Fonseca, Gondin da. 2ª ed. Livraria São José, 1957
156 páginas
Neste livro encontramos a parte histórica de Inês de Castro e Pedro relatada em forma de teatro, mas este teatro é uma tragédia e foca principalmente em Pedro e na realidade psíquica do que ocorreu. Gondin se baseia em Freud para fazer uma análise psicanalítica da tragédia destes dois amantes.
A questão é o Édipo. Pedro odeia seu pai por ele ser o obstáculo de seu desejo inconsciente em relação à sua mãe Dona Beatriz, é ele quem tem a mãe, mas o pai também odeia este intruso cuja esposa ama tanto. Sem ter consciência disto é Dona Beatriz quem fomenta esta rivalidade e ódio entre pai e filho. Como Afonso IV é o pai, por mais ódio que Pedro sinta isto lhe traz culpa, e ele não é capaz de atacar seu pai, de se opor à ele, e nem a sua mãe, o que caracteriza que Pedro apesar de homem ainda permanece psiquicamente na infância.
Apesar da grande beleza de Constança é por Inês que ele se apaixona, provavelmente por esta portar um traço de Dona Beatriz. Pedro foi avisado várias vezes que seu pai pretendia matá-la, mas nada fez para a proteger, inclusive a deixando sozinha muitas vezes, e em uma destas oportunidades o assassinato aconteceu. Quando Pedro retorna a dor é insuportável e o ódio também, mas a pedido de sua mãe, seu objeto de amor inconsciente, ele aceita fazer as pazes com seu pai e jura em cima dos evangelhos que perdoará os assassinos e esquecerá o que houve. E assim faz enquanto sua mãe viver. Seu pai é o primeiro a morrer, mas apesar de ser entronado neste momento como rei, Pedro continua a levar sua vida, tendo relacionamentos com outros mulheres. Será somente quando sua mãe morrer que ele deixará toda sua raiva, ódio, culpa, vir a tona. É neste momento onde ele transfere para Inês a imago de sua mãe que ele vai reagir e se vingar. Matará dois dos assassinos, o outro conseguiu fugir, de forma cruel, mandando tirar o coração deles, um pelo peito e o outro pelas costas, num ato de vingança contra seu pai, e na realidade ele está matando o pai através destes.
Após isto ele dirá que se casou em segredo com Inês, o que nunca foi provado, mas diante disto ela é rainha. Fará construir um tumulo belíssimo para ela e outro para ele e mandará exumar o corpo levando-o de Coimbra até o mausoléu em um cortejo fúnebre digno de uma rainha. Na chegada a colocará em um trono e exige que todos lhe beijem a mão. Depois ele a sepulta e nunca mais se envolveu com nenhuma mulher, sendo que foi sepultado de frente para ela.
A versão histórica retrata a época, as questões de poder e reinados, os casamentos arranjados e as amantes que eram os amores vividos, sendo que neste relato Afonso mandou matar Inês por temer que seus irmãos tivessem influência em Portugal e também interviessem para tornar um filho de Inês o rei de Portugal no lugar de Fernando, filho de Constança. Na análise psicanalítica o que vemos é a rivalidade entre o pai e o filho, um filho que odeia seu pai pois é ele quem se deita com sua mãe, mas que ao mesmo tempo teme o pai, teme a castração. Segundo relatos o pai sempre odiou o filho e amava sua filha, provavelmente porque este filho era um empecilho entre ele e sua esposa que amava muito Pedro, e em função disto sempre foi cruel com Pedro, matando seu cachorro quando criança, e depois a mulher que ele amava. Pedro não consegue se impor ao pai, não cresceu, não separa Inês de sua mãe, e se sente culpado em relação ao desejo incestuoso. O pai matando o que o filho ama parece proceder no real com a castração que Pedro não consegue aceitar. Somente com a morte da mãe é que Pedro se sente livre para vingar a morte de Inês/Beatriz, ou seja, ele vinga a morte da mãe.
Também há os relatos dos julgamentos de Pedro, pois em Portugal quem julga é o rei e sua indisposição com o clero. É visível que ele condena e manda matar àqueles que procedem da mesma forma que ele, projetando no outro o que está nele. Por outro lado, quando se trata de uma ofensa, por pior que seja, feita diretamente à ele, é capaz de perdoar.
Uma visão psicanalítica da tragédia de Inês e Pedro que procura explicar os fatos de uma maneira mais profunda, revelando o que fica oculto no inconsciente das pessoas frente aos seus atos.
Gondin da Fonseca nasceu em 1899 no Rio de Janeiro e faleceu na mesma cidade em 1979.
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