Direção: Sam Taylor-Johnson - 2015
Duração: 107 min
Título Original: Fifty shades of grey
Adaptação literária do livro homônimo de E L James.
Não era minha intenção assistir a este filme, mas instigada por pessoas que o assistiram acabei me rendendo. Diziam haver uma charada e isto me atrai. Assisti e fiquei me perguntando qual era a charada, seria o óbvio? que Christian Grey (Jamie Dornan) tinha problemas e traumas de infância? que havia se transformado em um agressor? Sim, porque uma relação sadomasoquista só pode ser patológica. Mas e ela? a paixão seria suficiente para levar uma jovem a se submeter inclusive a dores físicas?
E foi então que me retirei do filme em si e pensei na autora do livro e do por que de sua escrita. Deixo claro aqui que não li a trilogia, mas que o que me veio é uma opinião pessoal que eu pensei assistindo ao filme. Trata-se da fantasia erótica, até mesmo pornográfica de uma mulher e não de um homem sádico. Estaria diante de uma versão feminina de Sade moderna?
O filme é leve nas cenas de sexo e de sadomasoquismo, muito diferente do que escreveu Sade. Mas não pude deixar de ver uma mulher fantasiando tudo isto o que me foi ficando mais claro em certas cenas, como a que ela discute com ele os parágrafos do contrato onde retira o que a incomoda e ele aceita numa boa, quando ele leva gelo para a cama, e todo o contexto do filme de Cinderela, um príncipe encantado que é rico, poderoso, e que lhe dá presentes, a apresenta à família, mas esconde dela o trágico de sua vida. Ora, isto existe na vida real? tudo de acordo com um sonho que de repente vai além e passa ao erótico e pornográfico, mas com o homem que ela ama e que aceita suas restrições?
Quando chegamos ao final do filme, deste primeiro da trilogia, Anastacia (Dakota Johnson) percebe o que vai ter que passar, e pergunta por que ele é assim, o que o levou a ser assim e lhe diz que está apaixonada. Ela era virgem, sem nenhuma experiência em sexo, e entra nesta relação doentia por paixão, onde podemos perceber que a paixão também é algo doentio, que retira da pessoa seu ego e o transfere para outro, é estar a-mando! de alguém . Todos nos apaixonamos e passamos por um momento assim, mas daí a se envolver numa relação que cause abusos e submissão física e psíquica é outra coisa. Normalmente a paixão ou se transforma em amor ou acaba, e todos nós desejamos uma relação saudável, companheira, de amor.
Não há relação sadomasoquista que seja saudável, ela sempre termina mal, e os envolvidos tem questões a serem resolvidas e curadas, e não é numa relação assim que isto acontece, e principalmente, amor não cura isto. Se Grey sofreu abusos na infância ele precisa se tratar para poder amar uma mulher e quanto à Anastácia há também questões inconscientes nela, a começar por uma mãe que não comparece em sua formatura, que foi a única deixa do filme sobre ela. Mesmo que se trate de fantasias eróticas estamos diante de alguém que quer se autorizar a ser um objeto de outro.
O que me preocupa é a reação das meninas e mulheres à este filme que ao invés de saírem indignadas ficam extasiadas com este homem doente, o que me leva a pensar no que é que este filme mexe inconscientemente? O que ele ativa? em qual desejo ele está tocando? o que está recalcado que é tocado?
Ouvi de mulheres que ficaram com raiva dele quando ele bate nela, eu neste momento fiquei indignada com ela, por se submeter à isto. Sim, ela estava ali porque quis, e foi uma péssima escolha e não há carro, helicóptero ou beleza de um homem que justifique isto, não há paixão que justifique e aqui neste não existe amor, seria uma triste ilusão pensar isto. Para todo sádico há um masoquista, e ambos tem problemas, isto é importante frisar, não é apenas ele o que tem problemas neste filme e que precisa ser curado, ela também.
Sam Taylor-Johnson nasceu em 1967 em Craydon, Reino Unido.
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