Direção: Sean Penn - 2007
Duração: 148 min
Título original: Into the wild
Adaptação do livro de não ficção de Jon Krakauer sobre a vida de Christopher McCandless.
Assisti a este filme já faz um tempo, mas ainda não havia colocado aqui no Blog, mas na esteira do livro A Onda, não podia deixar de falar deste filme.
Christopher (Emile Hirsch) é um jovem revoltado com a sociedade que considera hipócrita, consumista e doente. Além disto ele vive em confronto com seus pais, o que seria normal se não fosse que além desta rebeldia da adolescência houvesse também um segredo que envolve seu nascimento.
Os pais são formados e modelados pela sociedade na qual vivem de acordo com os valores vigentes, ou seja, status, sucesso, dinheiro, estudos e o comportamento que deve sempre ser o de acordo com o lugar e momento. Até se formar Chris atendeu a estes desejos, mas depois disto ele resolve seguir sua vida, indo viajar sem dar notícias. Sua revolta com o sistema é tanta que ele chega a queimar dinheiro, não o quer.
Seu objetivo: o Alaska. A primeira coisa que faz é trocar de nome: Alex Supertramp. Acredita que com isto pode renegar sua origem. Ele anda pelos Estados Unidos, conhece pessoas, aprende muito até que chega ao Alaska após dois anos na estrada.
Os filhos gostam de julgar os pais, mas não admitem ser julgados por eles. Ele não aceita o fato de ter nascido fora do casamento enquanto seu pai era casado com outra mulher, e seus pais também consideram isto vergonhoso e escondem este fato. Ele renega sua família mas está constantemente se encaixando em algum lugar de filho durante sua jornada que depois abandona novamente. Não percebe isto, como ele busca um pai e uma mãe, ainda quer ser o filho de alguém. Ao mesmo tempo apesar de sua jovem idade ele se afasta do sexo, ele não quer.
No filme ele vai passando pelas fases: infância, adolescência e assim vai até chegar ao Alaska e seu ônibus mágico, que ao meu ver também é uma metáfora de um útero.
Mas o Alaska é um local selvagem, distante da civilização, ao atravessar o rio congelado e deixar ali uma touca como uma marca, como João e Maria, ele entra na natureza. Tudo irá correr bem até ele achar que é o momento de voltar e se deparar com o rio descongelado.
A segurança e a auto-confiança que despreza imprevistos e contingências, que não olha corretamente a diferença entre a natureza e a cultura. Talvez ele devesse ter enfrentado o deserto antes de ir para o Alaska, mas ali ele teve um "pai" que o protegeu, que sabia dos perigos. Ao longo de sua caminhada houve vários sinais que ele desprezou, o carro que foi abandonado devido a inundação que ocorreu no local pois ele ignorou as placas de avisos sobre enchentes. Ele queria viver sem regras, mas isto não é possível. Ele desafia a lei quando desce as corredeiras do rio adquirindo uma confiança perigosa. Há coisas que podemos transgredir, mas outras não, pelo menos não sem o devido preparo e consciente que sempre há um preço a pagar.
Vai para o Alaska no final do inverno. Solidão, silêncio, ninguém para falar, não há outros humanos ali, somente a natureza. A cena do alce, quando ele percebe pela primeira vez que não pode fazer tudo sozinho. Percebe sua solidão e decide partir, mas o cenário mudou. O rio agora é uma corrente forte, e ele age como sempre fez, andando como se o buraco devesse sair de sua frente, ele entra no rio, mas desta vez percebe que não será tão fácil, consegue se salvar e retorna ao ônibus.
A falta de preparo, de conhecimentos, de experiência. Ele esqueceu que os rios descongelam, e quando procura pelos animais para caçar, esqueceu ou ignorava que os animais migram, se acasalam, e que os ursos hibernam e acordam. E quando as coisas não são mais como ele queria ele se entrega. Por que não tentou descer o rio pela margem para ver se havia outro local onde seria possível atravessar? Por não querer se afastar da touca referência? Só neste momento ele vai ler o livro sobre plantas comestíveis. Começa a sentir fome, e lendo o livro ele percebe que é preciso nomear as coisas, com seus verdadeiros nomes. Então renasce o Chris e para morrer.
A câmara nos mostra o rio, um pouco além, está calmo. Ele não conseguiu pensar além e não havia outro para fazê-lo ou pensar junto.
Precisamos romper com os pais em algum momento, adentrar nossa vida adulta, fazer escolhas, atender ao seu desejo, mas isto requer responsabilidade e humildade. Ele queria a liberdade, mas não tinha maturidade para isto e quando as consequências surgiram ele se perdeu. Ele não era o Alex imaginário, era o Chris e era com este que ele tinha que se haver. A iluminação final que sente, é quase o desamparo. Precisa se agarrar a algo. Ele aprende tarde demais que a liberdade não é externa, é interna.
Por outro lado também aprendemos e muito com ele. Como engessamos nossas vidas, como é bom poder nadar no rio, acampar a céu aberto, rir, cantar, andar por aí, falar com pessoas, ter empregos temporários, que é possível viver fora do sistema, mas nunca isolados.Ele também modificou as vidas das pessoas com quem conviveu dando um novo alento às suas vidas.
Me entristece ver os sonhos dele, seu desejo de liberdade, acabarem assim, mas talvez a morte seja a grande liberdade e por isto ele sorriu ao morrer.
Ele foi encontrado duas semanas após sua morte.
Christopher McCandless
Sean Penn nasceu em 1960 em Santa Mônica, EUA.
Canções Originais: Rise, Guaranteed
Música composta por Kaki King, Michael Brook, Eddie Vedder
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