Direção: George Ovashvili - 2014
Duração: 100 min
Título Original: Simindis Kundzuli
País: Cazaquistão
A cada primavera o rio Enguri que fica entre a Geórgia e a Abecásia leva sedimentos do Cáucaso e forma pequenas ilhas com um solo fértil que é utilizada pelos agricultores da região para o plantio de milho que estocam e vendem durante o inverno.
Um agricultor já idoso ( Ilyas Salman) chega a uma destas pequenas ilhas, ele cava a terra, a sente nas mãos, cheira, encontra algo que limpa e guarda no bolso, e coloca um pau com um lenço amarado em sinal de escolhida. Aos poucos, lentamente, ao ritmo possível. Não vemos o filme dar um salto, pelo contrário, ele segue passo a passo a construção de uma cabana, os momentos de descanso, a continuação do trabalho, dia a dia, a medida que ele traz as coisas em seu barco. Sua neta (Mariam Buturishvili) também vai e o ajuda. A casa vai surgindo, eles pescam, cozinham, e observam a natureza e o rio. A paisagem é belíssima. Há pouquíssimas falas, o filme é o som da natureza, do rio, dos pássaros, do vento.
Diferente de As quatro voltas (já postado no blog) aqui não se trata do ciclo vida-morte, mas das questões de tempo e espaço, dos ciclos, mas da vida. A menina moça que cresce ao mesmo tempo que o milho, que descobre seu corpo, mas ainda tem sua boneca. O filme vai lento, no tempo do milho que cresce. Aqui eles estão à mercê de uma força maior, a natureza, que criou a ilha, mas também a pode destruir, a natureza que se em dados momentos é calma e de uma beleza infinita pode de um momento para outro se enfurecer e trazer um espetáculo que mesmo não deixando bons traços é fascinante.
A pequena ilha formada no meio do rio é uma terra de ninguém, sugestivo diante do quadro local onde há patrulhas constantes no rio e disputas territoriais. Um soldado de um dos lados é ferido e o velho o socorre e cuida dele até que ele possa ir embora.
Ultimamente tenho visto alguns filmes que trabalham com poucas falas e os acho fantásticos. Vivemos num mundo onde somos absorvidos e sufocados pelo excesso de comunicação. Este silêncio da natureza, que não é silêncio, são muitos sons diferentes, mas que perdemos a capacidade de ouvir por estarmos ligados em outras questões nos traz de volta um pouco à consciência do quanto somos efêmeros, assim como esta pequena ilha, podemos ser férteis, criar, crescer, mas estamos à mercê de forças maiores, de contingências, da natureza e da vida. Por mais que nos dediquemos, que nos esforcemos, sejamos bons, a natureza age dentro do real, nunca é madrasta, mas tampouco recompensa ou protege como o ser humano gostaria de esperar dela, como ilusoriamente espera de uma força maior.
George Ovashvilli nasceu em 1963 em Mtscheta, Geórgia
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