Direção: Arie Posin - 2013
Duração: 92 min
Título Original: The face of love
O Luto patológico
Durante uma viagem de férias ao México Nikki (Annette Bening) perde seu marido Garret (Ed Harris) que morre afogado. Sua única filha sai de casa na mesma época para viver com o namorado. A vida de Nikki perde todo o sentido e exceto pela companhia de Roger (Robin Williams) em sua última participação no cinema antes de sua morte neste ano, que também é viúvo e vai nadar na piscina de Nikki e costumam fazer algumas refeições juntos, ela vive das lembranças de seu marido.
Até que um dia ela resolve voltar a visitar um museu, local onde ia muito com Garret que gostava de arte, e lá vê um homem extremamente parecido com seu falecido marido. Nikki passa a segui-lo até que consegue se aproximar e eles iniciam um relacionamento. A questão é que Nikki não esqueceu Garret, e não consegue abrir espaços para novos relacionamentos, e vê em Tom o marido que morreu e não a pessoa que está diante de si. Ela o leva aos mesmos lugares onde costumava ir, numa tentativa de manter o marido vivo.
Quando perdemos alguém muito próximo a sensação é de que algo nosso foi junto, e por isto é necessário o luto para que ocorra a separação, para que o desejo se desligue deste objeto e possa se voltar para outros. Nikki não se separou de Garret, seu desejo continuou ligado à ele, ela não está disponível para amar Tom. É a Garret que ela vê e ama. Ela permanece fixada no passado, o psiquismo se cristaliza e idealiza a pessoa que partiu, e acaba introjetando este objeto ao invés de se separar dele e com isto poder continuar a viver e ter possibilidades de novos objetos amorosos ou outros atrativos na vida.
Ela não aceitou a morte dele, não a enfrenta. Guarda tudo que era dele em caixas e mantém uma foto dos três, ela, o marido e a filha. Normalmente quando alguém morre guardamos algumas lembranças, mas nos desfazemos da maior parte das coisas, doando, vendendo, dando de presente aos outros.
Nikki é melancólica, ela busca o passado, quer se livrar da dor e manter a ilusão de que nada disto tudo aconteceu. Há uma cena na praia com Tom onde ela lhe fala como se fosse Garret dando a compreender que nada daquilo aconteceu, que graças a Deus ele está vivo. E no entanto, é Tom quem está ali.
Ela não consegue pintar e Tom lhe diz que pintar e seu olhar, olhar para algo, a percepção do que se vê, e então isto se expressa na tela. Nikki não consegue olhar para fora, está presa dentro de si, até que após conseguir se libertar ela pode novamente olhar e se expressar.
Gostei muito do quadro de Tom que ele nomeia - A face do amor. Interessante porque ele olhar pela janela para Nikki na piscina, mas ao mesmo tempo há o seu reflexo no vidro. A face do amor é sempre o que buscamos no outro, aquilo que nos completa, que nos falta, o que não deixa de ser uma ilusão também, mas que possibilita muitas vezes criar, como fez Tom, e como fará Nikki depois.
Um belo filme sobre o luto, a melancolia, e do quanto é necessário viver este momento com toda sua dor para depois se separar e continuar a viver, sem nunca esquecer ou deixar de amar quem partiu, mas podendo abrir espaço em seu desejo e em sua vida para outras coisas.
Infelizmente o filme deixa a desejar quanto à recuperação de Nikki, em qual momento ela rompe com seu passado e consegue finalmente seguir sua vida? A última cena antes é ela dizendo a Tom que o ama, e depois passa um ano e a vemos sendo capaz de seguir sua vida.
Infelizmente o filme deixa a desejar quanto à recuperação de Nikki, em qual momento ela rompe com seu passado e consegue finalmente seguir sua vida? A última cena antes é ela dizendo a Tom que o ama, e depois passa um ano e a vemos sendo capaz de seguir sua vida.
Arie Posin nasceu em Israel
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