Byers, Sam. 1ªed.Objetiva, 2014
287 páginas
Tradução: Cássio de Arantes Leite
Título Original: Idiopathy
Idiopatia - origem fim do século XVII - do latim moderno idiopathia, do grego idiopatheia, de idios "próprio, privado" + patheia "sofrimento". Sofrimento próprio.
Grande surpresa, por ser um livro de estréia, um dos melhores livros que li recentemente. É brilhante.
Um romance sobre amor, narcisismo e animais agonizantes.
Três pessoas, Katherine, Daniel e Nathan são os protagonistas, porém a mãe de Nathan, seu pai, Angélica e Sebastian também tem muito a nos mostrar.
A narrativa trata do absurdo da vida moderna, suas neuroses, solidão, narcisismo extremado, máscaras.
Os três se utilizam de máscaras para fugir ao que realmente sentem, para defender um narcisismo exagerado, onde não se quer ficar por baixo, onde a demanda de aprovação supera tudo, onde cada um foge do que é para colocar no outro o que ele imagina que o outro vê nele.
Katherine é a ex-namorada de Daniel que atualmente vive com Angélica. Ela é manipuladora ao extremo, sempre jogando para o outro, não escuta ninguém, quer sempre ser a vencedora em qualquer tentativa de diálogo, uma vez que com ela nunca ocorre um diálogo, é impossível, ela não permite. Adora provocar os outros, deixá-los irritados, isto lhe dá prazer e a sensação de vitória. Mas é extremamente solitária, sofre com isto, porém não consegue dar um passo para mudar isto, a resistência é total. Quando tenta é pior ainda, soa falso. Tudo que o outro lhe diz ela manipula a seu favor, e chega a ser irritante os diálogos com ela, lendo eu ficava com raiva, dava vontade de mandá-la calar a boca. Ela sempre respondia com perguntas antes mesmo que o outro terminasse de falar, ou observações irônicas e sarcásticas.
Daniel quer ser o perfeito, amado, vender uma aparência boa. Não consegue ser autêntico, ele mesmo. Está sempre pensando antes de falar no que o outro vai pensar do que ele vai dizer. Procura achar as palavras e respostas certas, pensa em todas as alternativas de respostas possíveis que o outro vai dar para se preparar antes de falar.
Nathan, que é o considerado doente na história, ele foi internado num hospital psiquiátrico por ter tirado a própria pele, me parece entre todos o melhor, o que está menos doente nesta sociedade neurótica e moderna. Ele foi para o ato ao invés de falar, e claro, depois de uma conversa com Katherine, quando é impossível falar. É um ex-drogado, que se apaixonou por ela quando esta ainda vivia com Daniel, que era seu amigo. Os três sempre se encontravam, mas Nathan percebeu que ele era usado pelos dois. A mãe de Nathan é castradora, e quando vê que o filho arrancou sua pele, resolve escrever um livro sobre o sofrimento de uma mãe para se livrar da culpa. Fica famosa, recebe e.mails, participa de programas na TV, causa um tremendo desconforto em Nathan. A intenção materna é criar a culpa nele para retirar dela a questão. O pai não interfere, vive sua vida cotidiana.
Angélica é a bondosa, aquela que quer ser vista como generosa e bondosa com todos, que media todos os conflitos, que acalma. E Sebastian, apaixonado por Angélica, é um ativista que está obcecado pela questão das vacas que sofrem de uma doença chamada idiopatia e que estão sendo sacrificadas. Ele adora provocar Daniel, para desta maneira chamar a atenção de Angélica. Ele sente inveja e ciúme de Daniel por ter ficado com Angélica, e a ironia do livro é ver que ele acha que uma vaca é algo que vai diferenciá-lo de Daniel aos olhos de sua amada.
As emoções humanas são as mesmas de sempre. O que o livro deixa claro é a forma como as pessoas lidam com isto no mundo moderno. Eles não sabem se agem com total desinteresse, descrença, afastamento, ou se vão atrás de ideias, palavras, pensamentos.
É uma sátira do mundo moderno, mas na realidade muito do que está um pouco exagerado no livro para reforçar a história acontece todos os dias. As pessoas usam máscaras para fugir de sua solidão, desesperança, fracassos e tristezas. Não sabem mais lidar com isto. Então elas atacam os outros para com isto achar que estão prevalecendo e atingir um certo gozo, ao invés de viver com prazer e satisfatoriamente com aquilo que a vida oferece de possível.
O fato da leitura atingir a nós mesmos, nos levando a desejar mandar calar a boca, ficando exasperados em determinados momentos, com raiva até, é algo brilhante num livro, e que também nos faz refletir sobre nossas relações e como agimos com os outros. O que todos desejamos é sermos amados, mas como lutamos contra isto.
Recomendo!
Sam Byers nasceu em 1979.
Nenhum comentário:
Postar um comentário