Rahimi, Atiq. Estação Liberdade, 2009
147 páginas
Tradução: Flávia Nascimento
Título Original: Syngué Sabour: pièrre de patience
Ganhador do prêmio Goncourt de 2008
O livro é em homenagem a uma dupla libertação. A primeira é do autor em relação à língua, quando ao escrever em francês ele se liberta da autocensura e do pudor inconsciente ancorados nele desde a infância, e a segunda é a libertação da dor que lhe causou o assassinato da poeta afegã Nadia Anjuman, espancada até a morte por seu marido com a conivência da mãe pela acusação de ser liberal demais, e causar vergonha na família. Ela andava sem o véu.
Um livro belíssimo. É o relato de uma mulher que cuida de seu homem numa cidade do Afeganistão que levou um tiro na nuca e está em estado vegetativo. Ela ouviu de seu sogro a história da pedra-da-paciência, a Syngué sabour, onde contamos tudo que nos aflige e angustia, nossos segredos para uma pedra que acabará por explodir quando receber tristezas demais e libertará a pessoa de suas dores e tormentos. Al-Sabour é também o último nome de Deus, o paciente!
No início a mulher cuida do homem inerte, com seus olhos vidrados fixos em algum lugar, ele não tem nenhuma reação, apenas respira. Ela reza, a cada dia um dos nomes de Deus, na esperança que ele volte para ela, mas nada acontece. Do lado de fora há conflito, tiros, bombas e as chamadas do Mulá para as rezas. O bairro vai se esvaziando após os ataques, ela leva as filhas embora, mas não consegue levar ele. Está sozinha, a família do marido também a abandonou.
Aos poucos ela começa a falar, a colocar para fora suas dores, angústias, seus segredos, transforma o marido em sua Syngué sabour. Conta-lhe coisas que jamais teria contado se ele não estivesse inerte, ele a teria matado. Todo o universo feminino vem a tona, quando um homem é duro com sua mulher, uma mulher também é dura com seu homem. Por baixo do véu há muita vida, tristeza, desejos, angústias, medos. E ela vai ficando cada vez mais ousada relatando tudo que estava enterrado dentro dela e lhe causando uma dor imensa, enchendo a sua pedra até que ela exploda e a liberte.
Atiq Rahimi nasceu em 1962 em Cabul, Afeganistão. Durante a guerra nos anos 80 exilou-se na França onde vive e hoje tem dupla nacionalidade.
Nadia Anjuman
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