terça-feira, 31 de dezembro de 2013

FILME: IRIS - 2001


Direção: Richard Eyre - 2001
Duração: 91 min
Roteiro: Richard Eyre e Charles Wood
País: Reino Unido - Estados Unidos 

Baseado no livro Iris - A memoir and Elegy for Iris de John Bayley 

Trata-se da vida de Iris Murdoch, escritora e filósofa irlandesa. (1919-1999).

O filme se passa em dois momentos, nos mostra sua juventude (Kate Winslet) e quando conhece seu marido John Bayley (Jim Broadbent)  e sua velhice (Judi Dench) quando adoece, ela tem Alzheimer.

Em contraponto a toda sua vitalidade e juventude, determinação, coragem, quando ela tinha um mundo somente seu em sua mente e que ela tentava passar para os livros, a decadência mental, justo ela, que tinha as palavras como a coisa mais importante em sua vida.

O marido ao seu lado, mas o que aprecio nele é que em certo momento consegue expressar seu ódio por tudo aquilo e por ela. Filmes como Amor e Vulcão não demonstram isto tão claramente, apesar deste ódio estar ali. Odiamos a pessoa que ficou doente, que está nos deixando, por ela estar naquele estado, odiamos por coisas que ficaram sem dizer. A mesma raiva do luto.



Fotos de Iris Murdoch quando jovem e com John


Richard Eyre nasceu em 1943 em Barnstaple, Devon, Inglaterra.

Trilha sonora de James Horner


James Horner nasceu em 1953 em Los Angeles, EUA. É um compositor

FILME: FRANÇOISE DOLTO, PELO AMOR DAS CRIANÇAS - 2008


Direção: Serge Le Péron - 2008
Duração: 98 min 
Título original: Françoise Dolto, le désir de vivre 
País: França 

Assisti o filme em francês, seu título é Françoise Dolto, le désir de vivre , o desejo de viver.

Belíssima homenagem e biografia desta mulher que revolucionou a psicanálise infantil.

Através de dois casos de crianças traumatizadas pela guerra, o filme retrata seu trabalho. É a época do começo, ainda no hospital onde o diretor instigado por uma enfermeira fica irritado com seu trabalho até que percebe uma cura. Anos mais tarde já é a Dolto (Josiane Balasko)  que conhecemos.
Uma das crianças traumatizadas retorna já adulto para falar o com ela e agradecer sua cura e então ela diz: o que te curou foi o teu desejo, é preciso desejar viver.



É este desejo que ela tenta devolver às crianças e o fez até sua morte.

Há uma cena terrível que me tocou muito. Uma criança entra no quarto onde a irmã está morta, quer vê-la e a mãe a impede alegando que foi por sua culpa que a irmã está morta, pois ela não rezou como devia, o quanto seria necessário, pois Deus a teria ouvido se o fizesse corretamente, e por isto sua irmã morreu.
Pensem na carga de culpa que esta criança acaba de receber e o que isto trará para sua vida. As vezes os pais dizem coisas que são terríveis.

Um dos meninos, o que ela curou, ouviu quanto tinha em torno de 2 a 3 anos as pessoas chamarem sua mãe de puta e rirem e denegri-la. O outro culpa o pai por ter obrigado sua mãe a levar no carrinho de bebê, embaixo dele, armas para a resistência. Ela acaba presa e morreu num campo de concentração. Ele sonha com isto, com o rosto da mãe enquanto os homens colocavam as armas e diz que eles não se importavam com ele, o bebê.



Por outro lado, há uma cena onde seu filho, de Dolto, reclama sua atenção e ela lhe diz: marque uma sessão! o pai, seu marido, faz de tudo para deixá-la trabalhar em paz afastando as crianças. O preço que se paga pela dedicação a algo? ou seria possível não ser assim?


Françoise Dolto médica e psicanalista francesa


Serge Le Péron nasceu em 1948 em Paris 

FILME: O DIA EM QUE ME TORNEI MULHER - 2000


Direção: Marzieh Makhmalbaf - 2000
Duração: 78 min 
Título original: Roozi ke zan shodam
Roteiro: Mohsen Makhmalbaf 
País: Irã 


Irã - Apesar das restrições religiosas e culturais, o filme abrange mais, ao tratar do feminino e da mulher.

Há algo que diz que a mulher é sempre o segundo sexo, como dizia Beauvoir. E novamente se vê a falta da união entre as mulheres. São três mulheres, uma criança que completa 10 anos, uma jovem casada, e uma velha.
A criança Hava, é o dia do seu aniversário de 10 anos, pela tradição a partir deste dia ela é mulher. Não tem nada a ver com corpo, menstruação, ou psiquismo, é pela cultura. E portanto não pode mais brincar com os meninos, nem sair de casa e tem que usar o véu. Dilacera o coração ver seu amiguinho pedir para ela ir brincar com ele, tomar sorvete, e a menina não ousando confrontar a mãe e a avó, implorando para ir. Para nós, ela ainda é uma criança. Tudo bem, criança tem sexo também, mas a constituição do ser mulher ainda não se fez, está em construção. É uma menina. A avó se recorda de seu nascimento, ela nasceu ao meio-dia, então pode brincar até o meio dia. Ensinam-a a ver a hora com um pauzinho enfiado na terra, e a sombra. E lá vai ela. Colocando a vareta a todo instante, e olhando a sombra diminuir, diminuir, diminuir. Até que sua infância termina. Agora, é uma mulher. E terá que ficar em casa até que lhe arrumem um marido. Ou seja, a mulher não tem liberdade nenhuma, está ali a espera do marido. Mas será que um marido a deixará ser mulher?



- A jovem, casada, ela ama andar de bicicleta. E lá vão elas, várias, todas de preto, usando o véu. Não estou brincando, mas parece um enterro de bicicleta. Não há alegria, a bagunça que as mulheres costumam fazer juntas, pelo menos no Ocidente. Rir e falar muito. Vão quietas, pedalando, e olhando o mar. Surge o marido à cavalo, ele não aceita aquilo. Pergunta para as outras se elas não tem marido. Quer que sua esposa desça da bicicleta e volte para casa. Ela insiste. Ele volta com o mulá.  Ele tenta convence-la, diz que a bicicleta é obra do diabo, que é pecado o que ela está fazendo. Seu rosto, a angústia, ela persiste, e a cada vez que se aproximam ela acelera a bicicleta. O marido então diz que quer o divórcio. Ela aceita. Aí vem o avô, depois o pai, e finalmente os irmãos, que lhe barram o caminho e tomam sua bicicleta a deixando ali. Nem mesmo com o divórcio...




- A velha chega de avião numa cadeira de rodas, recebeu uma herança. Chama os meninos carregadores e vão para o Shopping. Ela quer comprar tudo que nunca pode ter na vida. Seus dedos estão cheios de nós coloridos, de tudo que tem que comprar. Primeiro uma geladeira, ela nunca tece água gelada, ela quer água gelada. E por aí vai, muitas compras. Depois levam tudo para uma praia, para esperar as balsas que levarão tudo até o barco. Duas mulheres de preto chegam, e lhe pedem as coisas. Por que assim elas poderiam casar. A velha diz não, que sempre quis ter tudo aquilo. Ela usa um véu branco, com flores pretas. As mulheres lhe contam da outra que os irmãos barraram na estrada. A mulher criança olha para tudo aquilo, de mão dada com a mãe. A velha fica com um nó no dedo, e não lembra o que é, ninguém consegue ajudar: máquina de costura? Não! o último nó, provavelmente, a liberdade, a liberdade de ser.




Somente a velha quase chega lá. Mas é tarde. A vida se foi. 


As três fases da vida da mulher: infância, adulta e velha retratados de uma forma bela, dentro do contexto político, social e religioso do Irã. 


Marzieh Makhmalbaf nasceu em 1969 em Teerã, Irã. 

FILME: A FILHA DO PAI - 2011


Direção: Daniel Auteuil, 2011.
Duração: 107 min 
Título original: La fille du puisatier 
País: França 

Adaptação do romance de Marcel Pagnol numa regravação. 

La fille du puisatier. O título em português chega a estar mais de acordo, pois trata-se de um filme quase antropológico. Ele trata do nome. A filha do puisatier, ou seja, quem constrói poços artesianos, Patricia (Astrid Bèrges-Frisbey) engravida de um rapaz (Nicolas Duvauchelle) de uma família rica que vai para a guerra. O pai (Daniel Auteuil) procura a família dele, mas é mal recebido pela mãe e também pelo pai. Vai embora e manda sua filha  para a casa da irmã, por causa da vergonha e do falatório.

Nasce um menino e isto mexe com ele, um homem. Mas... e o nome? bom ele recebeu o nome da mãe, mas o nome da mãe é o nome do pai. E aí começa toda a questão do nome e da filiação.
O avô então vai buscar aquele que leva seu nome. Ele que só teve filhas mulheres, tem neste bebê o primeiro a ter seu nome para uma  descendência.
O pai do bebê é dado como morto, e então a família dele tenta se aproximar do neto. A estas alturas o avô materno já tomou "posse", está ciumento, mas acaba aceitando a presença dos avós paternos.
Felipe (Kad Merad) , que trabalha com ele, havia desejado se casar com a filha e teve que desistir diante da negativa dela por estar apaixonada por outro. Porém, ele ainda quer casar com ela e dar seu nome à criança.

Quantos nomes!
Mas irá ocorrer algo que vai alterar tudo isto, o rapaz não morreu na guerra e retorna. O pai dele então pede a mão dela em casamento para seu filho que inicialmente recusa por achar que ele estava fazendo isto por obrigação, mas ele diz que não. Então... agora o bebê passa a ter o nome do pai e do outro avô.

Felipe decide se casar com a irmã dela, e ao invés de pedir sua mão ao pai, a pede ao cunhado. São as relações de parentesco que ditam as regras.
Uma história de amor entre pessoas diferentes, a segunda guerra mundial e o que ela pode trazer de mudanças.
Lembrando que na França o nome é o sobrenome e principalmente o primogênito sempre será chamado pelo sobrenome, enquanto outros irmãos serão chamados pelo primeiro nome.


Daniel Auteuil nasceu em 1950 em Argel, Argélia.

Trilha Sonora - Alexandre Desplat 

FILME: ZELIG - 1983



Direção: Woody Allen, 1983
Duração: 79 min 
Roteiro: Woody Allen 
País: Estados Unidos 

Woody Allen nos apresenta um pseudo-documentário, onde aparecem inclusive personagens conhecidos como Susan Sontag, Saul Bellow entre outros para falar sobre a vida de Leonard Zelig, um homem-camaleão. É uma ficção, drama, sátira.

Um homem, Leonard Zelig, que com medo de não agradar aos outros transforma-se no outro feito um camaleão, acho até que é mais que isto, pois um camaleão se iguala ao meio ambiente para não ser encontrado, enquanto que Zelig quer ser amado pelo outro. 

Perde sua identidade, não sabe quem é, não tem opinião. Exatamente como a maioria das pessoas, que para pertencer, não ser excluído entra na roda e dança como todos. 
Depois, é o outro extremo, ele quer se afirmar e então só a opinião dele é que vale, é a verdade. Como a outra maioria das pessoas,  para se auto-afirmar, se sentir forte e poderoso. 

Num momento o povo o ama, no outro o odeia, conforme atenda ao que todos desejam, acham correto, é moral. Por ir contra a moral com o adultério, fraudes, passa a ser odiado. Com um feito que dá glória ao povo, atravessar o Atlântico em tempo recorde, volta a ser amado. 

Enquanto isto a mídia manipula, dando ênfase a coisas absurdas ou minímas. Como sempre faz. 

E o futuro é este, doutores, psiquiatras e pacientes. E ele se sente salvo pelo amor de uma mulher. É amado. 

Um retrato tragicômico do que somos! Todos nós queremos ser amados, mas também queremos ser autônomos, então viramos pequenos camaleões.


Assista ao trailer





Woody Allen nasceu em 1935 em Nova Iorque. É cineasta, roteirista, escritor, ator e músico. Foi indicado 23 vezes ao Oscar e ganhou três vezes o de melhor roteiro original e uma de melhor diretor. 


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

LIVRO: CORRA, A VIDA TE CHAMA - Memórias - BORIS CYRULNIK



CYRULNIK, Boris. Rocco, 2013
Tradução: Rejane Janowitzer
240 páginas

A MEMÓRIA TRAUMÁTICA

É o segundo livro de Cyrulnik que leio. O primeiro foi "Autobiografia de um espantalho" editado pela Martins Fontes, sobre a resiliência diante de traumas de infância. Agora neste ele conta suas memórias da Segunda Guerra, judeu, seu pai foi para o front, depois para um campo e finalmente deportado. Sua mãe foi presa dois dias depois de deixá-lo na Assistência para que não fosse preso junto com ela que morreu  em Auschwitz.

Ele tinha em torno de 05/06 anos, estava órfão, e sendo caçado para morrer. Após a guerra ele tinha fragmentos de memória, e se viu diante do que todos passaram, ninguém queria ouvir. Foram quarenta anos de silêncio, até que o contexto, o entorno estivesse pronto para ouvir.

"Uma memória traumática não permite construir uma representação de si tranquilizadora, já que, quando a evocamos, fazemos voltar à consciência a imagem do choque."

A cisão traumática, a cripta que se forma. Aprende-se a calar quando o outro não quer ouvir, calar na guerra para se salvar, calar depois para não ser excluído. Mas, todo segredo, tudo que fica sem representação, ou que não pode ser verbalizado, acaba aparecendo para o outro, que estranha algo em nós, e interfere em nossas relações.

Qualquer sinal, traço, traz o trauma de volta, e isto não significa que seja algo trágico, como ele mesmo cita: "a menor banalidade da vida desperta o dilaceramento: ' a neve que nos faz pensar nos Natais na montanha faz voltar em mim a imagem dos cadáveres congelados de Auschwitz..."

O traumatizado se sente excluído, ele não é como os outros. Cria-se e constrói-se sua história, e a conta para si mesmo, ele tinha sonhos e devaneios, usava suas encenações para poder falar, colocar palavras onde não as tinha.

"Sofrer com o real não tem absolutamente o mesmo efeito que sofrer com a representação do real." No momento, quando acontece, é ato, ação, somente depois o trauma se instala, somente depois juntamos o que ocorreu e as representações.

É conhecido a situação de que os sobreviventes não podiam falar, por não serem ouvidos. As pessoas não acreditavam nelas. Houve todo um tempo de negação. E quando se falava, o que se ouvia é que eles também tinham sofrido, na fila para comprar manteiga ou cigarros.Mas quando o outro não consegue imaginar o que se passou, ele vai comparar às suas pequenas misérias.

Cyrulnik é psiquiatra, psicanalista e se dedica aos traumas e a resiliência. Ele diz que nasceu duas vezes, a primeira no dia 26 de Julho de 1937 em Bordeaux, a segunda quando ele foi preso pela Gestapo. Da primeira ele não se lembra, mas é obrigado a acreditar, da segunda vez, ele se lembra.

É também responsável por um grupo de pesquisa em etologia clínica no hospital de Toulon, matéria que ele ensina. Deve-se a ele o conceito de Resiliência. Foi premiado em 2008 com o Prêmio Renaudot.



FILME: SEDE DE VIVER - VAN GOGH - 1956



Direção: George Cukor, Vincente Minnelli - 1956
Duração: 122 min 
Título original: Lust for life
Roteiro: Irving Stone e Norman Corwin
País: Estados Unidos 

Adaptação da novela homônima de Irving Stone. Baseado no livro Cartas à Théo de Vincent Van Gogh.

Oscar de melhor ator coadjuvante para Anthony Queen e Globo de Ouro para Kirk Douglas como melhor ator dramático.


Vincent Van Gogh, um dos maiores pintores impressionistas Holandês.

Van Gogh (Kirk Douglas) nunca se encontrou, vivia com seus pensamentos e verdades, não aceitava os outros e suas idéias, frágil perante recusas e frustrações, queria impor sua verdade. Se amava não conseguia aceitar que o outro não podia amá-lo. Afasta-se, solitário. Viciado em absinto, bebida fortíssima que pode causar alucinações.
Por outro lado, exceto por seu irmão Theo (James Donald) , sua família o critica e pede que se vá por que ele não corresponde ao socialmente aceito, cria problemas para a família, sobre o que os outros comentam. Dizem que ele não vai a missa, falam de suas roupas e de seu modo de ser. Ele por não ligar para o que falam, muitas vezes acaba sendo indelicado, exigindo poder se expressar e dizer o que pensa.



Pinta o externo, o que vê, tenta colocar nas suas telas o sentimento, se expressar.

Gauguim (Anthony Queen) foi um grande amigo, passaram um tempo juntos até se desentenderem. Acaba cortando a própria orelha e pede para ser internado. E quando achou que deu, foi embora.



Assista ao trailer:


                                 


George Cukor nasceu em 1899 em Lower East Side, New York, EUA e faleceu em 1983 em Los Angeles, Califórnia, EUA

Vincente Minnelli nasceu em 1903 em Chicago, Illinois, EUA e faleceu em 1986 em Beverly Hills, Califórnia, EUA.

Trilha sonora de Miklós Rózsa

Miklós Rózsa nasceu em 1907 em Budapeste, Hungria e faleceu em 1995 em Los Angeles, Califórnia, EUA. É um compositor.

FILME: UMA CRUZ A BEIRA DO ABISMO - 1959



Direção: Fred Zinnemann - 1959 
Duração: 149 min 
Título original: The nun's story 
País: Estados Unidos 

Adaptação do livro homônimo de Kathryn Hulme de 1956. 

Em francês o filme se chama: Au risque de se perdre. - Sob o risco de se perder.

O personagem é real, trata-se de Gabrielle Van Der Mal -Marie Louise Habets(Audrey Hepburn) , filha de um cirurgião belga, que mora em Bruges. Ela se identifica com o pai, e seu maior desejo é poder trabalhar como voluntária e enfermeira no Congo, África. A única forma de poder fazer isto na época é entrando para um convento e se tornando uma missionária.


Seu pai tenta alertá-la sobre a vida religiosa, mas ela não o ouve, e então entra para a vida religiosa.
O filme retrata muito bem os ritos de passagens e de desidentificação pelo qual ela vai passar. É um apagar de si. Primeiro os objetos, ela tem que entregar tudo que leva consigo. Depois as roupas, o hábito que vai mudando a cada passagem, sinalizando os graus. O corte dos cabelos, e o silêncio. Ajoelhar-se, esconder as mãos, só o rosto é visível mas os olhos devem olhar para baixo, prostar-se no chão. Até receber outro nome. Sem passado, sem história, sem lembranças, sem memória. É possível? Censurar-se constantemente, penitências, sacrifício.



Seu desejo é mais forte, é orgulhosa e tem iniciativa. Ela vai para o Congo, mas adoece. O médico lhe dirá que isto é uma somatização.
Quando estoura a segunda guerra e ela fica sabendo que seu pai foi morto, ela abandona o hábito e entra para a resistência.

Por isto gosto do título em francês. Ela não se perdeu, não aceitou se apagar, não consegue e entra em conflito que culmina na doença. Lacan nos diz que toda doença é algo que não se consegue falar, são palavras não ditas.

Marie Louise Habets nasceu em 1905 em Egem, Flandres - Bélgica. Em 1926 entrou para as Irmãs de Caridade de Jesus e Maria onde depois tomou o nome de Irmã Xaverine. Quando seu pai foi morto pelos nazistas deixou a ordem e se envolveu com a resistência belga. Após o fim da guerra foi enviada para a Alemanha para cuidar dos belgas que estiveram nos campos de concentração. Ela conheceu Hulme que a encontrou durante uma depressão por se sentir um fracasso em relação aos seus votos.



Você encontra este filme no Assistir filmes Online Toca dos Cinéfilos:
http://filmesonlinetocadoscinefilosvideos.blogspot.com.br/2013/08/uma-cruz-beira-do-abismo-1959-direcao.html

Assista ao trailer


Fred Zinnemann nasceu em 1907 em Rzeszów na Polônia e faleceu em 1997 em Londres, Inglaterra. 

FILME: VIOLETA FOI PARA O CÉU - 2011




Direção: Andrés Wood - 2011
Duração: 105 min 
Título original: Violeta se fue a los cielos. 
Roteiro: Andrés Wood - Guillermo Calderón - Rodrigo Bazaes - Eliseo Altunaga 
País: Chile 

Vencedor de Sundance 2012 na categoria cinema mundial. 

Violeta Parra

Era uma mulher voluntariosa, impetuosa, quer suas vontades. Ela sofreu muito, seu pai era alcoólatra, uma mãe ausente, perde um filho, amores que não dão certo.
Canta maravilhosamente bem, pinta, esculpe e tece telas. Conta a história de seu povo, reúne canções folclóricas.



Ela canta com dor, mas nenhuma arte consegue expressar o que ela sente. Após a partida, a ruptura final com seu amor, ela não suporta e se suicida.
A arte nasce da dor, da tentativa de falar, do vazio e do excesso também.



Violeta (Francisca Gávilan)  quer chamar a atenção, como toda criança abandonada, que não recebe o afeto que precisa e deseja. Ela brinca com seu filho se fingindo de morta, assusta, quer ver o que o outro faria diante de perdê-la, quer chamar a atenção pela ausência. Quando discute com seu namorado, se joga no chão, fingindo desmaiar, e como não funciona, se levanta e vai embora.

Violeta se defendia de uma infância difícil, triste, onde precisou cuidar de si mesma, a cena mais pungente do filme é ela criança se lambuzando toda com as frutinhas que come. Está só. Ninguém virá limpar a sua boca.
Pela falta do outro então sou também o outro. Eu me cuido, eu faço, eu aconteço. Ela  perde Gilbert (Thomas Durand) por não saber compartilhar e deixá-lo ser ele mesmo. Ali ela é o masculino, ele serve para carregar seus quadros, pintar o que ela manda fazer. Quando foge ao seu controle e ele se vai, ela desmorona.



A música sobre o Gavião e a Galinha, onde a mulher seria sempre refém do homem, a presa. Só que Gilbert nunca foi este gavião como ela sente e pensa.

Assista ao trailer:


Andrés Wood nasceu em 1965 no Chile.

Trilha Sonora 

FILME: FRIDA - 2002




Direção: Julie Taymor - 2002
Duração: 123 min 

País: Estados Unidos 

Baseado no livro da Hayden Herrera sobre a biografia de Frida.

A história de Frida Kahlo, eu já a conhecia, li seu diário, que também recomendo.

O filme fala de sua adolescência, o acidente que mudou sua vida, todo seu sofrimento físico, até sua morte, mas também de toda sua vontade de viver e de sua arte.

Novamente temos uma mãe que não aceita como é a filha. Ela não é submissa, não segue sua religião, o que vão pensar os outros? as despesas devido seu acidente são altas. A mãe declara que ela não é bonita e ainda lhe diz: Quem sabe se um dia você casa! E no entanto Frida  é uma mulher bela, marcante, exuberante até.
Quando Frida (Salma Hayek)  se casa com Diego Rivera (Alfred Molina) , pintor, e que é divorciado isto é um escândalo para sua mãe. O pai a ama muito e a incentiva. Novamente a rivalidade da mãe com a filha, como com Camille Claudel e agora Frida Khalo. Uma  mãe que quer que a filha siga seu desejo, seja ele algo que ela nunca conseguiu realizar para si mesma, ou seja, ser como ela, o destino que se impõe as mulheres na sociedade em que vivem. Não conseguem ver a filha brilhar mais. Por outro lado, elas tem pais que a defendem, e incentivam. Chego a pensar que elas são o "filho homem", aquele com o qual o pai se identifica e o projeta no futuro.



Frida pinta o que não consegue falar. Sua dor, sua solidão. Se volta para si mesma, não reflete o exterior, assim como Claudell.



Seus quadros são ela mesma, seus desejos, seu sofrimento. Mas apesar de suas limitações físicas, Frida tem uma vida intensa e cria muito, nos deixa um legado fantástico e rico.
Recomendo também a leitura de seu diário.




Assista ao trailer





Julie Taymor nasceu em 1952 em Newton, Massachussets, EUA.

Trilha Sonora de Elliot Goldenthal




Elliot Goldenthal nasceu em 1954 em New York, EUA. É um compositor e companheiro de Julie Taymor. 

FILME: CAMILLE CLAUDEL, 1915 - 2013


Direção: Bruno Dumont - 2013
Duração: 95 min 
Roteiro: Bruno Dumont
País: França 

Continuação da vida de Camille Claudel, porém produções separadas, diretores e atores.

O filme começa com Camille ( Juliette Binoche) já no hospício. Um detalhe interessante é o que o filme foi rodado num hospício real, onde os internos atuaram.



Ela permanece com a mania de perseguição, acredita que querem envenená-la, roubar suas obras, as que ela mesma destruiu. No mais, era calma e lúcida. O médico chega a dizer ao irmão que ela pode sair e retomar uma vida normal, mas a mãe nunca quis e nem seu irmão Paul Claudel (Jean-Luc Vincent)  que era o único a visitá-la, nem mesmo transferi-la para um local mais próximo de Paris sua mãe aceitou.






Quando ela ia para a consulta com o médico, ele a ouvia, e ela repetia sempre a mesma coisa, ela se fixou no episódio, no que houve com Rodin. Ele nunca falava com ela, só a ouvia.
Era vigiada, sempre havia uma freira que surgia em algum momento em todos os lugares. Não podia escrever cartas, exceto as autorizadas pela família. Não podia escrever a uma amiga. Uma vida de tédio, sem ninguém.



O filme retrata muito bem este tédio, o morno, parado. O dia a dia dela. Sentimos isto ao assistir ao filme.
Ela nunca saiu, morreu interna. Foram 30 anos reclusa.



Se fosse no mundo atual, Camille poderia ser uma grande escultora, reconhecida em vida, mas ainda assim resta uma questão, será que ela conseguiria, com a mãe que teve? ou também sofreria psiquicamente as consequências?

Assista ao trailer



Bruno Dumont nasceu em 1958 em Bailleul, Nord, França. Estudou e lecionou filosofia antes de fazer filmes. 

FILME: CAMILLE CLAUDEL - 1988



Direção: Bruno Nuytten - 1988 
Duração: 166 min
Roteiro: Bruno Nuytten e Marilyn Goldin 
País: França 


Baseado no livro de Reine-Marie Paris

Ganhou o César de melhor filme de 1989.

Paris - 1885

Ela tinha um dom maravilhoso, mas viveu em uma época onde as mulheres não podiam se destacar, tinham que viver à sombra dos homens no que diz respeito a ser reconhecidas publicamente. Sua mãe a invejava, tinha ciúmes por causa do pai e não aceitava sua escolha de ser uma escultora.



Camille (Isabelle Adjani) se apaixona por Rodin (Gérard Depardieu) , grande escultor. Trabalha com e para ele até que percebe que seu trabalho não aparece. Ele vive com uma mulher com quem tem filhos, mas se recusa a abandoná-la para viver com Camille apesar de estar apaixonado por ela. Ela está grávida, e diante de sua recusa não lhe conta nada e aborta, e o deixa. Começa sua decaída e cai em desgraça na sociedade parisiense, mesmo tendo amigos como Claude Debussy (Maxime Leroux).



Eles discutem, e Rodin lhe diz que ela é uma escultora de terceira, que deve tudo à ele. Que ela a fez e que lhe deve obediência. É o início da paranóia. Sente-se roubada e irá acusá-lo de um complô contra ela até o fim de sua vida.



É o preço que pagou por assumir o seu desejo e ir contra o desejo do outro, de sua mãe. Quando não optamos pela neurose estamos caminhando na beira do abismo.

Ela não suportou não conseguir ser uma escultora reconhecida, não aceitou ser a sombra de Rodin, não suportou o rompimento. Passa a pensar que ele nunca a amou e queria apenas suas obras, e se fixa nisto.

Claudel esculpia a dor, a morte, isto chocava. Não consegue expor na Exposição, não consegue seu lugar no mundo da arte. Ela destrói a maior parte de sua criação, e depois dirá que foi Rodin que a roubou. Ela caminha para a loucura. Seu irmão Paul (Laurent Grévill)  escapa do desejo da mãe pela religião, mas não perdoa Camille ter feito um aborto.

Enquanto seu pai viveu ele a protegeu e tentou defendê-la da mãe, lhe possibilitar o acesso ao desejo, mas após sua morte, a primeira coisa que sua mãe fará é internar Camille com a ajuda de Paul Claudell.



Não encontrei o trailer legendado, o que segue é em francês





Bruno Nuytten nasceu em 1945 em Melun, Île de France, França.

Trilha sonora de Gabriel Yared

Claude Debussy - Reverie

Gabriel Yared em 1949 em Beirute, Líbano. É compositor

Claude Debussy nasceu em 1862 em Saint-Germain-en-Laye, França e faleceu em 1918 em Paris. Foi um músico e compositor francês.