sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

FILME: BIUTIFUL - 2010





Direção: Alejandro González Inárritu - 2010 
Duração: 147 min 
Roteiro: Alejandro Gonzáles Inárritu , Nicolás Giacobone e Armando Bo 
País: Espanha e México 

Prêmio de melhor ator para Javier Bardem no Festival de Cannes 2010 


É um filme que mostra a cidade do outro lado do espelho reluzente que todos adoram ver, principalmente Barcelona. O lado considerado negro por alguns e criminoso, marginal por outros, mas alto lá, o que o filme mostra é a realidade, a vida de milhares de pessoas é assim em muitas cidades. Para os que não se atrevem a chegar perto deste lado de uma cidade, é pavoroso, é crime e haverá muitas críticas. Imigrantes, o que vieram fazer aqui? Esquecem que no país deles há fome, guerra, falta de trabalho, e que são seres humanos e a terra lhes pertence tanto quanto. 

Ao saber que vai morrer, Uxbal ( Javier Bardem)  parece que continua com sua vida sem que isto se faça presente. Pode-se dizer que é o véu que temos para a morte. Só quando caímos e o corpo não reage mais a morte se faz presente para si mesmo. Enquanto ainda podemos comer, caminhar, falar...

Ele vive no meio da miséria, onde todos lutam para sobreviver, imigrados presos num porão, que trabalham por uma miséria explorados por outros de seu país. O filme é escuro, não há alegria, festas cheias de droga e sexo, bebida. A mulher dele Marambra (Maricel Álvarez)  é doente, e no final é internada novamente. Prostituição, corrupção.
Que vazio de palavras, de ouvir, de procurar ver o lado do outro, mas ao mesmo tempo ele tenta ajudar os outros, dentro do sistema em que vivem. Pode-se dizer que ele também explora, mas se arrisca junto, apesar de que ganha mais. Ali todos sabem o risco que correm ao vender produtos de contrabando. Não são bandidos, são seres humanos lutando para sobreviver, num mundo onde não conseguem um bom trabalho, um bom lugar para morar. Somente uma vez aparece a catedral de Barcelona em meio às brumas. Ela não pertence a este mundo. Temos uma Barcelona feia, triste, suja, com sofrimento. Tão diferente daquela que se vende ao mundo, aos turistas e aos que podem morar e viver nela em outros locais.

Mas temos Ige, acho que é assim seu nome, que ao final volta, poderia ter ido embora, e volta, vem cuidar dos filhos dele. Ela tinha dinheiro e poderia ter seguido seu caminho, mas como lidar com a culpa deste dinheiro. Seria suficiente a raiva que ela sentia dele, por culpá-lo de seu marido ter sido preso? Mas ele avisou, mas eles tinham alternativa, era só lá que vendia?

 A mãe deixa o filho de castigo. Este castigo é para o filho ou para ele? Que não foi e não disse por que. Que não lhe contou que estava morrendo de câncer? que não confiou nela. Que voltou para ela quando precisava dela, mas não moveu um dedo para reatar com ela. Ele queria ficar em paz para ter com quem deixar as crianças. Ninguém dá muita atenção a este menino, logo no começo ele fala ao pai que nem o ouve, sobre a roupa do astronauta. A filha tem que assumir um lugar que não é o dela. O anel que lhe passa ao dedo.

 E a morte. Ele sabe que vai morrer, será que tenta então melhorar algumas coisas para os outros para se sentir melhor? E compra aqueles aquecedores que quando vi entrando naquele porão adivinhei na hora o que iria ocorrer. Ele escolheu os mais baratos, para ficar com dinheiro, para deixar aos filhos. E seus filhos teriam ficado sem nada se Ige não volta. Iriam ficar sozinhos, a mãe internada, o pai morto. Igual a ele? que também perdeu o pai e a mãe? Pede a filha que nunca esqueça seu rosto. O rosto que ele precisou ver na exumação do corpo do pai. Um pai que não tinha rosto e passa a ter.

 O filme é a vida, o que ela é, sem enfeites, sem colorido, não há final feliz. O final é a morte. Sim, poderia haver uma certa alegria ali, mesmo com todas as dificuldades, mas só quem vive nesta situação sabe o quanto é difícil ser alegre e contente vivendo assim. Só tem duas cenas de alegria: Ana, sua filha, sorrindo para um bebê. O primeiro morre asfixiado, o segundo, é o filho de Ige. Não há prazer, pois até a viagem que era para ser algo alegre, prazeroso, perde seu encanto, quando ele não vai e a mãe deixa o filho. Não é mais a Disneylandia que a mãe desejava. Um mundo de sonho.   
Vidas onde não há o desejo, onde não há a paixão e o amor, nem mesmo na declaração de amor que ele fez a ela, quando conta aos filhos, e diz que ele enfiou o dedo no nariz dela. O desejo existe, mas não se realiza. E é a vida da maioria das pessoas.
O filme começa e termina no pós morte. O pai jovem, que o encontra, vai buscá-lo quando ele morre. Nem mesmo aí temos o paraíso. Mas temos uma coruja que expele uma bola de pelos, aquela, que nós carregamos dentro de nós a vida toda. E então ele pergunta: o que temos lá? precisamos morrer para saber.

Ele que passou a vida com medo do fundo, do escuro, da morte, e falava com os mortos, se encontra com ela, como todos nós, pois a morte está na vida e a vida na morte. Viver é beautiful, mas a vida não é beautiful, é no máximo, biautiful, uma aproximação, uma tentativa, de acertar. 

Trailer do filme:


Alejandro González Inárritu nasceu em 1963 na Cidade do México, México.

Música de Gustavo Santaolalla

Gustavo Santaolalla nasceu em 1951 em El Palomar, Argentina. É músico e compositor. 

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