Direção: Philip Gröning - 2005
Duração: 169 min
Título original: Die groBe Stille
Na verdade não se trata de um documentário, mas de um mergulho na vida e no dia a dia do Mosteiro Grande Chartreuse na França, a casa-mãe da ordem dos monges Cartuxos.
É algo que toca a alma, se deixe levar para dentro do filme, sinta, ouça os pequenos sons das folhas, da chuva, uma serra cortando madeira, uma bacia batendo na pedra. Se deixe levar pelo silêncio, pela meditação, os versos gregorianos, o arrastar dos pés pelos corredores. Se deixe levar pelas mudanças de estações, pelo som dos sinos, pela contemplação. E também pela alegria dos monges quando saem do mosteiro e entram em contato com a natureza e também brincam na neve.
São duas horas e meia que você vive dentro do Mosteiro. Não há comentários, não há explicações, não há nada que nos diga algo sobre o filme, por isto não o considero um documentário, mas uma experiência estética e espiritual.
O tempo é outro, o silêncio e os sons, os monges vivem em suas celas, os que trabalham o fazem sempre sozinhos. Eles tem momentos comunitários, no domingo e em dias festivos eles fazem a refeição juntos. Eles saem do Mosteiro para passeios e é o único momento onde os vemos falar um com os outros.
Durante 2 horas e meia submergimos no mundo contemplativo de uma vida dedicada ao amor à Deus. "E Deus me seduziu e eu me deixei seduzir". O filme é lento como a vida dos monges, um aprendizado de paciência e respeito ao tempo. Sempre dizemos que o tempo voa, mas é o mesmo tempo ali, só que ao focar nos detalhes, vivenciar cada momento, o tempo é mais lento e completo, do contrário, não o percebemos porque não é vivido. Na correria do dia a dia não notamos nada, não vemos os detalhes. Quantas vezes passamos por uma mesma rua e não vemos os detalhes de uma casa, uma bela árvore que está ali há anos?
Moro num local onde as pessoas dizem que é quieto demais, silencioso demais. As pessoas já não conseguem viver sem barulho? o que este barulho vem preencher? Não existe silêncio total na vida, há inúmeros sons, a natureza tem seus sons, nosso corpo tem sons. O silêncio se torna grande quando há falta, uma ausência, como senti durante o luto de minha mãe, mas no dia a dia eu gosto dos pequenos sons. No filme um dos mais belos sons são os sinos. Sinos relembram a minha infância.
Por duas vezes a câmera foca um avião que passa no céu. Que mundo distinto. Mas é para pensar, senão é questão de ser monge, mas que mundo é este que vivemos? com todo o barulho, poluição visual e sonora, onde não temos um momento de silêncio, de meditação, nenhum refúgio, um jardim secreto. Quando busco um lugar para ficar só e em silêncio vou a um cemitério, e ainda assim... às vezes não é possível pois há uma avenida passando ao lado.
O mosteiro Grande Chartreuse fica em Saint-Pierre-de-Chartreuse, ao norte de Grenoble, nos Alpes. A ordem dos cartuxos foi fundada por São Bruno. Há monges e monjas, e mosteiros em vários lugares do mundo,inclusive no Brasil, em Ivorá - RS - Cartuxa de N. Sra. Medianeira.
Philip Gröning solicitou permissão para filmar dentro do Mosteiro em 1984, os monges responderam que precisavam pensar, que ainda era cedo. Levaram 16 anos para conceder a permissão. Gröning precisou filmar sozinho, sem equipe técnica e sem iluminação. Ele viveu no mosteiro por 6 meses.
Trailer:
Philip Gröning nasceu em 1959 em Düsseldorf, Alemanha.
Documentário esplêndido! Deus habita no silêncio...
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