quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

LIVRO: ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO O senhor do labirinto - LUCIANA HIDALGO


Hidalgo, Luciana. 2ª ed. [revista e ampliada]. Rocco, 2011
208 páginas

Última leitura deste ano de 2014.

Arthur Bispo do Rosário, esquizofrênico-paranoico ou um místico? e qual seria a diferença? penso que o que mais influencia é o contexto e a cultura onde se está, a diferença entre o louco e o santo. 

Sabe-se muito pouco sobre ele no real, por causa de um registro de batismo em uma igreja encontrado pela autora pode-se afirmar que ele nasceu em Japaratuba no Sergipe e conhece-se os nomes de seus pais: Claudino Bispo do Rosário e Blandina Francisca de Jesus. Os significantes nos nomes de seus pais chamam a atenção: Bispo, Rosário e Jesus. 

A cidade de Japaratuba tem um rico folclore e muitas festas religiosas, de onde provavelmente vem muito do que Arthur bordou em sua vida. Nada se sabe de sua família, infância. Entrou para a Marinha, trabalhou na Viação Excelsior e depois trabalhou para a família Leoni no Rio de Janeiro. Após uma visão no dia do Natal em 1938 de sete anjos e vagou por dois dias até chegar ao Mosteiro de São Bento. Considerava-se o Cristo. Tinha 30 anos quando foi registrado no Hospital Nacional dos Alienados e depois transferido para a Colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá. Ia e vinha entre a colônia e a casa dos Leoni. 

Dizia que foi obrigado a construir seu mundo paralelo, que criava seguindo as ordens que recebia. O fato é que deixou uma obra belíssima em miniaturas, bordados e assemblages. Pessoalmente gosto de ver isto como um bricolage, onde ele reordena objetos de seu cotidiano no mesmo espaço, mas de outra forma, ou seja, mexe na estrutura, resignificando. 

Em sua obra destacam-se as palavras e nomes, e isto me remete a duas grandes artistas - Frida Kahlo e Louise Bourgeois que também trabalhavam com palavras. Uma de suas frases mais marcantes é " o louco é um homem vivo guiado por um espírito morto".

Também chama a atenção de Bispo executar uma arte dentro de seu mundo fechado, sua casa-forte, que ao mesmo tempo se desenvolvia no mundo da arte, o novo realismo. 

A obra de Bispo é no fundo autobiográfica, seu inconsciente está presente ali e lhe traz os traços e reminiscências da infância e do que viveu e dos principais significantes para ele, porém como é algo que ele produz, como um sonho, mas ninguém consegue interpretar, nem mesmo ele, não há como decifrar ali sua história, mas para os que são mais sensíveis é possível ver uma construção ficcional de sua vida, o que não deixa de ser a realidade, uma vez que todos nós construímos uma ficção, só que temos algumas referências, e ele não as dizia ou não lembrava. 









Luciana Hidalgo é jornalista, ensaísta e escritora 

OS FILMES QUE MAIS ME TOCARAM EM 2014

Comum nesta época eleger os melhores do ano, mas que critérios usar? Não sou especialista em cinema, sou uma amante do cinema e como todo amante me apaixono por um filme por ele ter algo que me toca, algo que me encanta, então fiz uma escolha baseada neste critério que é muito pessoal. 
Também não estou elegendo as produções deste ano, mas sim entre os que assisti neste ano, incluindo filmes de 2014. 


- Eu, Mamãe e os Meninos - belíssimo filme de Guillaume Gallienne. 

- Como água para chocolate - o filme não é novo, mas eu nunca havia assistido e me encantei. 

- Pão da Felicidade - este filme tem uma estética belíssima, detalhes mínimos, e despertou meu desejo de fazer pães diferentes. 

- O Grande Silêncio - é um documentário, o diretor filma pessoalmente dentro de um mosteiro. Me deixei levar junto, vivenciei, foi uma experiência diferente e compensadora.

- Samsara - também me encantou pelas belas imagens e rituais que estão no filme. 

- A Pele - o trabalho da fotógrafa Diane Airbus que registra o estranho, o diferente, impossível ficar indiferente. 

- Incêndios - sem dúvida o melhor filme que assisti este ano. Um filme duro, denso, mas se por um lado retrata a violência entre rivalidades étnicas e religiosas, por outro nos traz a possibilidade do amor mesmo na guerra, no ódio, na violência, mas sem ser uma redenção, mas sim uma travessia. 


sábado, 27 de dezembro de 2014

FILME: FRANCISCO O SANTO RELUTANTE - 2003


Direção: Pamela Mason Wagner - 2003 
Duração: 60 min
Título Original: Reluctant Saint, Francis of Assis 

Baseado na biografia de Francisco de Assis de Donald Spoto 

O filme é narrado por Liev Schreiber e nos mostra um lado mais humano de Francisco (Robert Sean Leonard) retirando a áurea mítica que o envolve. 

Francisco era filho de um próspero mercador de tecidos que desejava que seu filho o sucedesse nos negócios. Quando jovem era fanfarrão, gostava de se divertir, rir, estar com os amigos, até o dia que a cidade vizinha Perúgia entra em guerra com Assis e Francisco se envolve na batalha sendo preso pelos rivais. Passará um ano numa cadeia fria e sozinho, doente, o que será o início de sua mudança. 

O filme mostra Francisco como um homem que era radical, enfrentava os poderosos e pregava a paz e o amor, mas que nunca desejou a santidade. Ele tem visões, ouve vozes e muitos o consideraram louco, mas muitos também o seguiram e acreditaram nele. Foi fundamental que naquela época a igreja passasse por uma crise de descrédito estando envolvida em devassidão, ganância e poder. Ele foi considerado o protetor dos animais por haver pregado aos pássaros uma vez que o povo não o escutava, mas o retrataram pregando às gralhas e corvos que representavam o povo e isto fez diferença. 

Após sua volta do Egito onde pregou ao Sultão que ao contrário do que pensavam os católicos sobre os muçulmanos, era um homem culto, educado e que também desejava a paz, ele encontrou seus seguidores divididos, sendo que a maioria já optava por construir mosteiros e estavam mudando o ideal de pobreza que Francisco pregava. Desiludido, cansado, ele se retira para uma montanha por 40 dias, é quando o vemos como o místico que foi. 

Dois anos após sua morte a igreja o considerou Santo. E até hoje é mais conhecida a prece que foi feita para ele na Primeira Guerra Mundial do que pelos seus salmos e cânticos que fez enquanto vivia. 

Pamela Mason Wagner 

LIVRO: INÊS DE CASTRO (1310?-1355) - A verdade histórica e a realidade psíquica, após seis séculos de fantasia e nevoeiro - GONDIN DA FONSECA



Fonseca, Gondin da. 2ª ed. Livraria São José, 1957
156 páginas

Neste livro encontramos a parte histórica de Inês de Castro e Pedro relatada em forma de teatro, mas este teatro é uma tragédia e foca principalmente em Pedro e na realidade psíquica do que ocorreu. Gondin se baseia em Freud para fazer uma análise psicanalítica da tragédia destes dois amantes. 

A questão é o Édipo. Pedro odeia seu pai por ele ser o obstáculo de seu desejo inconsciente em relação à sua mãe Dona Beatriz, é ele quem tem a mãe, mas o pai também odeia este intruso cuja esposa ama tanto. Sem ter consciência disto é Dona Beatriz quem fomenta esta rivalidade e ódio entre pai e filho. Como Afonso IV é o pai, por mais ódio que Pedro sinta isto lhe traz culpa, e ele não é capaz de atacar seu pai, de se opor à ele, e nem a sua mãe, o que caracteriza que Pedro apesar de homem ainda permanece psiquicamente na infância. 

Apesar da grande beleza de Constança é por Inês que ele se apaixona, provavelmente por esta portar um traço de Dona Beatriz. Pedro foi avisado várias vezes que seu pai pretendia matá-la, mas nada fez para a proteger, inclusive a deixando sozinha muitas vezes, e em uma destas oportunidades o assassinato aconteceu. Quando Pedro retorna a dor é insuportável e o ódio também, mas a pedido de sua mãe, seu objeto de amor inconsciente, ele aceita fazer as pazes com seu pai e jura em cima dos evangelhos que perdoará os assassinos e esquecerá o que houve. E assim faz enquanto sua mãe viver. Seu pai é o primeiro a morrer, mas apesar de ser entronado neste momento como rei, Pedro continua a levar sua vida, tendo relacionamentos com outros mulheres. Será somente quando sua mãe morrer que ele deixará toda sua raiva, ódio, culpa, vir a tona. É neste momento onde ele transfere para Inês a imago de sua mãe que ele vai reagir e se vingar. Matará dois dos assassinos, o outro conseguiu fugir, de forma cruel, mandando tirar o coração deles, um pelo peito e o outro pelas costas, num ato de vingança contra seu pai, e na realidade ele está matando o pai através destes. 

Após isto ele dirá que se casou em segredo com Inês, o que nunca foi provado, mas diante disto ela é rainha. Fará construir um tumulo belíssimo para ela e outro para ele e mandará exumar o corpo levando-o de Coimbra até o mausoléu em um cortejo fúnebre digno de uma rainha. Na chegada a colocará em um trono e exige que todos lhe beijem a mão. Depois ele a sepulta e nunca mais se envolveu com nenhuma mulher, sendo que foi sepultado de frente para ela. 

A versão histórica retrata a época, as questões de poder e reinados, os casamentos arranjados e as amantes que eram os amores vividos, sendo que neste relato Afonso mandou matar Inês por temer que seus irmãos tivessem influência em Portugal e também interviessem para tornar um filho de Inês o rei de Portugal no lugar de Fernando, filho de Constança. Na análise psicanalítica o que vemos é a rivalidade entre o pai e o filho, um filho que odeia seu pai pois é ele quem se deita com sua mãe, mas que ao mesmo tempo teme o pai, teme a castração. Segundo relatos o pai sempre odiou o filho e amava sua filha, provavelmente porque este filho era um empecilho entre ele e sua esposa que amava muito Pedro, e em função disto sempre foi cruel com Pedro, matando seu cachorro quando criança, e depois a mulher que ele amava. Pedro não consegue se impor ao pai, não cresceu, não separa Inês de sua mãe, e se sente culpado em relação ao desejo incestuoso. O pai matando o que o filho ama parece proceder no real com a castração que Pedro não consegue aceitar. Somente com a morte da mãe é que Pedro se sente livre para vingar a morte de Inês/Beatriz, ou seja, ele vinga a morte da mãe. 

Também há os relatos dos julgamentos de Pedro, pois em Portugal quem julga é o rei e sua indisposição com o clero. É visível que ele condena e manda matar àqueles que procedem da mesma forma que ele, projetando no outro o que está nele. Por outro lado, quando se trata de uma ofensa, por pior que seja, feita diretamente à ele, é capaz de perdoar. 

Uma visão psicanalítica da tragédia de Inês e Pedro que procura explicar os fatos de uma maneira mais profunda, revelando o que fica oculto no inconsciente das pessoas frente aos seus atos. 

Gondin da Fonseca nasceu em 1899 no Rio de Janeiro e faleceu na mesma cidade em 1979. 

PERFIL - MULHERES - INÊS DE CASTRO - RAINHA PÓSTUMA DE PORTUGAL


Nasceu em 1320/1325 em Galiza e faleceu assassinada em 07 de Janeiro de 1355 em Coimbra.


D. Pedro, filho do rei Afonso IV, futuro rei de Portugal,  casa-se com Constança Manuel que ao mudar-se para Portugal leva consigo sua dama de companhia Inês de Castro, uma bela jovem loura, que ficou conhecido devido sua beleza por "colo de garça". Pedro apaixona-se por ela e iniciam um romance que lhe dará mais quatro filhos, além dos três filhos de Constança. 

O romance incomodou a corte, e Constança a chamou para ser madrinha de seu filho, acreditando que com isto a afastaria de Pedro, uma vez que seria pecaminoso a relação entre ambos, mas isto não ocorreu. Inês foi afastada e só retornou após a morte de Constança num parto, quando Pedro a trouxe para viver em Coimbra num palácio de onde se avistava o Mosteiro de Santa Clara. Pedro se encontrava com ela na Fonte dos Amores, que ficava perto da residência de sua amada. 

Devido as ligações de Pedro com os irmãos de Inês que lhe ofereceram o trono do reino vizinho, Dom Afonso IV irritou-se, e temia que isto acabasse por interferir na independência de Portugal e aborrecesse Castela, além de temer que a família de Inês interviessem para que o filho bastardo de Pedro com ela assumisse o trono de Portugal no lugar de Fernando, filho de Constança com Pedro. Segundo a história Afonso teria sido convencido por seus três conselheiros Pedro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco que a única forma de garantir o poder seria se Inês morresse. Em 07 de Janeiro de 1355 os três partiram para Coimbra e encontrando Inês sozinha, pois Pedro havia partido para caçar, a degolaram e enterraram na Igreja de Santa Clara. 

Quando Pedro retornou ficou louco de dor e empreendeu uma luta contra o pai até que Dona Beatriz sua mãe intervisse e acabasse conseguindo que selassem a paz, fazendo com que Pedro jurasse sobre os evangelhos tudo esquecer e perdoar. 

Em 1357 Afonso morreu e Pedrou subiu ao trono de Portugal. Após a morte de sua mãe Dona Beatriz ele fez um trato com Castela que lhe entregou dois dos assassinos, apenas Diogo Lopes conseguiu fugir. A morte de ambos foi extremamente cruel, Pedro mandou que lhes arrancassem o coração, um pelo peito e outro pelas costas. 

Sua paixão se tornou uma obsessão e em 1360 ele jurou que havia se casado em segredo com ela o que a tornava rainha. Mandou construir dois túmulos em Alcobaça para onde mandou transferir os restos mortais de Inês e onde ele mesmo descansaria após sua morte. O cortejo que levou o corpo foi digno de uma rainha e diz a lenda que ele mandou colocá-la num trono onde todos teriam que beijar a mão da rainha. No túmulo de Inês está esculpido sua história. 

Túmulo de Inês de Castro 

Coroação Póstuma e o beija mão 

Dom Pedro 
Fonte dos Amores em Coimbra 


A história de Pedro e Inês nos é contada nos Lusíadas de Camões. Postarei um livro que li e que traz uma outra versão da história, onde há uma análise psicanalítica do que ocorreu e de porque Dom Pedro que foi avisado das intenções de seu pai de matar Inês nada fez para impedir e só se vingou após a morte de sua mãe Dona Beatriz, descumprindo o juramento que havia feito. Também vou assistir ao filme Inês de Castro e postar no Blog. 

FILME: O AMOR NOS TEMPOS DO CÓLERA - 2007



Direção: Mike Newell - 2007
Duração: 138 min
Título Original: Love in the time of cholera 

Baseado no livro homônimo de Gabriel García Márquez 

Estou lendo o livro, mas quando encontrei o filme acabei assistindo antes de finalizar a leitura.

O filme inicia já na velhice quando o Dr. Juvenal Urbino (Benjamin Bratt) morre e Florentino Arizo que esperou por este dia por mais de 50 anos procura a viúva Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno) para lhe dizer que por todo este tempo esperou por este dia. A partir daí o filme retrocede no tempo para contar a história dos três. 

Florentino conheceu Fermina quando era muito jovem e se apaixonou perdidamente por ela que se encantou com ele, e passaram a trocar cartas até o dia que o pai dela descobre tudo e ao perceber que não iria conseguir separá-los envia a filha para o interior da Colômbia. Alguns anos se passam e ela retorna à Cartagena, mas quando Florentino a procura ela lhe diz que foi tudo uma ilusão. Pouco depois ela adoece e chamam o Dr. Juvenal Urbino que passa a cortejá-la e acabam se casando. Florentino não aceita isto, não aceita que foi tudo uma ilusão, e por mais que sua mãe Tránsito (Fernanda Montenegro) tente ajudá-lo, ele irá nutrir este amor pelo resto de sua vida e será incapaz de amar outra mulher.




Mais de 50 anos se passarão, Florentino continuará amando Fermina, mas manterá relações rápidas com outras mulheres, fazendo um caderno numerando-as, chegando a 622 mulheres em determinado momento do filme. Por seu lado Fermina vivera um casamento com tudo que ele possui, e que muitas vezes é feito muito mais de problemas, atritos do que de momentos de felicidade e encanto, como dirá o Dr. Urbino a sua esposa, que a estabilidade de um casamento é muito mais importante do que o amor e a felicidade, ao que responde Fermina perguntando: o amor é mais difícil?

O amor é como o cólera, se apodera da pessoa e pode destruir, é uma doença, mas também é possível a cura. Logo após Fermina dizer a Florentino que descobriu naquele instante que tudo não passou de ilusão, ele passará muito mal, suará, sentirá dores. Sua mãe acredita que ele está com cólera.



Tránsito foi abandonada pelo pai de Florentino cujo irmão a ajuda com dinheiro. Ela se apega ao filho, um excesso de preocupação e zelo, e isto interfere na maneira como ele vive o amor. Viverá ao lado da mãe até sua morte. Fermina representa o além de sua mãe, ela despertou algo nele de que não conseguirá se desapegar tornando este amor obsessivo. Florentino fica paralisado neste sentimento, idealiza a amada, e viverá para estar perto deste objeto de amor e acredita que um dia ficarão juntos, ele anseia por isto. Ela é algo inalcançável, proibida agora que é casada, mas diferente do amor burguês, ele espera que o marido morra e teme que ela morra antes dele.

Fermina diante da situação de impossibilidade colocada por seu pai reage de outra forma. Ela vai reprimir seu amor, se convencer de que foi uma ilusão. Só após a morte do marido ela vai se sentir livre, poderá refletir sobre tudo isto e fazer escolhas por si mesma.

Florentino não consegue fazer o luto da separação, ele se torna melancólico, já Fermina consegue, e com isto abre a possibilidade de sua vida ao lado de Urbino.

Será então na velhice que este amor poderá ser vivido na realidade, deixar de ser um fantasma que esteve presente na vida de ambos. Fermina diz que Florentino parece uma sombra. As cenas do reencontro, ou novo encontro, pois ambos haviam mudado, vivido anos sem se falarem, são belas, a delicadeza, a sensibilidade de Florentino com ela, o cuidado que ele tem. O reconhecimento que está velha em Fermina, que coloca sua feminilidade em um momento frágil é superado pelo amor dele.



Um filme belíssimo sobre o amor.

Mike Newell nasceu em 1942 em St Albans, Reino Unido. 

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

FILME: HENRY & JUNE - Delírios Eróticos - 1990


Direção: Philip Kaufman - 1990
Duração: 136 min
Título Original: Henry & June

Adaptação do livro de Anaïs Nin - Heny & June and me

Anaïs Nin (Maria de Medeiros) é casada com Hugo (Richard E. Grant) mas sente uma imensa necessidade de vida, de algo novo, de experiências que seu marido, um banqueiro bem sucedido, não lhe proporciona. Henry Miller ( Fred Ward) vai viver na França e é apresentado à Anaïs por seu marido. No início ela não se sente atraída por ele, mas percebe que ele tem algo de especial, que ele tem alegria de viver. 

Quando conhece June (Uma Thurman), esposa de June, fica fascinada pela relação dos dois, mas também por June. Aos poucos ela se apaixona por ambos, e será amante de Henry, mas também de June, e este triângulo modifica a vida dos três. 

Anaïs queria viver, queria experimentar tudo, para poder escrever. Anaïs se permite viver o desejo, ela experimenta, transforma o sexo em algo tremendamente erótico, algo da pele, do cheiro, do toque, de sensações, que não sacia, que alimenta, que dá prazer e se traduz em vida. 

Philip Kaufman 

FILME: ATRÁS DA PORTA - 2012


Direção: István Szabó - 2012
Duração: 97 min
Título Original: The door

Baseado no livro de Magda Szabó (não tem parentesco com o diretor) 

Magda ( Martina Gedeck ) é uma escritora casada que vive na Hungria, ela e o marido acabam de se mudar para uma casa onde ela pretende se dedicar totalmente à escrita. Para isto procura por Emerenc ( Helen Mirren) e a contrata para cuidar da casa. Porém, a relação entre as duas ultrapassa o profissional. 



Emerenc vive numa casa onde não abre a porta para ninguém, nem mesmo para seus parentes que costuma receber no jardim. Isto desperta a curiosidade de todos. Além disto ela tem uma bela porcelana que usa nestes encontros e também para levar quitutes que faz para Magda e seu marido. Emerenc é temida pelos outros por ter muitas vezes um comportamento agressivo. Ela carrega traumas de guerra que se refletem em muitas de suas atitudes e comportamentos. É uma pessoa estranha, mas como ela mesma o diz, uma estranheza que nunca prejudicou ninguém. 



Aos poucos ela passa a confiar em Magda e a gostar muito dela, e vai lhe contando sua história e um dia devido um temporal dos quais Emerenc foge com muito medo, ela permite que ela entre em sua casa desde que jure que nunca contará a ninguém o porque de manter sua porta sempre fechada. Quando Emerenc adoece Magda se verá numa situação extrema, trair a confiança dela e lhe salvar a vida, ou respeitar o desejo dela de morrer sozinha dentro de sua casa. Emerenc não tem medo da morte, e diz "que é preciso aprender a matar. Deus mata!". 

A questão do limite de até onde podemos interferir na vida ou morte do outro. A questão do mistério que se cria em torno de uma pessoa que decide manter uma privacidade absoluta, que não abre a porta para ninguém entrar em sua casa. Até onde podemos ultrapassar estes limites do outro? mesmo diante de um caso como doença? São questões que o filme nos coloca. 


István Szabó nasceu em 1938 em Budapeste, Hungria 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

FILME: UMA LONGA VIAGEM - 2013


Direção: Jonathan Teplitzky - 2013
Duração: 116 min
Tíítulo Original: The Railway Man

Adaptação da autobiografia de mesmo nome de Eric Lomax.

Um excelente filme. Conta a história real de Eric Lomax (Jeremy Irvine/Colin Firth) que durante a Segunda Guerra Mundial foi capturado pelos japoneses em Cingapura e obrigado a fazer trabalhos forçados na construção da ferrovia da Birmânia. 

Eric sobrevive e volta para a Inglaterra, porém o que se enfoca aqui é como ele está e seus amigos anos depois do fim da guerra, onde os traumas ainda atuam e o silêncio os perpetua. 

O grupo de soldados ao qual Eric pertencia eram engenheiros e por isto foram escolhidos para a construção da Ferrovia, mas foram poupados dos piores trabalhos, porque eles eram necessários devido seu conhecimento. Só que eles desejam fugir, e também constroem um rádio receptor para ouvir as notícias. Quando os japoneses apreendem o rádio começa o inferno deles. Eric se entregará como o responsável e será o que mais sofrerá nas mãos dos japoneses sendo torturado pelo Kempeitai - a polícia militar do Exército Imperial Japonês.


Anos depois Eric conhece Patti (Nicole Kidman) e se apaixona, eles se casam, porém ela logo descobrirá que há algo terrível com ele, que sofre de pesadelos, se ausenta, se torna agressivo. Patti procura Finlay ( Stellan Skarsgard) conhecido como tio, do grupo dos ex-combatentes que se reúne todas as semanas. Ele lhe conta sobre a história de Eric, porém ninguém sabe o que aconteceu quando ele foi levado por Nagase (Tanroh Ishida/Hiroyuki Sanada) para um quarto e também lhe fala que o torturador de Eric está vivo e lhe mostra um jornal. 

A história de Eric é importante no sentido de mostrar e falar dos traumas pós-guerra, onde não há heróis, não há triunfo, mas marcas que não se apagam e destroem vidas. Como diz Finlay - Não podemos amar, Não podemos dormir. Quando Patti lhe fala que Eric precisa falar sobre o que ocorreu no quarto ele responde: há coisas que são tão vergonhosas, humilhantes que não tenho certeza se alguma vez poderemos falar sobre elas, especialmente para que alguém que se ama. 

Ao saber que seu torturador está vivo Eric diz que não irá atrás, agora é um homem casado, mas Finlay lhe mostra que ele está punindo sua esposa com a maneira de tratá-la. Eric diz que durante anos ficou imaginando que tinha encontrado ele, fazendo ele implorar, gritar, me alimentei adormecendo sob esses sons. Após o suicídio de Finlay ele se decide a ir atrás de Nagase que agora trabalha como guia de turismo no museu sobre a estrada de ferro e a guerra. 

O encontro dos dois a sós coloca em palavras o que ambos sentiram e passaram. Eric entrará no quarto onde foi torturado e se recordará de tudo, irá interrogar seu agressor da mesma forma como foi feito com ele. Mas a questão aqui é que a guerra é algo que desvia as pessoas de sua conduta normal, é algo fora do contexto e que leva cada um a acreditar em algo, em seu país, e a ver o outro como um inimigo. Nagase também poderá falar para Eric tudo que sentiu e porque está ali trabalhando no museu, ele se culpa, sente remorsos e tenta com isto uma reconciliação.



É interessante pensar que as guerras acabam, e os países se reconciliam, mas são os que estiveram na guerra, os que sofreram suas consequências, os que acreditaram num causa que carregam os traumas psíquicos disto e irão transmiti-los aos seus descendentes. Geralmente há uma negação no pós-guerra, ninguém quer falar dela, querem esquecer, e isto produz um recalcamento que irá explodir a frente com o retorno de tudo, transformando isto num círculo sem fim. O que aconteceu com Eric e Nagase é um exemplo de força e coragem, onde dois homens enfrentam suas culpas e seus traumas, sua dor, sua vergonha e humilhação, e se redimem um diante do outro, justamente a vítima e o agressor, ali se transformam em homens, em seres humanos dignos. 

Eric diz que nunca falou sobre o que aconteceu, porque ninguém acreditaria. Nagase responde que eles também não. Mas ali, os dois podiam falar e ambos conheciam a verdade. Eric perdoou seu torturador, Nagase se redimiu, e ambos se tornaram amigos até a morte. Isto foi possível porque o que muitos não conseguem ver é que o agressor em determinadas circunstâncias é um ser humano que em outra situação jamais faria o que fez. Esta é a tragédia da guerra. Obviamente há os criminosos de guerra, os que tomaram as decisões, e há aqueles como os nazistas que acreditavam que fizeram o certo e em momento algum se arrependeram ou tinham remorsos. Mas quando há a possibilidade do confronto entre o agressor e a vítima  e o primeiro sabe que errou, carrega uma culpa, um remorso, reconhece o que fez, e se arrepende, aqui temos uma oportunidade de colocar em palavras todo o ódio, a dor, a vingança e a culpa, e isto muda tudo. 

Eric carregou as palavras dos japoneses que lhes disseram que não eram homens, eram covardes, pois eles teriam se matado para preservar sua honra ao invés de se entregarem. Aqui há uma questão cultural também, mas claro que estes soldados britânicos foram marcados por estas palavras, porém, Nagase também não se matou quando os americanos os capturaram, e reconhece que Eric suportou o que ele nunca suportaria, que ele jamais se rendeu. 

Jonathan Teplitzky nasceu em Sidney, Austrália. 

Eric Lomax e Nagase

Eric Lomax
Nagase
Patti Lomax 

domingo, 14 de dezembro de 2014

FILME: MORTE NO AMOR - 2008



Direção: Boaz Yakin - 2008
Duração: 97 min 

Título original: Death in love 

O Filme tem algumas cenas fortes, e no começo é confuso, porém deve ser visto não como uma sequência, pois trata-se de mostrar a herança psíquica nos filhos de pessoas que passaram pelo horror dos campos de concentração. 

Uma mulher judia (Jacqueline Bisset) que esteve presa num campo de concentração é mãe de dois filhos (Josh Lucas e Lukas Haas), ambos problemáticos e com questões sérias, como o mais mais jovem que não consegue se afastar de casa, é totalmente dependente e se agarra à mãe, tem problemas de alimentação e é autodestrutivo, inclusive fisicamente. O mais velho tem questões sexuais e de amor. 

A Mãe quando jovem foi deixada para trás por seus pais que fugiram. A oportunidade para fugir era apenas para dois, e o pai decide que é a esposa e a filha, mas a esposa se nega a ir sem ele, e então deixam a filha, que acabara presa num campo de concentração. Ela é uma das escolhidas para participar do programa de experiências médicas, e as cenas do filme são chocantes. Ela está aterrorizada enquanto caminha para a sala onde o médico a espera, e quando entra ela sorri para ele que lhe pergunta porque está sorrindo ao que responde que nunca viu um homem tão bonito. 

O médico se envolve com ela e a coloca sob sua proteção. Ela se apaixona por ele, mas aqui temos uma questão que é a do amor ao agressor, a introjeção do mesmo, o que é muito bem mostrado no filme O porteiro da Noite que já postei no blog. Não é um amor, é doença. Mas ela nunca mais o esquecerá. 

Anos depois quando seus filhos estão adultos vemos que ela continua tendo crises sérias, ela ficou marcada e traumatizada, e toda esta herança psíquica passou para seus dois filhos. O filho mais velho gosta do sexo violento, com sadomasoquismo, mas está perdido em sua vida, diz que na verdade não temos nada para dar ao outro, no que ele tem razão, mas não consegue construir nada também. Ele não consegue amar. Nenhum deles consegue amar, a começar pela mãe que se ilude ao pensar que sempre esteve apaixonada por seu agressor. Ela nunca se libertou do horror que viveu, e para sobreviver se entregou a isto sem mesmo se dar conta. O nazista também se envolve, e está atras dela, ambos não conseguem sair desta relação patológica. 

O filme O porteiro da Noite é melhor, mas neste aqui temos algo além, que é o que se passa aos filhos, que ignoram esta parte da história da mãe, mas mesmo assim sofrem as consequências. 

Para muitos o filme pode parecer confuso, chato, com excesso de cenas de sexo, e sem muito sentido. Mas se levarmos em conta o trauma de um campo de concentração e das marcas que ele deixa, e de como isto reflete na vida da pessoa e de seus descendentes, o filme nos surge de outra forma. É preciso levar em conta o inconsciente, e a sexualidade, a pele e o corpo. A mãe passa pelas experiências do médico, mesmo se tornando a "amante" dele, o que ele lhe dá em troca é comida e roupas, mas ela não passa de mais um objeto de experiências dele assim mesmo. Ela também viu o que se passava ali, os gritos, o medo. Ela foi abandonada pelos pais, e depois o médico quando foge na chegada dos russos. Experiências com o corpo e sexo, é isto que ela viveu no campo, e ficou marcada, mesmo que achando que está apaixonada, devido a introjeção do agressor. Não fosse assim, o que seriam as crises que ela tem e que aparecem durante o filme? A marca está no corpo, assim como seu número no campo, onde não tem nome, nem mesmo para o médico que a chama pelo número. 

Ele vai e volta no tempo, muda de cenários e situações, como se fossem as marcas, os traços do inconsciente. 

Boaz Yakin nasceu em 1966 em New York, EUA 

FILME: O CLUBE DE LEITURA DE JANE AUSTEN - 2007


Direção: Robin Swicord - 2007
Duração: 106 min
Título Original: The Jane Austen Book Club

Adaptação do romance homônimo de Karen Joy Fowler

Um filme para relaxar. Cinco mulheres e um homem se encontram para falar sobre os livros de Jane Austen. Cada um deles tem suas questões pessoais e se utilizam da leitura para tentar encontrar respostas ou soluções para seus problemas. Bernadete (Kathy Baker)  é quem funda o clube de leitura após conhecer Prudie (Emily Blunt), uma professora de francês que se decepciona quando o marido Dean (Marc Blucas) lhe avisa que não irão mais a Paris, mas que ele ficará fora alguns dias devido um jogo. 
Jocelyn (Maria Bello)  é uma criadora de cachorros e acaba de perder seu fiel companheiro, o cachorro, para o qual faz um enterro. Sylvia (Amy Brenneman) fica com ela neste momento delicado, e seu marido Daniel (Jimmy Smits) vai embora. Eles tem uma filha, Allegra (Maggie Grace) que é homossexual. Passado uns dias Daniel avisa à Sylvia que quer se separar porque se apaixonou por outra mulher. Allegra retorna para casa. 
Jocelyn conhece Grigg (Hugh Dancy) e o convida para o clube da leitura pensando que ele pode se interessar por Sylvia, mas ele se apaixona por ela. 

Aos poucos, a cada livro lido, a cada encontro vamos vendo as coisas se acertarem, e cada um encontrar uma forma de ser feliz. 

Filme fraco, as passagens sobre os livros são rápidas, mescladas pelas questões pessoais, que também são pouco desenvolvidas, mas serve como introdução a escritora Jane Austen e não deixa de ser uma ideia boa, esta de forma um clube de leitura para discutir além dos livros as questões pessoais baseado no que se leu no livro. 
Robin Swicord nasceu em 1952 em Columbia, Carolina do Sul, EUA. 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

PERFIL: MULHERES - AUNG SAN SUU KYI



Aung San Suu Kyi nasceu em 19 de junho de 1945 em Rangum, Birmânia/ Mianmar. Seu pai Aung San, herói da independência do país que era uma colônia Britânica, foi assassinado um pouco antes da independência, quando ela tinha dois anos.

Suu Kyi com a foto de seu pai ao fundo

Suu foi para a Inglaterra quando jovem para estudar e conheceu o Prof. Michael Aris em Oxford, especialista sobre os povos do Tibete, Butão e do Himalaia, com quem se casou e teve dois filhos, Alexander e Kim. 

Suu e Michael 

Suu vivia em Oxford até em 1988 receber um telefonema sobre sua mãe que sofreu um AVC. Ela então volta ao seu país de origem que passava justamente por grandes manifestações do estudantes em prol da democracia e que foram massacrados pelo governo militar que assumiu o governo após um golpe. O General Ne Win estava no poder há 26 anos. Suu transforma-se no bastião da independência pois é filha do herói Aung San e ela adere ao movimento falando ao público sobre a democracia e os direitos humanos, mas sempre de forma pacífica. Suu é uma grande admiradora de Gandhi. 


Ne Win renuncia mas isto não diminuiu em nada o massacre, os protestos são brutalmente reprimidos. Uma junta militar assume e é formando um novo partido de oposição o LND - Liga Nacional pela Democracia, que Suu apoia incondicionalmente. Ela percorre o país falando a todos, quando retorna sua mãe acaba de morrer. É quando ela teve que tomar uma decisão, e decide ficar no país. Teve todo o apoio de seu marido e filhos, apesar do sofrimento da separação, uma vez que os militares lhes tiraram os vistos de permanência no país.

O povo exige eleições. Em 1989 Suu é presa pela primeira vez para que não possa participar das eleições, porém seu partido ganha a maior parte das cadeiras e a junta militar se recusa a reconhecer os vencedores que são presos.

Em 1990 o Parlamento Europeu lhe concede o prêmio Sakharov de liberdade de pensamento e em 1991 ganha o Nobel da Paz que foi recebido por seu marido e filhos, uma vez que Suu estava em prisão domiciliar em seu país. Em 1995 lhe concedem liberdade como demonstração de democratização, mas isto durará pouco. Em 1995 concedem o visto para Michael e seus filhos a visitarem, será a última vez que verá seu marido. Em 27 de março de 1999 ele morreu de câncer sem revê-la. Foi uma decisão difícil, os militares acreditavam que ela iria para a Inglaterra ver o marido e não concederam o visto para ele vir, mas ela não recuou, sabia que se fosse nunca mais lhe permitiriam entrar no país.

O regime queria chegar as eleições de 2010 sem entraves. Suu era a resistência pacífica, mas firme. Ela tinha uma força de aço. O mundo todo se movimentava para conseguir sua libertação. Em 19 de junho de 2010 ela completou 65 anos ainda em prisão. Nesta ocasião o presidente americano Barack Obama fez um apelo ao governo para que a libertassem.

Ela foi finalmente libertada em 13 de novembro de 2010. Em 2011 encontrou-se com o presidente Thein Sein que iniciou o processo de abertura do país e libertação dos presos políticos. Em 2012 ela foi eleita para a câmara baixa do parlamento birmanês. Porém a luta pela democracia continua.

Michael Aris em Oxford 


Uma mulher admirável, afetuosa mas firme como o aço, que nunca teve medo.

Referências: http://pt.wikipedia.org/wiki/Aung_San_Suu_Kyi

Ela escreveu o livro: Viver sem medo e outros ensaios que pretendo ler e postar aqui no Blob. Já postei o filme Além da Liberdade que é sobre ela, e há também o filme Muito além de Rangun de John Boorman, que não é especificamente sobre Suu, mas onde ela aparece e fala de seu país.

domingo, 7 de dezembro de 2014

FILME: ALÉM DA LIBERDADE - 2011


Direção: Luc Besson - 2011 
Duração: 132 min
Título Original: The Lady 

Uma cinebiografia de Aung San Suu Kyi 

País: Birmânia - Mianmar  

Suu Kyi (Michele Yeoh) é filha de um herói da independência da Birmânia (hoje Mianmar) que foi assassinado quando ela tinha dois anos. Quando jovem foi morar na Inglaterra e se casou com Michael Aris (David Thewlis) , um professor de história tibetana , do Butão e sobre os povos do Himalaia. Tiveram dois filhos Kim (Jonathan Raggett) e Alex (Jonathan Woodhouse).

Quando sua mãe tem um derrame Suu volta à Birmânia que passa por um momento de massacres de estudantes que lutam pela democracia.O país é uma ditadura militar e Suu é a candidata ideal para enfrentar os militares. Ela adere à causa e a luta e para isto permanece no país após a morte de sua mãe e só não foi assassinada porque os militares não queriam outro mártir, caso de seu pai.

Suu passará 21 anos em prisão domiciliar, sofrerá muita pressão psicológica, mas ela tem fibra de aço apesar de toda doçura que possui com seus familiares e amigos e de ser uma pacifista. Ela terá o apoio de seu marido e filhos que farão tudo para ajudá-la. Em 1991 ela ganhou o prêmio Nobel da Paz e não podendo irá recebê-lo seus filhos e marido a representaram. Em 1998 Michael recebeu o diagnóstico de um câncer e não verá nunca mais sua esposa, pois os militares não liberaram seu visto, querem forçar Suu a ir ao encontro do marido e com isto nunca mais deixá-la entrar no país. A última vez que ela viu seu marido foi no natal de 1995. Somente em 2010 ela será finalmente libertada.



Ela permaneceu em seu país como uma resistência pacífica e encorajando a busca pela democracia e dos direitos humanos.

Uma mulher forte, determinada, que não tinha medo. Precisou fazer escolhas difíceis como no caso do marido doente que ela não reviu e dos seus filhos que cresceram longe dela. É preciso acreditar numa causa e amar seu povo e país de uma forma que vai muito além do que conhecemos por amor. O apoio de seu marido me emocionou e me mostrou o quanto ele a amava, a ponto de compreender que amar não é ter alguém, mas deixar este alguém ser.



Mianmar é um país de uma riqueza cultural imensa, as cenas do filme quando ela vai para o interior do país são belíssimas e nos mostram a cultura, os rituais, as roupas, rituais, a natureza e um povo pacífico.

Uma mulher admirável e de uma força e convicção que é rara.



Luc Besson nasceu em 1959 em Paris, França 

Suu Kyi 
com Michael Aris
Na entrega do Nobel - Michael e os dois filhos Kim e Alex