Milan, Betty. 1ªed.- Record, 2016
141 paginas
Após o livro "Carta ao filho" desta vez Milan nos fala da mãe. É um relato fictício, mas que é sincero sobre os sentimentos de uma filha diante do envelhecimento e da morte da mãe.
Fui tocada pelo livro pois passei por isto, em dado momento tive que ser a cuidadora da que cuidou de mim, daquela que me deu a vida e me escutou, instruiu, consolou. Como é difícil aceitar que esta mãe, com a qual contamos sempre, deixa este lugar, já não escuta direito, não consegue mais conversar com você, envelhece e pode morrer. Por outro lado temos consciência do que é envelhecer, perder sua liberdade e autonomia, pelo menos a física. Um corpo que já não permite que se faça o que deseja, até mesmo as menores coisas, como ir a um cinema, visitar um filho, chegando ao ponto de não poder tomar um banho sozinha.
A filha que cuida da mãe sente raiva, medo, se sente sendo subjugada nisto tudo, obrigações que não deseja, pesos em sua vida, mas não consegue deixar de fazer, de cuidar, pelo imenso amor que sente. E não há como falar sobre isto. Dizer que se sente raiva? não pode!! Milan é corajosa ao falar com honestidade, franqueza sobre estes sentimentos.
O filho no livro que não aceita, não ajuda e não participa. No fundo sente o mesmo mas reage de outra forma, não consegue aceitar o envelhecimento da mãe, a perda da mãe. Filhos desejam que a mãe seja eterna, a mesma, e se não pode ser assim no real, o imaginário se ocupa disto.
Quantas vezes me senti assim. Não aceitar, não querer que minha mãe envelhecesse, ficar com raiva quando ela ficava mal, doente. Não era por ter que socorrer, era por não querer que ela envelhecesse e morresse.
A imagem da mãe que cuidou de nós é a que fica. É esta que desejamos e mantemos. Nada mais cruel para um filho ou filha do que ter que se tornar mãe da mãe. Milan tem razão, é o momento em que perdemos a mãe, em que ela deixa de ser mãe, se torna filha. E como é difícil enfrentar isto. E penso que para a mãe também, tanto que ela vai reagir, com atos que chamamos de teimosia, rabugice, estar fora da casinha. Ela também deseja preservar sua independência e autonomia. Vai fazer coisas que não pode, vai comer coisas que não pode. Com diz Milan, "a velhice castra antes de a morte ceifar e por isso é tão aterradora".
Segundo Freud há uma fusão entre mãe e bebê, que carregamos pela vida, nunca nos separamos totalmente. A morte da mãe nos leva um pedaço, morremos junto. Uma parte de nós se foi. E ver a mãe morta é ver a si mesmo morta, e saber que um dia também vamos morrer.
Betty Milan nasceu em 1944 em São Paulo. É psicanalista e escritora.
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