quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

LIVRO: CIDADE ABERTA - TEJU COLE


Cole, Teju. Companhia das Letras, 2012
Tradução: Rubens Figueiredo 
315 páginas

Julius é um nigeriano que vive nos Estados Unidos em Nova York no pós-Onze de Setembro e faz residência em psiquiatria. 
Um livro sobre o híbrido, traumas e uma imensa solidão. Ele passa seus dias no Hospital e depois sai para caminhar pela cidade. A sensação da solidão que ele nos passa caminhando e relatando o que vê somado a informações históricas e também suas lembranças do passado. Aquele momento onde percebemos em alguma coisa ou algo uma pequena lembrança de algo que nos ocorreu que nos vem da memória. Mas ele também empreende uma fuga de tudo, deixa muitas reticências, não consegue se confrontar com seus fantasmas e prefere esquecê-los. 
Faz uma tentativa indo procurar sua avó que mora na Bélgica, mas passa seus dias naquela cidade fazendo a mesma coisa, flanando pela cidade, com uma diferença que ele conhece Farouq e mantém conversas com ele, porém em todos os momentos de seus encontros ele mais escuta e pensa do que fala. E não me parece que faz algum esforço para encontrar sua avó de fato, e que talvez nem ele mesmo saiba o que foi fazer ali, pois provavelmente tinha consciência da dificuldade que seria encontrá-la, supondo que ainda estivesse viva.
É no relato de suas errâncias que notamos mais profundamente o hibridismo atual, nas diferenças e nos iguais, que ele relata. Seja nos restaurantes que cita e que são vários podendo ser locais ou indianos, chineses, seja nas lojas que visita e que igualmente podem ser representativas de vários locais, e nas pessoas que encontra nas ruas. Farouq defende a diferença, outros acham que as pessoas precisam ser vistas como iguais. 
Os traumas de guerra e da vida que surgem seja nas lembranças de Julius, no que ele vê ou nos relatos de pacientes. As pessoas que deixam seus locais de origem devido ditaduras cruéis, genocídios, guerras e lutas tribais e sonham com um país que haja liberdade, mas será que esta liberdade tão desejada existe? Ou será que há algo oculto na representação da Estátua da Liberdade que a tantos fez chorar de alegria ao vê-la pela primeira vez? 
Porém há um outro lado neste livro que só me surgiu quando eu já estava quase terminando a leitura, e confesso que há momentos que se torna até cansativo aquele desenrolar de suas percepções, e foi quando ocorre uma revelação de um fato ocorrido há muitos anos atrás no qual ele seria o vilão. O que realmente me chocou foi que Julius apenas assume que todos nós temos um lado bom e outro mau

" Temos a capacidade de fazer o bem e o mal, e na maioria das vezes optamos pelo bem. Quando não o fazemos , não nos perturbamos com isso..." 

Ele deixou uma vida marcada para sempre, e com consequências trágicas, porém não é isto o que me revelou este livro, o que ele mostra claramente, depois que acompanhamos Julius por 300 páginas é sentir e perceber como se sente ou não se sente uma pessoa que cometeu uma violência, relegando isto totalmente ao esquecimento, ou talvez recalcando, mas não acredito que aqui seja isto, ele simplesmente esqueceu, por que para ele isto não o afetou. E quando Moji lhe relata ele chega mesmo a pensar que talvez seja mais uma história onde o outro se vitimiza sem perceber que também está no centro da questão, apesar de ela lhe parecer convincente. Ele não lhe diz nada, apenas dá graças por ela não ter chorado. 

Enquanto Moji passou sua vida toda pensando a cada dia nisto, sentindo a marca em si, ele continuou andando e vivendo sua vida, e nem a reconheceu quando a viu no mercado.

Cole nos dá um relato excepcional aqui, pois como esta revelação vem ao final do livro, surpreende e nos pega já mergulhados na vida de Julius, e diante do fato é que percebemos como é com outros que também cometeram atos assim. Crimes que se perpetuam, não só este, mas a violência que vemos no mundo. 

Um relato trágico do que ocorre nestes crimes, e que também fazem parte de todas as guerras.  

Teju Cole nasceu em 1975 na Nigéria. É fotógrafo, escritor e historiador de arte. 

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