domingo, 11 de janeiro de 2015

FILME: E BUDA DESABOU DE VERGONHA - 2007



Direção: Hana Makhmalbaf - 2007
Duração: 76 min
Título Original: Buda as sharm foru rikht

País: Afeganistão - Neste caso coloco o filme para este país apesar da diretora ser Iraniana porque o filme se passa se neste país e trata da cultura deste povo. 

Um filme que me tocou muito, não sei nem dizer tudo a que este filme me remete. O filme se passa no vale de Bamyan no Afeganistão, exatamente onde o Taliban destruiu as imensas estátuas de Buda em 2001, e vemos então os nichos onde eles ficavam. É a este fato que o título do filme se remete, que eles não teriam sido destruídos, mas que desabaram de vergonha.



Apesar das dificuldades e da miséria, assim mesmo vemos um povo pacífico, que luta para viver. Bakhtai é uma menina de 06 anos da etnia hazara, ela vive nas cavernas como a maioria da população. Seu vizinho, um menino Abbas, lê em voz alta e isto lhe chama a atenção, ela não sabe ler e como ele a desafia a ler e ela não sabe, apesar de tentar fingir que sabe, decide então que deseja ir para a escola para aprender a ler, mas mais que isto, como Abbas lê um trecho para ela de seu caderno, ela quer ir a escola aprender histórias divertidas. O problema é que ela não tem um caderno nem um lápis. E eis que começa a odisseia de Bakhtai para conseguir estes dois objetos tão desejados e finalmente poder ir a escola, porque ela não tem dinheiro e não consegue encontrar sua mãe para pedir. 

Abbas sugere que ela venda ovos no mercado, e lá vai ela com seus quatro ovos. Finalmente ela consegue pelo menos o caderno, mas não o lápis, então ela pega o batom de sua mãe para escrever e vai para a escola.



Até aqui vemos toda inocência de uma criança, seu olhar meigo, seu desejo, suas peripécias para conseguir o que quer. Porém ela vive num país marcado por anos de opressão do Taliban, machista, que segrega as mulheres dos homens, ela mesma com 06 anos já cobre a cabeça, e no caminho para a escola ela encontra um grupo de meninos que brincam de guerra, os talibans contra os americanos, eles a prendem porque batom é algo que não pode, eles dizem que vão apedrejá-la, rasgam seu tão precioso caderno para fazer aviões de papel, colocam um saco de papel em sua cabeça deixando apenas buracos para os olhos, nariz e boca e a levam até uma caverna onde estão outras meninas pequenas.

Me comove ver esta pequena menina não ter medo. Para ela que ainda não tem consciência do que se passou em seu país, os meninos estão apenas brincando. Ela vai embora da caverna, enquanto as outras com medo lhe pedem para buscar a polícia. Os meninos refletem a história de seu país, mas ao mesmo tempo eu não pude deixar de pensar que as crianças ocidentais também faziam isto brincando de Forte Apache combatendo os índios. Estes mesmos meninos depois irão reaparecer, desta vez no papel de americanos prendendo os do Taliban.


Bakhtai após conseguir sair da caverna continua sua caminhada para a escola. Finalmente ela vai encontrar um lugar onde meninas estudam. Ali ao descobrirem o batom as meninas começam a  brincar, se pintar, como toda criança faz, mas quando a professora vê isto, ela é expulsa dali.

Voltando para casa é que reencontra os meninos, e Abbas também, que na brincadeira se finge de morto, ela não, ela corre e eles atrás dela. Abbas grita: morre! morre que você se liberta! Ela ainda resiste. Só a morte liberta grita seu amigo, e ela finalmente se joga no chão fingindo de morta.


Através de brincadeiras de crianças o filme nos mostra uma sociedade que limita a liberdade da mulher, o que Bakhtai ainda vai descobrir, mas no filme esta pequena menina simboliza a resistência, ela não tem medo, como as outras, e isto me comoveu e me remete ao fato de que o medo gera violência, é o medo que leva as pessoas a desejarem o poder. Os meninos reproduzem sua cultura e sua história, porém, diferente do Forte Apache, que aqui no Ocidente foi mudando a situação e apesar de ainda não se respeitar o índio, pelos menos já temos quem os defendam e livremente, sem falar que eles mesmos o fazem, no Afeganistão esta pequena menina terá que se render à sua cultura que continua se propagando já nas brincadeiras infantis, ela terá que se jogar ao chão, e isto tudo difere muito do budismo.
  
Hana Makhmalbaf nasceu em 1988 em Teerã, Irã 

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