sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

LIVRO: DEZ MULHERES - MARCELA SERRANO



SERRANO, Marcela. Alfaguara/ Editora Objetiva - 2012
Tradução: Paulina Wacht e Ari Roitman
267 páginas
Título Original: Diez Mujeres

Primeiro livro da escritora chilena Marcela Serrano que leio, e gostei muito. Natasha, uma terapeuta reúne por um dia nove de suas pacientes para que falem, contem suas histórias. Idades diferentes, classes sociais diferentes, origens diferentes e cada uma com seu drama pessoal, mas que ao ler a sensação que temos é que poderia ser uma história só.
Vamos nos identificando com um aspecto de uma, depois de outra, e ao final não fui capaz de dizer com qual eu me identifico mais, pois em cada uma das histórias encontrei algo que se parece com a minha.
Francisca que fala de sua mãe, Mané sobre a velhice, Juana sobre a dor e o viver para o outro, Simona sobre o prazer da solitude, do viver para si, Layla sobre a violência, o estupro que sofreu e que irá afetar sua vida sem que ela se dê conta, Luisa que nos fala sobre os desaparecidos, Guadalupe nos conta o como é descobrir sua homossexualidade e enfrentar os preconceitos, Andrea que tenta se encontrar no deserto, dar um sentido a sua vida, Ana Rosa que nos fala da morte e da culpa, e do incesto e suas consequências e a história de Natascha contada por uma amiga e colaboradora. Por mais que cada uma foque em algo, na soma de sua história ela nos falou muito mais.

Fiquei imaginando a cena inicial, estas nove mulheres se olhando sem saber o que aconteceu à outra, sem saber as dores, as dificuldades, as alegrias, qual desejo tem cada uma para quando chegam ao final do dia terem descoberto que todas, inclusive aquelas que umas invejam por terem tudo e imaginam que com isto não podem se deprimir, e nem passam por dificuldades, também tem dores e sofrimentos.

Mas, Serrano consegue nos falar de tudo isto de uma forma que me lembram as histórias contadas pelos antigos para ensinar sobre a vida, os contos que ainda não haviam sofrido a manipulação para se tornarem os "felizes para sempre" que tanto nos iludem, por que a vida não é assim, ela é feita de momentos, e entre estes momentos temos o trágico, mas também temos a alegria e o prazer. A cada relato nos refletimos, pensamos, aprendemos e descobrimos que não somos a única a passar por coisas difíceis, e que cada uma tenta a seu modo viver a vida que tem com tudo que isto significa.

No final do livro temos uma frase: " É que a literatura, como a psicanálise, luta com a complexa relação entre o saber e o não saber."

Quando contamos uma história, e principalmente se é a nossa história, nos ouvimos contar, mas também somos escutados por outros, e é nesta interação que surge o que não sabemos e não falamos, mas que o outro ouviu dentro de si. Sempre haverá mais palavras a serem ditas e ouvidas.

O livro é uma colcha de retalhos, retalhos que se costuram para nos aquecer.

Marcela Serrano nasceu em Santiago, no Chile, em 1951. Após o golpe militar de 11 de Setembro de 1973 exilou-se na Itália até 1977. Formou-se em Belas Artes.

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