segunda-feira, 29 de setembro de 2014

FILME: LOURDES - 2009


Direção: Jessica Hausner - 2009
Duração: 96min 

Lourdes é um santuário na França nos Pireneus onde a Nossa Senhora apareceu para Bernadete na gruta. As peregrinações ao local são constantes em busca de uma cura milagrosa e também de conforto espiritual.

Christine (Sylvie Testud) é jovem e  sofre de uma doença degenerativa e participa de viagens organizadas pelos obreiros da Cruz de Malta e voluntários. Desta vez ela vai para Lourdes. Não consegue se mover, utiliza uma cadeira de rodas e depende dos outros para tudo, comer, beber, se locomover, vestir. Ela não consegue nem mover as mãos. Nesta viagem ela reencontra um rapaz da Cruz de Malta (Bruno Todeschini) que conheceu em outra viagem, para Roma. Christine está sob os cuidados de uma voluntária, Maria (Léa Seydoux) que também se interessa pelo mesmo rapaz da Cruz de Malta.




Acompanhamos o olhar de Christine por Lourdes, ela fala muito pouco e não é devota, apenas participa de tudo. Ela gostaria de ter uma vida "normal" e olha para os que podem andar, comer sozinhos com uma certa inveja. Sempre que a olham ou falam com ela dá um pequeno sorriso. Ela também será ajudada por Madame Hartl (Gilette Barbier) que não está ali em busca de uma cura, mas para preencher o vazio de sua vida, a solidão e por isto deseja ser útil e passa a cuidar de Christine e a rezar por sua cura.

O grupo com o qual Christine viaja é liderado por Cécile (Elina Lowensohn) que é metódica e séria. Ela diz que ali não se cura o corpo, mas sim a alma.

Em um dado momento Christine conseguirá mover suas mãos e os braços até levantar-se e andar. Esta cura surtirá inveja dos que não foram curados e questões sobre porque ela e não um outro. Ela terá que ser avaliada por uma junta médica que lhe dirá que esta recuperação pode não ser permanente, que pode ocorrer em sua doença. Mas Christine está feliz, ela pode então acompanhar o grupo ao passeio externo do qual estava excluída por ser cadeirante, e passa a ter uma esperança com o jovem da Cruz de Malta, com o qual dançará na festa de despedida. Mas ali ela cairá, e apesar de se levantar e ficar parada um pouco, assim que o jovem se vai, ela se senta novamente na cadeira de rodas e se deixa levar por Madame  Hartl.

O filme nos mostra o que é Lourdes ou qualquer outro santuário onde as pessoas movidas pelo desespero, pela doença, pela solidão vão em busca de um milagre. Mas Deus escolhe os que cura, e seus desígnios são insondáveis. Por que justamente Christine que nem devota é? A esperança de todos ali é encontrar a felicidade, mas esquecem que ela é efêmera e vai e volta. Buscam algo que na verdade está dentro de cada um, a liberdade, mas a maioria fica presa a uma cadeira de rodas ou a uma muleta.

Vemos as pessoas no filme que falam em Deus, rezam, esperam, mas também estão invejando, comentando, falando do outro, criticando, competindo. Sentem raiva e ciúmes. Então temos o palco do ser humano diante dos olhos. Eles não crêem com a fé, eles perguntam o que devem fazer para obter um milagre, para ter sucesso. Então acreditam que aquele que mais rezou, mais pediu é que deveria ser beneficiado com o milagre, como a menina na cadeira de rodas cuja mãe vai todos os anos à Lourdes em busca da cura, e não compreendem que Christine que foi ali para poder sair de casa, viajar é quem recebe a cura. Por outro lado Christine sabe que esta cura pode não durar.

Pessoalmente ainda vou um pouco mais longe, saindo da questão religiosa e da fé, Christine que fala tão pouco durante o filme vai á confissão e diz ao padre que sente raiva, diz o que deseja, e a palavra também tem o poder da cura. Além disto há o desejo e o amor, ela gostaria de poder estar ao lado do rapaz, de ser "normal" acreditando que assim poderia conquistá-lo, como vê Maria fazendo. Esta por sua vez ao perceber o interesse dos dois se afasta de Christine, não lhe dando mais a atenção devida, na hora de se alimentar ou a deixando parada num local na cadeira e indo embora.

Christine traz a força de dentro de si mesma para se levantar, do divino que tem em si, ela não espera uma cura de fora, e talvez esta seja a diferença.

Jessica Hausner nasceu em 1962 em Viena - Áustria 

LIVRO: A CAMINHADA - ou o homem sem passado - ROBERTO NICOLATO


Nicolato, Roberto. 1ª ed. Blanche, 2013
112 páginas

Eu procurava um livro sobre o Caminho Andino, mas estava difícil encontrar algo que não fosse turismo, mas sim uma experiência vivida neste caminho e então deparei com este livro escrito por um professor que atualmente vive em Curitiba - PR.

O livro descreve a experiência  e caminhada pela Bolívia e Peru terminando com a trilha Inca e Machu Picchu de Júlio Saboia. É um livro diferente e do qual gostei muito. Há toda uma experiência do inconsciente nesta jornada em busca de seu passado e da resolução de suas questões atuais. É um crescimento, uma busca de si mesmo se libertando do desejo do Outro e se constituindo como sujeito.

Ele durante sua jornada terá a companhia de Glória, Lídia e Daniel, além do guia Juan. Não vou fazer comentários aqui para não tirar a interpretação de cada um que ler o livro.

Ele parte por Corumbá com o trem da morte, visita o sítio arqueológico de Tiahuanaco na Bolívia, Puno, Cusco, o lago Titicaca, mas será na trilha andina que ele finalmente se encontrará consigo mesmo.

Também me encantei com o fato dele falar sobre um seminário, e não sei explicar porque havia algo de familiar, até que podemos identificá-lo, é Caraça, em Minas Gerais, também um local sagrado.

Um pequeno livro encantador, que nos ensina muito e nos mostra como o inconsciente atua. Apesar de ser ficção, é real, uma vez que a vida é um romance ficcional que cada um de nós escreve e vive.

Roberto Nicolato 

LIVRO: ANDANDO EM CÍRCULOS - As pedras milenares e o caminho da tríplice espiral - RICARDO MENDES



Mendes, Ricardo. Axcel Books do Brasil, 2004
163 páginas

Ricardo Mendes esteve no Sul da Inglaterra e na Irlanda visitando os locais onde se encontram as pedra milenares, monumentos megalíticos que foram erguidos há mais de cinco mil anos, antes de qualquer religião.

O livro é uma sequência de fotos destes locais em preto e branco. Ele nos relata a força energética que existe nestes locais e o que podemos sentir ao ir ali e nos deixar levar por isto. O livro é um relato espiritual sobre o seu encontro com as pedras, os círculos, e sua energia.

Nada substitui estar nestes locais, mas se deixar levar para dentro das fotos tiradas por Ricardo já nos proporciona um bem estar e uma visão diferente deste planeta onde vivemos, que como se diz na introdução do livro, é uma pedra flutuante.

Ricardo Mendes 

LIVRO: A ÚLTIMA GRANDE LIÇÃO - O sentido da vida - Mitch Albom



Albom, Mitch. Sextante, 1998
159 páginas
Tradução: José J. Veiga
Título Original: Tuesday with Morrie

Mitch Albom teve um professor que foi um mestre em sua vida, Morrie Schwartz, mas apesar da promessa de ir visitá-lo nunca mais o fez até o dia que Morrie estava a beira da morte. Foram 14 encontros, sempre as terças-feiras, que mudaram a vida de Mitch. Este livro é o relato destes encontros e das mudanças que ocorreram para Mitch, mas que também podem mudar as nossas vidas. Morrie sofria de ELA (esclerose lateral amiotrófica), uma doença degenerativa e fatal. Em seus encontros com o antigo professor que ele chama de treinador Morrie irá falar de amizade, família, medo, perdão, morte.

Infelizmente na maioria das vezes nós só nos damos conta de que nossa vida não foi o que sonhamos e desejamos quando estamos envelhecendo e temos a percepção da morte que se aproxima ou diante de uma doença fatal que nos dá pouco tempo de vida. Não poderia ser diferente?

Deixamos de lado o que realmente é importante na vida para cuidarmos de coisas pequenas e materiais, como status, sucesso, dinheiro, consumo, bens. E para isto sacrificamos nossos amigos, nossa família, nosso lar e as pequenas alegrias e satisfações da vida.

O sentido da vida não é algo que se encontra ou que exista, a vida é a vida, o sentido cabe a cada um de nós construir. Mas as pessoas acabam enclausuradas no sistema competitivo e materialista e se esquecem que viver não é isto, isto é um sistema que nos enreda e ilude, não tem compaixão, e se você bobear perde tudo que pensa ter construído com tanto esforço e sacrifício. Vale a pena?

Somos dominados pelo Ego e pela competição e perdemos o sentido da solidariedade, compaixão, e hospitalidade. O narcisismo sempre fala mais alto, e queremos sempre ser o melhor e vencer, mas como diz Morrie: qual o problema de ser o segundo?

Todos nós de certa maneira sabemos que vamos morrer, mas deletamos isto. Não levamos isto em conta durante nossa vida.Por um lado isto é bom, pois poderíamos sofrer muito com este sentimento sendo constante, mas por outro, ao esquecer que vamos morrer como todos e que não levamos nada de material daqui, levamos uma vida que foca coisas que não tem importância nenhuma ao invés de nos preocuparmos com o que realmente conta.

O que precisamos é aprender a viver dentro deste sistema, mas sem se deixar afetar por ele a ponto de perdemos o que a vida tem de melhor.

Mitch Albom e Morrie Schwartz

Assista ao filme no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=8j6k_I7nlKw

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

FILME: COM AMOR... DA IDADE DA RAZÃO - 2010


Direção: Yann Samuell - 2010 
Duração: 97 min
Título Original: L'âge de raison 

Margaret ou seria Marguerite (Sophie Marceau) é uma executiva que leva uma vida agitada sem tempo para nada, ocupada exclusivamente com os negócios. No dia do seu aniversário de 40 anos ela recebe de um velho conhecido várias cartas que ela mesma escreveu quando tinha 07 anos para serem abertas quando chegasse a idade adulta, com o intuito de recordar suas promessas que fez na idade da razão.

Estas cartas que ela havia esquecido lhe trarão de volta seus sonhos, o que ela pensava que seria quando crescesse, mas também a fez recordar tudo que negou durante sua vida para superar uma infância que como qualquer outra teve seus momentos felizes, mas também suas tristezas e obstáculos.

A questão é: seja quem você é! Durante todo o filme Margaret a cada situação que ela deve enfrentar começa a pensar em várias mulheres como Virginia Woolf, Greta Garbo, Coco Chanel só para citar algumas, como se vestisse máscaras para cada evento de sua vida. Mas quem é Marguerite?

Um filme que nos faz repensar a vida.Todos nós sonhamos em ser algo na infância, mas a maioria não segue seu sonho e se transforma em um outro. Margaret se propõe a resgatar Marguerite e fazer as pazes com sua infância e todos que dela participaram, como seu irmão, ou seu primeiro amor.

Um filme singelo, mas que traz uma mensagem muito verdadeira.

Yann Samuell nasceu em 1965 na França 

FILME: METEORA - 2012


Direção: Spiros Stathoulopoulos - 2012
Duração: 82 min
País: Grécia 

Metéora é um dos maiores complexos de mosteiros do Cristianismo Oriental. Foram construídos sobre rochas de arenito na Grécia Central. Os monges eremitas fugindo dos otomanos encontraram nas cavernas dos rochedos de Metéora um lugar ideal para se refugiarem. Foram construídos em torno de 20 mosteiros dos quais restam atualmente apenas seis, sendo que cinco são masculinos e um feminino. É neste local que o filme se passa.

Theodoros (Theo Alexander) vive em um destes mosteiros. É um monge do cristianismo ortodoxo. Em frente ao seu mosteiro, separados por um abismo e uma rocha onde há uma árvore vive Urania (Tamila Koulieva), uma freira. Os dois se apaixonam e se vêem frente uma escolha entre a fé e o desejo.



O filme é repleto de simbolismos. O que mais me tocou foi o labirinto que é representado através de desenhos animados lembrando a arte bizantina. O labirinto é extremamente simbólico, como um retorno ao centro para enfim alcançar a liberdade, e no filme quando o Theo animado entra nele levando um bola de lã, numa referência ao fio de Ariadne, alcança o centro ele encontra Cristo na Cruz, e então ele lhe prega as mãos na cruz provocando um mar de sangue que o leva de volta para onde está Urania. Para alguns pode simbolizar o inferno, mas o sangue também é a vida.

O desespero é considero o maior pecado, o único que não tem perdão. Mas também pode levar à liberdade e ao amor. No início do filme vemos um retábulo onde Theo e Urania estão separados por uma imagem dos dois mosteiros e Deus acima. Ao final do filme voltamos a este retábulo, mas já com mudanças.



Os mosteiros parecem estar no céu, muito acima do mundo, da vida que corre abaixo dele. E os dois se encontram neste plano inferior. Quando retornam tentam expiar o pecado, ele com orações e ela queimando sua mão, mas o desejo fala, e há uma bela cena de Urania tocando seu corpo se masturbando. Ela tenta não ver os sinais que Theo lhe envia usando espelhos para que o sol brilhe do outro lado, mas finalmente numa lembrança à Rapunzel ela irá estender seus cabelos que crescerão e irão até o outro lado.

O cenário é belíssimo, e podemos ver detalhes dos costumes do povo e também rituais dos monges. De minha parte apenas não gostei do abate de um cabrito para servir de almoço para Urania, feito por Theo. A cena é muito triste, o animal grita desesperado, também desesperado. O filme nos traz em muitos momentos a questão da natureza com a civilização, da razão com a fé, mas principalmente do desejo, e este, será da natureza ou da cultura? Será o urso que come o figo ou o homem? como vemos na animação?


Veja o trailer:


Spiros Stathoulopoulos  nasceu em 1978 na Grécia. Mudou-se com sua família para a Colômbia.

Assista imagens de Metéora na Grécia

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

FILME: PATAGÔNIA - 2011



Direção: Marc Evans - 2011
Duração: 118 min
Título original: Patagonia

Em memória de Edi Dorian Jones, fotógrafo de Chubut (1952 - 2008)

Um belo filme sobre perdas, separações e reencontros, o passado e o futuro, além das belas paisagens da Patagônia e do País de Gales.

Em 1865 um navio - Mimosa - partiu de Liverpool com destino à Argentina levando vários galeses que iam em busca de uma vida melhor e da liberdade. Este navio aportou na Patagônia onde viviam as tribos nômades do povo Tehuelche. Era um deserto estéril e inóspito, mas juntos, os galeses e os nativos sobreviveram e venceram o deserto e até hoje a colônia galesa sobrevive por lá.

Duas mulheres realizam uma jornada íntima. Cerys (Marta Lubos) já é idosa e sofre de diabetes.Seu desejo é retornar à Gales e encontrar a fazenda onde nasceu sua mãe que foi enviada para a Patagônia por estar grávida de Cerys e para evitar a vergonha teve que ser afastada. Ela nunca mais retornou e se casou com um argentino que criou Cerys com ela. Ela partirá com seu vizinho Alejandro (Nahuel Pérez Biscayart) para Gales.

A outra é Gwen (Nia Roberts) que tenta engravidar de seu companheiro, o fotógrafo Rhys (Matthew Gravelle) e descobre que não pode ter filhos. Ela então resolve partir com ele para a Patagônia Galesa onde ele pretende fazer fotos das capelas, na tentativa de recuperar o relacionamento que já está desgastado, mas lá conhecerá o guia Mateo (Matthew Rhys).

Com Cerys nos apercebemos do quanto a origem fala alto, e o desejo de encontrar suas raízes, mesmo que já se esteja idosa. Alejandro que a acompanha por seu lado faz também uma passagem rumo a liberdade, ao se separar de sua mãe e viver experiências novas num país desconhecido e onde não falam a língua. Com Gwen e Rhys vemos o desencontro e a incapacidade de falar sobre tudo isto, sendo necessário viver algo diferente, vivenciar dores e afastamentos para quem sabe assim poderem se reencontrar.

Marc Evans nasceu em 1963 em Wales

Trilha Sonora de Joseph Loduca

Edi Dorian Jones 


LIVRO: A ARTE DA PEREGRINAÇÃO - Para o viajante em busca do que lhe é sagrado - PHIL COUSINEAU



Cousineau, Phil. Ágora, 1999
259 páginas
Tradução: Luiz Carlos Lisboa

Para quem gosta de viajar em busca de algo transformador este livro é recomendado. Cousineau não nos fala de peregrinações religiosas, apesar de citá-las também, mas principalmente do que ele chama de jornada em busca do sagrado que pode ser uma viagem, uma caminhada perto de casa, uma ida à uma livraria, ou qualquer outra forma que possa nos levar ao que consideramos e sentimos como sagrado.

A viagem é como a vida, tem o antes, o começo, o meio e o retorno. São rituais de passagens como diria o antropólogo Victor Turner. Ele faz uma diferenciação entre o turismo e a peregrinação considerando que o primeiro é uma viagem segura e com conforto que acaba não trazendo grandes transformações interiores, ao contrário da peregrinação, ou como eu chamaria, uma viagem de flaneur, de viver o local, de perceber.

A peregrinação requer um preparo não apenas prático, mas também espiritual ou pela imaginação. Haverá obstáculos a enfrentar e superar, dificuldades, mas também haverá autoconhecimento e inspiração, momentos sagrados. O importante é retornar ao lar trazendo algo de novo em si mesmo, porque a viagem não é externa, mas interior, e por isto mesmo pode inclusive ser feita onde se está. É uma viagem da alma, não do ego.

Phil Cousineau nasceu em 1952 em Columbia, Carolina do Sul - EUA 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

DOCUMENTÁRIO: O PODER DO MITO Joseph Campbell com Bill Moyers - 1988




São dois DVDs com as entrevistas de Joseph Campbell com Bill Moyers
Duração:354 min

Joseph Campbell é um consagrado estudioso de mitos. Nestas entrevistas ele fala sobre mitos, história, religião, filosofia, psicologia, arte e cinema. As entrevistas aconteceram no Rancho Skywalker e no Brasil foram exibidas pela TV Cultura.

É notório a paixão e o prazer que Campbell sente ao falar destes assuntos, ele se encanta, ele vibra, ele nos transmite lições para a vida e sobre como viver.

1ª  Parte - A SAGA DO HERÓI 

Nesta primeira parte Campbell nos desafia a ver uma jornada heroica em nossas vidas. Não o herói inalcançável para nós, mas o herói que todos nós somos. Ele também escreveu o livro "O herói de mil faces" sobre este tema.
Quando ele nos fala dos dragões e dos cavaleiros medievais que os matavam ele traz este dragão para um dragão interior, que são os obstáculos, nossos medos, aquilo que nos impede de fazer algo, portanto todos nós temos dragões para matar. Além disto ele diferencia o dragão ocidental da idade média do dragão oriental que tem outro significado. Nesta primeira parte ele nos mostra como os mitos e as histórias nos ensinam a enfrentar os dragões.
Ele também fala da arquitetura, e isto me chamou a atenção. Antes a catedral era o edifício mais alto de uma cidade, depois passou a ser o edifício político, como o parlamento e finalmente hoje são os prédios imensos onde estão os escritórios das grandes empresas, bancos, mostrando como a arquitetura acompanha este processo de valores numa sociedade.
Irá falar também do sagrado, do que é o sagrado independentemente de uma religião. Do quanto o mito relata as passagens na vida, iniciação, separação e retorno. Precisamos nos tornar independentes e os mitos nos ajudam nisto.

Você pode assistir a esta parte no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=C_wuZnoP6NY


2ª Parte - A MENSAGEM DO MITO 

Nesta parte ele fala do que é o Mito, para que serve, e de como todas as histórias se parecem. Ele começa com o Gênesis e depois nos relata outras que também falam da criação do mundo. O mito é utilizado quando não temos palavras para falar do mistério, do que nos transcende. E sempre levando em conta a época que o mito foi criado nos explica que a cada época precisamos de novos mitos que nos orientem e que atualmente está faltando um mito e que muitas vezes as pessoas se apegam a mitos que não lhes servem para nada.

Para Campbell não se trata do sentido da vida, mas do viver, da experiência de viver. Ele considera o eterno o aqui e agora, e não algo lá na frente. Faz algumas comparações entre as religiões ocidentais e as orientais onde não existe o pecado original e sobre a serpente assim como a mulher que simbolizam a vida e por isto são os culpados de tudo. A vida é sofrer, e há uma tendência sempre em colocar a culpa no outro.

Também disponível no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=Bwm0N89EyO8


FILME: A VIAGEM DE LUCIA -2009


Direção: Stefano Pasetto - 2009
Duração: 93 min
Título Original:  Il Richiamo 

Lea (Francesca Inaudi) trabalha numa fábrica e vive com seu namorado. É alegre, extrovertida, toda atrapalhada como ela mesma diz. Seu desejo é mudar sua vida e sair desta rotina. Lucia (Sandra Ceccarelli) é casada com um médico e trabalha como comissária de bordo. Ela tenta ter um filho, mas sofre de desmaios, e acaba sofrendo um aborto. Seu médico a aconselha a não usar medicação, mas mudar sua vida.

Lucia decide então voltar a dar aulas de piano e desta forma conhece Lea e se tornam amigas próximas se envolvendo amorosamente, até o dia que Lea decide ir para a Patagônia consertar o barco de seu pai para trazê-lo à Buenos Aires, justo no momento em que os médicos resolvem internar Lucia por ela estar com um câncer. Lucia ao ouvir isto segue Lea e vai viver uma nova vida.

Entre os encontros e desencontros das duas, aos poucos ambas terão que se confrontar com suas dificuldades e tomar decisões sobre suas vidas. O filme não se aprofunda nas questões delas e acaba tratando superficialmente a estes aspectos,assim como ao câncer de Lucia. Mas acaba deixando uma mensagem através dos animais marinhos quando Lea diz que os mais fortes muitas vezes sucumbem e os mais frágeis se recuperam. Isto nos faz pensar que muitas vezes o que chamamos de força no outro não passa de uma máscara e o frágil, tão desdenhado na sociedade atual onde temos que ser fortes, buscar o sucesso e sermos felizes está muito mais preparado para enfrentar as adversidades da vida sozinho.

Stefano Passetto nasceu em 1970 em Roma, Itália 

FILME: HORAS DE MUSEU - 2013


Direção: Jem Cohen - 2013
Duração: 107 min
Título Original: Museum Hours

Um filme diferente que mexe com nossa forma de olhar o mundo e a arte. Logo no início vemos um guarda , Johann (Bobby Summer) do museu de Viena - Kunsthistorisches Museum - sentado olhando, atrás dele uma imensa porta e na frente uma sala com quadros e pessoas olhando as obras.



O foco do filme é como a arte se relaciona com o mundo externo e nós com ambos. Ao olhar um quadro de Bruegel a curadora levanta a questão do que nós vemos e do que o pintor representou ali que pode ser algo totalmente diferente, e isto mostra que a arte vive e continua se expressando e de diversas formas, ela não é estática, não permanece no tempo. De certa forma há obras que nunca saberemos compreender o que foi dito ali, mas apenas interpretar através do que nós conhecemos.



O interessante é que o filme nos mostra a Viena atual, e não aquela bela cidade histórica, mas uma Viena do dia a dia, no inverno, com seus vendedores ambulantes que vendem produtos usados nas ruas, com placas de propagandas em frente aos seus mais belos monumentos e prédios, como uma propaganda da Coca Cola em frente à Catedral, tudo está ali, misturado. Prédios, ruas, que ainda guardam a memória, mas também convivem com o mundo atual.

Mas longe de ser um documentário, pois chega ali Anne (Mary Margaret O'Hara) que veio de Montreal e se torna amiga do guarda do Museu. Ela veio porque sua prima está no hospital em coma. Não tem muito dinheiro, e os dois conseguem andar por Viena e conhecê-la sem gastar muito, o que ao meu ver acaba mostrando muito mais o que é a cidade do que se ela se ativesse apenas aos pontos turísticos.

As impressões sobre as obras de Johann são interessantes, mas o melhor é sua observação das pessoas que frequentam o museu, é um olhar sobre o outro que nos diz muito.

Um filme diferente, híbrido de ficção com documentário, excelente.


Jem Cohen nasceu em 1962 em Kabul no Afeganistão. 

FILME: AMAR BEBER E CANTAR - 2014


Direção: Alain Resnais - 2014
Duração: 108 min 
Título Original: Aimer boire et chanter 

Um grupo de teatro fica sabendo que um amigo está com câncer. A partir daí o filme gira em torno de George que não aparece em momento algum durante o filme. O filme é uma peça dentro do filme, eles ensaiam uma peça, mas o filme também se utiliza de cenários de teatro. Diferente e interessante, o que vale são os diálogos com fundos que representam onde estão os personagens. Gostei muito da forma como ele apresenta as casas com desenhos. A história se passa na Inglaterra.

Logo no início Colin (Hippolyte Girardot) que é médico recebe a notícia de um colega e não consegue se conter passando a informação a mulher Kathryn (Sabine Azéma) que logo conta para Jack (Michel Vuillemoz) que é o melhor amigo de George que fala para sua esposa Tamara (Caroline Sihol). Estes por sua vez falam com Monica (Sandrine Kiberlain) a ex-mulher de George que agora vive com Simon (André Dussollier).

Tudo gira em torno destes personagens que começam a recordar passagens de suas vidas com George e a pensar no futuro sem ele. A presença da morte faz com que todos repensem muitos aspectos de suas vidas, e todos sempre falam de George como um homem feliz e que sabia viver, ele parece o modelo que nenhum deles atingiu. O filme é um grande diálogo sobre o viver e o morrer. Tudo se passa num teatro e palco, o que é uma referência também a vida que atuamos sempre, os atores e os papéis que assumimos e da dificuldade de sair disto e poder ser o que se é realmente.

Alain Resnais filmou Amar Beber e Cantar aos 91 anos e foi seu último filme.

Alain Resnais nasceu em 1922 em Vannes na França e morreu em 2014 em Paris. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

LIVRO: MULHERES NO CAMINHO - LIGIA MARIA KNABBEN BECKER


Becker, Ligia Maria Knabben. Nova Letra, 2010
169 páginas

A Ligia é catarinense, de Brusque e hoje vive em Florianópolis. Este livro é seu relato das três vezes que fez o Caminho de Santiago de Compostela.

Ela fez o percurso aragonês , francês e de Portugal. Uma vez ela foi com amigas, o de Portugal ela foi sozinha e o último com seu marido e outros casais.

Seus relatos são sobre mulheres no caminho, alguns reais outros fictícios, mas baseados no que vivenciou. Ela nos fala das transformações, do autoconhecimento, de tirar máscaras. O caminho revela padrões que temos no nosso dia a dia, retira coisas às quais somos apegadas, mas que para a vida não faz muito sentido. Ela fala dos obstáculos, das dificuldades de se relacionar com o outro e consigo própria.

Seu percurso não foi religioso, mas de uma busca de si mesma. O caminho é feito por cada um de formas diferentes, cada pessoa busca algo, seja religioso, seja de aprendizado, seja de autoconhecimento.

Ligia deu uma entrevista para o programa Vida Inteligente sobre o livro que você pode assistir abaixo ou no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=oTEizDT-Ipw



Ligia Maria Knabben Becker nasceu em Brusque- SC.É formada em Letras pela UFSC. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

LIVRO: HISTÓRIAS QUE CURAM - Conversas sábias ao pé do fogão - RACHEL NAOMI REMEN



Remen, Rachel Naomi. Ágora, 1998
277 páginas
Tradução: Laura Teixeira Motta
Título original: Kitchen table wisdom.

Rachel é médica, ela trabalha com pacientes com câncer, principalmente os terminais, através de uma terapia que os ajuda a enfrentar este momento. Mas o livro nos proporciona um ensinamento que é sábio sobre a vida, sobre como viver e não apenas sobreviver.

Um dos pontos do livro é a questão do treinamento que os médicos recebem de serem profissionais e não se envolverem emocionalmente com os pacientes. Acontece que o médico é um ser humano e ter que se conter pode levá-lo ao que a autora chama de embotamento, ou seja, ficar insensível a dor, o que não quer dizer que ele não sinta, mas justamente porque sente e tem que reprimir ele acaba assim.

A autora defende o ponto que cada doença é única para aquela pessoa e que a cura também é única. Para a medicina a doença é uma só e tem seus recursos para lidar com ela, mas as coisas são muito mais profundas do que isto, pois a doença já é um sintoma de algo que afetou aquele ser humano.

Cada um que ler o livro encontrará algo que lhe fale. Eu pessoalmente me atentei muito à questão do quanto ficamos presos ao outro e com isto deixamos de ser nós mesmos e fazer o que desejamos. Ela nos lembra que um elogio também é uma forma do outro nos julgar e não apenas a crítica como costumamos ver. E do quanto nos dedicamos a atender aos padrões que nos foram impostos na infância ou pela sociedade e o quanto isto gera infelicidade.

Rachel também nos fala sobre o sagrado, aquele lugar interno ou até mesmo externo que nos traz paz, e do quanto precisamos disto.

A força, a determinação, a integridade das pessoas que estão com câncer é algo que nos comove e nos leva a refletir muito sobre a vida.

Rachel Naomi Remen 


domingo, 7 de setembro de 2014

LIVRO: UM ANO DE VIAGENS - Passeios apaixonantes pela Europa, Marrocos e Turquia - FRANCES MAYES


Mayes, Frances. Rocco, 2007.
446 páginas
Tradução: Talita Rodrigues
Título Original: A year in the world: journeys of a passionate traveller.

Mayes é conhecidíssima pelo livro e filme "Sob o sol da Toscana" (postei no blog sobre o filme), quando ela se separou e numa viagem à Itália compra Bramasole em Cortona e passa a viver por lá um tempo onde acaba conhecendo Ed, seu marido que a acompanha neste delicioso livro Um ano de Viagens.

Não se trata de sair viajando por um ano direto, mas das viagens realizadas que ela nos relata com muita sensibilidade, com um olhar estético, amoroso, e guloso, sim, porque a culinária está presente em todo o livro.

Eles irão para vários lugares na costa do Mediterrâneo, Espanha, Portugal, Marrocos, Turquia, Grécia, Escócia, Ilhas Britânicas.

O que mais apreciei é que se trata de dois flaneurs. Eles viajam conforme seu desejo os conduz, param onde algo os atrai, buscam os restaurantes típicos, locais, e não os recomendados para turistas, aliás, eles são tudo, menos turistas. Eles procuram vivenciar o local e as pessoas que ali habitam. Mayes sempre se faz a pergunta: Eu poderia viver aqui?

E isto torna o livro encantador e diferente. Não são descrições de locais turísticos, são detalhes, pinceladas, daquilo que interessou, do que atraiu o olhar, do que encantou, do que é capaz de mudar algo numa pessoa.

Eu me identifiquei muito com ela. Viaja sempre carregada de livros, o que também faço. Gosta de fotografar detalhes, uma porta, um trinco, uma varanda, uma flor, um detalhe da escultura. Não aprecia passeio prontos com tempo determinado, eu também não. Não aprecia muito guias turísticos, principalmente os que parecem recitar algo, mas sempre há exceções e encontramos excelentes guias. Odeia locais cheios onde não se consegue apreciar nada, ver nada, e somos empurrados com os outros. Prefere as ruelas, os becos, caminhar muito, olhar, cheira, provar. Compra livros, objetos para sua casa. Ed compra Cds das músicas locais. A descrição dos lugares com suas cores, as plantas, flores, as pessoas. A conversa com os habitantes.


Um livro maravilhoso sobre viagens, recomendo a leitura.

Frances Mayes e Ed

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

DOCUMENTÁRIO: A CAVERNA DOS SONHOS ESQUECIDOS - 2010


Direção: Werner Herzog - 2010 
Duração: 90 min
Título Original: Cave of  forgotten dreams

No sul da França foi descoberto em 1994 uma Caverna que estava fechada após um desmoronamento. É a Caverna de Chauvet em Pont D'Arc, com mais de 400 metros de extensão, 32 mil anos de existência e com pinturas rupestres de 424 espécies de animais, além das formações que ocorreram no correr dos anos, pegadas, caveiras de animais, restos de carvão, arranhados de ursos nas paredes, e uma pedra que pode ter sido um altar.

O diretor Werner Herzog conseguiu autorização para filmar na caverna respeitando todas as restrições e cuidados necessários a um patrimônio destes. Este filme talvez seja a única maneira que teremos de ter acesso a este outro mundo que está no nosso mundo.

As pinturas são impressionantes, fiquei observando e com poucos traços atingem uma perfeição da proporção do animal, parece que vejo os músculos. Há vários traços que dão a sensação de movimento, além das sombras projetadas pelo fogo ou pela luz agora. O silêncio da gruta, que infelizmente no documentário dura muito pouco, logo interrompido com sons de coração batendo e música durante a passagem das pinturas. Gostaria de estar lá e ver como é realmente sem nada disto.

De qualquer maneira o filme já nos traz uma sensação estética belíssima,mas vai além, por que não há como não se questionar sobre tudo isto. Por que pintaram? por que estes motivos? Há algum fundamento religioso? seria magia? arte? espiritual? ou nada disto?

Não há como responder a estas questões. Os cientistas podem datar, classificar os materiais, dar nomes, mas responder como era, por que fizeram as pinturas e qual seu significado, nunca poderemos saber.

Na caverna se entra no terreno do imaginário onde o tempo e o espaço não tem mais nenhum sentido.

As categorias podem mudar e a forma como compreendemos hoje um cavalo, uma mulher, um leão podem ser totalmente da forma como eles compreendiam. Pode não haver barreiras entre eles e o mundo espiritual, como nós temos. Não há como nossa mente atual captar o significado das pinturas e do que ocorria ali, captar o que são estas representações, se é que podem ser consideradas representações. Não poderiam ser o real? não pintariam o real, não pensando em representar algo, mas como uma magia que está atuando?

Tendemos a analisar tudo por nossos padrões, e que já há diferenças entre os padrões ocidentais e orientais atualmente, imagine então o que era naqueles tempos? Fiquei observando, porque só animais? e uma única mulher com cabeça de touro? onde estão os rios, árvores, plantas? por que focavam nos animais? Li uma vez que estas pinturas seriam atos mágicos vivenciando o real da caça e que surtiria um efeito simpático na caça logo após e que por isto eram feitas no escuro dentro de cavernas, para que os animais não vissem.  Novamente não há como ter certeza disto.

Mas há algo que a caverna provoca nos que lá estiveram, é a sensação de estar naquele tempo e que estão sendo observados pelos homens pré-históricos.

Um documentário muito interessante e que nos traz sensações diferentes. Não pude deixar de pensar numa metáfora com o inconsciente. Aqueles poucos traços que nos fazem ver a imagem por completo é como os traços que temos no inconsciente que adquirimos na infância e que depois regem nossa vida toda, a menos que os decifremos para podermos compreender.

A caverna tem o nome de seu descobridor.





Werner Herzog nasceu em 1942 em Munique, Alemanha

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

DOCUMENTÁRIO: O GRANDE SILÊNCIO - 2005


Direção: Philip Gröning - 2005 
Duração: 169 min 
Título original: Die groBe Stille 

Na verdade não se trata de um documentário, mas de um mergulho na vida e no dia a dia do Mosteiro Grande Chartreuse na França, a casa-mãe da ordem dos monges Cartuxos.

É algo que toca a alma, se deixe levar para dentro do filme, sinta, ouça os pequenos sons das folhas, da chuva, uma serra cortando madeira, uma bacia batendo na pedra. Se deixe levar pelo silêncio, pela meditação, os versos gregorianos, o arrastar dos pés pelos corredores. Se deixe levar pelas mudanças de estações, pelo som dos sinos, pela contemplação. E também pela alegria dos monges quando saem do mosteiro e entram em contato com a natureza e também brincam na neve.


São duas horas e meia que você vive dentro do Mosteiro. Não há comentários, não há explicações, não há nada que nos diga algo sobre o filme, por isto não o considero um documentário, mas uma experiência estética e espiritual.

O tempo é outro, o silêncio e os sons, os monges vivem em suas celas, os que trabalham o fazem sempre sozinhos. Eles tem momentos comunitários, no domingo e em dias festivos eles fazem a refeição juntos. Eles saem do Mosteiro para passeios e é o único momento onde os vemos falar um com os outros.

Durante 2 horas e meia submergimos no mundo contemplativo de uma vida dedicada ao amor à Deus. "E Deus me seduziu e eu me deixei seduzir". O filme é lento como a vida dos monges, um aprendizado de paciência e respeito ao tempo. Sempre dizemos que o tempo voa, mas é o mesmo tempo ali, só que ao focar nos detalhes, vivenciar cada momento, o tempo é mais lento e completo, do contrário, não o percebemos porque não é vivido. Na correria do dia a dia não notamos nada, não vemos os detalhes. Quantas vezes passamos por uma mesma rua e não vemos os detalhes de uma casa, uma bela árvore que está ali há anos?



Moro num local onde as pessoas dizem que é quieto demais, silencioso demais. As pessoas já não conseguem viver sem barulho? o que este barulho vem preencher? Não existe silêncio total na vida, há inúmeros sons, a natureza tem seus sons, nosso corpo tem sons. O silêncio se torna grande quando há falta, uma ausência, como senti durante o luto de minha mãe, mas no dia a dia eu gosto dos pequenos sons. No filme um dos mais belos sons são os sinos. Sinos relembram a minha infância.



Por duas vezes a câmera foca um avião que passa no céu. Que mundo distinto. Mas é para pensar, senão é questão de ser monge, mas que mundo é este que vivemos?  com todo o barulho, poluição visual e sonora, onde não temos um momento de silêncio, de meditação, nenhum refúgio, um jardim secreto. Quando busco um lugar para ficar só e em silêncio vou a um cemitério, e ainda assim... às vezes não é possível pois há uma avenida passando ao lado.



O mosteiro Grande Chartreuse fica em Saint-Pierre-de-Chartreuse, ao norte de Grenoble, nos Alpes. A ordem dos cartuxos foi fundada por São Bruno. Há monges e monjas, e mosteiros em vários lugares do mundo,inclusive no Brasil, em Ivorá - RS - Cartuxa de N. Sra. Medianeira.



Philip Gröning solicitou permissão para filmar dentro do Mosteiro em 1984, os monges responderam que precisavam pensar, que ainda era cedo. Levaram 16 anos para conceder a permissão. Gröning precisou filmar sozinho, sem equipe técnica e sem iluminação. Ele viveu no mosteiro por 6 meses.

Trailer:




Philip Gröning nasceu em 1959 em Düsseldorf, Alemanha.