sexta-feira, 25 de abril de 2014

LIVRO: A HISTÓRIA DE UMA VIÚVA - JOYCE CAROL OATES



Oates, Joyce Carol. Objetiva, 2013 - Selo Alfaguara
Tradução: Débora Landsberg
453 páginas
Título original: A Widow's Story

Joyce Smith, esposa de Raymond Smith, casados por 47 anos, uma vida, e de repente, ela está viúva, sem esperar por isto apesar de ter havido o que ela supos serem sinais que isto iria ocorrer, mas não era previsível. Ela retorna de uma viagem e Ray está com uma gripe forte, ela o leva para o Hospital de Princeton que é o mais perto, pneumonia, ele fica internado, mas melhora, e já há a previsão para a alta quando ele sucumbe a uma infecção secundária e vem a falecer.

Choque, culpa, vazio, raiva, solidão, perder o sentido de viver, os sintomas do luto, tudo que vivemos nestes momentos de perda Oates irá nos relatar com franqueza neste livro. Toda sua dor, sua desorientação, as noites insones, a falta de energia, os amigos, as burocracias necessárias neste momento. Ela está exaurida, sofrendo, mas tem que continuar a vida.

Para quem passa uma vida ao lado de outra se ver de repente só é algo que desorienta totalmente ao que fica, ele não compreende, não sabe o que fazer, e irá a todo momento pensar: Ray faria isto, Ray faria aquilo, ele diria isto ou aquilo, o fantasma ronda, fica ali. O desejo de morrer junto, do suicídio, que Oates nos relata sob a forma de um basilisco que a persegue, aquele espécie de lagarto que zomba dela. Todo lugar onde se vai há dor e culpa: na última vez que estive aqui Ray estava junto, é estranho estar ali sem ele, ou, nunca estive aqui sem Ray, é horrível pensar que ele nunca conhecerá aquele lugar, pior ainda se ele desejava conhecer e agora não pode mais.

Ouvir condolências, ouvir as pessoas falando dele, dizendo que sentem muito, é horrível, mas se não ouvir também será horrível. Ficar em casa é ruim, mas não estar em casa também. Tudo na casa o recorda, onde compraram um quadro, a música que costumavam ouvir, ele estaria sentado ali, mas não está mais.

Sua culpa, ela se acusa de não ter feito mais, de não ter levado Ray para outro hospital, e pior, de ter sido ela a levá-lo àquele, e vê sua culpa projetada nos gatos que a estranham e se afastam como se eles soubessem que foi por culpa dela que Ray não está mais ali.

Um relato pungente sobre como realmente se sente uma pessoa de luto, o processo de separação daquele que perdemos, a parte que ele leva com ele e que não recuperamos mais, e teremos que construir algo novo no lugar. Até chegar um tempo em que as coisas se ajeitam, a separação ocorre, e a pessoa que perdemos poderá morrer, mas será sempre lembrada e amada.

Me chamou a atenção as questões culturais também, de como nos Estados Unidos após o falecimento de uma pessoa ela recebeu inúmeras cartas de condolências e presentes como flores, cestas de comida, de sucos, e como se desesperava com tudo isto. E depois ter que responder a todas estas cartas. E no caso de Oates a dificuldade que ela tinha de ouvir as pessoas falarem do marido, perguntarem dele ou falarem de sua perda, sendo que muitas vezes as pessoas anseiam por isto, por serem acolhidas, o que mostra que cada um tem sua forma de viver o luto.

Uma bela homenagem ao seu marido e a si mesma, assumindo sua dor e todas as dificuldades e desorientações, culpas e raivas que se sente no hora da perda de alguém que amamos muito, e de como aos poucos ela irá voltar a vida. Sofra por Ray, ele merece. Não só ele merece, ela também, pois é necessário viver o luto, chorar, sofrer, passar por ele para poder continuar depois.

Joyce e Raymond

Joyce Carol nasceu em 1938 em Lockport, New Your, EUA. 

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