Ferrante, Elena. 1ªed. Biblioteca Azul, 2015 .
336 páginas
Tradução: Maurício Santana Dias
Título Original: L'amica geniale: infanzia, adolescenza
Série Napolitana - Primeiro Romance
Confesso que sou atraída muitas vezes por capas, e neste caso o efeito foi contrário, me pareceu um daqueles romances bem água com açúcar, mesmo lendo a sinopse do livro. Mas, por sorte, li uma resenha de um psicanalista sobre os livros da tetralogia de Elena Ferrante que falava sobre as questões de identificações, édipo, e todo o conflito da infância e adolescência. A partir disto procurei um pouco mais de informações sobre os livros, que são quatro, porém lançados no Brasil até o momento foram dois. Este A Amiga genial que é o primeiro, e o segundo que é História do novo sobrenome.
A primeira coisa que me intrigou foi a autora. Elena Ferrante é o pseudônimo de uma escritora italiana que se mantém fora do circuito da mídia, não se conhece seu rosto, nem quem é. Ela diz que após o livro estar escrito ele não precisa mais dela. Por outro lado isto lhe dá uma liberdade de escrever de uma forma real, indo a fundo nos sentimentos e na descrição de um bairro em Nápoles, pobre, violento, logo após a Segunda Guerra.
A autora tem o dom de colocar em palavras todo o universo interior feminino, começando pela infância que é o caso deste primeiro livro. Suas dúvidas, desejos, a raiva/ódio do pai ou da mãe, a competição, as identificações que fazemos, o corpo e suas modificações, a sexualidade, os sonhos, os medos.
Este primeiro livro se passa praticamente dentro de um bairro em Nápoles, onde vivem várias famílias pobres e duas que possuem uma condição financeira um pouco melhor e por isto dominam o bairro seja pelo ódio ou pelo medo, mas ao mesmo tempo é explícito a inveja, o ciúme e o desejo de ser igual a eles, mesmo com todas as recriminações que lhes fazem.
Ali vivem Lila e Lenu e todo o romance irá girar em torno delas. Logo no início, o tempo passou e Lenu recebe um telefonema do filho de Lila dizendo que ela desapareceu. Para impedir este desaparecimento, o apagar de todos os vestígios, a ausência, Lenu começa a escrever a história das duas.
Ao longo do romance veremos como Lenu vai se identificando à Lila para escapar de sua mãe que é manca, isto me lembra a história de Édipo, mas versão feminina. Na família edipiana os homens tinham problemas nos pés. Lila é ágil, rápida, ativa, o contrário de uma pessoa que manca. Começa uma competição que se no livro é contada por Lenu, não deixa de ocorrer com Lila também. A saída de Lenu para competir com Lila são os estudos, mas virá a frustração, quando Lila se casar com um dos melhores partidos do bairro. Para que serve o estudo? o saber? Lenu ama Nino, que é muito estudioso também, mas deixou o bairro quando criança por seu pai ter se envolvido com Melina que ficou viúva. Nino odeia o pai.
A crueldade infantil não ficará de fora, aqui na competição entre Lila e Lenu, na maneira como elas querem ser melhor uma que a outra e na forma como se provocam. Mas uma não consegue ficar distante da outra, apesar de parecer que Lila o consegue, quando Lenu ler seus escritos verá a dor que ela também sentiu.
Ferrante nos desvenda o feminino desde a infância de uma forma feroz e honesta, talvez justamente por poder se ocultar ela pode falar como ninguém e mostrar o que realmente se passa no íntimo sem subterfúgios, máscaras sociais.
Recomendo a leitura!!!!
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