terça-feira, 11 de março de 2014

LIVRO: O REINO DO AMANHÃ - J.G. BALLARD



Ballard, J.G. Companhia das Letras, 2009
Tradução: José Geraldo Couto
366 páginas
Título original: Kingdom come

Richard Pearson é um publicitário que está desempregado e que acaba de perder seu pai que faleceu com uma bala perdida num tiroteio num shopping o Metro-Centre que fica na periferia de Londres, um mundo este que o próprio Richard ajudou a criar através do marketing e da publicidade gerando o anseio pelo consumismo.

Ele vai até esta cidade de subúrbio, Brooklands onde vivia seu pai para seu enterro e depois para cuidar do testamento, mas ele também começa a querer saber quem era este pai, uma vez que quase não tiveram contato devido a separação entre ele e sua mãe. Um piloto de avião aposentado que tinha em suas estantes de livros obras sobre o nazismo.

Aos poucos Richard vai se envolvendo nesta cidade periférica e percebe que tudo gira em torno do mega shopping que promove o futebol, outros esportes, e que mais se parece com um templo religioso do que com um mero centro de compras.

Além do mistério que envolve a morte de seu pai que ele tenta desvendar o que mais o instiga é a mente das pessoas que vivem ali e do que realmente acontece naquela região.

Um crítica mordaz ao consumismo, a vida que as pessoas levam atualmente onde não se cria um sentido, mas se vive no tédio, a busca de preencher estes vazios e tédio, onde um shopping e seu garoto propaganda nos lembram o fascismo, de como as pessoas se deixam levar por um líder em busca de algo que nem sabem ao certo o que é, desde que algo se modifique em suas vidas, desde que o tédio vá embora.

A agressividade latente, algo primitivo, que está por baixo de todos ali e pronto para explodir, ser canalizado por um líder carismático que saiba conduzir a turba. Eles usam camisetas com a cruz de São Jorge, focam inicialmente nos outros, os diferentes, os asiáticos, os de Kosovo, os estrangeiros e em seu comércio lateral, mas chegará o momento em que nem isto os satisfaz mais.

Um shopping, um templo, onde todos os produtos de desejo, de consumo acabam se tornando totens, e os displays santuários a serem idolatrados, como os três ursos emblemáticos que ficam no átrio do mega centro de consumo. Eles ficam tão sem sentido que passam a desejar ser aqueles objetos de adoração, introjetam o que os objetos representam como se introjeta um totem, sua força, seu significado, o sagrado.

Um livro para nos fazer pensar sobre a sociedade atual. Há talvez alguns exageros, mas nem tanto, a paranoia é algo muito fácil de surgir do nada. As pulsões coletivas que podem ser canalizadas para um foco, e com certeza já vimos isto antes. E Richard fica no meio, se por um lado ele percebe tudo isto, por outro não consegue deixar de se apoderar disto para seu ego se satisfazer profissionalmente.

Um grande alerta!

James Graham Ballard nasceu em 1930 em Xangai e faleceu em 2009 em Londres. Filho de pais ingleses foi para um campo de prisioneiros controlado pelos japoneses durante a segunda guerra mundial, o que ele conta em Império do Sol, apesar de que de forma ficticia e que foi transformado em filme por Steven Spielberg. Estudou medicina em Cambridge e foi piloto da RAF no Canadá. É um dos escritores mais perturbadores da atualidade. 

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