segunda-feira, 30 de março de 2015

LIVRO: CEM ANOS DE SOLIDÃO - GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ



Márquez, Gabriel García. 35ª ed. Record, 1967
394 páginas
Tradução: Eliane Zagury
Título Original: Cien Años de Soledad

Muitos anos se passaram desde que li o livro a primeira vez e mais uma vez se comprova que a cada leitura lemos um outro livro, relembramos o que vimos na primeira vez e reinterpretamos outros momentos. Havia me ficado uma impressão de que a chuva praticamente dominava o livro todo e não foi assim. Interessante o que nos marca na leitura e cada um de nós irá ver algo que talvez o outro não perceba.

Quando o li a primeira vez eu ainda não tinha nenhum conhecimento da psicanálise e portanto foi uma leitura bem diferente que fiz agora. Não há como escapar, depois que passamos pela experiência de uma análise queiramos ou não adquirimos um olhar diferente e uma percepção analítica seja da vida, seja de filmes, livros, teatros, arte, passamos a olhar a entrelinhas, a ouvir mais, a perceber as associações, o romance familiar, enfim, tudo que envolve uma vida. 

A história da família Buendía que perdura cem anos desde o primeiro até o último e o final da estirpe. Cem anos de solidão. Por que solidão? Afinal não vivem todos ali, na mesma casa em Macondo? sob a tutela da matriarca Úrsula? A solidão nem sempre se dá quando estamos sós e mais uma vez comprovamos que solidão é algo que trazemos em nós mesmos e não está no entorno. 

Tudo começa com o casamento entre primos - José Arcádio Buendía e Úrsula. O temor de que possam ter um filho com rabo de porco devido o incesto entre primos se apodera de Úrsula que irá continuamente repetir isto, sobre este perigo, frase que marcará a todos na família. A força de uma palavra, de uma frase, principalmente de uma mãe sobre sua prole e descendentes é terrível, marca a ferro e fogo, e como se libertar disto? 

Tudo que se recalca ou omite, os segredos, o que se esconde de alguma maneira retorna, tudo que se nega, de alguma maneira retorna, e o que vemos ao longo do livro é a eterna repetição, de casamentos incestuosos, de amores incestuosos, que se marca pela repetição inclusive dos nomes a tal ponto que em dado momento já não sabemos de que José Arcárdio ou de que Aureliano se fala. 

O destino prescrito pela matriarca irá se repetir por não ter sido rompido, por não ter sido falado, o mau dito que não se transforma em bem dito. O destino prescrito e escrito pelo cigano Melquíades que não foi decifrado a tempo, nem mesmo quando o último Aureliano quase o consegue, mas é tarde, a repetição já havia se dado. 

Ao longo do livro vamos notando várias repetições, no modo de ser conforme o nome, na maneira de agir que alguns chamam de vício, o silêncio que se abate sobre alguns, a presença de insetos, as formigas, a destruição lenta da casa que parece acompanhar a destruição da família. 

O livro é uma obra de arte, o realismo mágico, as situações que se apresentam que mesmo sendo irreais se tornam verossímeis na história. 

Gabriel García Márquez 

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