Banville, John. Globo, 2013
Tradução: Sergio Flaksman
334 páginas
Título Original: Ancient light
Talvez por ter criado uma expectativa eu esperasse mais deste livro que mesmo assim tem seus méritos.
Alex é um ex-ator que aos sessenta e cinco anos se recorda de seu primeiro amor pela mãe de seu melhor amigo ao mesmo tempo que no presente é convidado para atuar em seu primeiro filme. Ele era um ator de teatro que abandonou após sofrer um branco de memória no palco.
A primeira paixão de um adolescente aos 15 anos e por uma mulher mais velha, a mãe de seu melhor amigo Billie. Algo bem edipiano, onde se confunde a mulher com a mãe. Por outro lado temos uma mulher que também tem uma castração mal resolvida e acaba se envolvendo com um garoto que poderia ser seu filho. Este suposto amor, já que fica bem nítido que ele não a ama, mas a si mesmo e à imagem que faz dela, onde ficam evidentes a onipotência infantil em relação à mãe que deve atender aos seus desejos e olhar apenas para ele e mais ninguém. Ele salta algo em sua formação, no desenvolvimento de sua sexualidade, lhe faltando a primeiro amor por uma outra adolescente, a descoberta conjunta do corpo um do outro ainda se formando e tudo que isto nos ensina e traz para nosso crescimento e desenvolvimento, tanto que Alex é um homem que tem um certo medo das mulheres e suas questões não se resolvem.
A sensação que tenho é que Alex nunca cresceu, amadureceu. Ele inventa seu mundo e cria os quadros imaginários que lhe convém. Ele mesmo nos diz no livro que não se pode fiar ao que pensa ou recorda. A memória é sempre uma representação do que nós pensamos ter visto e onde nos fixamos, ela nos engana, tece um romance e nada garante que é o que realmente aconteceu, mas é o que pensamos ter acontecido. Quantas vezes ao contar uma história para outro que também participou ouviremos que não foi assim, que alguém não estava lá e temos certeza de que estava? A cada um sua versão.
Alex se fixa apenas no que lhe interessa em relação a Sra. Gray, ele nunca a ouve, não se preocupa com o que pode lhe ocorrer desde que ele se sinta seguro e a tenha. O final desta história apenas mostra o quanto ele estava distante da realidade e a imaginou. Nunca havia percebido que ela poderia estar doente e criou todo um final onde teríamos um escândalo que não deixaria de envaidecê-lo, uma vez que o garoto havia conquistado uma mulher como ela. Também fica evidente que apesar de tudo há o medo que paralisa e a consciência de que era algo que não era correto e que seria reprovado por sua mãe, pela sociedade e pelo padre. O estranho é que ninguém diz nada, o que pode ser um alívio mas também uma frustração para aquele ego tão centrado em si mesmo.
Lydia, sua esposa, é tão distante quanto sua mãe foi no começo da história. A atriz com quem contracena Dawn Devonport tenta o suicídio como sua filha que morreu assim. E apesar de haver na orelha do livro a informação de que ele estaria vivendo o personagem que estava com sua filha quando esta se suicidou, nada o comprova no livro, e podemos ficar com a opção que ele novamente estava criando um mundo para si, como se tentasse reparar sua falta de presença como pai e a crença de que poderia ter evitado este desfecho, uma onipotência que se revela novamente.
No fim o que rege sua vida é o medo, a insegurança que o faz buscar o colo de uma mulher, de uma mãe.
John Banville nasceu em 1945 em Wexford na Irlanda.
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