Direção: Michelange Quay - 2007
Duração: 99 min
País de origem: Haïti
Um filme diferente que irá agradar a poucos. É um filme que representa um transe, fora da compreensão e do racional. É uma experiência cinematográfica, que nos leva ao mais profundo do sofrimento espiritual e material do Haïti.
Vou falar sobre o que senti. Logo no início do filme vemos uma senhora branca num leito (Catherine Samie) que fala palavras ditas por Jesus, mas ela completa dizendo que ela é a abundância incompreendida por eles (haitianos) que cospem nela em sua ignorância. Ela alimenta este mundo canibal, coma, este é meu corpo. Ela diz perdoe-os, eles não sabem o que fazem. Mas ela mesma se alimenta deles, ao ponto de se ver neles e diz que eles pegam, mas não retribuem.
Alguns meninos se dirigem em fila para a casa colonial. São lavados, vestidos de terno, sapatos, para o ritual da refeição. Uma mesa posta, tigelas e colheres. Surge Madame (Sylvie Testud), ela se senta com os meninos à mesa, mas não há comida, o que não desobriga o obrigado!, repetido à exaustão. Ela sugere que eles devem fechar os olhos e imaginar que estão comendo. Mas quando eles finalmente tem um bolo para dividir, eles se empanturram, e fazem guerra com o bolo.
O filme retrata o branco comendo o negro. É um jogo de espelhos, o negro se olha no espelho, ele espia a mulher branca. Uma busca de identidade. A mulher branca acaba tomando consciência do outro, mas para isto sua mãe tem que morrer.
É como um mergulho no inconsciente, poucas palavras, imagens, vemos as duas senhoras brancas, que representam a colonização. Vemos os negros habitantes e originários dali. Um se olha no outro, e por mais que o branco tente se manter afastado ele acaba assimilando também. Então já temos dois lados diferentes. Além disto há uma crítica a colonização, a situação da casa colonial diante do restante do povo. O branco acredita que ele está levando algo de bom para eles e os haitianos não agradecem, e porque teriam que agradecer? Eles é quem estão sendo explorados pelo branco. Então ao contrário do que diz a senhora no começo do filme, é ela quem se alimenta deles e não o contrário.
Um filme que possibilita muitas interpretações.
O filme foi realizado antes do terremoto de 2010 que arrasou o país que até hoje não se recuperou.
Michelange Quay é haitiano
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