HÉRITIER, Françoise. Valentina, 2013
Tradução: Maria Alice A. de Sampaio Dória
108 páginas
Título original: Le sel de la vie
Não poderia ter havido melhor escolha para começar um novo ano do que este saboroso livro de Héritier.
O que é viver afinal? o que faz a vida valer a pena? como é que percebemos que estamos vivos? o que é existir afinal?
Não se trata de nossas realizações pessoais, profissionais, intelectuais, mas do simples sabor de viver, aquelas pequenas coisas, aquele momento, aquele instante que nos emociona a não poder mais, que nos faz rir, que nos deixa com raiva, que provoca ódio, que nos enoja, que causa medo, fascínio, pavor.
É impossível colocar sal na boca e não ter uma reação. Pode ser agradável para alguns como desagradável para outros, mas este sentir, esta percepção é que nos mostra que existimos, estamos vivos!
E este existir está ao alcance de todos, sem exceção.
Lendo este livro compreendi por que eu sentia uma nostalgia dolorosa às vezes, esta saudade melancólica, de um prazer imenso em algo tão frugal e banal, apenas uma lembrança rápida, sem muito contexto. Compreendi porque às vezes tenho sensações que chegam a ser uma angústia prazerosa. E fico fixa e presa a algo que me causa pavor, mas fascínio ao mesmo tempo, como uma tempestade, ou uma onda gigantesca.
Nosso corpo registra, é através dos sentidos que captamos a vida, aquele pequeno instante que faz valer ter vivido. É através da sensualidade do corpo, destes registros, destas marcas, que ficam e que nos movem que podemos seguir em frente, e que sabemos o caminho, que conhecemos as emoções que somos capazes de sentir.
Héritier se lança nesta aventura da escrita ao receber uma carta de um professor que ela admira muito e que pede desculpas por estar de férias, mas que na verdade estava se desculpando por roubar sua própria vida, não aceitando que se pode e se deve viver sem ser engolido pelo dia a dia, pelos compromissos assumidos, pelas aparências, pelas obrigações, pelo dever, pelo trabalho, pela obsessão de ser perfeito e atender a tudo e a todos. Temos nossa vida a qual respondemos da melhor forma que podemos, seja em nossos relacionamentos, trabalho, amizades, engajamentos, mas temos que viver também, e não se deixar sufocar por tudo isto que também é importante, mas não menos ou mais que este tempero que encontramos nas pequenas coisas do dia a dia em toda nossa vida.
Como é bom estar no mundo ! basta isto, sim, poder sentir o existir.
Um livro de cabeceira! E no espaço que o livro nos traz para preenchermos com o que representa o sal da vida para cada um de nós, colocarmos diariamente este tempero.
Françoise Héritier, nasceu em 1933, é uma antropóloga e etnóloga francesa, professora honorária do Collège de France, onde dirigiu o Laboratório de Antropologia Social e sucedeu a Claude Lévi-Strauss, a pedido do próprio. Foi diretora da École des Hautes Études em Ciências Sociais e presidente do Conselho Nacional de combate à AIDS.
Publicou entre outras obras; Deux soeurs et leur mère e Masculin/Féminin, editado no Brasil pela Editora Piaget como Masculino e Feminino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário