sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

DOCUMENTÁRIO: O LONGO CAMINHO PARA CASA - 1997


Direção: Mark Jonathan Harris - 1997 
Duração: 120 min 
Título original: The Long way home. 

Narração de Morgan Freeman 

Oscar de melhor documentário de 1977. 

Examina o período após a Segunda Guerra Mundial de 1945 à 1948, o drama de milhares de sobreviventes do Holocausto que foram abandonados à sua própria sorte. 

Um documentário doloroso. Apesar dos aspectos guerra, política, cultura estarem ali, quero falar do lado humano, psicológico, pois a guerra é feita por pessoas.

Do início do século XX até sua metade tivemos a Primeira Grande Guerra, a Revolução Russa, a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial. Mas, nem o mundo, nem a história começam aí. A história dos judeus e do anti-semitismo é antiquíssimo. Povos oprimidos, explorados e subjugados faz parte da história humana.

A política do pós-guerra visava reconstruir e recuperar o poder. A Palestina existe há séculos, antes mesmo da Europa. Judeu não é uma nacionalidade, o judeu é francês, polonês, alemão, inglês etc. O muçulmano é árabe, iraniano, africano, e o católico também está presente em quantas nacionalidades. O ódio ao judeu está disseminado pela cultura, pelo social e pela palavra.

No filme um judeu diz: " é melhor ser um alemão derrotado do que um judeu libertado." E era verdade.

Os deslocados de guerra, quem tinha família, uma casa, aos poucos iam voltando, mas os judeus não tinham mais nada, nem casa, nem lugar, nem família. Só tinham a Palestina, com os árabes lá e sob domínio Britânico.

Quando os aliados entraram nos campos ficaram em choque, não estava preparados para o que viram. Mesmo tendo visto os horrores da guerra, mortes, mutilados, doenças, tendo que matar e morrer, não era pior que aquilo. Sentem repulsa, nojo, vomitam. Os judeus percebem e se afastam. Neste momento eles tomam consciência de seu estado. É sempre através do outro que nos vemos.

A falta de preparo, de médicos, ao serem libertados eles comem muito, desesperados, e morrem. O estômago explode. Sua imagem é terrível, são pele e ossos, olhos fundos, olheiras profundas e roxas. Quem presenciou disse que nunca mais eles poderiam ser normais, ter uma mente sadia.

Porém, sua luta ainda não tinha acabado, eles precisam de um lugar. Tentam ir para a Palestina, são impedidos, há cotas, o governo Britânico controla, não quer desagradar aos árabes que detém o petróleo. Muitos países também colocam cotas para a entrada de judeus. Eles são colocados novamente em campos. Fogem, tentativas de ir pelas montanhas, mulheres, crianças, velhos. Tentativas de ir pelo mar. Navios são bombardeados, levados de volta.

Estavam vivos, "livres" mas não tinham para onde ir ou o que fazer. Ficam apáticos, não recebem ajuda.

Quando chegavam aos EUA os americanos eram incapazes de compreender. Diziam que também sofreram, tiveram que entrar em filas para comprar cigarros. Ninguém quer ouvir e eles queriam falar. Aos poucos o silêncio se impôs, e o trauma ficou dentro de cada um, para ser transmitido aos descendentes.

Eles casam entre si para não ficarem sozinhos, querem filhos para dar continuidade e valer ter sobrevivido e renascido, é uma dívida.

No documentário a violência, a guerra, o sexo, e todas as emoções humanas de egoísmo, repulsa, inveja, mas também de bondade, generosidade e amor á vida aparecem. Os judeus sabiam que a vida não tinha sentido, era preciso construir um. O problema foi construí-lo sobre um trauma silenciado. O horror! A sensação de que o outro não quer ouvir, não acredita é terrível para o traumatizado. Ele mesmo não consegue acreditar que sobreviveu, não sabe nem por que sobreviveu.

Acho que até hoje não se compreende, nem os sobreviventes judeus, nem os alemães, só que ambos demonstram o real, o ser humano no que ele tem de pior e de melhor, do que é capaz. Nos depoimentos no filme percebe-se a força da voz, a entonação, daquele que quer falar, mas será que somos capazes de ouvir? Temos medo, horror e não conseguimos captar, então banalizamos e deletamos e com isto não aprendemos nada, nem podemos ajudar. Resta ignorar, criticar, julgar, apartar.

Talvez por isto que agora estão surgindo tantos livros e relatos de sobreviventes, eles precisaram deste tempo para conseguir falar e os outros para poder ouvir.


Mark Jonathan Harris nasceu em 1941 e é americano. 


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