Nooteboom, Cees. Companhia das Letras, 2001
Tradução: José Marcos Macedo
345 páginas
Arthur Daane, um cinegrafista holandês, perdeu sua esposa e filho num acidente aéreo. Sua vida após esta perda trágica passa a ser perambular e ocasionalmente fazer algum trabalho para ganhar algum dinheiro, mas sua principal ocupação é filmar fragmentos, pedaços, tudo aquilo que está ali, mas ninguém vê ou percebe, e faz isto por onde anda Espanha, Holanda, Japão, Estônia e principalmente em Berlim onde se encontra por mais tempo no momento.
É o relato de um solitário, que não supera seu luto, que busca em vão compreender o que é impossível. Berlim é uma cidade onde os mortos também permanecem, estão ali nos escombros, no ar, na culpa que também acompanha os alemães como a ele também. O último instante quando ele registra sua mulher e filho na fila no aeroporto. Ele não estava com eles.
Apesar da solidão tem bons amigos, Erna na Holanda e Victor, Arno e Zenóbia em Berlim, além de outros cinegrafistas com os quais divide apartamentos pelo mundo. Conhece uma mulher, Elik, que também carrega em si um trauma, é uma historiadora, e da mesma forma que Arthur, também uma solitária, só que ao invés de perambular pelo mundo ela se enclausura na história e está fazendo seu doutorado sobre uma rainha da idade média, Urraca.
Temos interrupções no decorrer do livro, são os anjos que tudo vêem, ou o coro, como acontece no teatro grego que nos falam de coisas que cabe a cada um, mas que o outro não pode ver, mas eles vêem tudo ao mesmo tempo. Arthur socorre uma senhora e a deixa no metrô, mas jamais saberá que ela morreu.
O que o impressiona é aquela sensação de estar num lugar onde tantos já estiveram antes, passaram também por ali, falaram algo, e o lugar fica, mas onde estão todos estes? As vozes ficam? os movimentos? Um lugar onde já houve guerra e muitos morreram, e agora está calmo, mas é o mesmo lugar. Como filmar isto? Uma cidade é feita de edifícios e vozes, mas se retiramos as vozes o que sobra?
Ele busca vestígios, não pode esquecer, e não compreende que as coisas passem, que tudo muda, se transforma, mesmo que o lugar seja o mesmo, a transitoriedade de tudo.
Diante de uma foto do Dia de Finados onde as mulheres se encontram, limpam os túmulos, levam flores, fazem isto todos os anos ele começa a compreender que é preciso lembrar para esquecer.
Cees Nooteboom, pseudônimo de Cornelis Johannes Jacobus Maria, nasceu em 1993 em Haia, Holanda.
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