quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

LIVRO: ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO O senhor do labirinto - LUCIANA HIDALGO


Hidalgo, Luciana. 2ª ed. [revista e ampliada]. Rocco, 2011
208 páginas

Última leitura deste ano de 2014.

Arthur Bispo do Rosário, esquizofrênico-paranoico ou um místico? e qual seria a diferença? penso que o que mais influencia é o contexto e a cultura onde se está, a diferença entre o louco e o santo. 

Sabe-se muito pouco sobre ele no real, por causa de um registro de batismo em uma igreja encontrado pela autora pode-se afirmar que ele nasceu em Japaratuba no Sergipe e conhece-se os nomes de seus pais: Claudino Bispo do Rosário e Blandina Francisca de Jesus. Os significantes nos nomes de seus pais chamam a atenção: Bispo, Rosário e Jesus. 

A cidade de Japaratuba tem um rico folclore e muitas festas religiosas, de onde provavelmente vem muito do que Arthur bordou em sua vida. Nada se sabe de sua família, infância. Entrou para a Marinha, trabalhou na Viação Excelsior e depois trabalhou para a família Leoni no Rio de Janeiro. Após uma visão no dia do Natal em 1938 de sete anjos e vagou por dois dias até chegar ao Mosteiro de São Bento. Considerava-se o Cristo. Tinha 30 anos quando foi registrado no Hospital Nacional dos Alienados e depois transferido para a Colônia Juliano Moreira em Jacarepaguá. Ia e vinha entre a colônia e a casa dos Leoni. 

Dizia que foi obrigado a construir seu mundo paralelo, que criava seguindo as ordens que recebia. O fato é que deixou uma obra belíssima em miniaturas, bordados e assemblages. Pessoalmente gosto de ver isto como um bricolage, onde ele reordena objetos de seu cotidiano no mesmo espaço, mas de outra forma, ou seja, mexe na estrutura, resignificando. 

Em sua obra destacam-se as palavras e nomes, e isto me remete a duas grandes artistas - Frida Kahlo e Louise Bourgeois que também trabalhavam com palavras. Uma de suas frases mais marcantes é " o louco é um homem vivo guiado por um espírito morto".

Também chama a atenção de Bispo executar uma arte dentro de seu mundo fechado, sua casa-forte, que ao mesmo tempo se desenvolvia no mundo da arte, o novo realismo. 

A obra de Bispo é no fundo autobiográfica, seu inconsciente está presente ali e lhe traz os traços e reminiscências da infância e do que viveu e dos principais significantes para ele, porém como é algo que ele produz, como um sonho, mas ninguém consegue interpretar, nem mesmo ele, não há como decifrar ali sua história, mas para os que são mais sensíveis é possível ver uma construção ficcional de sua vida, o que não deixa de ser a realidade, uma vez que todos nós construímos uma ficção, só que temos algumas referências, e ele não as dizia ou não lembrava. 









Luciana Hidalgo é jornalista, ensaísta e escritora 

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