Direção: Olivier Assayas - 2014
Duração: 124 min
Título Original: Clouds of Sils Maria
País: Estados Unidos - França
Indicado para o Festival de Cannes 2014 como longa-metragem
Para os que não assistiram ainda recomendo não ler, pois pode ser considerado spoiler.
O filme trata de uma atriz que está no auge de sua carreira, Maria Enders (Juliette Binoche) que iniciou sua carreira representando Sigrid, uma jovem que leva ao suicídio sua chefe Helena. Agora ela é convidada a fazer o papel inverso. Após relutar ela acaba aceitando, irá contracenar com Joan (Chloë Moretz) que fará Sigrid, e isto a deixa perturbada. Maria vai para Sils Maria com sua assistente Valentine (Kristen Stewart) para ensaiar o papel o que a leva a confrontar seu passado. O filme tem uma reviravolta no final que surpreende, mas não tenho como falar do que senti e percebi sem tocar neste ponto.
Durante os ensaios nos Alpes em determinados momentos já não sabemos se elas estão ensaiando ou se são Maria e Valentine. Um outro ponto é que vemos no início do filme uma Maria muito feminina que aos poucos parece ir se masculinizando, em seus gestos, no corte de cabelo, nas roupas que passa a usar, no tom de voz, na expressão. É sutil o processo.
A história de Sigrid é que ela é contratada como assistente de Helena, uma empresária, que acaba se apaixonando por ela o que a leva ao suicídio. Valentine também é a assistente de Maria, e é uma mulher forte, determinada e que tem seus próprios pontos de vista, que diferem de Maria sobre a história de Sigrid e Helena.
Maria vê Sigrid como ela mesma era quando jovem e a revê no espelho de Valentina, uma projeção de si mesma jovem, mas agora ela não é mais esta jovem, amadureceu, é famosa, ou seja, está no lugar de Helena em sua vida também e tem que enfrentar que ela também se encanta com Sigrid, seja como Joan ou Valentine.
A passagem de Sigrid para Helena é para Maria o que lhe ocorre em sua vida e ela precisa se confrontar com isto. Precisa se confrontar com seus fantasmas e desejos. O final surpreendente é justamente quando ela fica acima das nuvens. Em Sils Maria há um fenômeno climático chamado de Serpente de Maloja. Nuvens entram no vale cedo de manhã serpenteando causando um belo efeito e cobrindo o vale, porém abaixo delas o tempo fica ruim com chuvas e intempéries, como a própria vida de Maria. É no momento que ela está acima da Serpente, que ela faz a passagem e ultrapassa seus fantasmas e pode se assumir e ser a Helena.
Vejo duas questões, a primeira é a dificuldade de aceitar que se cresceu, amadureceu e que lhe cabe agora interpretar a mulher mais velha e abrir mão do papel que lhe deu o estrelato, mas a outra na minha opinião é a mais importante, é o desprezo que Maria sente por Helena e isto é uma projeção que ela tem que enfrentar. Sempre odiamos no outro o que trazemos em nós mesmos e nos desagrada, não aceitamos ou não sabemos como lidar com isto. É disto que se trata, lidar com este outro lado do espelho. Ao longo do filme Valentine mostrará outra faceta de Helena, outra possibilidade para esta mulher. É Maria quem encarna ela mesma, Sigrid e Helena, as três são ela mesma, até o momento onde se faz a passagem e ela consegue lidar com estas três facetas de si mesma.
É a jornada do crescimento e amadurecimento de Maria, da aceitação que a vida anda, se movimenta e muda, mas sempre trazendo os traços de antes.
Olivier Assayas nasceu em 1955 em Paris, França
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