domingo, 12 de janeiro de 2014

LIVRO: UTZ - BRUCE CHATWIN


Chatwin, Bruce. 2ª ed. Companhia das Letras, 2007
Tradução: Hildegard Feist
103 páginas

O narrador que permanece sem ser nomeado vai para Praga no verão de 1967, um ano antes da invasão soviética conhecida como Primavera de Praga, para fazer uma pesquisa histórica sobre a paixão do imperador Rodolfo II por colecionar objetos exóticos, tendo a intenção de elaborar posteriormente um trabalho maior sobre a psicopatologia do colecionador compulsivo.

Acabará interessando-se por Kaspar Joachim Utz, dono de uma fabulosa coleção de porcelana de Meissen,  um sobrevivente do nazismo e stalinismo na então Tchecoslováquia e que no momento reside num apartamento de dois cômodos onde mantém sua coleção graças a várias manobras e capacidade de se subtrair ao atual governo que vê na sua coleção a presença da decadência burguesa e acredita que elas pertençam ao povo e deveriam estar num museu, apesar deste nunca estar aberto, justamente para que o povo não possa entrar.

Tudo tem início com uma peça que pertencia a sua avó, o Arlequim, pelo qual UTZ se encanta. Ele o quis naquele momento, mas somente quando morre seu pai é que a avó lhe dará o tão desejado Arlequim. Neste dia ele declara ter descoberto sua vocação - se dedicar a colecionar as porcelanas de Meissen. E sua vida será toda dedicada a esta coleção, levando-o inclusive a desistir de ir para o exílio por não poder levar consigo a sua coleção.

Esta coleção com todos seus personagens e o que representam acaba se tornando para Utz o mundo real, isolando-o de tudo o que ocorria do lado de fora, ou seja, a guerra, o comunismo, o nazismo, e as privações e limitações impostas pelo Estado totalitário.

A negação da realidade criando um local onde se vive em um outro mundo, onde ele como Arlequim encontra sua Colombina, e podem viver como o barão e a baronesa,  ou uma proteção contra uma realidade que se torna amarga e difícil de suportar?.  Ele fará de tudo para proteger sua coleção, mas se por um lado ele parece ignorar e ser indiferente a tudo que ocorre desde que possa se manter ali com suas peças, por outro ele tem a percepção do mundo representado nestas peças, e às vezes pode compreender melhor o que acontece e até o que vai acontecer do que os outros.

As peças de porcelana representavam a continuidade, a longevidade, e ao contrário do que pensava a fotógrafa do governo, eram o antídoto para a decadência.


Bruce Chatwin nasceu em 1940 em Sheffield, Inglaterra e faleceu em 1989 em Nice, na França.

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