domingo, 29 de dezembro de 2013

LIVRO: A INFÂNCIA DE JESUS - J.M. COETZEE



COETZEE, J.M. Companhia das letras, 1ª Ed. 2013
Tradução: José Rubens Siqueira
304 páginas. 

A SOCIEDADE IDEAL, ETERNA UTOPIA.

Uma sociedade ideal, Novilla, onde as pessoas não tem mais desejos, pulsões, tudo é controlado, não há emoções, não há sexualidade, nem erotismo. Só há uma língua, o espanhol que todos devem aprender. Quando se chega ao local é preciso esquecer tudo, você não tem mais história ou passado. É um local para recomeçar tudo, e sem ter que sofrer. As pessoas são renomeadas, recebem uma moradia e um emprego. Chegam ali os recém nomeados: Simon um homem de meia idade e David um menino.

Uma sociedade perfeita, mas onde nada acontece. Tudo é previsto, não há sentimentos, paixões, sem conflitos. Lendo é que se percebe o quanto seria monótono uma vida assim, sem sabor, sem sal. As pessoas sonham com uma vida assim, onde não se sofre, onde não haja conflitos, mas isto seria deixar de viver.
Uma única língua, me lembra a tentativa com o Esperanto, mas que não funciona, pois uma língua traz em si toda uma cultura e um jeito de falar e de se expressar. Ao se colocar uma única língua se limita as trocas, e a sociedade não muda.

A alimentação é suficiente, mas de poucas opções, sem o prazer da comida, os sabores. As moradias são bem parecidas, poucos móveis, pouca roupa, tudo é regulado. Estamos diante da apatia.

É contra tudo isto que Simon e David irão se rebelar e lutar contra. Simon pensa em comidas, fica atônito diante da frieza das mulheres, não compreende que as pessoas não queiram fazer nada para melhorar ou mudar algo. Ele já não sabe o que fazer, como se comportar e aos poucos vai até se acomodando, mas não David.

E é aí que talvez vamos ter uma boa nova! Além de paralelos que surgem rapidamente com a vida de Jesus durante toda a obra. É Davi que vai questionar e não aceitar a ordem das coisas, ele quer mudanças.

Então talvez compreendamos que recomeçar tudo de novo é justamente fugir do conhecido e fazer algo diferente dos outros. É enfrentar a vida com todos seus sabores e dissabores.

Esta sociedade também me lembra muito os modelos totalitários e o livro 1984. Da maneira que o mundo se conduz hoje, sem ao menos perceber, estamos ficando cada vez mais iguais, pois consumimos exatamente as mesmas coisas, só compramos o que está em evidência ou é ofertado pelo marketing e pela mídia, nos comportamos como esperam que o façamos do contrário somos excluídos, não é de bom tom, não é politicamente correto. A cegueira vai tomando conta, e fico muito assustada a cada vez que vejo uma fila se formando na noite anterior diante de shoppings para comprar o mais novo lançamento tecnológico que será vendido no dia seguinte. A cada vez que me criticam por que meu celular é do modelo antigo, apesar de funcionar muito bem ainda, e que vou ter que trocar quando não puder mais usar pois não será mais compatível com a tecnologia atual, ou seja, sou obrigada a fazê-lo. A cada vez que entro numa livraria e nunca encontro um livro que não esteja na lista dos mais vendidos e tenho que recorrer ao sebo e as pessoas me olham de forma estranha por estar procurando este tipo de livro e não aqueles de auto ajuda ou os últimos lançamentos.

A história se passa no mundo atual, mas é como termos um novo messias que venha nos ensinar a ver as coisas de outra forma, por que por incrível que pareça, ainda precisamos de um messias, um líder, ou da mídia, só que o primeiro tenta nos fazer enxergar, enquanto que os outros tentam nos fazer viver em Novilla.



J.M. Coetzee é um escritor sul-africano. Nasceu em 1940 na Cidade do Cabo e recebeu o Nobel de Literatura em 2003.

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