sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

FILME: MÃE E FILHA - 2011


Direção: Petrus Caryri - 2011
Duração: 80 min 
País: Brasil 

Prêmio melhor filme e roteiro no Cine Ceará



O filme nacional do cineasta Petrus Caryri me lembrou muito Lars Van Tries. Inclusive uma cena no filme de uma mulher num rio, muito parecido com Melancolia. 
Fátima (Juliana Carvalho) retorna ao sertão do Ceará com um filho natimorto para que receba a benção da avó (Zezita Matos), que assim o desejava, e para enterrá-lo perto da avó. O filme não tem música, ele é todo com os sons do lugar, vento, passos no chão de terra e pedras, os bichos, a rede que range, e a Rosa dos ventos que parece marcar o tempo com aquele pêndulo que bate, bate, bate. Tudo muito parado. 

A mãe mora ali, é uma vila abandonada, e ela ficou, não tem mais ninguém, só passantes. Ela espera ainda o marido que se foi há 20 anos, e ninguém sabe dele, se está vivo ou morto. Os rituais, cobrir o espelho, que depois a filha descobre para se olhar, velas, a avó dá um banho no natimorto com ervas, batiza-o com o nome do avô. Mas não o enterra. Nina-o, e diz para a filha que tudo tem seu tempo, que ela está apressada demais para ir embora. Aparecem 04 sertanejos, que num ritual almoçam, tomam vinho. Eu me lembrei dos quatro cavaleiros do apocalipse, mas pode ser que haja alguma tradição no Ceará que eu não conheço, uma crença, lenda.  Finalmente a filha se cansa, pega o natimorto enquanto a mãe dorme, e o leva para enterrar no altar da igreja destruída, onde tem o nicho da santa com ela lá. Coloca o natimorto neste nicho e o cobre com barro, ficando a santa junto. E vai embora, no caminho encontra os quatro sertanejos, começa a correr como se quisesse passar por eles. O filme termina. 

Solidão, falta de vida, de entorno, tudo parado, morto, marcado por um tempo que parece que não passa. Uma espera que não acaba mais, destinos entrelaçados. Pura melancolia. Apenas se espera morrer.
A mãe que não quer enterrar o filho, um morto insepulto, uma filha que quer enterrá-lo. Um morto insepulto me faz pensar num morto vivo ou numa vida morta. O neto está tão morto quanto a avó, pode ficar ali com ela. Ele seria uma possibilidade de continuar a viver para ela, mas já nasceu morto.  

Assista ao trailer:





Petrus Caryri nasceu em 1977 em Fortaleza, Ceará. 

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