos e o que somos, o que escondíamos de nós mesmos.
- A história da eternidade - 2014 - Direção: Camilo Cavalcante. O sertão, tantas vezes filmado em sua seca, vida difícil, suas agruras, vem neste filme para nos contar sobre três mulheres e seus desejos. É num lugarejo no meio do árido que vemos os sonhos, os desejos, a dor, a dúvida, a rudeza, mas também a delicadeza, neste pequeno lugar que retrata o mundo, o ser humano, sempre o que é esteja onde estiver. Guimarães Rosa dizia que o sertão é o mundo, e o sertão está dentro de nós, Cavalcante faz um filme disto, e nos mostra este sertão. Um belíssimo filme sobre o trágico do humano.
- A pele de Vênus - 2013 - Direção: Roman Polanski. Um filme denso, passado dentro de um teatro com duas pessoas. Sobre o amor, o desejo, os traumas da infância, o ideal que buscamos no outro, o sadomasoquismo. O interessante do filme é que a dupla que seria para o sadomasoquismo acaba não ocorrendo, uma vez que a mulher compreende que ao se colocar no papel de sádica é ao gozo dela que ela atende. Também podemos ver o filme sob o viés do poder masculino sobre o feminino e aqui vemos o escravo do amor, uma vez que o poder só pode pertencer a um. O interessante do filme é que a mulher não aceita nenhum destes lugares, e com isto se liberta. O filme nos fala da questão do desejo de ser um objeto para preencher um vazio que se vê no outro.
Todos os filmes estão postados no Blog.
FILME: O REGRESSO - 2015
Direção: Alejandro González Iñárritu - 2015
Duração: 158 min
Título Original: The Revenant
País de Origem: Estados Unidos
1822 - Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) está com um grupo de homens no oeste americano caçando para ganhar dinheiro vendendo peles. Será atacado por uma ursa que defende seus filhotes que estão na mira de Glass. Fica num estado miserável, praticamente à morte.
Como estão sendo atacados pelos índios constantemente que querem as peles para vender aos franceses, precisam ir embora, os amigos o levam até um trecho quando percebem que não é possível continuar neste passo, o deixam ali com seu filho e mais um jovem e John Fitzgeral (Tom Hardy) que se interessa apenas pelos ganhos financeiros.
Fitzgeral propõe a Glass matá-lo para que possam ir embora e com isto ele salvaria seu filho, o que ele concorda, porém quando está sendo sufocado seu filho chega e briga com Fitzgeral que acaba matando-o. Em seguida diz ao outro jovem que viu os índios e que precisam partir. Glass fica ali, sozinho.
O filme é uma longa jornada de retorno que é nutrida pelo desejo da vingança. São duas horas e meia de filme com Glass avançando pouco a pouco até o reencontro com Fitzgeral onde ocorre uma verdadeira carnificina.
O interessante é que no meio destes homens rudes, quase que sem alma, surge a fala sobre Deus por duas vezes. A primeira é Fitzgeral que fala sobre seu pai de quando ele encontrou Deus e a segunda no final quando Glass se dá conta que a vingança é algo para Deus.
O filme que nos mostra uma cena de horror quando Glass é atacado pela ursa demonstra claramente que o selvagem mesmo é o ser humano, inclusive através de uma placa deixada num índio enforcado com os dizeres: nós também somos selvagens.
Iñárritu sempre trabalha filmes densos e nos mostra o pior do ser humano mesclado com algo de bom. O ser humano diante da morte, do real, do medo, da vingança, do ódio. A tentativa de ser bom por orgulho e vaidade. DiCaprio está brilhante na atuação, ele passa praticamente o filme todo falando através dos olhos e de expressões faciais. O silêncio impera no filme, a natureza e o homem no meio dela.
Alejandro González Iñárritu
FILME: O HOMEM IRRACIONAL - 2015
Direção: Woody Allen - 2015
Duração: 94 min
Título Original: Irrational Man
País de Origem: Estados Unidos
Vou comentar o filme, mas irei retornar à ele.
Um professor de filosofia Abe Lucas (Joaquin Phoenix) vive uma crise existencial, não encontra nenhum sentido para sua vida, sofre de impotência sexual, acha tudo sem graça, é um pessimista e considera até mesmo a filosofia um monte de palavras que não serve para nada. Ele chega para ser o novo professor em uma pequena cidade dos Estados Unidos.
Jill (Emma Stone) é sua aluna e se encanta com ele, fica fascinada pelo seu intelecto. A professora Rita (Parker Posey) também se interessa apesar de casada, vê nele a possibilidade de uma nova vida em outro lugar, de preferência na Espanha.
Será num encontro com Jill em uma lanchonete que atraídos pela conversa da mesa ao lado, Abe irá encontrar algo que dê sentido a sua vida. Compreende que é pelo ato que irá atingir uma completude, ora, nada mais existencialista. Ele mesmo cita durante o filme Kierkegaard, Kant, Heidegger, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.
Abe planeja o assassinato do juiz que é o obstáculo a uma mulher para ficar com seu filho diante de uma separação conjugal. Ele irá chamar isto de "ato existencial", acredita que isto deixará o mundo melhor, mas quem imediatamente fica melhor é ele mesmo que volta a ter gosto pela vida e recupera sua potência sexual. Mas não existe crime perfeito como ele acredita. Jill desconfiará e o colocará diante da moral e da ética. Novamente vemos termos existencialistas atuarem, será o acaso, a contingência que determinará o final do filme.
O irracional que se manifesta em um homem que lida com a razão, acredita nela. Desta vez Woody Allen que gosta muito da psicanálise parte para a filosofia existencial neste filme.
Woody Allen
LIVRO: O CLAMOR DE ANTÍGONA - Parentesco entre a vida e a morte - JUDITH BUTLER
Butler, Judith. Editora da UFSC, 2014
128 páginas
Tradução: André Cechinel
Através de um diálogo com Hegel e Lacan, referências as leis do parentesco de Lévi-Strauss, Butler recupera Antígona como personagem principal ao invés de Édipo questionando as regras impostas e o desejo.
Butler questiona a estrutura do parentesco que leva a família burguesa, a normatização de que família é um homem, uma mulher e filhos. Outra questão é do quanto o incesto é realmente proibido pela lei universal.
Concordo com ela sobre a questão de que família não é este núcleo normatizante, porém discordo de que a estrutura leva a isto, uma vez que inclusive nos estudos antropológicos há povos onde é o tio materno que ocupa a posição simbólica de pai, e a mulher tem vários homens, muitas vezes nem se sabe quem é o pai da criança.
O pai simbólico da psicanálise é um lugar, não é levado em conta aqui quem é, este no caso é o pai real, o biológico. Pensando sobre isto a estrutura se mantém, mesmo em casos de homossexuais, pois mesmo que a opção seja por um parceiro do mesmo sexo, na maioria das vezes não será seu irmão, irmã, pai ou mãe.
Sobre a questão da proibição ser universal, tenho minhas reservas também, não acredito que haja algo universal. Mas o que a antropologia e a psicanálise dizem com passagem da natureza para a cultura com a proibição do incesto é uma questão também de linguagem, de troca, ou seja, se uma cultura, um povo, se fecha em si mesmo, sem haver casamentos com pessoas de outros povos, outras culturas, a linguagem acaba morrendo, não se enriquece.
Um filme excelente para se pensar sobre esta questão é A Guerra do Fogo de Jeann-Jacques Annaud onde fica bem nítido a passagem da natureza para a cultura, quando o protagonista descobre o riso, o sexo frontal, o amor.
Agora a análise sobre Antígona e Creonte é brilhante, na questão das posições de ambos, da feminilidade e da masculinidade. E considero de extrema importância o avanço, a psicanálise até o momento tem atuado com sua teoria no mundo, mas ela precisa também se rever a si mesma. Ela é um sintoma da modernidade, mas o mundo, os tipos de famílias, a feminilidade, a masculinidade, tudo isto avança, e por mais que se considere a estrutura como um lugar onde se mudam apenas os componentes, ainda assim, há coisas a serem revistas e urgentemente.
Butler questiona a estrutura do parentesco que leva a família burguesa, a normatização de que família é um homem, uma mulher e filhos. Outra questão é do quanto o incesto é realmente proibido pela lei universal.
Concordo com ela sobre a questão de que família não é este núcleo normatizante, porém discordo de que a estrutura leva a isto, uma vez que inclusive nos estudos antropológicos há povos onde é o tio materno que ocupa a posição simbólica de pai, e a mulher tem vários homens, muitas vezes nem se sabe quem é o pai da criança.
O pai simbólico da psicanálise é um lugar, não é levado em conta aqui quem é, este no caso é o pai real, o biológico. Pensando sobre isto a estrutura se mantém, mesmo em casos de homossexuais, pois mesmo que a opção seja por um parceiro do mesmo sexo, na maioria das vezes não será seu irmão, irmã, pai ou mãe.
Sobre a questão da proibição ser universal, tenho minhas reservas também, não acredito que haja algo universal. Mas o que a antropologia e a psicanálise dizem com passagem da natureza para a cultura com a proibição do incesto é uma questão também de linguagem, de troca, ou seja, se uma cultura, um povo, se fecha em si mesmo, sem haver casamentos com pessoas de outros povos, outras culturas, a linguagem acaba morrendo, não se enriquece.
Um filme excelente para se pensar sobre esta questão é A Guerra do Fogo de Jeann-Jacques Annaud onde fica bem nítido a passagem da natureza para a cultura, quando o protagonista descobre o riso, o sexo frontal, o amor.
Agora a análise sobre Antígona e Creonte é brilhante, na questão das posições de ambos, da feminilidade e da masculinidade. E considero de extrema importância o avanço, a psicanálise até o momento tem atuado com sua teoria no mundo, mas ela precisa também se rever a si mesma. Ela é um sintoma da modernidade, mas o mundo, os tipos de famílias, a feminilidade, a masculinidade, tudo isto avança, e por mais que se considere a estrutura como um lugar onde se mudam apenas os componentes, ainda assim, há coisas a serem revistas e urgentemente.
Judith Butler
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
DOCUMENTÁRIO: IVÁN - 2015
Direção: Guto Pasko - 2015
Duração: 109 min
País de origem: Brasil
Um documentário tocante sobre Iván Bojko, um ucraniano que sobreviveu a Segunda Guerra Mundial, fugiu para o Brasil e veio para Curitiba no Paraná. Nunca mais reviu sua família e seu país, passados 68 anos eis que surge a oportunidade.
O melhor do filme é que é o próprio Iván, e a filmagem ocorre em tempo real, ou seja não se trata de contar a história, mas de vivê-la junto com ele. A emoção, os reencontros, o rever sua terra, a casa dos pais, os amigos, e principalmente o reencontro com sua irmã.
Eu pessoalmente revivi neste filme o que minha mãe viveu ao retornar para a Bélgica após 30 anos sem ir, a emoção e o tempo que demora para se conscientizar ao ganhar a passagem, o mesmo que ocorre com Iván, um dos momentos de muita emoção do documentário, o reencontro com sua irmã, o não reconhecimento acompanhado da certeza de estar lá, tudo mudou, não é mais como era, mas ao mesmo tempo é.
O filme traz como pano de fundo o diário de Iván, nos mostra o que ele viveu na guerra, para que possamos acompanhar este percurso de vida deste homem que tem noventa e poucos anos, mas é de uma força inacreditável. Em 1942 ele foi retirado à força de seu país pelos nazistas para realizar trabalhos forçados na Alemanha. Era para ser o filho mais velho, que seria sua irmã, e ele diz que não, que ela não vai, e toma seu lugar. Em 1948 foge para o Brasil.
É a história de muitos, dos que sobreviveram, tiveram que fugir, ficaram apátridas, foram acolhidos em outros países. O que chama a atenção levando em consideração o mundo atual, é que estes imigrantes foram acolhidos, Iván recebeu inclusive a cidadania brasileira, e também se integraram ao seu novo país. Ele em determinado momento diz que nunca voltou por medo, que é o medo que o segurou no Brasil e que nunca mais pensou que iria voltar, nem em sonhos. Interessante uma vez que meus pais também tinham este medo, e nunca mais desejaram morar na Europa.
Mesmo com seus noventa e poucos anos, no momento que ele entra na casa dos pais, que está abandonada, ele chora como uma criança, ele se torna uma criança que chama pelo pai. O infantil que fica em nós e que nunca nos abandona.
O filme é uma lição de vida, de coragem, de determinação, mas também de aceitação da vida como ela é. Vale a pena assistir!
Guto Pasko
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
FILME: TRÊS LEMBRANÇAS DA MINHA JUVENTUDE - 2015
Direção: Arnaud Desplechin - 2015
Duração: 120 min
Título Original: Trois souvenirs de ma jeunesse
País de origem: França
Paul Dédalus (Mathieu Amalric) é questionado pela sua namorada sobre seu passado as vésperas de seu retorno para a França. Ele é um antropólogo e irá lembrar dos três acontecimentos que determinaram sua vida, três lembranças de sua infância e juventude.
Primeiro será sobre sua mãe e a infância. A mãe sofria de distúrbios psíquicos e o amedrontava a ponto dele deixar sua casa e ir morar com sua tia Rose (Françoise Lebrun). Após a morte de sua mãe o que deixa seu pai (Olivier Rabourdin) melancólico ele retorna para sua casa. O segundo fato já é na adolescência quando Paul (Quentin Dolmaire) viaja com o colégio para a Rússia e sendo um jovem militante aceita entregar seu passaporte europeu para ajudar na fuga de alguns judeus que queriam ir para Israel. O terceiro é sua paixão por Esther (Lou Roy Lecollinet).
São as recordações mais marcantes que Paul se recorda. Provavelmente devido sua mãe acabou fugindo a assumir um compromisso com alguma mulher o que irá refletir na sua relação com Esther. Ele se recorda aos poucos e diante situações como quando chega a França e é detido devido haver um outro Paul Dédalus, é neste momento que nos fala sobre sua ida à Rússia.
Os anos de juventude em Paris indo e vindo até Roubaix no norte da França para ver Esther. Seus estudos de antropologia e depois sua opção por ir para países distantes ao invés de assumir uma relação com Esther. Esta por sua vez apesar da inicial aparência de total segurança em relação aos homens nos recorda a mãe de Paul, nos momentos depressivos e de medo que ela sofre. Em sua vida surgem duas outras mães, sua tia Rose e a professora de antropologia, mas após a morte desta parece que isto se encerra.
O ponto alto do filme ao meu ver é o final, onde Paul reencontra seu melhor amigo da juventude e toda a mágoa, ressentimento que ele carregou durante sua vida em relação a ele por ter seduzido Esther virá a tona.
Arnaud Desplechin nasceu em 1960 em Roubaix, França.
LIVRO: RELATAR A SI MESMO - Crítica da violência ética - JUDITH BUTLER
Butler, Judith. Autêntica Editora1ª ed.- 2015
198 páginas
Tradução: Rogério Bettoni
Título Original: Giving an Account of Oneself
Butler tem sido minha filósofa preferida de uns tempos para cá, principalmente porque retoma grandes filósofos, antropólogos e psicanalistas fazendo um crítica através do questionamento e não da destruição e partindo deles para criar algo além que acompanhe o mundo atual e suas questões, mas sem desconsiderar o que estes teóricos compreenderam dentro do seu contexto e momento que viviam. Pessoalmente gosto mais desta forma de pensar do que uma dialética onde se nega a tese para se criar a síntese, o novo.
Ela acaba refletindo minha forma de pensar, ao analisar o que muitos disseram e estudaram e que ainda é paradigmático hoje, chegando muitas vezes a ser inquestionável, mas em que minha opinião precisa ir além, uma vez que o mundo tem mudado a uma velocidade meteórica e surgem novas formas de relacionar-se, de viver a vida, além de questões como a dificuldade em aceitar as diferenças, o ódio ao outro, a forma como estamos alienados e imbuídos de um sistema que rege nosso pensamento.
Neste livro ela pensa sobre a ética e o outro.
A questão do livro é o fato do eu narrar a si mesmo e de como deve agir, porém ao nos darmos conta de que não conseguimos falar de si mesmo sem o outro, sem nos darmos conta que este eu surge dentro de condições sociais, ou seja, pelo outro, surge uma nova maneira de pensar a ética.
Não há como eu se conhecer de forma completa, este eu não existe sem o outro, sem o social, uma vez que somos constituídos pelas normas sociais, pela linguagem, que nos precede. Então para que eu possa me responsabilizar por mim estou simultaneamente me responsabilizando por este outro que está em mim.
E a crítica é que justamente vivemos num sistema que cobra o eu, temos que ser consistentes e com pleno autoconhecimento de si mesmo e passamos a nos autocensurar. Mas ao nos darmos conta que destas normas que nos constituem e ao criticá-las podemos também nos dar conta da fragilidade do outro que é constituído da mesma forma.
Butller traz para um plano filosófico o que aprendi pela psicanálise. Nosso eu é algo frágil, constituído pelo outro, respondemos ao desejo do outro, e ao nos darmos conta disto percebemos o quanto somos limitados e pouco donos de si mesmo, ou como dizia Freud, o eu não é dono em sua casa. Mas isto também nos leva a compreender que o outro é como nós. Mas ela vai além, uma vez que traz a questão para o mundo, no contexto atual e a coloca na ética.
Só podemos compreender o outro suspendendo nosso juízo, para poder compreender a humanidade do outro, ao invés de fazer juízos.
Judith Butler nasceu em 1956 em Cleveland, Ohio, EUA. É uma filósofa pós-estruturalista.
DOCUMENTÁRIO: AMY - 2015
Direção: Asif Kapadia - 2015
Duração: 127 min
País de Origem: Reino Unido e Irlanda do Norte
Documentário sobre a vida de Amy Winehouse (1984-2011)
O filme inicia em sua juventude e traz lembranças da infância e vai até sua morte aos 27 anos em 2011. Uma vida trágica, auto destrutiva analisada com toques sutis da psicanálise.
Uma infância de abandono com seu pai sempre ausente que ela idolatrava e uma mãe que não tinha autoridade para impor limites. Amy passa a buscar alguém que a freie, limite, que lhe diga o que pode e não pode. Tem uma voz maravilhosa mas que destoa da época. Apaixona-se perdidamente por Blake Fielder-Civil que após um tempo de namoro a abandona, retornando a sua vida mais tarde e casando-se com ela, para depois divorciar-se.
Sua carreira é meteórica, passa a ganhar milhões e é o momento onde seu pai se torna presente em sua vida, mas interessado em gerenciar esta carreira e os milhões que ela representa, aparecendo neste documentário como uma pessoa interesseira que não se importa com os sentimentos da filha, suas dificuldades, sua carência e necessidade de um pai, não de um empresário.
A paixão por Blake é sua destruição, ela mesma o diz em um momento que é o amor que a mata. Ele a introduz no mundo das drogas do qual não consegue mais sair. A bulimia, que já demonstra claramente questões patológicas em sua vida. O assédio inescrupuloso e constante da mídia que não a respeita em momento algum.
Ela compõe músicas para expressar o que sente, fala pela música. As cenas que ela canta são belíssimas. Sua voz é extraordinária, e o jazz é a única coisa que a faz viver.
Recomendo!!!
Asif Kapadia nasceu em 1972 em Hackney no Reino Unido
Música Back to Black (Youtube)
FILME: OS 33 - 2015
Direção: Patricia Riggen - 2015
Duração: 120 mim
Título Original: The 33
País de Origem: Chile - Estados Unidos
O filme retrata a angústia dos 33 mineiros que ficaram durante 69 dias presos a mais de 700 metros embaixo da terra em Capiapó, Chile após uma explosão na mina onde trabalhavam em 05 de agosto de 2010. Abrigaram-se num lugar chamado refúgio que deveria estar preparado para emergências, mas o rádio nem estava instalado e um baú com comida continha muito pouco o que fez com que tivessem que racionar o alimento.Mario Sepúlveda (Antonio Banderas) assume a liderança para manter o precário equilíbrio mental e coordenar a distribuição do alimento.
Na superfície a mineradora faz uma ligeira busca e decide que não há sobreviventes, porém, para sorte dos mineiros, Laurence Golborne (Rodrigo Santoro), o jovem Ministro da Energia resolve agir e graças a sua insistência junto ao Presidente do Chile consegue que a procura continue. Andre Sougarret (Gabriel Byrne) é o engenheiro encarregado da operação.
Paralelamente vemos o drama das famílias dos mineiros que tem a frente María Segovia (Juliette Binoche) cujo irmão está lá embaixo e não desiste em momento algum de exigir que se faça algo. O filme inicia antes do acidente e nos introduz ligeiramente na vida de cada mineiro, suas famílias, ou sua solidão como o do boliviano que era seu primeiro dia na mina. Um deles era casado e tinha uma amante, (Paulina García e Adriana Barraza).
Acompanhamos o drama que eles viveram e que na época foi acompanhado pelo mundo todo. Os momentos de desânimo, desespero, a coragem, a determinação. O filme também retrata bem a indiferença de uma empresa que considera como custo alto demais agir para o resgate, principalmente porque os considera mortos.
Todos foram salvos, porém nunca receberam sequer uma indenização da empresa. O cruel lado do capitalismo que considera os trabalhadores como objetos para uso e exploração. Não precisa ir longe, atualmente vemos a Samarco no Brasil atuando da mesma forma com o povo de Mariana e toda região atingida pela lama e detritos de sua barragem.
No filme podemos ver como reage o ser humano em situações extremas. Soterrados, há momentos de união, porém é necessário um líder para impedir que um devore o outro, coma toda a comida em detrimento do outro, mas até mesmo este líder é humano e em determinado momento se acha superior aos outros, e pensa em tirar alguma vantagem do que está ocorrendo, até mesmo dando entrevistas e escrever um livro sobre o que ocorreu, sem envolver os outros, ficando desta forma com a fama. Tudo absolutamente humano. Do lado de fora vemos as famílias, as questões de cada uma, e a frieza do governo e das empresas, pois não fosse a juventude e a posição moral do ministro das energias, provavelmente estes mineiros teriam morrido ali embaixo de inanição, isto se não se matassem ou matassem ao outro.
No filme podemos ver como reage o ser humano em situações extremas. Soterrados, há momentos de união, porém é necessário um líder para impedir que um devore o outro, coma toda a comida em detrimento do outro, mas até mesmo este líder é humano e em determinado momento se acha superior aos outros, e pensa em tirar alguma vantagem do que está ocorrendo, até mesmo dando entrevistas e escrever um livro sobre o que ocorreu, sem envolver os outros, ficando desta forma com a fama. Tudo absolutamente humano. Do lado de fora vemos as famílias, as questões de cada uma, e a frieza do governo e das empresas, pois não fosse a juventude e a posição moral do ministro das energias, provavelmente estes mineiros teriam morrido ali embaixo de inanição, isto se não se matassem ou matassem ao outro.
Patrícia Riggen nasceu em 1970 em Guadalajara, México
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Paulina García,
Rodrigo Santoro
FILME: GRACE DE MÔNACO - 2014
Direção: Olivier Dahan - 2014
Duração: 103 min
Roteiro: Arash Amel
País de Origem: Estados Unidos - França
Cinebiografia da princesa de Mônaco, Grace Kelly, em um período conturbado para o principiado de Mônaco que estava em conflito com De Gaulle, então presidente da França.
Quando a atriz Grace Kelly casou-se com o Príncipe Rainier III de Mônaco em 1956 parecia um verdadeiro conto de fadas, o que sempre sucede quando uma pessoa que não é da realeza alcança este sonho, como outro exemplo, a Princesa Diana na Inglaterra.
Mas a realidade nem sempre coincide com o sonho, e o filme começa num período onde Grace( Nicole Kidman) já mãe de dois filhos, não está feliz com sua vida repleta de cerimonial e posturas necessárias a sua posição de princesa. Ela então recebe um convite de Hitchcock (Roger Ashton-Griffiths) para voltar as telas de cinema, porém seu marido Rainier (Tim Roth) é contra, apesar de deixar a ela a escolha.
Além disto o momento é delicado, Rainier sofre pressões do então presidente da França, Charles De Gaulle (André Penvern) que decide cobrar impostos de Mônaco ou retomar o principiado como território francês. Grace que havia decidido aceitar voltar ao cinema terá que rever sua decisão. Com a ajuda de seu melhor amigo e o único em quem confia, Francis Tucker (Frank Langella) ela irá operar uma mudança em si mesma em prol de seu marido e do principiado.
O filme é uma ficção, apesar de vários fatos serem reais. Vale para um momento de descontração. O filme fica longe do La Môme sobre Piaf do mesmo diretor.
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