Oz, Amós. 1ª ed. Companhia das Letras, 2014
362 páginas
Tradução: Paulo Geiger
Título Original: Habssorá al pi Iehudá Ish Keraiot
Shmuel Ash é um jovem israelense que vive em Jerusalém e está fazendo uma pós graduação cujo tema é Jesus na visão dos judeus e quem foi Judas. Mas de repente tudo muda, sua namorada o deixa para se casar com outro e seu pai após perder uma causa no tribunal lhe avisa que está falido e não pode mais sustentá-lo o que requer que ele vá trabalhar para pagar os estudos, a moradia e a alimentação como fez sua irmã na Itália que arrumou dois empregos para fazer o mesmo. Porém Shmuel desiste dos estudos e pensa em ir viver em outro local, mas ele vê um pequeno anúncio sobre um senhor inválido que procura alguém para conversar e oferece um modesto salário com moradia.
Shmuel se candidata e consegue o trabalho, passa então a viver numa casa num bairro afastado numa água furtada. Na casa além do velho Gershom Wald, vive Atalia cujo pai Shaltiel Abravanel foi um militante expulso do movimento sionista por ser contra a transformação de Israel num Estado independente e considerado um traidor por ser amigo de árabes.
A questão que o livro nos traz entre discussões filosóficas e históricas é a do traidor, não o traidor por dinheiro, mas aquele que é considerado um traidor pelos outros por não ter sido compreendido, por ter ideias diferentes do outro, inclusive avançadas demais às vezes para uma determinada época. Judas era rico, não precisava se vender por tão pouco, então porque o teria feito? se não foi pelo dinheiro? e se realmente o vendeu porque se enforcou? e porque teria que entregar Jesus se este não se escondia? Amós Oz levanta outra hipótese enquanto paralelamente nos conta a história de Abravanel. Ele nos mostra um Judas como o único que realmente acreditou em Jesus e o viu como o filho de Deus, e ele tinha certeza de que ele desceria da cruz mostrando a todos quem ele era de fato. Judas foi o primeiro cristão e talvez o único. É polêmico principalmente para os católicos, uma vez que a hipótese de que Judas não traiu leva a conclusão que Jesus não era capaz de milagres e que era apenas mais um dos inúmeros profetas que vagavam pela Palestina na época. Por outro lado falar de Abravanel também é polêmico entre os israelenses. Ele queria que os judeus e os árabes convivessem em paz na mesma terra, a terra que já era e não criar um novo Estado, que era óbvio que isto só traria a guerra o que de fato ocorreu.
Para Amós a figura de Judas é simbólica no antissemitismo contra os judeus. E tocar na questão de Abravanel é uma maneira de dizer que a questão Israel-Palestina poderia ter sido resolvida de outra forma se houvesse mais "traidores" corajosos o suficiente para fazer diferente do que todos pensam.
Na casa, durante o inverno, cada um dos moradores, com todas as suas diferenças e mágoas, acabam se aproximando e rompem a muralha que criaram em torno de si mesmos passando a gostar um pouco do outro. Wald perdeu seu único filho na guerra pela independência, numa morte atroz. Ele era casado com Atalia que é amargurada e considera os homens idiotas por pensarem da maneira que o fazem. E Shmuel é um solitário que deseja muito um tempo para si mesmo, para escrever, mas que acaba se apaixonando por Atalia.
O livro é uma espécie de catarse do autor devido suas posições contrárias as da maioria muitas vezes também considerado um traidor. Amós Oz deseja o Estado de Israel dividido entre judeus e árabes. Ambos são desta terra, ela é de ambos e nenhum tem outro lugar para ir. Mas a questão do traidor acompanha Amós desde a juventude quando ele também foi chamado assim por ter feito amizade com um sargento britânico.
Um livro para refletir sobre as condições do mundo e também sobre o que é realmente um traidor. Vale a leitura.
Amós Oz nasceu em 1939 em Jerusalém.
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