segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

LIVRO: O ATENTADO - HARRY MULISCH



Mulisch, Harry. José Olympio Editora, 2007
Tradução: Cristiano Zwiesele do Amaral
287 páginas

" Sua postura implica que, para ele, os acontecimentos já estejam de alguma maneira presentes no futuro, até chegar o momento em que alcançam finalmente o presente para virem a repousar no passado."

Em questão de minutos a vida de Anton muda completamente, tudo o que poderia ser, o que deveria ser, nunca mais o será, mas aquele instante em sua infância o marcará e irá sem que ele perceba definindo seu futuro até que ele finalmente possa confrontá-lo, compreender para então colocá-lo no passado.

O trauma foi forte, trágico, mas ele o esquece, recalca, e segue sua vida , sem se sentir uma vítima, sem perceber todos os efeitos daquele momento em si mesmo e também do quanto a dúvida, o não saber pode afetar sua vida.

Ele se tornará um anestesista, aquele que anestesia, que faz com que uma pessoa não sinta a dor, o que não deixa de ser uma metáfora sobre ele mesmo, haveria outra possibilidade para o menino que sonhava em ser piloto de avião? Escolherá para sua esposa uma mulher que traz em si os traços de outra mulher que o acalentou no momento trágico de sua infância. Seu filho se chamará Peter, como o irmão. Ele sentirá um mal estar a cada vez que encontra algo que traz o traço do trauma, uma cena de uma mulher na varanda, um dado em cima de uma mesa, até que acabará tendo uma crise de pânico.

Mas o livro não se atém apenas aos efeitos do trauma, ele também fala de como um ato, ou no caso, o atentado, pode modificar várias vidas e salvar outras. No relato da vida de Anton,  surge o panorama da vida na Holanda e do mundo após a Segunda Guerra até os anos 80. Mulisch penetra a alma humana, de como ela reage diante do medo, da culpa, do heroísmo, do que pode ser irrisório para uns e de suma importância para outros, de como o assassino pode se transformar num anistiado, e outro pode ser perdoado, mas a história sempre se repete em outros contextos, com outras pessoas.

Somente quando ele finalmente reconstrói sua história, lhe dá uma coerência e a aceita é que ele pode construir seu futuro, ao invés de deixá-lo ser apenas a consequência.

Um belo livro que recomendo.

Harry Mulisch nasceu em 1929 em Haarlem e faleceu em 2010 em Amsterdam - Holanda.

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