quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

MELHORES FILMES DE 2015

A cada final de ano elejo os filmes que mais me tocaram ou ensinaram algo. Escolho entre os que assisti, não se trata dos filmes que estrearam em 2015.

Este ano foram estes meus escolhidos:

-  E Buda desabou de vergonha - 2007 - Direção: Hana Makhmalbaf. Este filme é de uma extrema sensibilidade e ao mesmo tempo nos mostra um mundo cruel onde até os Budas desabam de vergonha. Através de uma menina, Baktai, de apenas 06 anos que deseja muito aprender a ler e fara tudo para realizar seu desejo e de seu percurso para isto vamos vendo uma realidade difícil, onde as ilusões, sonhos, o lado bom vai se desfazendo e caindo em pó, como os Budas gigantes que foram destruídos pelo Taliban em 2001. 

- Relatos Selvagens - 2014 - Direção: Damián Szifron . Um filme impactante! de um refinado humor negro que retrata seis episódios na vida de diversas pessoas sobre algo que ocorre seja no cotidiano, seja de surpresa que as leva ao descontrole, trazendo a tona o desejo incontrolável de se vingar, a pulsão agressiva que atua ao invés de falar ou se voltar contra si próprio no lugar de se transformar em algo mais criativo. Estamos diante do humano, demasiadamente humano como diria Nietzsche. Aqui não há redenção, provações, sacrifícios ou aprendizado, o que vemos surgir é o nosso duplo, o outro que nos habita que muitas vezes nem sequer conhecíamos, o vingador! o desejo de descontar no outro o que sofreu, muitas vezes devido suas próprias fraquezas e erros. 

- Winter Sleep - Sono de Inverno - 2014 - Direção: Nuri Bilge Ceylan. O filme tem 03 horas de duração mas vale todo seu tempo para os que apreciam os diálogos densos sobre as diferenças entre as pessoas e o que pensam sobre um mesmo tema, as diferenças de religião e há um diálogo fantástico sobre o amor e a resistência à violência. Ressentimentos, fragilidades e desejos que vem a tona, mostrando a fragilidade do ser humano e a máscara que usa para aparentar algo que não é. Relações que se constroem sobre o engano, não apenas em relação ao outro, mas sobre nosso auto-engano. Um filme que provoca, desloca e muda. 

- Timbuktu - 2014 - Direção: Abderrahmane Sissako. Nunca um filme me provocou tanta angústia, Sissako é brilhante. Baseando-se em fatos reais, mas não literalmente o filme retrata uma aldeia ao norte de Mali que é ocupada por extremistas religiosos. O que antes era um lugar alegre e colorido torna-se um deserto árido. As pessoas se retraem, algumas fugiram e outras resistem. Não há piedade, nem misericórdia, apenas o desejo do grupo de ser o Outro das pessoas que ali vivem. A angústia surge do que vemos e sentimos com o filme, sentimos este Outro se apoderando de tudo. Sissako consegue através da beleza e da arte criar um impacto muito maior do que se filmasse diretamente o horror e a violência. Ele o faz, mas com cortes entremeados de cenas ontológicas. 

- Villa Amalia - 2008 - Direção: Benoît Jacquot. O filme nos mostra os efeitos devastadores em uma mulher ao descobrir a infidelidade de seu companheiro de 15 anos. Ao perder seu amor ela se perde e  vemos em todos seus atos, expressões e sua dor a subjetividade desta mulher. Na modernidade isto pode parecer absurdo, mas o que vemos é a feminilidade, a falta do amor que leva uma mulher a perder a si mesma, e que ao invés de reagir com fugas através do consumismo, ter vários parceiros até chegar a depressão, ela enfrenta, se destrói para se reconstruir como mulher. Ela vive sua perda, inclusive a sua. 

- Vas, vis et deviens - Um herói do nosso tempo - 2005 - Radu Mihaileanu. O filme nos mostra a vida de um menino etíope que é levado para Israel como judeu por uma mulher que acaba de perder seu filho, ele vai no lugar deste menino e deixa sua mãe no campo de refugiados, mas ele não é judeu, é cristão. Terá que adotar o nome do menino morto e se fazer de judeu para sobreviver. Vamos acompanhá-lo até sua vida adulta, exatamente o percurso que sua mãe lhe deseja quando parte: Vá, viva e se torne! e tendo como pano de fundo a história de Israel. Ele terá que ser quem não é, e somente após poder dizer a verdade é que iremos compreender a culpa que ele carregou achando que tinha sido castigado pela mãe, somente neste momento ele irá compreender o ato de amor. Apesar de toda dor e dos traumas veremos que ele irá aos poucos conseguir ser ele mesmo.Chorei, ri, torci, um filme que emociona. 

- Mucize - 2014 - Direção: Mahsun Kirmizigül. Um belíssimo filme, poético,  paisagens deslumbrantes, cômico, triste, em tempos de violência, medo, um filme como este é uma dádiva. Baseado em fatos reais, é a história de Aziz que vive numa aldeia turca onde chega um professor. Aziz tem problemas, não fala, não anda direito, seu corpo é torto, ele baba. É filho do chefe da aldeia. Um filme que retrata a vida, não há tragédias, mas tristezas, não tem violência, mas tem atos criminosos. Fala do amor e do que ele pode fazer pelo ser humano, mas sem esperar nada em troca, sendo apenas doação. 

- M. Butterfly - 1993 - Direção: David Cronenberg.  Um dos melhores filmes que assisti sobre a patologia do amor. Quando idealizamos alguém ficamos cegos ao que este outro é realmente, não o vemos, e esta cegueira pode chegar a extremos como ocorre neste filme. É impressionante! Um lugar de falta que é preenchido pelo outro despertando o que não conhecíamos e o que somos, o que escondíamos de nós mesmos. 

- A história da eternidade - 2014 - Direção: Camilo Cavalcante. O sertão, tantas vezes filmado em sua seca, vida difícil, suas agruras, vem neste filme para nos contar sobre três mulheres e seus desejos. É num lugarejo no meio do árido que vemos os sonhos, os desejos, a dor, a dúvida, a rudeza, mas também a delicadeza, neste pequeno lugar que retrata o mundo, o ser humano, sempre o que é esteja onde estiver. Guimarães Rosa dizia que o sertão é o mundo, e o sertão está dentro de nós, Cavalcante faz um filme disto, e nos mostra este sertão. Um belíssimo filme sobre o trágico do humano. 

- A pele de Vênus - 2013 - Direção: Roman Polanski. Um filme denso, passado dentro de um teatro com duas pessoas. Sobre o amor, o desejo, os traumas da infância, o ideal que buscamos no outro, o sadomasoquismo. O interessante do filme é que a dupla que seria para o sadomasoquismo acaba não ocorrendo, uma vez que a mulher compreende que ao se colocar no papel de sádica é ao gozo dela que ela atende. Também podemos ver o filme sob o viés do poder masculino sobre o feminino e aqui vemos o escravo do amor, uma vez que o poder só pode pertencer a um. O interessante do filme é que a mulher não aceita nenhum destes lugares, e com isto se liberta. O filme nos fala da questão do desejo de ser um objeto para preencher um vazio que se vê no outro. 

Todos os filmes estão postados no Blog. 

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