Frankl, Viktor. Editora Vozes, 2009
Publicação: 1946
Tradução: Walter Schlupp e Carlos Aveline
186 páginas
Título Original: Ein Psycholog erlebt das kozentrationslager
Neste livro o psiquiatra Viktor Frankl fala que aquele que passou por uma experiência traumática sabe compreendê-la de uma forma que aquele que não passou não consegue, apesar de não possuir o distanciamento exigido pela ciência e de que ocorrem distorções.
Em função de sua experiência e vivência em campos de concentração na segunda guerra ele questiona o que mantém o ser humano vivo, o que o faz viver? e costuma perguntar a seus pacientes que passam por sofrimentos difíceis por que ele não opta pelo suicídio?
O livro descreve o método psicoterapeuta de Frankl para encontrar uma razão para viver. Na primeira parte ele fala de suas experiências no campo de concentração e na segunda introduz a logoterapia.
Ele vai desviar de Freud e a sexualidade, apesar de sua admiração por ele, e penso que o faça pois viveu algo onde a sexualidade quase que desaparece, não havia nada sexual nos campos como acontece nos quartéis, com soldados em guerra, ou qualquer outra situação de reclusão ou aglomeração. Talvez seja o único lugar onde o sexo não pode diminuir a morte. Não há onde colocar uma libido. Mas há porém uma pulsão de vida que ainda prevalece nos que conseguem sobreviver a tudo que enfrentam.
Quando vivemos momentos que nos colocam diante da morte o sexo e a comida são formas de lidar com isto, mas nos campos justamente nem uma coisa nem outra, então eles sonhavam com comida e ao acordar enfrentavam o horror da realidade. Então Frankl questiona isto, o que mantém o ser humano vivo, sem a pulsão sexual e agressiva, onde ele busca forças? Quando a fome devora o próprio corpo transformando-o num esqueleto, quando o frio congela os dedos que caem ou são retirados com uma pinça? quantos aguentaram e como? por que? O que salvou os sobreviventes? Podiam se suicidar nas cercas elétricas como muitos fizeram.
São estas perguntas e respostas que Frankl busca, o sentido para viver, o por que viver?
Mas eu me pergunto até que ponto isto é possível? sobreviver sim, continuar vivo sim, e realmente deve haver algo muito poderoso que permite isto em face a tamanhas atrocidades e dores, fome, frio e doenças, mas será que o psiquismo consegue elaborar todos estes traumas? como ficou o psiquismo dos que sobreviveram? Muitos se suicidaram depois, outros escrevem para tentar exorcizar.
Muitos não aguentaram não serem ouvidos, ninguém queria saber de tudo isto, principalmente depois da guerra, queriam comemorar, viver, foi uma época de gozo da vida. Quantos sobreviventes não se sentiram párias? um excluído? Muitos se casaram entre si, logo após a libertação e seguiram com a vida, mas a herança psíquica está nos filhos e quantas gerações serão necessárias para que isto desapareça?
No campo de concentração todos estavam na mesma situação, mas depois da libertação, enfrentar o olhar de nojo, pena do outro? ao invés de ser visto como um herói, que conseguiu sobreviver?
O que Viktor Frankl nos mostra é como buscar um sentido para a vida quando se passa pelo extremo da dor e da humilhação. Não penso que todos sejam capazes, mas para aqueles que conseguiram achar um sentido, aqueles que se dedicaram também ao outro no meio de tudo isto dando um sentido a si próprio no meio de tudo, é possível. O que te faz viver? um filho? um desejo que você acredita realizar? um sonho? as recordações que te sustentam?
Não é fácil quando se vive o que viveram os presos de campos de concentração, mas vários conseguiram não morrer ali. E não foi apenas a sorte, de não ser escolhido na seleção para a morte, muitos nem foram para as câmaras de gás, morreram antes ou se mataram.
Viktor transformou o maior sofrimento de sua vida, inimaginável para quem não o viveu, na logoterapia, transformou o trauma em algo que pode ajudar muitas pessoas, e isto sim, eu acredito seja uma forma de curar um trauma, transformá-lo em algo.
Viktor Frankl nasceu em 1905 em Viena, Áustria e faleceu em em 1997 com 92 anos na mesma cidade. Fundador da logoterapia que explora o sentido existencial do ser humano. Ficou preso nos campos de concentração por 13 anos, perdeu seus pais, seu irmão e sua esposa grávida mortos pelos nazistas.
Assista a entrevista com Viktor Frankl para saber mais:
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