quinta-feira, 12 de junho de 2014

DOCUMENTÁRIO: ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO - 1989


Diretor:  Peter Cohen - 1989
Duração: 119 min 
Narração: Bruno Ganz 
Origem: Suécia 
Título original: Undergangens Arkiketur 

Este documentário é considerado um dos melhores estudos sobre o nazismo feito pelo cinema.

Hitler, um artista frustrado, ele foi recusado pela Academia de Artes de Viena quando jovem, que pintava paisagens em formato de cartão postal, admirava a ópera de Wagner tinha fixações na estética da beleza, na antiguidade, em Wagner. Ele desejava embelezar o mundo, para isto se baseando na estética do belo segundo o seu julgamento. A questão é que o belo elimina o feio segundo seus critérios.

Inicia-se o processo com as exposições de arte nazista e arte degenerada, ou seja, a dos bolchevistas, judeus e toda arte moderna. São feitas exposições paralelas com a apresentação de fotos de pessoas doentes mentais comparadas às pinturas da arte moderna para que as pessoas pudessem ver a analogia que Hitler via ali e desta forma concordar com ele. Coisas que normalmente não teriam associação acabam tendo. É o período da arianização da arte, atendendo sempre a padrões clássicos de beleza. Tinha especial apreço por paisagens de Montanhas e florestas.

Hitler sonhava com um mundo puro e belo, admirava a arte grega, o super homem, e detestava tudo que fosse diferente, novo, moderno. Ele não suportava lidar com o diferente, com as diferenças que o outro tem. E baseava-se unicamente em seus critérios pessoais que impunha a todos. Ele julgava. Tinha planos imensos, megalomaníacos para reconstruir as cidades alemãs. Faz desenhos e incumbe os arquitetos de realizarem seus desejos.

Usa a metáfora da bactéria, da doença, do piolho para apresentar sua teoria de limpeza, higiene e belo. No caso tudo que não fosse de acordo com o que ele desejava era uma bactéria que vinha infectar o mundo e destruir, enfraquecer, sujar e precisava ser eliminada, da mesma maneira que se eliminam os insetos, os ratos, os piolhos. E de fato foi o que ele fez, usando o gás para matar, baseado em como se dedetizava os locais para eliminar as pragas.

Por trás de todo horror perpetuado pelo nazismo contra o outro há toda uma racionalização, e diferente de eliminar o inimigo numa guerra, era uma eliminação do ser humano que era diferente. Era a destruição de tudo que não lhe agradava. Ele poupa Paris porque sempre desejou conhecer a cidade e o faz numa manhã bem cedo após a conquista e então diz que Berlim será muito melhor e portanto fará sombra à Paris, e por isto não é preciso destruí-la.

Também na guerra se utiliza da antiguidade. Conduz o exército alemão como se fosse as Guerras Púnicas, onde a destruição total do inimigo e das cidades diferem dos padrões de guerras modernas, onde o objetivo é vencer a guerra, e os alvos civis são evitados na medida do possível. Ele imita o Delenda Cartago. Seus modelos são Roma, Cartago e Atenas. Como os romanos queria dominar o mundo, ser o terceiro maior império, o Terceiro Reich, após os Romanos e o Império Austro-Húngaro.

A parte mais interessante do documentário é quando se analisa o judeu como sendo o principal inimigo de Hitler justamente por se tratar de um povo puro, que soube se manter unido e não se misturou, não se miscigenou, enfraquecendo seu povo. Aqui temos um ponto de vista onde o judeu é uma imensa ameaça à Hitler, pois somente eliminando o povo puro ele poderia ter os méritos e transformar o povo ariano em puro, por isto, mesmo perdendo a guerra, ele se fixa na solução final.

O judeu é o outro, o estranho familiar. Talvez por ser um povo sem território e que vive na errância isto assuste, se torna sempre estrangeiro, mas de onde?

Hitler nunca havia viajado, não conhece o diferente e é péssimo em fazer julgamentos sobre os outros e suas diferenças, ele se fixa em seus pensamentos. O judeu é o povo da lei simbólica, ou seja, é um significante, não está no imaginário do outro. A coletivização do ódio ao judeu é aceita, uma vez que inconscientemente todos odiamos o pai e queremos matá-lo, mas também o amamos. Então aqui vemos que Hitler no fundo se baseava na pureza que ele via no povo judeu e por isto mesmo tinha que eliminá-lo.

Por outro lado, todo o imaginário de Hitler e seus sonhos megalomaníacos, provenientes da infância, de suas leituras. Ele acreditava que não é necessário sair de onde se está para conhecer o outro, é possível visualizar isto e acertar.Ele fantasiava seu grandioso futuro.

Ele queria ser o grande pai, o Deus que regia a tudo e a todos e transformaria o mundo num lugar belo, limpo onde se pudesse viver bem. Para isto precisa eliminar as pragas, as bactérias que causam doenças. Ele monta toda uma coreografia para que o povo aceite isto levando-o à histeria.

O ideal de beleza como sinônimo de saúde, mas para construir o belo é necessário destruir tudo que não fosse belo segundo seus padrões e julgamentos, levando à destruição que foi.


Peter Cohen nasceu em 1946 em Lünd, Suécia. Seu pai foi um judeu perseguido pelo regime nazista que fugiu de Berlin em 1938. O documentário Arquitetura da Destruição precisou de muitos anos de pesquisa. 

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