quarta-feira, 29 de julho de 2015

FILME: A HISTÓRIA DA ETERNIDADE - 2014


Direção: Camilo Cavalcante - 2014
Duração: 120 min
Roteiro: Camilo Cavalcante
País: Brasil

Nosso sertão tantas vezes filmados está novamente neste filme, porém não vem para nos contar a dura vida do povo que o habita, ou falar das secas ou das injustiças, mesmo que a seca esteja presente no filme, o que este filme traz é a história de três mulheres e seus desejos. 



Logo no começo do filme vemos passar um enterro naquela vastidão com uma única árvore onde se abriga um sanfoneiro cego e um menino. É o enterro de uma criança e a mãe Querência (Marcelia Cartaxo) o segue com dor, apoiada por Das Dores (Zezita Matos). Em seguida vemos Alfonsina (Débora Ingrid) ouvindo uma música num rádio a pilha e sonhando com o mar até que seu pai (Claudio Jaborandy) e irmãos chegam e ela precisa servir a janta. Ela nunca senta à mesa com o homens.Em seguida ela pede permissão para fazer o prato de seu tio Joãozinho (Ihandhir Santos) e o leva até sua casa, este irmão desprezado por seu pai por ser um artista, se dedicar à arte e representações, e por isto considerado um vagabundo que nada faz, além de louco, porque ele tem epilepsia. 


Estas três mulheres que desejam, tem pulsões, amam, sonham e vivem neste pequeno vilarejo no meio do sertão limitadas pela região, pela seca, pela pobreza, pelas dificuldades e pelos homens, que são rudes, mas também doces como o sanfoneiro e Joãozinho, todos em tão pequeno espaço, mas que são como todos, como o ser humano, capazes de sonhar, de criar, de desejar, mas também de matar ao outro. 

Alfonsina a mais jovem, vai completar 15 anos e seu maior desejo é ver o mar. Ela pede ao seu pai que a leve, mas ele diz que ela ficou doida, mas que vai fazer um forró e matar quatro bodes para a festança. A jovem fica triste. Seu tio então lhe diz que tem uma surpresa e que tem a ver com o mar, mas que lhe dirá o que é no seu aniversário, o que será uma das mais belas cenas do filme, quando a arte e a imaginação é capaz de vencer todos os limites e trazer o mar para o sertão. A jovem está na fase das descobertas sexuais, e quem mais do que seu tio com sua sensibilidade poderia atraí-la? Ele resiste, mas ela não desiste. 



Querência logo no começo tem um homem que vai embora. O sanfoneiro esperava por isto há muito tempo, mas ela está triste, de luto. Ele então lhe diz que vai ficar ali fora tocando até ela abrir a porta e deixar seu amor entrar. 



Das Dores é viúva e quem cuida da igreja, tem um oratório em casa e sempre reza. Sua filha liga e avisa que o neto está indo para lá. O jovem chega, mas ele não foi para lá para visitar sua avó, está fugindo, fez coisas ruins e está sendo procurado, querem matá-lo. Das Dores sente atração pelo garoto. Ela abre sua mochila, pega uma cueca, depois encontra uma revista pornográfica que fica olhando. Seu corpo clama, arde. Ela o observa dormir. 



Joãozinho prepara uma apresentação. Coloca seu toca discos do lado de fora, ele teceu uma rede como de pescaria com vários objetos pendurados, usa como se fosse um xale e dança com a música "Fala" dos Secos e Molhados. 



Neste aparentemente pequeno mundo vemos um panorama do ser humano com seus desejos e dores, e a história da eternidade que se repete, onde o trágico acompanha sempre o humano. Também fiquei pensando no nome Alfonsina que deseja ver o mar e Alfonsina del mar.

Se Guimarães Rosa dizia que o sertão é o mundo, Cavalcante faz um filme onde mostra isto. 

Belíssimo filme. 

Camilo Cavalcante nasceu em 1974 em Recife, Pernambuco

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