domingo, 30 de novembro de 2014

FILME: CRIAÇÃO - 2009


Direção: Jon Amiel - 2009
Duração: 108 min
Título original: Creation

Cinebiografia sobre Charles Darwin - baseado na biografia de Darwin escrita por Randal Keynes - A caixa de Annie -  que era tataraneto de Darwin. 

O filme é parte biográfico e parte ficcional. Trata-se do período após seu retorno à Inglaterra quando se vê as voltas da escrita do seu livro "A origem das espécies". Nesta fase Darwin enfrenta crises de ansiedade e tem transtornos alimentares, além de carregar uma imensa culpa pela morte de sua filha Annie, a mais velha, e a que era mais próxima do pai, inclusive em ideias. 

Darwin (Paul Bettany) é casado com Ema (Jennifer Connelly) e vive numa casa rural na Inglaterra. O filme inicia quando ele já está sofrendo de transtornos alimentares e não consegue escrever seu livro, ao mesmo tempo que nos remete ao passado quando sua filha Annie ainda vivia. Darwin sempre vê o fantasma da filha com quem conversa. 

Ema é muito religiosa e um dos grandes conflitos de Darwin é justamente ter desmontado a criação conforme nos conta a Bíblia. Em sua viagem e pesquisas ele percebe que tudo evolui e sobrevive o mais forte, além de que caracteres que se tornam inúteis tendem a desaparecer na espécie. Ele vai perdendo a fé e deixa de acreditar em Deus, mas sabe bem a repercussão que seu livro pode ter, não apenas um escândalo, mas ele será um divisor, provocará uma ruptura, e que fazer quando as pessoas perceberam que estão sós no mundo sem um Deus que lhes dê um sentido e as proteja? 

Mas em minha opinião o que mais acomete Darwin é a morte de sua filha que ele acredita que sua esposa o culpa. Quando ele sofre um colapso após saber que outro cientista está chegando às mesmas conclusões que ele,  finalmente parte em busca de ajuda em uma cura pela água, no mesmo lugar onde sua filha foi levada por ele e onde faleceu. Darwin terá que enfrentar seus fantasmas. Ele nunca aceitou a morte dela, e o médico fazendo às vezes de um precursor de psicanalista o irá interrogar e confrontar com suas questões e lhe dirá que sem fé, e isto não depende de Deus, mas que sem fé a água nunca poderá curá-lo. Será nesta viagem que Darwin irá aceitar a morte de sua filha e ao retornar para casa ele finalmente falará sobre isto com Ema e se surpreenderá ao ouvi-la dizer que ela se culpou e não à ele. Finalmente o que os separava é removido, assim como em relação aos seus filhos que ansiavam pelo amor do pai como Annie tivera antes. 

Ele então escreverá o livro e dará a Ema para ler e lhe dirá que ela pode fazer o que achar o certo. No dia seguinte ele pensa que ela está queimando o livro, mas ao contrário, ela o havia preparado para ser levado pelo correio até a editora. Ela se tornou sua cúmplice neste livro que naquela época foi devastador, tanto que se diz até hoje que houve três grandes rupturas na forma de ver o mundo, quando Copérnico disse que a terra girava ao torno do sol e não era o centro de tudo, quando Darwin disse que descendemos dos macacos e quando Freud disse que não somos senhores em nossa própria casa, pois o inconsciente rege. 

Jon Amiel nasceu em 1948 em Londres - Inglaterra - Reino Unido

FILME: COMER BEBER E VIVER - 1994



Direção: Ang Lee - 1994
Duração: 123 min
Título Original: Yin Shi nan nu

País de Origem: Taiwan

Um pai viúvo que é chef de cozinha, Chu (Sihung Lung) e suas três filhas - Jia-Jen, Jia-Chien e Jia-Ning. Ele apesar de cozinhar muito bem perdeu o paladar, não sente mais nada ao provar a comida. Aos domingos ele prepara um jantar onde reúne a família, o que nem sempre agrada à filhas. Uma delas desejava ser como o pai, cozinheira, mas ele a afastou da cozinha a enviando para a faculdade, pois dizia que não queria sua filha numa cozinha gordurenta. 

As relações entre eles não é as mais afetuosas, os conflitos familiares estão latentes, e mesmo com todo o amor e dedicação com que Chun prepara a comida, isto não os aproxima. Aos poucos as coisas vão se destrinchando, algumas verdades vem a tona. O eterno problema de pensar que se sabe o que o outro pensa e quando se fala descobre-se que é exatamente o contrário. 

O que mais encanta no filme é a arte gastronômica de Chun, que esconde em suas belas criações na cozinha tudo que sente por dentro. Somente no dia em que ele finalmente revela seu segredo é que acaba recuperando o paladar, e por coincidência justo num dia em que sua filha que ele não queria ver cozinheira prepara o jantar para ambos. 

Pode ser no ocidente ou no oriente as relações familiares são sempre complicadas e na falta de um diálogo as pessoas se ressentem e se afastam. Mas o amor pode aproximar as pessoas. 

Ang Lee 

FILME: O SEGREDO DOS SEUS OLHOS - 2010



Direção: Juan José Campanella - 2010
Duração: 129 min
Título Original: El secreto de sus ojos

País de Origem: Argentina

Benjamín Espósito (Ricardo Darín) se aposenta após trabalhar a vida todo no Tribunal Penal em Buenos Aires. Para preencher seu tempo ele começa a escrever um romance sobre um fato verídico que se passou 25 anos antes, quando em 1974 foi encarregado de investigar um violento estupro seguido de assassinato de uma bela mulher, Liliana Calotto (Carla Quevedo) casada há um ano com Ricardo Morales (Pablo Rago). 

O filme se passa entre digressões entre o presente e o passado e aos poucos vamos conhecendo toda a trama do que ocorreu naqueles anos. Somos então apresentados à Irene (Soledad Villamil), que iniciava sua carreira jurídica e à Sandoval (Guillermo Francella), assistente de Espósito que sofre de alcoolismo, mas é brilhante em solucionar casos. Este é o enredo policial do filme. 

Espósito é apaixonado por Irene, mas nunca ousa lhe dizer nada e ao investigar o caso de Liliana se envolve cada vez mais com a vida da vítima, pelo marido apaixonado, que alega não desejar a morte do assassino, mas sim, que ele passe a vida toda preso e tenha que se haver com o nada. Logo no início do filme Espósito anota num papel "Temo", ao acordar. Ao escrever sobre a investigação ele procura Irene para lhe falar sobre isto, sobre tudo que aconteceu naqueles tempos, sobre o que nunca mais falaram. 

A escrita de Espósito é uma história real com fatos, mas nas entrelinhas deste romance há todo o aspecto psicológico dele, de tudo que se passou dentro de ele e que nunca foi expressado. Após solucionarem o caso e prenderem o assassino, a Argentina entra num momento político difícil, e um desafeto de Espósito libertará o assassino e o colocará numa posição dentro do executivo do país, e a justiça nada poderá fazer. Agora todos correm risco de vida. Espósito irá embora e deixará para trás Irene, mas levará consigo um amor represado dentro de si, pelo simples motivo que ele teme amar. E é isto que o fascina em Morales, o amor que ele sente por Liliana e como pode ter vivido 25 anos sozinho, no nada? 

Sandoval irá dizer num momento que há algo que nunca podemos nos livrar, podemos mudar de rosto, de religião, de emprego,de casa, mas a paixão, esta permanece, e é assim que eles chegam ao assassino. Como viver com uma paixão assim? como Morales sem  Liliana, como Espósito sem Irene? Como preencher uma vida e lhe construir um sentido com este imenso vazio dentro de si? 

Tudo o que não se diz o olhar expressa, e é brilhante a atuação dos olhares no filme, que falam mais que qualquer palavras. Ambos sabem do amor que nutrem um pelo outro, mas estão ali, a espera que algo aconteça, um milagre talvez? Também será pelo olhar que Espósito através de fotografias irá descobrir o assassino de Liliana. Dizem que os olhos são o espelho da alma, mas o que eles com certeza fazem é falar, os olhos falam, e deletam nossos segredos. 

Já Ricardo tem um olhar perdido, um olhar de quem não pode mais realizar o que deseja, mas que acalenta a vingança. Ele quer encontrar o assassino que lhe tirou o grande amor de sua vida. Seu olhar de amor é um olhar de puro amor, mas sem objeto palpável, ela já não existe. Ricardo não pode mais amar porque a morte se interpôs, mas Espósito pode, não é a morte que o impede, é o temor, o medo. 

Durante o filme várias vezes há a questão da máquina de escrever que falha na letra "A", justo a letra que falta, a letra que impede Espósito de escrever o seu amor, o Temo em Te A Mo. 

Morales ficará no passado, preenchendo o vazio com o nada, nem mesmo falando, já Espósito consegue encontrar a letra que falta e a falar. 
Juan José Campanella 

sábado, 29 de novembro de 2014

FILME: UMA NOVA CHANCE PARA AMAR - 2013


Direção: Arie Posin - 2013 
Duração: 92 min 
Título Original: The face of love 

O Luto patológico 

Durante uma viagem de férias ao México Nikki (Annette Bening) perde seu marido Garret  (Ed Harris) que morre afogado. Sua única filha sai de casa na mesma época para viver com o namorado. A vida de Nikki perde todo o sentido e exceto pela companhia de Roger (Robin Williams) em sua última participação no cinema antes de sua morte neste ano, que também é viúvo e vai nadar na piscina de Nikki e costumam fazer algumas refeições juntos, ela vive das lembranças de seu marido. 

Até que um dia ela resolve voltar a visitar um museu, local onde ia muito com Garret que gostava de arte, e lá vê um homem extremamente parecido com seu falecido marido. Nikki passa a segui-lo até que consegue se aproximar e eles iniciam um relacionamento. A questão é que Nikki não esqueceu Garret, e não consegue abrir espaços para novos relacionamentos, e vê em Tom o marido que morreu e não a pessoa que está diante de si. Ela o leva aos mesmos lugares onde costumava ir, numa tentativa de manter o marido vivo. 

Quando perdemos alguém muito próximo a sensação é de que algo nosso foi junto, e por isto é necessário o luto para que ocorra a separação, para que o desejo se desligue deste objeto e possa se voltar para outros. Nikki não se separou de Garret, seu desejo continuou ligado à ele, ela não está disponível para amar Tom. É a Garret que ela vê e ama. Ela permanece fixada no passado, o psiquismo se cristaliza e idealiza a pessoa que partiu, e acaba introjetando este objeto ao invés de se separar dele e com isto poder continuar a viver e ter possibilidades de novos objetos amorosos ou outros atrativos na vida. 

Ela não aceitou a morte dele, não a enfrenta. Guarda tudo que era dele em caixas e mantém uma foto dos três, ela, o marido e a filha. Normalmente quando alguém morre guardamos algumas lembranças, mas nos desfazemos da maior parte das coisas, doando, vendendo, dando de presente aos outros. 

Nikki é melancólica, ela busca o passado, quer se livrar da dor e manter a ilusão de que nada disto tudo aconteceu. Há uma cena na praia com Tom onde ela lhe fala como se fosse Garret dando a compreender que nada daquilo aconteceu, que graças a Deus ele está vivo. E no entanto, é Tom quem está ali. 

Ela não consegue pintar e Tom lhe diz que pintar e seu olhar, olhar para algo, a percepção do que se vê, e então isto se expressa na tela. Nikki não consegue olhar para fora, está presa dentro de si, até que após conseguir se libertar ela pode novamente olhar e se expressar. 

Gostei muito do quadro de Tom que ele nomeia - A face do amor. Interessante porque ele olhar pela janela para Nikki na piscina, mas ao mesmo tempo há o seu reflexo no vidro. A face do amor é sempre o que buscamos no outro, aquilo que nos completa, que nos falta, o que não deixa de ser uma ilusão também, mas que possibilita muitas vezes criar, como fez Tom, e como fará Nikki depois. 

Um belo filme sobre o luto, a melancolia, e do quanto é necessário viver este momento com toda sua dor para depois se separar e continuar a viver, sem nunca esquecer ou deixar de amar quem partiu, mas podendo abrir espaço em seu desejo e em sua vida para outras coisas.

Infelizmente o filme deixa a desejar quanto à recuperação de Nikki, em qual momento ela rompe com seu passado e consegue finalmente seguir sua vida? A última cena antes é ela dizendo a Tom que o ama, e depois passa um ano e a vemos sendo capaz de seguir sua vida. 

Arie Posin nasceu em Israel 

FILME: WAKING LIFE - 2001



Direção: Richard Linklater
Duração: 97 min 


Acordar para a vida

O filme é uma bela animação. Um jovem não consegue acordar de um sonho e começa a encontrar várias pessoas que lhe falarão sobre a vida, religião, ciência, filosofia, antropologia, psicologia, arte. 

O filme explora o mundo onírico, dos sonhos, nos levando ao inconsciente e demonstrando o quanto o sonho também é real, é uma viagem, e não algo para ser considerado sem sentido, muito pelo contrário, é nos sonhos que o que temos de mais nosso vem a tona e nos possibilita nos conhecer, saber aquilo que não sabemos de nós mesmos. O sonho permite saber quem somos e porque agimos de determinada maneira, o que nos rege e conduz nossas vidas. 

O filme é uma viagem, assim como nossa vida. 

A cada encontro algo é falado, vivido, e não há como falar disto aqui, inclusive porque a cada um sua maneira de interpretar. Um filme para ser visto muitas vezes. 


Assista ao trailer:



Richard Linklater nasceu em 1960 em Houston, Texas, EUA. 

FILME: MOMENTOS ETERNOS DE MARIA LARSSONS - 2008


Direção: Jan Troell - 2008
Duração: 131 Min
Título Original: Maria Larssons Eviga Ögonblick

País de origem: Suécia 

Baseado na vida da avó da mulher do diretor, a primeira fotógrafa profissional da Suécia

Suécia - 1907

Maria Larssons (Maria Heiskanen)  ganha num bilhete de loteria uma câmera fotográfica. Seu noivo diz que ela devia dar para ele já que o dinheiro com que comprou o bilhete era dele, ela lhe responde que só a dará se ele se casar com ela, e eles se casam. Quem nos conta a história é uma de suas filhas, Maja. 

Esta história de amor logo logo se defrontará com a dura realidade da vida pobre e com um marido que começa a chegar bêbado em casa e se envolve com outras mulheres. Além disto ele é violento e várias vezes baterá em Maria que procura a ajuda de seu pai, mas tem que voltar para casa em função da moral da época que não permitia que uma mulher se separasse e ela teria que viver com Sigfrid ( Mikael Persbrandt) até que a morte os separe. 

Será uma vida difícil, mas Maria não desanima e lutará para manter seus sete filhos alimentados e tendo onde morar. Em determinado momento diante de uma situação difícil Maria tenta vender sua câmera ao fotógrafo da cidade, Sebastian (Jesper Christensen) , que ao invés de comprá-la a ensina a usá-la, e lhe dá o material que precisa dizendo que é uma penhora. Maria aceita. 

A partir deste momento ela olha o mundo pela lente da câmera e descobrirá coisas que não via antes. Este mundo lhe pertence e nada de toda tristeza, violência e pobreza pode invadir, nem mesmo seu marido. 

O filme retrata a vida das mulheres no início do século XX, sempre grávidas, trabalhando, limpando, criando filhos e sofrendo com as bebedeiras e violência dos maridos. Maria encontra em Sebastian um amigo, alguém que a ouve e que a compreende. 

Um dia Sigfrid perde a cabeça e tenta matá-la e acaba preso. Ao contrário do que todos esperavam, inclusive seus filhos, Maria não o deixa e faz de tudo para sobreviver. É quando ela começa a tirar fotos para ganhar algum dinheiro e assim acabará se tornando uma das maiores fotógrafas da Suécia, e a primeira mulher a sê-lo. 

Aos poucos a vida deles melhora, Sigfrid consegue abrir um negócio e seus filhos poderão realizar seus desejos de estudar. Eles mudarão para uma casa no campo. Maja também começará a tirar fotos. 

A vida de Maria não foi fácil, era cheia de tristezas e muita luta, mas ela conseguiu fazer o que era possível, e dentro disto achar algo que lhe permitia olhar o mundo de outra forma, e lhe dar alegrias e prazer. E isto é uma grande lição, ao invés de sonhar com o impossível, fazer aquilo que se pode, e transformar a vida em algo mais do que sofrimento. 


Jan Troell nasceu em 1931 em Limhamn, Suécia. 

Fotos de Maria Larssons 

DOCUMENTÁRIO: A HISTÓRIA DO MUNDO EM DUAS HORAS - 2011


Produção: History Channel - 2011 
Duração: 88 min
Título Original: History of the world in two hours 
País de origem: EUA 

Este documentário faz um tour geral pela história de nosso planeta e do surgimento do ser humano e das civilizações, partindo do Big Bam há 14 bilhões de anos atrás, nos mostrando como se formaram as estrelas, galáxias e finalmente o planeta terra. 
O início da vida no planeta e de como se desenvolveu até chegar ao mundo de hoje. De onde vieram todas as possibilidades tecnológicas e também o surgimento do fogo. As invenções que tornaram possíveis a civilização que conhecemos hoje. 

Há um foco científico principalmente sobre as questões de energia e da tecnologia, desde a mais antiga até o mundo atual. 

Uma maneira rápida e interessante de recordar nossa história com um apanhado geral, mas acho que o documentário é bem vindo no sentido de nos trazer mais humildade e principalmente maior respeito por este planeta que é vivo e por tudo que há nele, desde os minerais, as plantas, animais até o ser humano. Quando acompanhamos todo este processo não há como não parar para pensar em quantas vezes o planeta sofreu mudanças radicais, e que várias formas de vidas foram extintas, e então, o que nos garante que não somos a próxima? 

A força, a energia que existe no universo se por um lado nos proporcionou a possibilidade de estar aqui também não deixa de ser algo que pode literalmente nos destruir. Não estamos zelando por nosso planeta o suficiente, e quando cooperamos por destruir camadas de ozônio, quando poluímos o ar com inúmeros componentes químicos, não estamos pensando nos efeitos disto. 

Por outro lado é muito bom ver de onde viemos, de simples bactérias, isto nos traz um pouco de humildade. Quando os nossos ancestrais viviam eles não imaginavam o viria a ser a terra no futuro ou o ser humano, e todas as possibilidades que ele teria, mas da mesma forma que os dinossauros também viviam dominando a terra, podemos acabar como eles. 

Claro, isto pode levar milhões de anos, mas não é impossível. Por mais tecnologia que temos não somos capazes de deter a natureza, e muitas vezes não somos capazes sequer de prever a tempo catástrofes como um tsunami ou até mesmo uma simples chuva de granizo. 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

FILME: A PELE - 2006



Direção: Steven Shainberg - 2006
Duração: 121 min
Título Original: Fur: An imaginary portrait of Diane Arbus


Um retrato imaginário de Diane Arbus

Não se trata de uma história biográfica, mas sim uma tentativa de refletir o mundo interior da fotógrafa Diane Arbus (1923-1971) considerada uma das maiores artistas do século XX, apesar de pouco conhecida na Brasil. 

Diane (Nicole Kidman) é a única filha de um casal de peleteiros (Harris Yulim e Jane Alexander) casada com um fotógrafo, Allan (Ty Burrell) e mãe de duas meninas. Ela é assistente de seu marido, uma mulher reprimida pelo ego fortíssimo da mãe que a intimida, não lhe permitindo ser um sujeito. Numa festa de apresentação das peles e do estúdio de fotografia de seu marido ela vê pela janela a chegada de um novo morador, Lionel (Robert Downey) que usa uma máscara no rosto o que a atrai enormemente. 

Aos poucos ela começa a reviver fatos de sua infância e de sua sexualidade inconsciente, onde é voyeur e gosta de se exibir. Um dia ela vai ao apartamento de Lionel e descobre que ele sofre de uma doença - hipertricose - e tem o corpo todo coberto de pelos. 

Diane é atraída por tudo que é diferente, estranho, e que atiça seu olhar. Lionel a introduz neste mundo apresentando-a a pessoas diferentes, anões, portadores de deficiências físicas, obsessões sexuais, ou seja, os outsiders, que sua família se choca ao ter contato. 

O interessante é o fascínio que ela sente em olhar, não conseguir desviar os olhos, e pela fotografia ela irá capturar estes momentos, enquadrá-los. A associação entre o homem peludo e seu pai um peleteiro é óbvia psicanaliticamente falando. Seu pai cobre as mulheres de pelos de animais com suas peles, e ela termina o filme se cobrindo com um manto feito dos pelos de Lionel. 

Allan em dado momento ao perceber que tem um rival no homem peludo deixa a barba crescer, mas isto não é suficiente. Diane não é atraída pelo o que é considerado normal, ela busca o estranho. 

Interessante o uso de uma chave que Diane encontra no encanamento entupido de pelos. A chave que abre as portas do inconsciente, a chave que abre a porta do quarto de Barba Azul. Ela abre a porta para sair de seu mundo de aparências e do que é considerado belo para entrar em um mundo de estranhos e que costuma chocar à massa, mas por outro lado o estranho também é belo e atrai o olhar acima de tudo. 

Steven Shainberg nasceu em 1963 nos Estados Unidos. 

Diane Arbus nasceu em 1923 em New York - EUA e faleceu em 1971 na mesma cidade. Foi uma fotógrafa e escritora conhecida por suas fotos em preto e branco de pessoas marginalizadas. Ela acabou suicidando-se após várias crises depressivas. 

Foto de Lionel 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

LIVRO: A BALADA DE ADAM HENRY - IAN McEWAN


McEwan, Ian. 1ª. Companhia das Letras, 2014
196 páginas
Tradução: Jorio Dauster
Título Original: The Children Act

Ian McEwan trabalha com profundo conhecimento da alma humana naquilo que mais escondemos de nós mesmos ou não queremos ver. Este é o terceiro livro que leio dele e também assisti a dois filmes baseados em seus romances: Desejo e Reparação e Amor sem fim. 

Desta vez é o universo feminino e o amor. A que ponto uma mulher madura, com sessenta anos, profissional bem sucedida de repente se perde no torvelinho das emoções quando seu marido Jack lhe diz que deseja viver, e que talvez seja sua última chance, pretendendo ter um caso com uma mulher mais jovem, mas ainda assim afirmando que a amava. 

Fiona é juíza na vara de família e com isto se defronta diariamente com questões como divórcios, guarda de filhos, ou seja, tudo aquilo que um dia foi só promessas de pura felicidade e que se destrói, desmancha, transformando-se em disputas judiciais pelo dinheiro e pela guarda dos filhos, isto quando estes não são o joguete dos interesses e vinganças dos pais. 

Agora de repente ela se vê frente a uma situação de crise em seu casamento. O choque foi tal que ela não consegue pensar, acaba tendo atitudes que vê as mulheres terem e que normalmente condenaria como imaturas, mas quando a emoção está a tona somos capazes de muitos atos que jamais faríamos. 

Entrega-se totalmente ao trabalho, mas não consegue afastar de si o que se passa em sua vida pessoal. Pensa muito no fato de não ter tidos filhos. Relembra sua vida de casada, sua juventude e seus planos. No meio desta crise ela tem que julgar um caso de um rapaz prestes a completar 18 anos, testemunha de Jeová, cujos pais se recusam a dar autorização para uma transfusão de sangue o que salvaria sua vida. O rapaz, Adam, também concorda com os pais. Fiona então resolve visitar o rapaz no hospital antes de se pronunciar e tomar uma decisão. 

McEwan elabora bem o que é um jovem e como ele pensa e se sente, o que realmente busca e deseja com suas atitudes e toda a fragilidade e carência da juventude. Por outro lado Fiona se deixa levar sem um controle sobre sua posição na situação. Talvez por pensar que poderia ser seu filho, talvez por se sentir não desejada e buscar isto, por suas faltas e carências, por sua crise pessoal. 

Jack, o marido de Fiona também é surpreendente quando deseja a aprovação e conivência de Fiona para seu caso com outra mulher. Ao invés de fazer isto as escondidas ele precisa que ela saiba e o aprove, o que demonstra também uma imaturidade, um lado infantil, o homem que ainda busca sua mãe. Ao invés de enfrentar a questão de frente com sua mulher sobre sua insatisfação sexual ele opta por uma saída que às vezes parece uma ameaça, o que Fiona pressente. Ela se sente pressionada. 

A modernidade pode trazer opções variadas do viver a dois, mas por mais que se deseje uma vida livre, isto não funciona no amor, vejam os casos de Simone de Beauvoir e Sartre, Frida e Diego, resultou em dores, ciúmes, sofrimento não só para eles como para outros. 

Um livro para refletir sobre o amor, a família, filhos e também sobre os efeitos de uma religião que se fecha numa comunidade sem abrir horizontes diferentes para os jovens que vivendo no mundo atual podem acabar se perdendo dentro de tudo isto. Adam esperou o apoio de Fiona para sua decisão, ele não tinha maturidade suficiente para sustentar o que escolheu. Ela não conseguiu ocupar um lugar de mãe substituta, e nem mesmo de uma amiga mais velha que pudesse ajudar. 

No fundo o que vemos são jovens e adultos sem saber direito o que fazem, quase que perdidos e sem orientação. Adam ainda procura ajuda em Fiona,  mas ela se recusa a falar com alguém sobre a crise no seu casamento, e Jack, bom não se fala dele sobre isto, mas parece que também não o fez. Talvez por isto o título original seja mais apropriado ao livro, não apenas para pensar na lei e na justiça em relação às crianças, mas sobre nossos atos infantis onde não conseguimos nos distanciar e tomar decisões ou fazer escolhas mais elaboradas, nos deixando levar pela emoção, pelas faltas, e pela culpa. 


Ian McEwan 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DOCUMENTÁRIO BBC - HUMANO, DEMASIADO HUMANO - JEAN-PAUL SARTRE - O CAMINHO PARA A LIBERDADE - 1999



III- JEAN-PAUL SARTRE - O CAMINHO PARA A LIBERDADE

Sartre diz: Nunca fomos tão livres como durante a ocupação alemã. Perdemos todos os direitos, a livre expressão, éramos insultados e tínhamos que nos calar, e é por isto que éramos livres. Enquanto o veneno alemão adoecia nossas mentes éramos constantemente vigiados, cada gesto que fazíamos era um compromisso.

A liberdade para Sartre era um senso fisiológico de liberdade de modo que a liberdade se incorporasse, se tornasse corpo.

Após a Segunda Guerra os valores do passado entraram em colapso. Sartre recusa tudo - casamento - família - filhos - religião e é feliz. Torna-se uma referência para as pessoas que buscavam algo novo naquele momento e já não podiam mais se referenciar nos valores antigos. 

Não é o passado que nos dirige, é o que nós fazemos, temos que assumir a responsabilidade por nossas ações e de um jeito novo. "Você tem não apenas o direito de escolher, mas também a culpa pela escolha."
"O que importa é o que você escolhe ser no futuro."

Tudo isto caia perfeitamente no momento que a Europa vivia após a guerra. Transformou-se numa esperança e possibilidade de reconstruir a vida e um futuro. Todos queriam esquecer a guerra, havia uma negação do que ocorreu, e poder negar o passado dentro desta filosofia da existência era perfeito.

Sartre nasceu em 1905 em uma família de classe média alta. A morte de seu pai e o ódio ao seu padrasto levou a criança precoce a se reinventar com uma personalidade desconectada de tudo ao seu redor. A morte do pai o livrou de ter um modelo e ele teve que inventar um. 
Quando lhe tiraram as roupas de bebê descobriu-se diferente no espelho. Era feio e o pior, descobriu que as pessoas não mais reagiam a ele como antes. Diante disto seu cérebro passa a valer ouro.

Foi estudar na Ecole Normale Supérieure em Paris onde conhece Simone de Beauvoir. 

Foi professor e interessou-se pela fenomenologia. Em 1933 foi estudar em Berlim com Edmund Husserl. 

Estar consciente de algo é ter relação com algo no mundo, de modo que relacione este algo a uma representação mental. Ele pensou sobre a autoconsciência como uma ideia que temos do mundo. A ideia que nós temos do EU como um caráter essencialmente como de fato é. Não há caráter predeterminado que faz com que você seja quem você é. Você é aquilo que você está tentando fazer. 

Amava o cinema, principalmente filmes de suspense. À diferença dos personagens, lá fora não há roteiro. Escreve o artigo " A contingência da existência" e o romance "A náusea" - a falta de sentido na existência. 

O fato que a vida não tem sentido é o que nos dá a oportunidade de lhe dar um significado. Por não ter significado anterior é que estamos justificados ao criar um. 

Escreve sua principal obra - "O ser e o nada" com influência de Martin Heidegger. 

Foi como prisioneiro de guerra que percebeu que sua filosofia era individualista e precisava relacioná-la ao social. 
Após a guerra fundou a revista Tempos Modernos, deu uma conferência - "Existencialismo é um humanismo". Publicou "Os caminhos da liberdade" e estreou a peça "Entre quatro paredes". 

Foi acusado pela mídia por suas ideias ateístas corromperem os jovens, como um Sócrates. Ele dizia que se Deus existe o homem não é livre. Eu sou a minha liberdade. 

Isolou-se indo morar com a mãe na Rue Bonaparte. 

Da infância em diante era alguém que sofria quando não podia ter o controle da imagem que os outros formavam dele. Isto era para ele o inferno. Era profundamente aflitivo quando pensava sobre o que os outros pensavam quando olhavam para ele. A aprovação. O olhar eterno sobre ele das outras pessoas, sentiu a existência real da vergonha. Parou de pensar no "EU" como um objeto único. Constrói uma ideia de "NÓS" como um outro mundo. Como uma entidade como o "EU" surge? Isto implica que não é possível as pessoas sentirem-se confortáveis umas com a outras. É impossível pensar em vários "EUs" simultanemente. O seu "EU" sempre será um objeto para o outro observador. Todo "EU" está sempre em conflito. Não podemos escapar destes jogos terríveis das pessoas conosco o tempo todo. 

Ao perceber nas pessoas as semelhanças, o uso dos mesmos códigos, isto vai contra o "isto é milha escolha." "EU" prefiro fazer isto. Exagero de liberdade. É a destruição dos outros valores, sob os quais vivemos a maior parte do tempo. 

Um mundo existencialista em que tomamos decisões por nós mesmos seria um mundo socialista em que todos nós nos trataríamos como iguais, mas é difícil ver se este não seria um mundo de maníacos tratando-se da mesma maneira. 

Em 1964 ganhou o prêmio Nobel, mas recusou-o. Não quer ser inserido no sistema. Pensa que se foi escolhido é porque agora o sistema o aceita, e se coloca contra isto. 

Como ele concebe a liberdade sempre fora uma fantasia, mas se tornou claro que a liberdade individual não existe. 

"Eu penso contra eu mesmo. Contra tudo que lhe foi inculcado pela educação. Você tem que criticar tudo o que foi "dado" à você.

Faleceu em 19 de abril de 1980. 

Participaram deste documentário:

- Bernard- Henry Levy - Filósofo
- Annie Cohen-Solal - Biógrafa
- Michele Vian - Amiga
- Jonathan Rée - Filósofo
- Ronald Hayman - Biógrafo
- Baroness Mary Warnock - Filósofa
- Olivier Todd - Escritor
- Patrick Vauday - Filósofo
- Jean Pouillon - Amigo
- Michel Contat - Amigo
- Mary Warnock - Filósofa

Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=jDHnW6U0Tk4
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=ts-fcq6ZNHk
Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=8Hu2mW20pes
Parte 4: https://www.youtube.com/watch?v=rHeUm5W00mY&spfreload=10




sexta-feira, 14 de novembro de 2014

DOCUMENTÁRIO BBC: HUMANO, DEMASIADO HUMANO - MARTIN HEIDEGGER - PENSAR O IMPENSÁVEL - 1999



II - Martin Heidegger - Pensar o impensável 

"Aquele que pensa grande amiúde comete grandes erros".


Martin Heidegger nasceu em 1889 em Messkirch onde também está sepultado. Foi um filosofo simultaneamente muito admirado e execrado. Admirado pela sua mente brilhante e sua produção intelectual, execrado por seu lado político, aderindo ao nacional-socialismo e se tornando um nazista fanático. 

Foi somente após sua morte que surgiram documentos que se tivessem aparecido antes não teriam possibilitado seu retorno ao lugar de professor de filosofia na Universidade, sem contar que teria que ter respondido pelo o que fez. Que ele pensasse que Hitler era a salvação da Alemanha, isto a maioria dos alemães pensaram, mas o que não se aceita é que depois de todos saberem do Holocausto foi ele declarar que nunca teve nada a ver com isto e que nada tinha a dizer ou algo do tipo. Morreu sem pronunciar uma palavra sobre isto, sem dizer que errou, ou qualquer outra menção. 

Seus pais eram camponeses, mas viviam bem. Seu pai era sacristão e ele foi coroinha e antes dos 10 anos decidiu que queria ser padre. Em 1909 após terminar a escola secundária custeado a maior parte pela igreja católica, inscreveu-se na Universidade de Freiburg. Iniciou seus estudos em teologia católica, mas foi perdendo a fé, mudou para matemática e finalmente para filosofia influenciado por um professor que admirava - Edmund Husserl - que iniciou a fenomenologia que oferecia uma nova maneira de entender a consciência humana. Husserl tomou Heidegger sob sua proteção e muito fez para incentivar e possibilitar sua carreira, ao que seria retribuído de forma cruel por seu discípulo durante a Segunda Guerra. 

Na Primeira Guerra Heidegger muito se gabou, mas na verdade ele evitou o front, mantendo-se sempre atrás. Durante a guerra casou-se com Elfriede Petri com quem teve dois filhos. Em 1923 mudaram-se para Marburg no centro da Alemanha onde Husserl havia ajudado a encontrar um lugar como professor de filosofia. Ele nunca se acostumou ao lugar e sempre voltava à floresta negra onde construiu ele mesmo uma cabana de madeira na subida da Montanha Todtnauberg. Era seu retiro espiritual e onde escrevia seus livros.

Sua grande obra - Ser e Tempo, que tem em seu âmago uma pergunta aparentemente simples: o que realmente significa o verbo "ser". O tempo e a existência humana estão inextricavelmente ligados. Nosso ser é o processo de "tornar-se", Rechaça a ideia de que haja algum tipo de essência humana fixa. O que vem em primeiro é a própria existência do homem. A existência é o ato de "expansão" pelo qual estamos projetando-nos constantemente para o futuro, sempre na expectativa, esperando coisas. 

A maioria das pessoas, principalmente as que vivem em cidades grandes, tende a perder o contato com a sua individualidade. forçados a conformarem-se com os padrões de comportamento das massas. Experimentamos fortes sentimentos de ansiedade o que nos leva ao que ele chama de "vidas inautênticas". A maioria vive "a vida da gente", Nós somos um - a gente faz isso, a gente pensa assim. Ele diz - o "eu" não é "a gente". E tudo isto nos anos 20 como uma premonição do que viria pela frente, antes do que temos atualmente com a vida e a morte padronizados. 

Em 1924 Hanah Arendt torna-se sua anula e envolvem amorosamente. Quando Hitler sobe ao poder esta relação há havia acabado. 

O documentário mostra bem todo o envolvimento de Heidegger com o nazismo, seu comportamento, sua influência sobre os estudantes. Hermann Staudinger, professor de química foi perseguido por Heidegger que fazia denúncias infundadas sobre ele para a polícia e para a Gestapo. Posteriormente ele recebeu o prêmio nobel. Mas o pior foi sua postura diante de Edmund Husserl que tanto fez por ele. Husserl era judeu e foi proibido de ter acesso as salas da Universidade. Heidegger assumiu a reitoria e poderia ter revogado esta ordem, mas não o fez, pelo contrário, a executou o que dilacerou por dentro Husserl. 

Ao final Heidegger acreditou que o nacional-socialismo era sua teoria na realidade, aproximava a vida rural, sem grandes avanços tecnológicos, e privilegiava a vida em comunidade. Seu anti-semitismo era algo arraigado na cultura alemã da época. Mas ele pensa que Hitler precisa de um guia, e quem mais além dele próprio? Ele sucumbiu à ilusão de que poderia desempenhar o papel de um rei filósofo. Virou um nazista fanático e megalomaníaco. 

Após o fim da Guerra ele se esconde durante um tempo e retorna para enfrentar a questão, mas desmente todas as acusações. Tentou o suicídio e foi internado por um tempo. Depois recolheu-se à sua cabana de madeira e voltou a se ocupar dos assuntos da mente. E novamente vai se sobressair. 

Não somos nós que falamos, mas é a língua que nos fala. Ela estrutura nosso mundo, estrutura nosso sentido de tempo, da identidade e das relações humanas, do amor, da violência. Novamente é o filosofo. 

Encontrara-se com Arendt que acaba por ajudá-lo divulgando sua obra nos Estados Unidos. Também será apoiado por Sartre. Volta a brilhar. 

Morreu em 1976. 

A questão é agora, diante de todos os documentos que foram encontrados se ele vai continuar sendo tão admirado.

Participaram do documentário:

- Andrew Benjamin - Filósofo
- George Steiner - Escritor
- Thomas Sheehan - Filósofo
- Hans-Georg Gadamer - Filósofo
- Hugo Ott - Historiador
- Miguel de Beistegui - Filósofo
- Elizabeth Young-Bruehl - Biógrafa
- Richard Wolin - Historiador
- Raymond Klibansky - Filósofo
- Richard Rorty - Filósofo
- Tom Rockmore - Filósofo

Assista:




DOCUMENTÁRIO BBC: HUMANO DEMASIADO HUMANO - FRIEDRICH NIETZSCHE - ALÉM DO BEM E DO MAL - 1999



Documentário produzido pela BBC em 1999 dividido em 03 episódios e conta a história de três filósofos: Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre.


I- Friedrich Nietzsche - Além do bem e do mal

Nietzsche é tão importante quanto Marx, Freud e Einstein na evolução do modo como as pessoas pensam no século XX e XXI. 

Com a entrada na modernidade há o que Nietzsche chama de a morte de Deus e com isto o enfraquecimento das certezas morais e intelectuais. O que é certo e o que é errado? o que é bem e o que é mal? A igreja era o árbitro da moral, a guardiã da verdade moral. Hoje não somos mais determinados por forças exteriores, a vida é algo para ser construído e somos responsáveis por isto. A filosofia de Nietzsche não é um guia para quem pensa como ele, mas sim é um guia para quem pensa por si mesmo. Ele nos incita a pensar. 

Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844 em Röcken. Seu pai era pastor. No seu batizado o pai perguntou o que seria desta criança , o  bem ou o mal? Nietzsche tentará vencer esta dicotomia, relacionando o bem e o mal, para torná-los dependentes um do outro. 

Teve um infância feliz até 1847, quando estava com 05 anos e seu pai morreu. Um ano depois foi seu irmãozinho que morreu. Então ele se questiona: porque Deus punira seu pai com tanto sofrimento. Surgem as dúvidas sobre o cristianismo.

Após a morte de seu pai e irmão muda-se com a mãe e a irmã Elizabeth para Naumburg e foi enviado para o internato de Schülpforta de tradição em educação religiosa. Após estas perdas ele mudou muito, passou a buscar a solidão. 
Foi estudar teologia na Universidade de Bonn com a ideia de ser pastor. Em 1865 num domingo de Páscoa recusou-se a comungar. Neste ano abandonou sua vocação religiosa para estudar línguas como filólogo clássico. Em uma carta para sua irmã explica que há os que creem e os que buscam. 

Em 1869 foi nomeado professor de filologia clássica na Universidade de Basiléia. 

Havia se libertado das amarras do cristianismo e buscava algo para substituí-lo. Sem o cristianismo a dor e o sofrimento humano não fazia sentido (castigos pelos pecados). Procurou então na filosofia e encontrou em Schopenhauer, que é uma filosofia pessimista, Para escapar do sofrimento há a arte, principalmente a música diz Schopenhauer e Nietzsche encontra isto em Richard Wagner. Assistiu três vezes a ópera Tristão e Isolda e se identificou com o sofrimento deles. 

Wagner se torna um pai substituto. Na arte deste Nietzsche viu a possibilidade de um renascimento da ultura européia baseado no modelo grego clássico da tragédia. ("O nascimento da tragédia"). A música de Wagner representa o ideal pré-cristão simbolizado pelo deus grego Dionísio. A cultura dionisíaca era selvagemente enérgica, musical. Era associada à embriaguez, intoxicação, os excessos, a alegria e a mais absoluta insensibilidade à tristeza, à dor e à tragédia. 

Nietzsche sofria debilidades, era míope, contraiu sífilis apesar de nunca ter falado isto em público, aos 30 anos estava parcialmente inválido, sentia dores de cabeça fortíssimas, e ficava vários dias de cama. "Surpreendo-me o quão difícil representa viver". Sua enfermidade vai ser um ponto de mudança decisivo em sua vida. 

Em 1876 ocorre a inauguração do grande teatro de Wagner em Bayreuth. Nietzsche sai depois do primeiro ato sentindo náuseas, o que é simbólico e um sintoma físico que expressava um estado psicológico. A relação com Wagner fica tensa, ele não aceita o nacionalismo deste. Ele precisa de sua filosofia.

Deixei de ser pessimista nos piores anos de minha vida. O instinto de auto-reparação proibiu-me uma filosofia de pobreza e desalento. Afasta-se de Schopenhauer. 

O autodomínio e o autoconhecimento está no corpo. O cristianismo baniu o corpo da cultura. O físico e o psicológico tem relação com a nossa forma de pensar. A vontade de poder é o fazer-se a si próprio. 

Nietzsche libertou-se das tradições e das opiniões que não eram suas. Condena-se a uma solidão selvagem. Renuncia a seu lugar de professor na Universidade e muda-se para St. Moritz nos Alpes Suíços. Nos próximos dez anos viverá no verão nos Alpes e no inverno na Riviera francesa ou italiana. 

O super-homem é transcender-se a si mesmo, superar-se, buscar um novo caminho, mas dentro do que é humano. O Nazismo corrompeu isto por causa da irmão de Nietzsche, Elisabeth, que promovia o ideal ariano. Mas o super-homem de Nietzsche não é o homem superior, a raça superior. É o humano, a humanidade que está incluída nisto. 

Em 1888 vai viver em Turim na Itália. Em janeiro de 1889 sofre um colapso em uma rua de Turim. Foi para um sanatório e depois para a casa de sua mãe. É declarado louco e sua irmã cuida dele em Weimar. Morreu em 1900 de uma infecção pulmonar. 

Elisabeth controlou por 30 anos o legado literário do irmão e tentou promover falsamente o filósofo como um pensador nazista.

Participam do documentário:
- Ronald Hayman - Biógrafo de Nietzsche
- Leslie Chamberlain - Biógrafa de Nietzsche
- Andrea Bollinger - Arquivista
- Reg Hollingdale - Tradutor
- Will Self - Escritor
- Keith Ansell Pearson - Filosofo





quinta-feira, 13 de novembro de 2014

DOCUMENTÁRIO: JACQUES LACAN - A PSICANÁLISE REINVENTADA - 2001



Direção: Elisabeth Kapnist - 2001
Título Original: Jacques Lacan: La psychanalyse réinventée
Duração: 62 min


Escrito por Elisabeth Kapnist e Elisabeth Roudinesco


Baseado no livro: Jacques Lacan: esboço de uma vida, história de um sistema de pensamento de Elisabeth Roudinesco. 

Documentário francês patrocinado pelo Ministério da Cultura da França

O documentário inicia-se com Lacan chegando para um conferência em Louvain em 1972. É composto por depoimentos de vários intelectuais e psicanalistas que participaram deste momento que eles chamaram de movimento inventivo (Pontalis) e de partes com Lacan falando.

Lacan fala do estado do espelho quando o bebê se espelha no outro, o que o leva a dizer que o moi (eu) é um resultado do outro.
Ele não se situa mais no universo clássico da representação, mas no universo da pintura moderna - como Picasso em relação à pintura clássica - onde as representações estão fraturadas, fragmentadas como um nariz que se move e não se encontra no centro do rosto, e também no do Barroco. É um Freud desmedido.

Jacques Lacan nasceu no dia 13 de abril de  1941 em Paris de uma família burguesa católica. Estudando Nietzsche e Spinosa ele rejeita o catolicismo. Dirá que o uso do uniforme da escola lhe trouxe a convicção intima de que os mais violentos machucados, marcas psíquicas surgem sempre do interior da coletividade submissa a maior normalidade.

Ele irá estudar psiquiatria e se interessa pela paranoia - psicose. Freud comparou a paranoia a um sistema filosófico (por ser uma loucura coerente) e Lacan fez dela um modo de razão lógica inscrito no coração da personalidade humana. Sua tese será sobre a paranoia - o caso Aimée.
A suposição do paranoico é que qual seja a desordem das aparências tem que ter em algum lugar um real escondido do qual ele está absolutamente certo e que lhe dá seu senso, sentido, a tudo que ocorre e este real é geralmente um complô ou um crime preparado contra ele. Lacan fala da paranoia como algo que esclarece a estrutura do desejo de conhecer. Quando queremos conhecer as coisas obscuras somos necessariamente paranoicos. E isto fascina Lacan.

1932 - Aimée agride uma artista comediante - ao atacar a artista ela atacou seu ideal de eu ao qual ela se identificava mais.
1933 - Irmãs Papin - atacam o ideal de mestre que tem em si. ( as irmãs assassinaram sua patroa e a filha desta).

Sobre esta loucura feminina Lacan dirá que é um teatro da crueldade surgido desde tempos imemoriais.

Em 1934 Lacan casa-se pela primeira vez. Tem três filhos: Caroline, Thibaut e Sibille. Três anos depois de casado apaixona-se por Sylvie Bataille que está separada, mas ainda casada oficialmente com George Bataille e com quem tem uma filha - Laurence, que irá se tornar uma psicanalista. Em 1941 nasce Judith, filha de Lacan com Sylvie. Ele se casará com ela após o fim da segunda guerra.

Os Seminários eram um movimento inventivo onde todos sentiam-se participando. Após a Segunda Guerra Lacan abandona os filósofos alemães como Hegel e se volta para a estrutura simbólica da subjetividade. Apoia-se em Claude Lévi-Strauss e Roman Jakobson para fazer do inconsciente uma cadeia de significantes.

O estudo de Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco - mostra que a interdição do incesto (uma ruptura, obediência à lei) faz a passagem da natureza para a cultura. O Incesto é algo que o ser humano deseja e por isto deve ser proibido, interdito. As relações de parentesco é estrutural - determina a estrutura simbólica da sociedade,através das regras que devem ser seguidas. Regras estas que atuam no inconsciente.

Lacan também se apoia nos linguístas, como Jakobson e Ferdinand de Saussure. Quando falamos mobilizamos numa ordem absolutamente aleatória estruturas, ou seja, diferenças (de fonemas, de palavras). Estas diferenças se articulam segundo uma lógica. A cura analítica exibe esta lógica. Esta cadeia de significantes não se fecha, como uma pulseira, ela explode o fecho, e se se fecha é sobre um termo ausente.

Foi em 1953 em Roma, cidade pela qual Lacan é apaixonado (interessante que Freud também tinha uma ligação muito forte com a Itália), que ele definiu os três termos maiores - Real - Simbólico e Imaginário.
No qual o S - Simbólico é o que nos determina pelas estruturas. O R - Real - é o que escapa a simbolização (as loucuras, as pulsões, o ilimitado) e o I - Imaginário que é o lugar das ilusões do eu, mas atenção, estas ilusões existem, vivemos num mundo de ilusão, de representações.
É o Real que suscita o Imaginário e o Simbólico.

No quarto episódio Lacan fala e diz que por um tempo acreditamos que os psicanalistas sabiam alguma coisa. Mas não é mais assim. O cúmulo dos cúmulos é que eles mesmos não acreditem mais, no que eles estão errados, porque justamente eles sabem um tanto. Só que exatamente como para o inconsciente na sua verdadeira definição, eles não sabem que o sabem.

Em 1950 Lacan cria o tempo lógico na análise o que irá criar muitas controvérsias. É o tempo variável na sessão de análise, que com o corte fará o paciente perder menos tempo pronunciando palavras vazias. O tempo de uma sessão desde Freud era estabelecido em torno de 50 min. Lacan fazia sessões que duravam poucos minutos.

Em uma de suas aparições no documentário Lacan diz: A transferência é o amor. Por que amamos um ser igual? e deixa a questão no ar.

No final da vida Lacan começa a falar cada vez menos. É como se estivesse no Real. Talvez o real da morte que se aproxima. Ele dirá a morte - é do domínio da fé. Ele faleceu em 09 de setembro de 1981.

Participaram do documentário:

- Maria Belo - Psicanalista
- Jacques Derrida - Filosofo
- Christian Jambet - Filosofo
- Juliet Michell - Psicanalista
- Jean Bertrand Pontalis - Psicanalista
- Elisabeth Roudinesco - Historiadora.

Elisabeth Kapnist 

Elisabeth Roudinesco nasceu em 1944 em Paris, França 


Jacques Lacan 

terça-feira, 11 de novembro de 2014

DOCUMENTÁRIO: POR DENTRO DA MENTE MEDIEVAL - Conhecimento - 2008


Documentário da BBC 
Título original: Inside the Medieval MInd - Knowledge - 2008 

Sinopse da série: o especialista em Idade Média, Prof. Robert Bartlett, apresenta uma série que analisa a forma que o homem pensava durante a época medieval. Para os nossos ancestrais, o mundo parecia ser misterioso, até encantado, ver homens verdes, com cabeça de cães e seres estranhos era algo comum. O próprio mundo era um livro escrito por Deus. Mas à medida que a Idade Média aproximava-se do seu fim, ele se tornou um lugar para ser dominado e explorado. Série em 04 episódios.

São quatro episódios que no link abaixo estão juntos falando sobre o conhecimento na mente medieval.

No período que conhecemos como Idade Média, e não precisamos lembrar que se trata de uma divisão para facilitar os estudos, as ideias no Ocidente eram sufocadas pela religião, porém assim mesmo havia exploração, ciência, não condizendo com as trevas que alguns atribuem a este período.

O importante é compreender como era a visão de mundo das pessoas naquela época, muito diferente da atual. Eles tinham muitas visões de seres estranho, mas isto não é folclore, para eles era fato, verídico.

Na Catedral de Hereford existe um mapa mundi de 1300 feito sobre o couro de um bezerro onde o que vemos não é exatamente um mapa como o compreendemos hoje que nos indicaria os lugares e como fazer para ir de um lugar a outro, não era isto, este mapa mostra como eles imaginavam a terra. Jerusalém é simbolicamente o centro deste mapa, temos então 03 continentes, o oriente na parte de cima e a Europa e África na parte de baixo. Os locais são simbolizados por gravuras, como por exemplo a Rússia por um urso. Também temos neste mapa o tempo e o espaço, com imagens de Adão e Eva, da crucificação de Jesus, e também do futuro com o juízo final. O que se nota é que o natural e o sobrenatural coexistiam pacificamente.



Eles se utilizavam da lógica e da observação para ver a forma como as coisas encontram seu lugar num mundo inteiramente religioso. Para a mente medieval um fato podia ser ao mesmo tempo natural e sobrenatural, eles não faziam esta divisão. Um eclipse era ao mesmo tempo um fenômeno natural e um sinal divino.

Os bestiários é outra coisa maravilhosa daquela época. São livros escritos à mão com desenhos magníficos descrevendo a natureza, mas não como nós faríamos, pois a natureza não é vista de forma independente, e o que os seres representam é uma mensagem para o homem moral e espiritual.

Porém tem início o desencantamento do mundo. Surgem as primeiras Universidades que é talvez o maior legado da Idade Média para o conhecimento. Neste momento também temos as guerras cristãs e eles invadem Toledo na Espanha onde estavam os muçulmanos retomando-a. Toledo era um centro de artes e ciências com bibliotecas maravilhosas. Os europeus irão descobrir então Aristóteles que lhes era desconhecido e isto irá causar uma revolução intelectual, uma vez que os gregos buscam explicações para o universo que não incluem um Deus cristão que criou o mundo em sete dias. Para os gregos não houve a criação, e eles acreditam que o Universo sempre existiu e sempre vai existir. Obviamente que isto suscita uma reação cristã e é proibido ler Aristóteles sob pena de excomunhão. 

Será preciso São Tomás de Aquino para reunir tudo isto fazendo uso da razão dos gregos para explicar a revelação divina. Assim surge a Escolástica. 

Este encontro com o mundo muçulmano também trará outras informações e descobertas na ciência, na química, álgebra e principalmente os números arábicos, pois fazer somas com os números romanos não é algo fácil. 

Aos poucos se vai passando da contemplação maravilhada à consciência do domínio. O tempo que antes era medido por fatos irregulares diários, refeições, missas, marés altas e baixas, passará a ser medido de forma precisa através dos relógios mecânicos. 

Mas ainda há mais por vir. Quando entram em contato com os mongóis e a China e todo o conhecimento que este povo possuía. Marcos Polo um italiano escreverá sobre as maravilhas que viu, apesar de poucos acreditarem nele na época. E depois virá outro italiano, Cristóvão Colombo que descobrirá a América e pensará que chegou ao éden, ao paraíso. 

O interessante é notar que as indagações medievais como por exemplo sobre os anjos ocuparem um mesmo espaço ou não são as mesmas que a física quântica faz hoje. 

Sempre fui fascinada pela Idade Média, por seu imaginário, sua visão de mundo, suas construções, os livros manuscritos e os desenhos. Este documentário é muito bom e nos mostra um pouco de tudo isto. 




Robert Bartlett nasceu em 1954. É um historiador e medievalista inglês. Atualmente ocupa o cargo de Professor de História Medieval na Universidade de St. Andrews. É especialista em colonialismo medieval, culto dos santos e sobre a Inglaterra entre o século XI e XIV.

DOCUMENTÁRIO: SIMONE DE BEAUVOIR - UMA MULHER ATUAL - 2008



Direção: Dominique Gros - 2008 
Duração: 51 min 
Título original: Simone de Beauvoir une feme actuelle 


Documentário sobre Simone de Beauvoir com alguns apanhados de momentos de sua vida enfocando mais o período do pós-guerra, a guerra da Argélia, sua ida para os Estados Unidos, e principalmente seu livro O Segundo Sexo e sua autobiografia que ela escreveu em vários volumes.


Escolhi iniciar meu blog com Simone de Beauvoir devido sua forte influência em minha vida e formação intelectual quando eu tinha 20 e poucos anos. Li toda sua autobiografia a começar por Memórias de uma moça bem comportada onde fala de sua infância até seu encontro com Sartre e a morte de Zaza, sua melhor amiga.

O documentário fala sobre sua militância política e suas posições a favor da independência da Argélia indo contra a vontade da França o que a colocou numa posição delicada perante os franceses, mas ela não recuou, era contra o colonialismo. Também se opôs a guerra do Vietnã. Na segunda guerra ela era contra os nazistas e os colaboradores, porém não encontrou uma forma de agir contra isto, o que não ocorre mais depois quando se manifesta, assim como Sartre.

Simone escreveu O Segundo Sexo que foi um dos marcos iniciais, senão o principal, do movimento feminista defendendo a liberdade da mulher. Ela dizia que uma mulher oprimida e em casa também oprime seu marido que ao invés de estar engajado irá ficar em casa e ver televisão, alegando desta forma que era de interesses políticos a manutenção da opressão. Sua famosa frase "Não se nasce mulher, torna-se mulher" ela irá estendê-la aos homens também, dizendo com isto que não é um destino biológico, mas social e cultural e que é possível romper e construir sua própria vida.

O Documentário também falara de sua vida amorosa, e traz a tona o fato de que ela e Sartre deixaram de ter relações sexuais depois de 7/8 anos juntos, mas mantiveram uma vida sexual ativa com outras pessoas. Se por um lado Simone irá se relacionar com mulheres para oferece-las à Sartre, por outro viverá um grande amor com Nelson Algren, um escritor americano. Terá também relacionamentos amorosos com Bost e Claude Lanzmann.

São feitas leituras de suas obras, escritos, cartas, mas ela também surge no documentário falando. Pela primeira vez vi Simone com os cabelos soltos e pude perceber uma beleza que ainda não havia notado, uma vez que normalmente suas fotos ela está de turbante ou com um coque. Há uma beleza delicada em seu rosto com os cabelos soltos.

Ela sempre dizia que se devia dizer tudo, toda a verdade. Acreditava que podia encontrar a verdade, o que eu pessoalmente não acho possível. Não se constrangia para dizer ao outro tudo, mas esquecia que o outro nem sempre se sentiria bem com isto, da mesma forma que ela reconhece que o acordo que ela tinha com Sartre e que faria com que nunca se separassem havia esquecido o outro, e isto trouxe sofrimento, principalmente para Nelson Algren e para algumas mulheres na vida de Sartre.

Simone também escreveu sobre a Velhice. Quando ela se viu diante deste momento opta por então apreender tudo sobre isto e ficará chocada com o que vai ver e depois escreverá em seu livro.

Seu pior momento foi a morte de Sartre. Foi internada e muitos acreditaram que ela não sobreviveria, mas ela conseguiu e retomou a vida. A vida que quando jovem ela pensava que a tinha toda para viver, para descobrir na velhice que ela não é algo que temos, mas algo que passa.

Foi uma filosofa existencialista e foi uma grande pensadora. Escreveu romances onde se expunha de outra forma, escreveu sobre sua vida e escreveu livros sobre a Mulher, a Velhice que foram marcos iniciais em grandes mudanças que  teriam início e continua atual, pois ainda não podemos dizer que a mulher atingiu sua emancipação, e nem podemos dizer que os velhos são considerados como pessoas sábias que merecem todo o respeito, e que são capazes de decidir e também de desejar.


Assista: http://tvhumana.com/2014/05/28/selecao-humana-simone-de-beauvoir-pensadora/

Dominique Gros nasceu em 1951 na França.