Direção: Petrus Caryri - 2011
Duração: 80 min
País: Brasil
Prêmio melhor filme e roteiro no Cine Ceará
O filme nacional do cineasta Petrus Caryri me lembrou muito Lars
Van Tries. Inclusive uma cena no filme de uma mulher num rio, muito parecido com
Melancolia.
Fátima (Juliana Carvalho) retorna ao sertão do Ceará com um filho natimorto para que
receba a benção da avó (Zezita Matos), que assim o desejava, e para enterrá-lo perto da avó. O
filme não tem música, ele é todo com os sons do lugar, vento, passos no chão de
terra e pedras, os bichos, a rede que range, e a Rosa dos ventos que parece
marcar o tempo com aquele pêndulo que bate, bate, bate. Tudo muito parado.
A mãe
mora ali, é uma vila abandonada, e ela ficou, não tem mais ninguém, só
passantes. Ela espera ainda o marido que se foi há 20 anos, e ninguém sabe dele,
se está vivo ou morto. Os rituais, cobrir o espelho, que depois a filha descobre
para se olhar, velas, a avó dá um banho no natimorto com ervas, batiza-o com o
nome do avô. Mas não o enterra. Nina-o, e diz para a filha que tudo tem seu
tempo, que ela está apressada demais para ir embora. Aparecem 04 sertanejos, que
num ritual almoçam, tomam vinho. Eu me lembrei dos quatro cavaleiros do
apocalipse, mas pode ser que haja alguma tradição no Ceará que eu não conheço,
uma crença, lenda. Finalmente a filha se cansa, pega o natimorto
enquanto a mãe dorme, e o leva para enterrar no altar da igreja destruída, onde
tem o nicho da santa com ela lá. Coloca o natimorto neste nicho e o cobre com
barro, ficando a santa junto. E vai embora, no caminho encontra os quatro
sertanejos, começa a correr como se quisesse passar por eles. O filme termina.
Solidão, falta de vida, de
entorno, tudo parado, morto, marcado por um tempo que parece que não passa. Uma
espera que não acaba mais, destinos entrelaçados. Pura melancolia. Apenas se
espera morrer.
A mãe que não quer enterrar o filho, um morto insepulto,
uma filha que quer enterrá-lo. Um morto insepulto me faz pensar num morto vivo
ou numa vida morta. O neto está tão morto quanto a avó, pode ficar ali com ela.
Ele seria uma possibilidade de continuar a viver para ela, mas já nasceu morto.
Assista ao trailer:
Petrus Caryri nasceu em 1977 em Fortaleza, Ceará.
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