Direção: Guillaume Gallienne - 2013
Duração: 85 min
Título original: Les garçons et Guillaume, à table.
Após rir muito pela comédia, que me lembra bem a Comédia Humana, vejo o filme como algo extremamente sério. Um filme brilhante que se utiliza do humor, há melhor cura? para tratar de um tema difícil, a mãe e a identidade sexual do filho, de forma sensível.
A mãe de Guillaume costumava chamar seus filhos para ir à mesa dizendo: Les garços et Guillaume, à table. Os meninos e Guillaume, à mesa. Esta é a frase que marcou sua primeira infância.
Guillaume (Guillaume Gallienne) é tratado pela mãe (interpretada também por ele) como uma menina, e ele acredita ser uma menina. Ela é autoritária, mas o ama, e ele mais ainda. Nem a intervenção do pai (André Marcon) é capaz de mudar algo. Partindo da forma como a mãe chamava os filhos ele passa a ver que é diferente "dos meninos", portanto, deve ser uma menina. Seus irmãos faziam coisas diferentes dele, nas férias viajavam com o pai, e ele não ia porque não gostava de nada do que eles faziam, segundo a mãe, e Guillaume acredita nisto tudo. Seu problema é convencer o pai que é uma menina.
Ele passa a maior parte do filme buscando se afirmar como uma menina, nunca lhe passou pela cabeça ser um homossexual até o dia que sua mãe lhe diz isto. A partir daí ele começa a se questionar, ele diz: eu não sou um homossexual, sou uma menina e por isto gosto de meninos. Mas como é do sexo masculino terá que ir para o exército. Não será aceito e o médico o aconselha a procurar um psicanalista. Ele vai à vários, conversa com suas tias, avó, numa busca de se constituir, de sua identidade. Finalmente começará a compreender e seu primeiro passo é vencer seu maior medo, o de cavalos, o que fará. Então irá a uma reunião só de mulheres, e é quando ouve a frase oposta, As meninas e Guillaume, à mesa.
Durante toda sua vida havia sido tratado como homossexual, pela mãe, pelo seu pai e seus irmãos, pelos colegas do internato, até que neste momento alguém o identifica como homem, como alguém diferente das meninas.
E nesta reunião ele conhece Amandine, e se apaixona. Agora terá que se confrontar com a mãe, que durante o filme todo lhe aparece em visões, fazendo as escolhas por ele, incentivando ou desaconselhando-o a fazer algo. É a cena mais linda do filme, quando ele diz que há duas coisas que ele precisa lhe dizer, e a primeira é que ele não é homossexual e sim heterossexual. O diz informando que irá escrever uma peça de teatro sobre uma família que criou seu filho menino como se fosse um homossexual. A mãe o questiona, pergunta pela prova de que ele seja realmente heterossexual. Sim, se toda a família o via assim, ou todos são idiotas ou ele tem que ter uma prova. Então ele compreende. O medo dela de que ele amasse outra mulher, de que deixasse aquele lugar da menina que ela desejava. A segunda coisa a dizer é que ele e Amandine irão se casar, e a mãe em seu grand finalle diz: com quem?
O bebê nasce sem ter nenhuma noção de que é menino ou menina, isto lhe vai ser passado, vai ser constituído. Começa pelo nome, pelo o que lhe dirão, a educação que lhe darão, até o momento onde a criança descobre que há diferença sexual em seu corpo, o menino é diferente da menina. Mas a maior formação desta identidade vem pela linguagem e pela identificação com um dos pais. E é aí que Guillaume se identifica com a mãe, quer ser como ela, tão bonita, tão inteligente. A mãe já tinha dois filhos e desejava uma menina e ele se identifica a este desejo e o atende, é o seu fantasma. E a mãe aceita isto. É uma fantasia tão forte que ele não percebe que não é uma menina, só o faz quando a mãe o chama de homossexual.
A Interpretação de Guillaume nos dois papéis é fantástica, a ponto de demorarmos para perceber que é o mesmo ator. Um filme que vale a pena assistir, seja para rir muito, seja para compreender o papel que uma família tem na construção da identidade de uma pessoa.
A música final é ótima. Recomendo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário