segunda-feira, 29 de junho de 2015

DOCUMENTÁRIO: O GRANDE MUSEU - 2014



Direção: Johannes Holzhausen - 2014
Duração: 91 min
Título Original: Das Grobe Museum
País: Áustria

Ganhador do prêmio Caligari no Festival de Berlim

Johannes Holzhausen percorreu durante dois anos com sua equipe os bastidores do Kunsthistorisches Museum, o museu de belas artes de Viena, Áustria. Um filme para quem gosta de museus e de arte, e que impressiona pelo o que são os bastidores de um grande museu. 



Eles acompanham o dia a dia dos restauradores de arte, dos curadores, dos arquivistas, da reforma em alas, e todo o cuidado com o manuseio das obras em sua retirada e novamente a colocação, a disposição dos quadros nas paredes, dos objetos nas vitrines, da iluminação correta, de quais obras irão para as alas. É inacreditável o tamanho dos arquivos, a quantidade de objetos que ficam nos bastidores, sejam para restaurar, para a manutenção, ou que não estão expostos. 



O Kunsthistorisches Museum foi inaugurado em 1891 tendo sido construído por Gottfried Semper e Karl von Hasenauer para guardar a vasta coleção imperial dos Habsburgo, que ao longo dos séculos foram os patronos das artes no país. 



Johannes Holzhausen nasceu em 1960 em Salzburgo, Áustria 

FILME: OS GATOS NÃO TÊM VERTIGENS - 2014


Direção: António-Pedro Vasconcelos - 2014
Duração: 118 min
País: Portugal

Vencedor de nove categorias do Prêmio Sophia 2015

Rosa (Maria do Céu Guerra) é uma senhora de 73 anos que acaba de ficar viúva, mas ela tem imensa dificuldade em aceitar a morte de seu marido Joaquim (Nicolau Breyner). Ela mantém a urna com suas cinzas em casa e guarda seus objetos com muito cuidado. Ela continua a vê-lo e conversa com ele. Rosa mora na Lisboa antiga, e seu genro está de olho em seu apartamento para vendê-lo. 

Paralelamente vamos conhecendo Jó (João Jesus)  um jovem  desencantado com a vida, seus amigos fazem pequenos furtos, sua mãe abandonou a ele a seu pai que é um alcoólatra e violento. Ele está completando 18 anos e justo neste dia seu pai o expulsa de casa, sem encontrar onde se refugiar ele acaba no terraço de Rosa. 

No dia seguinte Rosa descobre seu "hóspede" e o acolhe. Começa uma relação de companheirismo e compreensão que ninguém é capaz de compreender, principalmente a filha de Rosa e o genro, que insistem em que ela vá para uma casa de repouso. 

Um filme sobre a velhice, de como os idosos são tratados, considerados incapazes de decisões, escolhas, de ter sua vida privada como sempre tiveram antes. A história de Rosa e Joaquim é riquíssima, e tudo isto se perde diante da velhice onde ela passa a ser uma pessoa que causa preocupação à filha que não consegue deixá-la viver sua vida adulta e madura. Por outro lado vemos a situação de um jovem que nunca foi amado, que ninguém se interessa por ele, mas que tem um imenso potencial criativo e se não fosse este encontro com Rosa teria sua vida destruída. 

Claro, podemos alegar que é muito difícil estes encontros, mas o que me fica principalmente é acreditar que as pessoas podem mudar, que o que elas trazem em si mesmas, independente do que a vida lhes faz,ainda podem se recuperar e ter outras escolhas. E no mundo atual estamos precisando de filmes assim. 

António-Pedro Vasconcelos nasceu em 1939 em Leiria, Portugal
Música do filme:

Ana Moura - Clandestinos no Amor 

FILME: BRUEGEL O MOINHO E A CRUZ - 2011


Direção: Lech Majewski - 2011
Duração: 96 min
Título Original: Bruegel  The Mill and the cross
País: Polônia e Suécia

Bruegel, o velho (Rutger Hauer) pintou "A procissão para o calvário" em 1564. O filme é uma recriação em movimento da criação deste quadro. É algo diferente e impressionante. O fundo do filme é o quadro, mas os personagens estão ali vivendo seu dia a dia como foi na época. É de onde Bruegel tira seu quadro.



É um mergulho diretamente no quadro. Acompanhamos vários personagens na época da ocupação espanhola dos Flandres, uma época de guerra de religiões e em meio a isto temos o pintor, seu amigo colecionador Nicholas Jonghelinck (Michael York)  e a Virgem Maria (Charlotte Rampling). 



O quadro se compõe com os personagens locais, os camponeses, os guardas espanhóis em vermelho, e a paisagem flamenga. O Cristo está no centro da pintura, caído ao lado da cruz. Corvos negros, as rodas levantadas em paus onde suspendiam os condenados para serem ressequidos. No centro os guardas espanhóis. O filme nos mostra as cenas no dia a dia que depois estarão no quadro. 





O grande moinho está no alto de uma rocha. Bruegel diz que nos outros quadros Deus está sempre próximo, aqui não. Ele é representado pelo moinho no Alto. 


É a construção de uma obra de arte. Bruegel observa, desenha, e assim vai compondo este quadro. Ele nos conta a história do quadro.


O quadro encontra-se hoje no Kunsthistorisches Museum, em Viena.

Um filme belíssimo, diferente, que todo amante da arte deve assistir. Não é apenas a história do quadro contada, é vivida nos seus pormenores.

Veja o trailer:


Lech Majewski nasceu em 1953 em Katowice, Polônia

Pieter Bruegel, conhecido como O Velho, para diferenciá-lo do filho, nasceu em 1525 em Breda,  Países Baixos e faleceu em 1569 em Bruxelas, Bélgica. Foi um pintor do Renascimento Flamengo

FILME: UMA BARRAGEM CONTRA O PACÍFICO - 2007


Direção: Rithy Panh - 2007
Duração: 111 min
Título Original: Un barrage contre le Pacifique
País: Camboja - França - Bélgica

Adaptação do romance homônimo de Marguerite Duras.

O romance de Duras é uma ficção, porém autobiográfico. Duras escreve sempre sobre sua vida de forma ficcional. 

Indochina 1931 - Região do Sudoeste Asiático que inclui o Camboja, Laos e Vietnã. Em 1931 estava sob a colonização francesa. No Golfo do Siam na beira do Oceano Pacífico, Madame Dufresne (Isabelle Huppert) sobrevive com seus dois filhos, Joseph (Gaspard Ulliel) e Suzanne (Àstrid Bergès-Frisbey). A mãe, uma professora, investiu todas suas economias numa concessão de terras, mas será surpreendida com o alagamento pelo mar de sua plantação de arroz, causando a destruição da mesma. Lutando contra os banqueiros corruptos e contra a administração colonial sob a ameaça de expulsão ela passa a lutar contra estas marés como um último recurso de se recuperar. Para contê-las ela resolve construir uma barragem com a ajuda da população local. Obcecada e arruinada financeiramente ela vive momentos amargos. 


Então surge o Senhor Jo (Randal Douc), um chines, filho de um homem muito rico que se encanta com Suzanne.  Cai por terra todos os preconceitos raciais que tinham e a família vai empurrar a jovem em direção a este milionário, pensando desta forma salvar a situação e sem pensar na jovem que não se sente atraída por ele. 

O filme é uma crítica à colonização francesa da Indochina, mostrando a forma como a população local era tratada, a revolta deles, e todo o sistema de interesses e corrupção que imperava. A mãe tinha um zelo imenso pelo filho, quase incestuoso, e indiferença pela filha, se voltando para ela apenas quando surge o Senhor Jo. Ao final ela se exaure nesta luta contra as marés. 

Em 2009 Marie-Pierre Fernandes descobriu que o sonho da mãe de Marguerite Duras, Marie Donnadieu, se realizou. A Agência Francesa de Desenvolvimento construiu as barragens que possibilitaram a plantação de arroz em Prey Nop - Camboja onde ela possuía sua concessão. Marguerite Duras passou sua infância e adolescência no Camboja.

Rithy Panh nasceu em 1954 em Phnom Penh, Camboja. 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

FILME: O REI DAS MÁSCARAS - 1996



Direção: Wu Tianming - 1996
Duração: 96 min
Título Original: Bian Lian
País: Hong Kong e China

Belíssimo filme! Na China Central no começo do século XX Wang (Xu Zhu), um velho mestre de ópera escolheu viver nas ruas morando numa barca e se dedicando a uma arte de seus ancestrais, a troca de máscaras na frente dos espectadores numa rapidez impressionante que desperta a curiosidade de todos para saber qual o segredo desta arte, como ele faz. Porém, este segredo só pode ser transmitido por herança na família, e para um menino. Ocorre que ele seu único filho morreu, e sua esposa o deixou há muitos anos atrás. Ele é sozinho e não tem para quem transmitir sua arte. Vive numa sampana com um macaco - o General.

Ele decide então adotar um menino. Na China vemos muitos pais vendendo ou dando seus filhos por não terem condições de criá-los, de lhes dar o que comer, principalmente meninas. Ele acaba encontrando um menino e adota, concedendo-lhe seu nome e pedindo que o chame de avô. 


Ele se afeiçoa à criança e eles vivem na sampana. Os detalhes no barco são incríveis, móveis, vasos com flores, a louça, é encantador.


Tudo corre bem até o dia em que ele descobre que não é um menino, mas uma menina. Ele fica muito decepcionado, mas permite que ela fique, mas a partir de agora não será mais seu avô e ela terá que chamá-lo de mestre e trabalhar. Ela aprende a fazer malabarismos para ajudar nas apresentações. Mas estes dois viverão muitas aventuras durante o filme, até finalmente o velho mestre compreender que o destino lhe havia dado um herdeiro, ou melhor, uma herdeira. 

Bian Lian em chinês significa trocar de rosto e é uma arte. Provém da ópera de Sichuan e consiste em trocar muito rapidamente de máscaras, que são muito finas e colam na pele. 


Esta arte que vem do tempo do reino do imperador Qianlong, no século XVIII, e teria sua origem numa peça que contava a história de um bandido que um grande coração que roubava dos ricos para dar aos pobres, que foi capturado pela polícia do imperador e que para fugir deles trocava de rosto. 

O filme também denuncia o destino reservado às mulheres e as meninas na sociedade tradicional chinesa. Mas no filme vemos a sorte da menina se reverter.


Um outro detalhe do filme é a bela apresentação da ópera chinesa. 



Veja o trailer:



Wu Tianming nasceu em 1939 em Sanyuan County, Xianyang, na República Popular da China

FILME: UM POMBO POUSOU NUM GALHO REFLETINDO SOBRE A EXISTÊNCIA - 2015



Direção: Roy Andersson - 2015
Duração: 100 min
Título Original: En duva satt pa en gren och funderade pa tillvaron
País: Suécia, Noruega, Alemanha e França 

Vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza em 2014 

Um filme para refletir muito. Qual o sentido da vida, se é que tem? ou será que cada um deve construir este sentido, o que é mais provável? O filme é um soco no estômago. 

Logo no início vemos um casal num Museu de história Natural. O homem observa pássaros empalhados e se detém em frente a um pombo pousado num galho. 

O filme é melancólico, poucas cores, tépido, mas é justamente assim que é a vida de dois vendedores Sam (Nisse Vestblom) e Jonathan (Holger Andersson)  de artigos para divertir os outros, sacos de risadas, dentaduras de vampiro e a máscara do tio banguela. Os dois estão sem ânimo e cansados. Vivem num condomínio extremamente controlado por um porteiro que exige que todas as regras sejam cumpridas. 

Vamos vendo as pessoas em seu dia a dia, sem graça, sem novidades, tudo se repete, a vida passa. Mas se prestarmos bem atenção nos veremos refletidos ali também. Se pararmos para pensar no quanto nossos dias são tão repetitivos também, no quanto nos falta de vivacidade, alegria, capacidade de ouvir o outro ou mudar algo. Onde está o prazer. Jonathan tem um pensamento: é correto usar as pessoas para seu próprio prazer? Nesta pergunta se reflete muito do filme, onde as pessoas subjugam as outras, seja pela autoridade, pelo desprezo, pela indiferença, pelo sadismo ou pelo poder gerando um gozo com isto. Mas quem se deixa levar por isto também gosta sem o saber, também retira um gozo disto e pode justificar a vida e suas mazelas colocando sempre no outro a culpa como em determinado momento que Jonathan diz a Sam que foi ele quem teve a ideia, e o repete várias vezes. 

O filme vai mais fundo em uma crítica ao Homo Sapiens, mostrando um laboratório onde um macaco sofre choques enquanto a pesquisadora fala ao celular. 

E mais quando nos mostra uma cena onde pessoas são queimadas vivas dentro de um tubo com o nome da mineradora Sueca - Boliden AB, em uma referência ao desastre ocorrido no Chile nos anos 80 com esta empresa. As pessoas assistem vestidas em roupas de gala a este evento. Mas isto também remete ao holocausto e muitos outros atos bárbaros dos quais o ser humano, o homo sapiens é capaz. 


Ao final vemos as pessoas aguardando o ônibus e duas pessoas comentam que é mais uma quarta-feira, igual a todas as outras. Uma das pessoas que aguarda pensa que é quinta. Não, é quarta! e existe alguma diferença? Alguém explica que se não for assim o caos se instaura. Se não seguir as regras, a sociedade, o caos se instaura. 

O filme nos leva a refletir a existência, em vários momentos ouvimos o pombo arrulhando, mas ele não aparece, ele observa, e me coloco como um pombo assistindo a este filme. A vida passa, os dias da semana se repetem, mas se repetem por serem nomeados, no real é um dia após o outro, uma noite após a outra, tudo igual, quem nomeia, quem da cor a vida somos nós. Ao perceber o quanto somos parecidos com estes vendedores de várias maneiras, seja nas queixas, seja na falta de ânimo, seja na repetição, seja na falta de sentido ou no cansaço, é bom parar e pousar num galho para refletir. Refletir sobre como vivemos a vida, se não há algo para mudar e ser mais feliz, menos melancólico, menos repetitivo, e assumir a responsabilidade por esta vida. 

O filme é o último da trilogia sobre a humanidade, cujas obras anteriores são Canção do Segundo Andar (2000) e Vocês, os vivos (2007). 


Roy Andersson nasceu em 1943 em Gotemburgo, Suécia

FILME: O EXÓTICO HOTEL MARIGOLD 2 - 2015


Direção: John Madden - 2015
Duração: 120 min
Título Original: The Second Best Exotic Marigold Hotel
País: Reino Unido e Estados Unidos

Sequência do primeiro filme. Agora Sonny (Dev Patel) quer comprar mais um hotel e parte para os Estados Unidos com Muriel (Maggie Smith) em busca de investimentos. Eles são informados que será enviado um inspetor para verificação do Hotel e seu funcionamento. Enquanto isto ocorrem os preparativos para o casamento de Sonny com Sunaina (Tena Desae). 

Reencontramos todos os hóspedes do Hotel. Evelyn (Judi Dench) agora faz um trabalho de compra de tecidos e acaba sendo contratada pela empresa. Ela continua interessada em Douglas (Bill Nighy), mas ainda não estão juntos. Norman (Ronald Pickup) junto com Celia (Madge Hardcastle) cuidam do clube. 

O Hotel recebe dois novos hóspedes, Lavinia (Tamsin Greig) e o Senhor Chambers (Richard Gere). Sonny pensa que Chambers é o inspetor e não dá muita atenção à Lavinia. Chambers se interessa pela mãe de Sonny e diz que é um escritor. 

A melhor parte do filme é o casamento de Sonny com Sunaina, com todos os rituais da Índia.


Mas também com toques de modernização.


Um bom filme para relaxar.


John Madden nasceu em 1949 em Portsmouth, Reino Unido 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

FILME: À PROPOS DE VENISE - 2014



Diretor: Jean-Marie Straub - 2014
Duração: 23 min

Cinema experimental e diferente. Condensa. A questão que se coloca é se a Europa vai ou não sobreviver da forma tal qual a conhecemos e concebemos, ou tudo mudará. Em apenas 23 minutos vemos uma analogia com Veneza e sua história, mas também o papel do humano nisto tudo. Em dois planos, primeiro temos a leitura de textos de Maurice Barrès (Amori et Dolori sacrum: la mort de Venise, 1903). 


No segundo plano a lembrança de uma Cantata de Bach - Cantata 205



É o segundo filme experimental que assisto deste diretor, o primeiro já postei aqui - Dialogue d'ombres". Pessoalmente não aprecio muito o tom de voz das falas, falta o sensível, parece uma leitura muito formal, sem inspiração. Mas o texto vale a pena.

Jean-Marie Straub nasceu em 1933, Metz, França. 

DOCUMENTÁRIO: LA VIE MODERNE - 2013


Direção: Raymond Depardon - 2013
Duração: 83 min
País: França

Durante 06 anos Raymond Depardon observou os agricultores nas montanhas da França - L'Ariège, La Lozère, La Haute-Loire e La Haute-Saône - criando um laço com eles que permitiu que os filmasse em seu dia a dia. Este é o terceiro filme sobre os agricultores. Então embarcamos com ele no filme.



Tem dois irmãos, Marcel (88 anos) e Raymond (83anos), cujo sobrinho acaba de finalmente se casar. Ela se chama Cécile, veio de Pas-de-Calais, e tem conceitos sobre como cuidar de uma casa que não são exatamente os mesmos que os dois tios idosos, que nunca se casaram. Há um conflito de gerações. O mais idoso não aceita que alguém não lhe obedeça. Os tios se ressentem por não conseguirem mais administrar a fazenda como antes, mas eles mantém seus hábitos, sua forma de fazer as coisas. 



Seguindo em frente durante o café da manhã conhecemos Germaine (70 anos) e Marcel (80 anos) que lamentam o futuro, os filhos, tiveram quatro, não querem continuar nesta vida, foram embora e eles terão que vender a fazenda.


Conhecemos também Amandine que é jovem e quer continuar com esta vida, mas as dificuldades surgem, financeiras, com seu marido. Ela também se coloca a questão sobre ter uma profissão. Acabará desistindo.


Chegamos a outra fazenda onde o filho, Daniel,  teve que assumir a fazenda, mas ele não gosta, não é feliz assim, prefere fazer pequenos serviços nas redondezas.


A vida tradicional nestas fazendas tem seus dias contados, podem até continuar, mas haverá mudanças. Eu lamento que a modernização, a industrialização, a produção em escala venha destruindo tudo isto. Ainda resta uma esperança de uma conscientização para uma vida mais orgânica, ecológica. Troquei uma capital por uma cidade menor onde ainda existem as pequenas fazendas produtoras de produtos locais, onde se faz o queijo, onde há leite puro da vaca, onde se faz o vinho, a manteiga, a nata. E tudo isto é maravilhoso, além de saboroso e muito mais saudável.



Os filhos envoltos no que a sociedade impõe querem sair dali, querem ter uma profissão, trabalhar em cidades grandes, o capitalismo vence este round. Mas eu torço para que ainda haja mudanças, e se por um lado haja algumas modernizações, por outro não se perca as características antigas e mantenha a produção em pequena escala, caseira. 

Que este filme não seja um registro do que foi, mas um incentivo a que as pessoas reflitam sobre a vida moderna que levam atualmente. 


Raymond Depardon nasceu em 1942 em Villefranche-sur-Saône, França. Quando tinha 16 anos ele deixou a fazenda de seus pais para correr o mundo como fotográfo. Nos anos 70 passa a filmar fazendo filmes excpecionais de um asilo italiano, um hospital, um tribunal francês e de uma vila africana. 

terça-feira, 23 de junho de 2015

FILME: 10 CANOËS, 150 LANCES ET 3 ÉPOUSES - 2006



Direção: Rolf de Heer e Peter Djigirr - 2006
Duração: 87 min
Título em português: 10 Canoas, 150 lanças e 3 esposas
País: Austrália

Prêmio especial do júri na seleção Un certain regard de Cannes. 

Este filme aborda os aspectos da Mitologia Aborígene da Austrália. Um jovem, Dayindi (Jamie Dayindi Gulpilil Dalaithngu) está apaixonado pela terceira esposa de seu irmão mais velho. Durante uma caçada o velho Minygululu (Peter Miyngululu) aproveita para lhe contar uma história que ocorreu há um longo tempo atrás para colocá-lo de volta na linha e de acordo com as leis tribais.



O filme nos faz então navegar entre o destino (filmado em preto e branco) de Dayindi e (filmado em cores)  do guerreiro Ridjimiraril (Crusoe Kurddal) e seu irmão mais novo Yeeralparil (o mesmo ator de Dayindi) que também se apaixonou pela esposa mais jovem do irmão.



Durante uma hora e meia observamos o cotidiano dos aborígenes, seus mitos, lendas, histórias, o feiticeiro, os rituais, mas também as caçadas, a disposição da tribo que separa os solteiros, o dia a dia das mulheres. Tiramos grandes lições, como aprender a paciência, a respeitar os mais velhos, e a ver as consequências dos desejos. 



Na história contada por Minygululu aparecem todas as regras de convivência da tribo, e também o destino atuando. É muito interessante ver que quando os homens sentam para discutir algo eles imaginam a cena ocorrendo. Um dia chega um estranho no local, e o feiticeiro os adverte das possíveis consequências, e vemos eles imaginando as cenas. Quando a segunda esposa de Ridjimiraril desaparece, eles também imaginam todas as probabilidades, e o chefe chega a conclusão que ela foi sequestrada pelo estrangeiro que apareceu em suas terras. Quando reaparece outro desta tribo estranha o chefe atira sua lança contra ele, pensando ser o mesmo de antes, e o mata. Isto vai causar a necessidade de um acerto de contas entre as duas tribos.



O chefe será atingido. Sua primeira esposa tenta curá-lo com ervas, mas não consegue, o feiticeiro também tenta, mas diz que não conhece este tipo de feitiçaria.


Antes de morrer ele fará a dança de sua própria morte até cair no chão exaurido. Quando o irmão mais velho morre é o mais novo que assume seu lugar na família, inclusive as esposas. Seu irmão mais novo após passado o tempo do luto fica então feliz pois finalmente vai poder ter a mulher que ama, só que ela é a mais nova e ele terá que cumprir seus deveres primeiro com as mais velhas.




Rolf de Heer nasceu em 1951 em HeemsKerk, Países Baixos, foi para a Austrália com 08 anos. 

Peter Djigirr nasceu em 1963 na Austrália