quarta-feira, 9 de julho de 2014

LIVRO: MADAME FREUD - Um retrato íntimo e revelador do pai da psicanálise pelo olhar de sua esposa - NICOLLE ROSEN


Rosen, Nicolle. Verus Editora , 2008
210 páginas
Tradução: Marisa Rossetto
Título original: Martha F.

Nicolle Rosen, uma psicanalista, interessa-se por Martha Freud. Afinal quem seria esta mulher que viveu ao lado de Sigmund Freud e que parece não existir, exceto pelo fato de elogios sobre a vida doméstica, assegurando à Freud o sossego necessário para criar sua grande obra.

Rosen então resolve dar a palavra à Martha, e para que ela fale precisa de um interlocutor e assim surge Mary que ela conhece no dia do sepultamento de Freud e com quem irá manter uma correspondência assídua falando sobre sua vida e o que pensava.

É um romance porém está baseado em relatos, cartas, biografias, fotos, vários livros sobre a história da psicanálise, mas obviamente que os vazios serão preenchidos por palavras que poderiam ter sido de Martha.

Penso que se trate de um livro que deveria ser lido para se compreender o que é viver à sombra de alguém com tanto reconhecimento e que estava sempre rodeado de admiradores, discípulos e ocupava o lugar do pai, mestre, e também o de homem através de todas as transferências amorosas que suscitou. E Martha? o que ela fez de sua vida? de seu desejo?

Há passagens no livro que nos faz refletir sobre esta questão de amar e se sacrificar ao objeto amado, abrindo mão daquilo que somos e desejamos. Martha era judia e seguia a tradição e rituais em sua família, mas teve que abrir mão de tudo isto porque Freud não queria isto. Nunca era consultada para as grandes decisões e sofreu com a rivalidade com sua irmã Minna e com sua filha Anna Freud. Além de ter que lidar com a mãe autoritária de Freud a quem este era totalmente dedicado.

Freud cresceu sendo o preferido, adorado, com tudo correndo conforme sua vontade e assim permaneceu tendo grande dificuldade de lidar com aqueles que não aceitavam se submeter, como foi o caso de Jung. Até mesmo suas irmãs tinham que abrir mão de seus desejos por ele,como Anna que teve que desistir de seu piano pois o incomodava.

Ele era excessivamente ciumento e possessivo, afastou de Martha todos aqueles que ele considerava como rivais, seu irmão Eli, sua mãe, seus amigos. Mas por que ela aceitou isto? O amor? para agradá-lo? para ser amada por ele?

Mas a questão é Martha, na verdade nunca saberemos o que realmente ia em seu íntimo, mas será que foi feliz? Uma mulher que aos 35 anos tem que enfrentar a decisão de abstinência sexual por parte de seu marido, uma mulher que não participava de nada de sua vida profissional onde tantas outras mulheres estavam, que não acompanhava Freud em suas viagens, que não podia emitir nenhuma opinião.

Mas por que ela aceitou tudo isto? por que não se impôs, não lutou por seu desejo? É este o questionamento no livro quando ela está sozinha após a morte de Freud aos 85 anos. Pode uma mulher ser feliz apenas por ser casada com um homem notável?

A questão é até que ponto Martha sentiu o que a maioria das mulheres sentiria hoje, ou isto não foi uma questão no tempo em que ela viveu. Mas é válido tentar dar voz a esta mulher, uma vez que ela nunca pode falar enquanto esteve viva, tentar pelo menos dar a ela um reconhecimento após ter permanecido na obscuridade por toda sua vida.

Há passagens no livro onde é perceptível a interpretação dos fatos por Nicolle Rosen, uma visão sua sobre determinado assunto ou fato, mas que também são válidos para que se processe uma reflexão.

Martha Freud - 1861-1951

Nicolle Rosen é psicanalista e vive em Paris. 

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