sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

FILME: ONDAS DO DESTINO - 1996


Direção: Lars Von Trier - 1996
Duração: 159 min 
Título original: Breaking the waves 
Roteiro: Lars von Trier - Peter Asmussen - David Pirie
País: Dinamarca 

Ganhou o César de Melhor filme estrangeiro 

Uma comunidade pesqueira num país nórdico (norte da Escócia) , uma plataforma de petróleo com outsiders.

Bess (Emily Watson) cresceu nesta comunidade extremamente religiosa e onde seu avô é um dos anciões que governam as regras no local. Ela vivia dedicada à Igreja, uma igreja sem sinos, após ter sido internada quando seu irmão morreu. Os anciões são os guardadores da moral e dos costumes, tudo passa por eles. As mulheres não podem assistir aos enterros, somente os homens, e o ancião quando julga o morto um pecador manda para o inferno todos que não vivem segundo suas regras.

Bess se apaixona por Jan ( Stellan Skarsgard) um dinamarquês que trabalha na plataforma de petróleo e se casa com ele. A comunidade não gosta, prefere os casamentos entre si, tem medo do diferente e não o aprovam.

O filme é dividido em partes e no início de cada parte toca uma música alegre que destoa até da vila e tem uma paisagem com tons sempre ocres e verde escuro predominando. A sensação que tive é que há algo que incomoda ali, não é natural e então me pareceu que era um mundo pintado, colorido por nós, cores que nós escolhemos para colocar na vida e no mundo onde sempre sobra um pedaço sem cores e um outro muito ilusório.

No dia do casamento uma demora da chegada do  helicóptero que traz o noivo da plataforma desencadeia uma crise histérica de Bess. O médico dirá que ela quer tudo, mas por outro lado ela é totalmente submissa ao Outro, seja Deus, seja o amor na figura de Jan. Ela fica entre a obediência e o sarcasmo.



Na festa do casamento ela leva Jan para o banheiro e quer ser possuída ali mesmo, nada de romantismo, de lua de mel. E temos depois uma cena linda onde ela descobre o corpo do outro.



Bess fala com Deus, mas ela mesma é Deus, que responde engrossando sua própria voz e usando uma voz infantil para ser ela mesma. Neste delírio Deus atende seus desejos e como ela não suporta a ausência de Jan quando está na plataforma trabalhando ela pede a Deus que o traga para casa, mesmo percebendo seu egoísmo ela não consegue agir de outra forma.



E justo aí é que acontece o acidente na plataforma que o traz para casa. Ela fica feliz, o que importa é que está vivo e vai ficar ali, não o estado dele que não pode mais se movimentar. Para aliviar sua culpa pois acredita que foi ela quem causou tudo isto pois desejou que ele ficasse ali, ela passa a acreditar que o salvaria. Deus o salvaria, aquele Deus que era ela mesma. Acreditou que tinha o poder sobre a vida e a morte.



Jan lhe diz que deve arrumar um amante, que ele não pode mais fazer amor, que isto ficaria entre eles, já que não podiam se divorciar pois a comunidade nunca aceitaria isto. Sua virilidade está em jogo. Ele lhe pede para ter relações sexuais com outro e lhe contar, que seria como eles dois. E o mais perverso é que quando ela inventa ele ao invés de aceitar a desmascara.

Ela atende ao desejo dele se prostituindo, acredita que o está salvando. Quando após sofrer uma violência ela ainda não o curou, resta o sacrifício, resta morrer por ele. E eu me pergunto por quem os sinos dobram no filme.

E ele se recupera. Milagre? por causa do sacrifício? Não! iria se recuperar de qualquer maneira. Ela sentia culpa pelo acidente, mas o amigo não, e se este não tivesse feito uma brincadeira estúpida de se fazer de morto naquele momento, o acidente não teria ocorrido. Mas há culpa? os acidentes acontecem, não temos o poder de detê-los, mesmo que sempre haja uma escolha antes.

Um tribunal. Qual foi o crime? quem é o criminoso? Neurótica? psicótica? o médico diz que ela era boa. Ser bonzinho é ser alienado ao desejo do outro?

Recomendo este filme, o meu preferido de Lars Von Trier.

Lars Von Trier nasceu em 1956 em Kongens Lyngby, Dinamarca.

Trilha sonora de Joachim Holbek 


Joachim Holbek nasceu em 1957 na Dinamarca. 

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