quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

FILME - O CÉU QUE NOS PROTEGE - 1990


Direção: Bernardo Bertolucci - 1990
Duração: 138 min 
Título Original: The sheltering sky 
Roteiro: Bernardo Bertolucci e Mark Peploe
País: Itália 

Baseado no livro de Paul Bowles 

O Filme já vale pelas suas imagens do deserto, e da vida na África, das cidades.  As cidades, a gente olha e é estranho, aquela construção enorme no deserto, murros, poucas janelas. Claro, tempestades de areia. O filme mostra uma caravana chegando, e entrando nestas cidades, é incrível o labirinto que são, e os camelos vão juntos, por aqueles corredores estreitos, fazendo curvas, e retornando na mesma direção. 
O filme é sobre um casal de escritores Kit (Debra Winger) e Port (John Malkovich)  que viajam para a África com um amigo George (Campbell Scott).  Partem de New York. Logo no início do filme eles falam do tempo, e de que eles, o casal são viajantes e portanto não tem tempo, já o outro é um turista, que vai retornar após duas semanas. O casal está em crise. O marido nunca consegue ficar sozinho com a mulher, o amigo está sempre por ali. E começam a discutir o que ele está fazendo ali, quem o levou, por que foi junto. Ele se convidou, mas quem aceitou? Este amigo está apaixonado pela mulher e ela gosta disto, de se sentir desejada, seduzida. 
Um casamento em crise, 10 anos, rotina, acomodação, silêncios, claro que se sentir desejado é bom. Encanta, seduz, o novo, o diferente. Ao invés de tentar resolver o que há é mais fácil ser seduzido por algo novo. Num dado momento o amigo lhe pergunta sobre o marido: Será que ele sabe de nós? E ela responde: Ele sabe, mas ele não sabe que sabe.
Há coisas que não passam desapercebidas, sempre sentimos, percebemos, intuímos, não sei o que é exatamente, mas captamos isto. Um casal em crise que parte para tentar se reencontrar não leva um amigo junto. O amigo já era uma parede, uma divisória entre eles. Não apenas o fato de dormirem em quartos separados, mas a própria vida deles, como agem, os separam. Inconscientemente eles se separam através de seus atos.

O marido tem um sonho, sobre o deserto, um lençol e morte. Ela não quer ouvir. Ela não quer por que o sonho fala demais. E ela não quer enfrentar.



Num dado momento ele consegue se livrar do amigo, mudando sua rota. A partir de agora estão só os dois, e o silêncio se instala. O deserto e seu silêncio, é um vazio árido. Mas o deserto é uma imensidão. Atordoa e ali o céu é que nos protege, põe um limite, cerca o deserto. Os dois viviam sem tempo, sem projetos e sem futuro. Viviam sem o tempo.



É quando ele contrai febre tifoide. Ela entra em desespero. Procura a legião estrangeira, e ali fica com ele, sem muitos recursos. Antes de morrer ele dirá: percebi que tenho vivido para te amar.
Agora ela está só, sem ninguém. Parte junto com uma caravana. Não fala uma palavra, não pode se comunicar, um dos líderes se interessa por ela. Faz dela uma amante, ou para ele outra mulher. Há uma cena simbólica, onde ela enterra suas roupas, peças íntimas, se enterra como a mulher que era. Chegando na cidade ele a fecha  num quarto onde vai vê-la. Ela tem que se acostumar as novas roupas, comidas diferentes, ao sol do deserto. Passa um bom tempo sem poder falar com ninguém e sem compreender ninguém. 



Agora o silêncio é outro, agora ela quer falar e não pode. O líder viaja de novo e suas mulheres a libertam. Ela foge.Está perdida no meio da rua, com fome, quer comer, transgride alguma regra e acaba sendo agredida, quase linchada.

Com sua ida para o hospital a Embaixada Americana a localiza, pois o amigo havia avisado de seu desaparecimento. Vão buscá-la e no caminho a mulher que a acompanha informa que o amigo a espera no hotel. Percebe-se o tempo que se passou pelo rosto dele, que está mais velho. Não se sabe ao certo quanto tempo se passou, o tempo que ela ficou com os locais. Seu olhar é distante, quase uma insanidade. Mas ela foge, não encontra o amigo, vai para o bar onde esteve com seu marido e onde ele falou sobre o sonho. Um senhor, que na verdade é o narrador do filme, está ali, ela lhe diz: estou perdida!

Eles não conseguiram se falar, ela não deixou, fugia, mas estava insatisfeita. Ele também estava insatisfeito. Não conseguiram e a aproximação só ocorreu na doença e morte. Ficaram os momentos, os poucos dos quais conseguimos nos lembrar em uma vida e que iremos recordar para sempre, mas que são estruturantes, dão suporte a quem está perdido, quando este consegue se lembrar.
Um filme sobre desencontro, silêncio, e a questão do tempo. Um casal que se deixa levar, que não sabe para onde vai, nem onde deseja chegar. Quando o sabemos já somos atropelados pelas contingências da vida, agora quando as contingências surgem na vida de alguém que não vê o futuro, ele desestrutura tudo, todo aquele presente. A mudança é radical, como ocorre com ela.

Assista ao visual do filme que é fantástico e belíssimo


Bernardo Bertolucci nasceu em 1941 em Parma, Itália.

Trilha Sonora de Richard Horowitz e Ryûichi Sakamoto





Richard Horowitz é um compositor especializado em música do Oriente Médio.

Ryuichi Sakamoto nasceu em 1952 em Nakano, Tóquio, Japão. É um músico, produtor, compositor e ator japonês. 

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