Direção: Claude Miller - 2009
Duração: 100 min
Título original: Un secret
País: França
Baseado no livro Um Segredo em família de Philippe Grimbert
A história é autobiográfica e ficcional na medida que o autor, o psicanalista Grimbert mescla sua própria experiência com ficção.
Talvez por ser um psicanalista ele relata já dizendo o que ocorre com ele, o que fez, mas se não precisamos perceber isto, o sentimos. É um relato de como os fatos se processam, é uma interpretação.
Um menino, franzino, pais esportistas, filho único, ele sente que não corresponde ao desejo do pai e nos relata sobre seu nascimento, de como era pequeno e do olhar decepcionado do pai que lhe deixa um traço por toda sua vida.
Ele cria para si mesmo um irmão que é o que ele não é, que faz o que ele não consegue fazer, que é forte e esportista. Um duplo, mas que não o espelha, atende ao seu desejo de atender ao desejo do pai, do outro. Foi assim que eu senti. Na realidade ele não quer ser como o pai, mas acha uma maneira de lidar com seu desejo de ser amado pelo pai.
Encontra um cachorrinho de pelúcia no sótão, mas sua mãe Tânia ( Cécile de France) o proíbe de pegar alegando que tem ácaros, mas ele volta depois e o pega e agindo como seu irmão imaginado ele o joga pela janela e o pai quando o encontra fica muito mal.
O filme intercala o menino franzino, François (Valentin Vigourt) , com ele já adulto, psicanalista, quando seu pai Maxime (Patrick Bruel) desapareceu após ter levado seu cachorro para passear e não quis colocar a guia e com isto ele acaba atropelado e morto. Enquanto procura pelo pai ele vai recordando o passado e nos contando a história.
O interessante é o que o filme retrata o passado em cores e o presente está em preto e branco, mostrando com isto o quanto o passado é vivo, colorido e está presente, mais do que o próprio presente.
Justamente por não saber quase nada do passado dos pais é que François se baseando em uma frase e outra constrói este passado que é segredo. Mas chega um dia que na escola passam um filme sobre o holocausto e o seu colega debocha e ele se irrita e acabam brigando. A partir daí o segredo lhe será revelado por uma vizinha que não irei relatar para não antecipar a quem for assistir o filme.
Apesar de sua análise lacaniana, François nos diz que ter descoberto o segredo, ter simbolizado, nomeado e dado um lugar, não o libertou de seus fantasmas, que hoje o auxiliam a trabalhar com seus pacientes. A partir do momento que o segredo se revela o presente passa a ser filmado em cores, se iluminou, não é mais apagado por um segredo.
Há muitos detalhes no filme, e no que vai se revelando aos poucos e também no presente, quando encontra seu pai.
Os efeitos do silêncio, do segredo que muitos mantém e que de alguma forma se transformam em herança para os descendentes. Um filme sobre o holocausto, a Segunda Guerra e seus traumas e silêncios.
Vale a pena assistir.
Grimbert, Philippe. Record, 2009
Tradução: Tatiana Salem Levy
176 páginas
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