terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

FILME: HANNAH ARENDT - 2012



Direção: Margarethe von Trotta - 2012
Duração: 113 min
Roteiro: Margarethe von Trotta e Pam Katz 
País: Alemanha - França 

Um filme sobre a filósofa política alemã de origem judaica Hannah Arendt

Hannah Arendt (Barbara Sukowa) já está nos Estados Unidos onde vive com seu marido Heinrich (Axel Milberg) por ocasião do Julgamento de Eichmann que ocorrerá em Jerusalém. Ela irá para cobrir o  mesmo pelo The New Yorker.

Sua análise do julgamento repercutiu muito mal, ela sofre ofensas, incompreensões e acusações por três anos. Ainda se estava muito próximo de tudo que aconteceu na Segunda Guerra com os judeus. Mas sua análise se por um lado assombrou o mundo, por outro é extremamente lúcida. A banalidade do mal não é por ser supérfluo, mas é pela mediocridade. Ela foi fria, ficou atenta aos fatos e à lei.



Eichmann cuidava da logística dos trens que levavam os judeus para os campos de concentração, mas ele sabia o que eram aqueles trens e qual o destino para seus ocupantes, e neste sentido o maquinista também é um criminoso.
Quando um líder agrega a massa, ela não pensa, irá agir conforme a massa, fará coisas que jamais faria sozinha, mas seguirá o grupo. Eichmann é um burocrata, obedece e faz seu trabalho bem feito. E a solução final está dentro da lei do Estado Nazista. É complicado isto. Ele não agiu ilegalmente dentro daquele Estado e dentro da lei que vigorava.
Isto não retira o hediondo, o crime de Eichmann, mas mostra como um cidadão comum, pai de família e um bom pai pode fazer o que ele fez. Se não houvesse o nazismo ele teria sido um funcionário exemplar e um bom marido e pai de família, jamais um criminoso. Ele não pensa, não avalia o que está fazendo.



Um dos pontos mais controversos é quando diz: "Toda a verdade é que , se o povo judeu tivesse sido verdadeiramente desorganizado, sem chefes, o caos teria reinado e muita miséria também, mas o número de vítimas não teria podido atingir entre quatro e meio e seis milhões."

O gueto de Varsóvia, os chefes judeus, que se por um lado conseguiam coisas como comida, por outro escolhiam quem ia ser deportado e os convenciam que iam trabalhar. E os outros confiavam neles. Ao final a maioria foi eliminada, mas alguns escaparam e estavam em postos políticos quando Arendt publicou seu livro. Somente quando começaram a surgir os relatos dos sobreviventes isto foi ficando mais claro.

Eichamnn é culpado por ter obedecido sem pensar, o que não lhe traz  culpa no seu entender, ele fez o que tinha que fazer e obedecer é uma virtude, para os alienados é. Porém existe a maldade, está no ser humano. Não se trata como diz Platão que o mal só existe porque não se conhece o bem, não se sabe o bem, e aprendendo o bem se elimina o mal.

A questão é quando se acredita que eliminar os outros é o bem.

Arendt não defendia Eichamnn, ela queria compreender, mas isto não o absolve de seus crimes.

O filme retrata um pouco de sua vida, de sua relação com Heidegger, seu marido, alguns amigos. Era judia, foi para um campo de concentração na França e conseguiu ir para os Estados Unidos. Sua clareza na compreensão de como alguém pode agir da forma mais monstruosa e não acreditar nisto, e ainda acreditar que fez o correto, e também por ter levantado que entre os judeus houve pessoas que colaboraram, lhe valeu a perda de amizades inclusive de pessoas que ela amava muito, além de todas as acusações que sofreu.

Atualmente já se faz outra leitura de sua análise e do seu livro. E ele é válido não apenas para os nazistas, mas para compreender como é possível que o ser humano possa agir de uma forma tão cruel e ser um assassino para uns e para outros ser uma excelente pessoa e continuar acreditando que agiu certo.


Margarethe von Trotta nasceu em 1942, em Berlin, Alemanha. Atualmente mora em Paris.

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